'Movimento cometeu erros, mas greve da PM no Espírito Santo está na conta do governo', diz especialista1xbet whoscoredsegurança:1xbet whoscored
Ela deu aulas no curso1xbet whoscoredespecialização da PM do Espírito Santo e também já foi diretora da Secretaria1xbet whoscoredSegurança Pública do Estado do Rio. Agora, usa1xbet whoscoredexperiência1xbet whoscoredambos os lados para analisar a crise.
Confira os principais trechos da entrevista.
1xbet whoscored BBC Brasil - No início da paralisação no Espírito Santo, você publicou no Facebook um artigo que escreveu sobre a greve dos PMs mineiros1xbet whoscored1997 e disse ter receio1xbet whoscoredque o Brasil tenha voltado a 20 anos atrás. Por quê?
1xbet whoscored Jacqueline Muniz - Temos 20 anos1xbet whoscoredque greves1xbet whoscoredpoliciais militares acontecem no país. E ao longo da História brasileira tivemos greves1xbet whoscoredforças policiais desde o Império. O Exército já se amotinou, várias forças já foram extintas e recriadas por causa1xbet whoscoredconflitos entre elas e com o governo.
Parece que desaprendemos a lidar com isso - e esse desaprender é intencional. O que eu vejo são cálculos oportunistas. A ideia do "quanto pior, melhor" tem favorecido péssimos governantes.
1xbet whoscored BBC Brasil - O que há1xbet whoscoredcomum entre as greves1xbet whoscoredPMs que ocorreram no Brasil nos últimos 20 anos -1xbet whoscoredMinas, Rio, Bahia, Rio Grande do Sul - e esta?
1xbet whoscored Muniz - Os contextos delas são diferentes, mas é preciso lembrar que os policiais militares sabem muito bem que eles são impedidos legalmente1xbet whoscoredfazer uma greve.
No entanto, eles precisam reivindicar e fazer valer os seus direitos, que são legítimos. É legítimo pedir melhorias1xbet whoscoredcondições1xbet whoscoredtrabalho e reajustes salariais - claro que1xbet whoscoredforma realista.
Todo movimento grevista faz uso da oportunidade: há cenários mais propícios a desencadear greves. Isso é diferente1xbet whoscoredser oportunista. É fazer uso1xbet whoscoredoportunidades para dar visibilidade e chamar a atenção da sociedade para1xbet whoscoredcausa.
Então é evidente que um momento1xbet whoscoredcrise e1xbet whoscoredprecarização das relações trabalhistas, como o atual, é avaliado como um momento oportuno para conseguir melhorias - que podem não ser um aumento1xbet whoscoredsalário, mas outros benefícios.
Em outros momentos, como na Bahia, a PM ameaçou fazer greve durante a Copa do Mundo, durante a Olimpíada. Por que você vai escolher fazer uma manifestação nesses momentos? Por que o país inteiro vai estar prestando atenção. Você diz que vai fazer para forçar uma negociação. Não há nada1xbet whoscorederrado nisso. O cálculo politico é feito dos dois lados.
Mas há, é claro, práticas oportunistas que se beneficiam1xbet whoscoredmovimentos reivindicatórios: grupos1xbet whoscoredextermínio, segurança privada clandestina, acertos1xbet whoscoredcontas dentro do crime e1xbet whoscoredcriminosos com setores corruptos da segurança pública. Eles se beneficiam destes momentos para mostrar seu poderio e fazer seu "marketing do terror".
Além disso, sempre que há uma crise na segurança, os governantes têm o hábito1xbet whoscoreddesaparecer. Ou saem do país, ou dizem que estão1xbet whoscoredoutro Estado. Nunca são eles próprios que falam, mas sim um porta-voz.
Isso é padrão para os nossos governantes1xbet whoscoredcrises e ondas1xbet whoscoredviolência. Eles terceirizam a responsabilidade dada pelo voto1xbet whoscoredmodo a poupar a1xbet whoscoredimagem.
1xbet whoscored BBC Brasil - Assim como no Espírito Santo, mulheres e familiares1xbet whoscoredPMs deram início à paralisação no Rio Grande do Sul1xbet whoscored2015. É comum a presença1xbet whoscoredfamiliares "na linha1xbet whoscoredfrente" da greve?
1xbet whoscored Muniz - Nenhum familiar impede policial nenhum1xbet whoscoredsair. Se eles não estão saindo é porque estão aquartelados.
Essa é uma manifestação simbólica que busca produzir dois efeitos: o primeiro é buscar a simpatia e a adesão da população, porque mulheres e crianças você não vai retirar à força, já que são civis desarmados.
