'As pessoas estão muito fechadas ao diferente': a difícil inclusão do autista na escola:empresa bet365
Uma lei federalempresa bet3652012 garantiu a autistas o acesso à educação e ensino profissionalizanteempresa bet365escolas regulares. Fixou puniçãoempresa bet365até 20 salários mínimos (R$ 18,7 mil) ao gestor escolar que recusar a matrículaempresa bet365aluno com autismo - e prevê perda do cargoempresa bet365casoempresa bet365reincidência.
Na prática, contudo, as recusas continuam - e muitas vezes por desinformação das famílias sobre seus direitos.
Três escolas privadas já negaram matrícula à Júlia, que viveempresa bet365Ribeirão Preto (SP). Letícia soma nove negativasempresa bet365seus oito anosempresa bet365vida, todasempresa bet365instituições privadas da capital paulista.
Em geral, as negativas são "veladas": as instituições dizem não ter estrutura, material adaptado. Às vezes impõem condições - como um psicólogo bancado pela família - ou citam o atraso no desenvolvimento da criança como obstáculo à admissão.
Reaçãoempresa bet365outros pais
Para a empresária Carolina Felício,empresa bet36543 anos, mãeempresa bet365Júlia, a batalha pela educação regular começou cedo: mães da escolaempresa bet365que a filha cursava o jardimempresa bet365infância fizeram um abaixo-assinado pedindo a saída da garota.
"Ela tinha um problema motor grande à época e precisavaempresa bet365ajuda para andar, mas a coordenação aceitou recebê-la. Uma semana após o início das aulas, as mães, com medoempresa bet365os filhos serem prejudicados, pediram que ela saísse. A coordenação me informou, e a Jú acabou saindo", conta.
Carolina recorreu à fantasia para consolar a filha. "Falei que havia monstros na escola, porque ela chorava querendo ir."
Aos seis meses, Júlia foi diagnosticada com uma das formasempresa bet365epilepsia mais graves da infância. Remédios para controlar as convulsões dificultaram a identificação dos sintomas, e o diagnósticoempresa bet365autismo veio somente aos três anos.
"A Jú não falava. Chegamos até a cogitar algum meioempresa bet365comunicação alternativa, mas trabalhamos a fala e a comunicação com figuras. Ela também tem intolerância a som, luz, ruídos e certos tecidos e dificuldade com relacionamento, comunicação e intolerância a esperas", diz a empresária.
Após o episódio no jardimempresa bet365infância, a mãe se mudou com a filha para São Paulo e depois para os Estados Unidos, onde Júlia começou um tratamento com medicações e terapia comportamental que realiza até hoje.
Quando voltaram a Ribeirão Preto, quatro anos depois, Júlia conseguiu ingressarempresa bet365uma escola particular da cidade, mas a mãe resolveu tirá-la da escola quando ela completou 12 anos.
"Foi por faltaempresa bet365material adaptado,empresa bet365conhecimento dos professores para lidar com o assunto eempresa bet365inclusão, principalmente com outras crianças. Daí continuei a educação delaempresa bet365casa, com terapeutas e professores", conta a mãe.
Agora, aos 17 anos, Júlia está retornando à salaempresa bet365aula - mas aos poucos.
"Fizemos um esforço intenso para prepará-la. A escola está ajudando, houve um trabalho com professores e alunos sobre inclusão. Mas a volta será gradativa: ela ficará por períodos menores na escola, para ter vontadeempresa bet365voltar no dia seguinte sem se cansar."
Papel da escola
Para a psicóloga Denise Callao, do Instituto Neurocomportamental da Flórida (EUA), o preconceito ainda é a maior dificuldade para portadoresempresa bet365trantorno do espectro autista.
"É o que barra qualquer tipoempresa bet365relacionamento. As pessoas estão muito fechadas para o diferente. Desde que a gente aceite simplesmente (o autismo) como uma característica diferente do ser humano, tudo pode ser mais fácil."
Diferentemente da mãeempresa bet365Júlia, que optou pela educação convencional, a enfermeira Elaine Sabbag,empresa bet36540 anos, decidiu matricular Letíciaempresa bet365uma instituição específica após as nove negativasempresa bet365escolas regulares.
A escola têm as chamadas salas regulares e inclusivas. Estas últimas atendem, por exemplo, alunos cadeirantes e com autismo. Há todas as disciplinas normais (exceto inglês), atendimento especializado, teatro e música.
"Essa escola tem mais preparo, conhecimento e dedicação a uma criança especial. Ela estudaempresa bet365uma sala com mais seis crianças, com acompanhamento terapêutico", afirma a mãe, que também vê pontos negativos nessa opção.
"Ela vem imitando muito outras crianças, e falando menos, por exemplo", afirma.
A questão,empresa bet365fato, divide paisempresa bet365filhos autistas. Há quem defenda o direitoempresa bet365educar as criançasempresa bet365escolas específicas ouempresa bet365casa, enquanto outros dizem que a educação regular melhora a socialização.
"A melhor escola é a que quer receber a criança. Claro que queremos que elas estejam incluídas no mundo desde pequenas e colocá-las numa escola específica já é separá-los. Mas se a escola regular não tem condições e a criança irá sofrer, a questão da escola especial pode ser pensada", avalia a psicóloga Callao.
Punição e método
Carolina e Elaine dizem que não denunciaram as escolas que recusaram suas filhas porque desconheciam as sanções previstas na leiempresa bet3652012. Mas a desinformação também está no poder público, diz a mãeempresa bet365Júlia.
"Quando procurei a delegaciaempresa bet365ensino municipal e estadual sobre esse assunto, questionaram se a lei estavaempresa bet365vigência", afirma a empresária, que conseguiu matricular a filha na instituição atual após intervençãoempresa bet365um promotor.
Qual seria, portanto, a melhor maneiraempresa bet365ensinar e inserir uma criança autista na escola?
Para a educadora e especialistaempresa bet365inclusão Maria da Pazempresa bet365Castro, que trabalha na Escola da Vila,empresa bet365São Paulo, não há uma solução exata, já que cada criança (inclusive as autistas) tem características específicas.
"A única regra é conhecer a criança, deixar ela se apresentar a você, porque não interessa o que ela tem, mas quem ela é. É importante que as outras crianças aprendam a conviver e conversem entre si. E às vezes elas perguntam: 'Por que ele (colega autista) não fala? Por que ele gira?' E eu respondo: 'Não sei, ele ainda não fala do jeito que você fala, mas pergunta para ele, gire um pouco com ele'."
Castro afirma que esse desafio da inclusão deve contemplar uma reflexão sobre o próprio modeloempresa bet365educação.
"A escola é repressora, não foi feita pra atender a diferenciação, é um funil. E criança não foi feita para ficar cinco horas sentada numa sala. Mas acho que as escolas irão mudar, porque vão ser invadidas pela diversidade", aposta.
Mãe da adolescente Júlia, Carolina vai na mesma linha e defende o empregoempresa bet365planos individualizadosempresa bet365ensino.
"Estão fazendo um plano para a Jú. E isso se aplica a qualquer criança, pois estudos já mostraram que nosso métodoempresa bet365ensino é arcaico. Os planos já são feitosempresa bet365escolasempresa bet365referência no mundo. É nissoempresa bet365que acredito, não apenas para autistas, mas para todas as crianças. Pois cada uma tem seu talento eempresa bet365habilidade."