O segundo é que, como a greve dos PMs é ilegal, esta é uma maneira1xbet whoscoredcontornar a ilegalidade disso e colocar os familiares e poder dizer para a Justiça: "olha, eu estou querendo ir trabalhar, mas estou sendo impedido. E não posso bater na minha própria mulher, espancar meu filho".
Elas vão para a linha1xbet whoscoredfrente para mostrar que o movimento é pacífico, que os policiais não vão sair armados na rua dando tiro, destruindo viatura e produzindo caos.
Isso seria motim, e já aconteceu no Rio1xbet whoscoredJaneiro e1xbet whoscoredoutros Estados. Policiais usando armas do Estado para assustar a população. Por isso as mulheres na frente: elas são as porta-vozes, as despachantes do movimento. Mostram que o movimento está aberto à negociação.
Esta estratégia existe por causa da lógica draconiana e anticidadã do estatuto militar e do regulamento disciplinar, que reduzem o direito dos policiais. Já vimos1xbet whoscoredoutros movimentos reivindicatórios1xbet whoscoredque os policiais se revezavam - parte ia para a rua e parte ficava no quartel - que eles foram punidos, expulsos.
Quanto mais rígido, caduco e opressivo é um regulamento, mais ele induz a que seja burlado. Ele não gera disciplina e hierarquia. Gera revolta, ressentimento. As pessoas não discutem isso, mas é importante.
1xbet whoscored BBC Brasil - Como você avalia a atuação do governo do Espírito Santo nessa situação?
1xbet whoscored Muniz - O governo não pode se colocar como refém, como vítima da polícia. É preciso lembrar que o comandante1xbet whoscoredchefe das polícias estaduais,1xbet whoscoredacordo com a Constituição brasileira, é o governador do Estado, não é o comandante-geral da PM e nem o chefe da Polícia Civil.
Então primeira pergunta a se fazer é: cadê o plano1xbet whoscoredcontingência?
Mesmo que o governador Paulo Hartung estivesse operado, há um governador1xbet whoscoredexercício!
Faz-se plano1xbet whoscoredcontingência quando o papa vem visitar, quando Roberto Carlos vai cantar1xbet whoscoredCachoeiro1xbet whoscoredItapemirim e uma greve te pega1xbet whoscoredsurpresa? Uma secretaria1xbet whoscoredsegurança não sabe planejar uma emergência? Então o que é mesmo que ela faz?
Essas coisas não acontecem1xbet whoscoredum dia para o outro. Se o governador está sabendo que servidores1xbet whoscoredsegurança pública ameaçam entrar1xbet whoscoredgreve, a primeira coisa a fazer - até para viabilizar uma negociação justa sem tornar a população refém - é um plano1xbet whoscoredemergência que articule os poderes do Estado, mobilizando os recursos locais e os da União.
Desde o primeiro momento, o governo deveria ter solicitado a mobilização da Força Nacional e das Forças Armadas junto ao ministro da Justiça e ao ministro da Defesa.
Aliás, uma das missões da Força Nacional é ser um recurso para garantir minimamente a prestação1xbet whoscoredserviço à população evitando o pânico e as práticas oportunistas que sempre ocorrem quando serviços essenciais são paralisados.
O Corpo1xbet whoscoredBombeiros é estadual, poderia ir para as ruas orientar a população e evitar pânico se for necessário. Para estar1xbet whoscoredportas1xbet whoscoredescolas e1xbet whoscoredoutros pontos estratégicos para que a vida na cidade não pare. A Polícia Civil também.
É preciso também dialogar com os municípios para mobilizar a Guarda Municipal para os pontos1xbet whoscoredmaior circulação1xbet whoscoredpessoas. A Guarda é ostensiva e está cuidando dos municipais. Isso é competência dela e ela pode ser mobilizada1xbet whoscoredemergências.
O governo deve ir para a mídia, as redes sociais, para informar a população sobre a possibilidade1xbet whoscoreduma paralisação total ou parcial da polícia. Parte do medo é reduzido com uma boa comunicação social.
Era preciso também cobrar do movimento "grevista" o percentual mínimo1xbet whoscoredprestação1xbet whoscoredserviços, porque nenhuma categoria1xbet whoscoredserviços essenciais pode parar completamente.
Isso tem que ser feito para estabelecer uma oportunidade1xbet whoscorednegociação, e não usar o terror como arma1xbet whoscoredtroca, dizendo: "Olha quantas mortes, vocês perderam a moral com a população". Deixar mortes e assaltos acontecerem para ganhar na queda1xbet whoscoredbraço não é negociação, é acirramento.
Então a pergunta é: o governo apresentou à sociedade o plano1xbet whoscoredcontingência logo no início ou quis se beneficiar do pânico coletivo?
A impressão que dá é que o governo apostou no "quanto pior, melhor" para ter a população do seu lado. Isso está na conta do governo, sim.
E não estou falando mal desse governo. Seja1xbet whoscoredesquerda, direita, centro ou lado, é preciso ter um plano1xbet whoscoredcontingência. Isso é capacidade1xbet whoscoredgovernar. A gente demonstra que é capaz1xbet whoscoredgovernar na emergência.
1xbet whoscored BBC Brasil - E o que estaria na conta do movimento das famílias dos policiais, que deram início à greve?
1xbet whoscored Muniz - A polícia e o movimento das famílias também cometeram erros desde o início. Como todo movimento reivindicatório sabe, ele tem uma curva1xbet whoscoredascendência e uma curva1xbet whoscoreddescendência.
Nem o próprio trabalhador quer ficar eternamente1xbet whoscoredgreve porque sabe que perde credibilidade, prestígio, reconhecimento e apoio da população. E quanto mais esvazia o apoio da população, menos chances o movimento tem1xbet whoscoredconseguir implementar1xbet whoscoredpauta.
O movimento grevista pensou nesse mínimo necessário, nos 30% do efetivo policial que deveria estar nas ruas?
Eles deveriam ter convocado todos os policiais1xbet whoscoredférias,1xbet whoscoredlicença, da reserva, para contribuir no policiamento, porque todos vão se beneficiar das melhorias conquistadas.
Precisavam esclarecer a população, fazer informes, mostrar que os serviços essenciais seriam mantidos. Por exemplo, a pronta resposta do 190 não pode parar.
As porta-vozes do movimento erraram também porque precisam1xbet whoscoreduma pauta clara e factível. Não posso pedir o infinito porque não vou ganhar.
Precisam esclarecer para a população, desde o início, se o que estão pedindo é viável, é possível. Se o aumento seria aceito dividido1xbet whoscored30 parcelas, por exemplo. Não adianta dizer só "Eu quero 40% porque não tenho aumento há três anos".
Você tem que demonstrar para a população que está disposto a negociar. E negociar é diferente1xbet whoscoredfazer pirraça. O grevista não pode parecer um pirracento e o governo não pode parecer que faz beicinho e bate o pé, como se fosse um cabo1xbet whoscoredforça.
1xbet whoscored BBC Brasil - Mas se os PMs convocassem os colegas1xbet whoscoredférias,1xbet whoscoredlicença ou da reserva para contribuir com o efetivo mínimo, não estariam assumindo uma greve que insistem não ter começado?
1xbet whoscored Muniz - Eles insistem nisso porque sabem que, quando aparecem, os líderes serão perseguidos.
Ninguém vai demitir 500 ou 10 mil policiais porque não tem como colocar outros no lugar. Vai se distribuir pequenas punições invisíveis para a sociedade: transferências, mudanças1xbet whoscoredescala.
Mas as lideranças policiais ou serão demitidas1xbet whoscoredcara, ou se provoca a demissão delas. Os policiais já assistiram a isso no Rio1xbet whoscoredJaneiro com os Bombeiros,1xbet whoscoredMinas Gerais, no Rio Grande do Sul, na Bahia.
Mas liberar um efetivo mínimo não quer dizer que as lideranças da PM estariam à frente. Se as mulheres vão como porta-vozes, não são os policiais. E tudo isso deve ser feito mesmo sabendo que a greve é ilegal.
A polícia tinha que continuar atendendo a emergência, você não para a emergência. Numa greve1xbet whoscoredmédicos você não pode parar o pronto-socorro. A vida não espera na saúde pública e nem na segurança pública.
Isso garante credibilidade e adesão social ao seu movimento, não só da sociedade como1xbet whoscoredmais policiais e outras categorias. No Rio1xbet whoscoredJaneiro,1xbet whoscored2011, todo mundo apoiou a greve dos bombeiros, porque viram que eles estavam sendo esculachados pelo governo.
1xbet whoscored BBC Brasil - Como a polícia pode garantir seus direitos sem precisar chegar a este ponto?
1xbet whoscored Muniz - Os canais1xbet whoscoredcomunicação têm que estar permanentemente abertos. Isso é uma dificuldade com organizações militares, cuja tradição é não ter câmaras1xbet whoscoreddiscussão com os trabalhadores.
Os policiais não são pensados como trabalhadores, e sim como militares, com menos direitos do que a população comum.
Discutir as questões trabalhistas é vetado. Eles podem discutir na associação1xbet whoscoredcabos e soldados, mas não dentro da organização porque isso é tudo como indisciplina. Com outros profissionais a gente se reúne e discute, mas se os PMs se reúnem até dentro do quartel para debater condições1xbet whoscoredsaúde e segurança ocupacional, eles podem ser presos.
Além disso, nós temos que desmilitarizar a segurança pública. E eu não estou falando1xbet whoscoreddesmilitarização1xbet whoscoredpolícia como as pessoas falam por aí. Eu estou falando1xbet whoscoredgarantir os direitos básicos1xbet whoscoredcidadania aos policiais e produzir dispositivos1xbet whoscoredcontrole, regulação e transparência do serviço policial.
Se eles forem menos militares e mais cidadãos, eles serão mais respeitados pela sociedade e terão mais autoestima. O policial é um trabalhador. É um1xbet whoscorednós, e não um contra nós.
Não estou dizendo que se deve retirar a proibição1xbet whoscoredfazer greve, até porque1xbet whoscoredvárias polícias do mundo não se pode fazer greve. Em Nova York, se não me engano, nem professor pode fazer greve.
Mas é preciso ter câmaras1xbet whoscorednegociação trabalhistas permanentemente abertas, para que a greve passe a ser, como deve ser, um último recurso. A greve da polícia no Brasil é ilegal, mas continua ocorrendo.
1xbet whoscored BBC Brasil - Também há interesses dentro da PM1xbet whoscoredcriar esse caos durante a paralisação?
1xbet whoscored Muniz - Tem muitos atores implicados. Isso tudo está acontecendo porque há estímulos1xbet whoscoredvários setores que ganham com isso. Setores da Assembleia Legislativa, do crime, da indústria ilegal da segurança, da polícia… tem muita gente ganhando e que vai fazer carreira política1xbet whoscoredcima da desgraça.
Estão transformando o movimento grevista1xbet whoscoredbobos úteis,1xbet whoscoreduma certa maneira. É preciso que a gente olhe para todos os lados.
As polícias brasileiras não são blindadas da privatização predatória dos seus recursos e do uso político partidário. Isso quer dizer que a carteira1xbet whoscoredpolicial é vendida na esquina. Fabrica-se ameaças para vender proteção. Claro que tem muita gente lucrando com isso:1xbet whoscoreddentro da polícia,1xbet whoscoredfora da polícia, ao redor da polícia.
E os policiais militares,1xbet whoscoredespecial, tem sido moeda1xbet whoscoredtroca. Os bicos são tolerados para não fazer uma política salarial decente1xbet whoscoredvalorização dos recursos humanos. Mas como o bico é informal e ilegal, todo mundo na polícia deve favor a todo mundo. Quem deve favor não pode revelar o que há1xbet whoscorederrado ali dentro.
E mais: a polícia é usada como cabo eleitoral, como coletora1xbet whoscoredvotos. As polícias produzem resultado eleitoral para o político, fazem curral eleitoral. Essa polícia tem sido aparelhada e desmontada para atender a propósitos políticos-partidários.
Até hoje o Brasil não fez uma reforma da polícia. Todas as polícias do país funcionam como um cheque1xbet whoscoredbranco.
1xbet whoscored BBC Brasil - Famílias1xbet whoscoredPMs do Rio começaram a fazer protestos diante dos batalhões a partir desta semana, da mesma forma que começou a paralisação no Espírito Santo. Outras greves como esta devem acontecer?
1xbet whoscored Muniz - A possibilidade1xbet whoscoredque outros eventos dessa natureza venham a ocorrer está posta há muito tempo. Não é só contágio, não é que aconteceu no Espírito Santo e vai esparramar para outros locais. Isso já vem acontecendo1xbet whoscoredfunção das insatisfações acumuladas ao longo do tempo e da ausência1xbet whoscoreduma interlocução clara.
Temos graves problemas1xbet whoscoredsegurança pública que não são1xbet whoscoredagora. As coisas estão transbordando porque o cenário está propício para isso. É um cenário1xbet whoscoreddisse-me-disse governamentais,1xbet whoscoredfalta1xbet whoscoredclareza,1xbet whoscoredprecarização1xbet whoscoreddireitos individuais e coletivos. Isso acirra os ânimos.
E mais: a Força Nacional não tem condição1xbet whoscoredresponder a todas as emergências do país. Ela tende a colapsar. Ela tem que atender as crises penitenciárias, greves para lá e para cá. Tem que atender as demandas1xbet whoscoredtodos os Estados1xbet whoscoredmaneira equitativa. E aí?
A Força Nacional é um recurso1xbet whoscoredemergência, e está virando um recurso1xbet whoscoredrotina. Com isso, se torna incapaz1xbet whoscoredpoder ajudar os Estados. Quando ela chega, favorece negociações qualificadas, assim como a presença do Exército. É para isso que eles existem também.
O que vemos são esses improvisos, e não se improvisa com a segurança pública.
Mas isso não quer dizer que a gente é refém. É a sociedade que pode expulsar ou extinguir uma polícia, não o inverso.