Por que algumas regiões do Brasil não conseguem vencer a hanseníase?:apostas online como funciona

Folder sobre hanseníase

Crédito, Agência Brasil

Legenda da foto, Brasil é o único país do mundo que não alcançou meta da ONU para a hanseníaseapostas online como funciona2015; apesarapostas online como funcionaavanços nos últimos anos, ainda há diferenças grandes entre Estados

A cada ano, o Brasil registra 30 mil casos novosapostas online como funcionahanseníase, enfermidade já controladaapostas online como funcionagrande parte do mundo. Perde apenas para a Índia, com 126 mil registros/ano.

Terraapostas online como funcionaEvelin, o Maranhão é líderapostas online como funcionacasos absolutos no Nordeste e segundo no país (atrás apenasapostas online como funcionaMato Grosso), com cercaapostas online como funciona3,5 mil novos casos por ano informados ao Ministério da Saúde. A pobreza e baixos índices sociais, assim como a faltaapostas online como funcionamédicos, estão entre as principais dificuldades apontadas para lidar com o problema.

Dos 217 municípios maranhenses, apenas 17 não relataram ter doentesapostas online como funcionahanseníaseapostas online como funciona2015 - e ainda assim, estes podem ter simplesmente não tê-los descoberto.

"Como esses 17 não têm registro algum, seapostas online como funcionavolta todos têm?", questiona Léa da Costa, superintendenteapostas online como funcionaEpidemiologia e Controleapostas online como funcionaDoenças da Secretaria Estadualapostas online como funcionaSaúde.

A hanseníase é uma doença crônica e infectocontagiosa que atinge pele e nervos periféricos, e é comumente transmitida por pessoas doentes que não estãoapostas online como funcionatratamento.

Tem cura, mas pode provocar graves incapacidades físicas se o diagnóstico demorar ou se o tratamento for inadequado. O tempo entre contágio e aparecimento dos sintomas variaapostas online como funcionadois a cinco anos.

A Organização Mundialapostas online como funcionaSaúde (OMS) registrou pouco maisapostas online como funciona175 mil casos no mundo no finalapostas online como funciona2015, mas considera a doença sob controle - quando o índiceapostas online como funcionaprevalência éapostas online como funcionamenosapostas online como funcionaum caso para cada 10 mil habitantes - desde 2000.

No Brasil, o índice já recuou maisapostas online como funciona70% nos últimos 12 anos e ficouapostas online como funciona1,01apostas online como funciona2015, mas ainda há enorme variação entre as unidades da Federação - no Maranhão, por exemplo, estavaapostas online como funciona3,76apostas online como funcionamaio passado.

Prevalência da hanseníase no Brasil por Estado,apostas online como funciona2015

Crédito, MS

Legenda da foto, Índiceapostas online como funcionaprevalênciaapostas online como funcionahanseníase por Estado,apostas online como funcionadadosapostas online como funcionamaioapostas online como funciona2015, mostram a disparidade regional da doença

O Maranhão também lideraapostas online como funcionacasos entre menoresapostas online como funciona15 anos - são cercaapostas online como funciona400 por ano, ou 12% do total do Estado.

No Brasil, essa participação das criançasapostas online como funcionanovos casos ficaapostas online como funcionatornoapostas online como funciona7% a 8%, o que mostra quão ativa a doença ainda é no país - uma criança doente indicaapostas online como funcionageral que há um adulto não tratado transmitindo hanseníase.

"Isso ratifica o fatoapostas online como funcionatermos uma endemia oculta e que ainda deve permanecer por muito tempo aqui", afirma o dermatologista Marco Frade, presidente da Sociedade Brasileiraapostas online como funcionaHansenologia (SBH).

Discutindo causas

A situação da hanseníase no Maranhão eapostas online como funcionaEstados mais afetados foi um dos principais temas do 9º Simpósio Brasileiroapostas online como funcionaHansenologia, que ocorreu no finalapostas online como funcionanovembroapostas online como funcionaSão Luís.

Simpósioapostas online como funcionaHansenologia

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Simpósioapostas online como funcionaSão Luís discutiu situação da doença no país e no Maranhão; ausênciaapostas online como funcionamédicosapostas online como funcionaáreas remotas dificulta notificação e combate à enfermidade

O contágio se dá via aérea; o bacilo causador da doença pode ser passada por tosse, espirro e secreção nasal -, mas 90% da população tem defesa natural contra ela.

O contágio, contudo, depende muito das condições nutricionais,apostas online como funcionahigiene eapostas online como funcionaeducação - e o Maranhão, por exemplo, é um dos Estados com piores índices sociais do país. Quanto mais baixa a imunidade, maior o risco.

Um estudo recente mostrou, por exemplo, que apenas 2% dos pacientesapostas online como funcionahanseníase registrados no Estadoapostas online como funciona2000 a 2012 tinham curso superior completo.

"Essa é uma doençaapostas online como funcionapobre", enfatiza Maria Leideapostas online como funcionaOliveira, coordenadora do SIG (Gruposapostas online como funcionaInteresse Especial, na siglaapostas online como funcionainglês)apostas online como funcionaHanseníase da Universidade Federal do Rioapostas online como funcionaJaneiro (UFRJ).

O tratamento da hanseníase é relativamente simples. Diagnosticado, o paciente recebeapostas online como funcionagraça medicamentosapostas online como funcionaingestão oral padronizados pela OMS.

É a chamada polioquimioterapia, ou PQT, que mata 90% dos bacilosapostas online como funcionaHansen na primeira tacada. As doses seguintes podem se estender por seis meses a um ano, a depender se o caso é paucibacilar (poucos bacilos) ou multibacilar (muitos bacilos).

Se seguir o tratamento à risca, a pessoa recebe alta por cura. No entanto, o que perdeuapostas online como funcionasensibilidade, acuidade e força pode ter perdido para sempre. Daí a necessidadeapostas online como funcionaum diagnóstico precoce, para evitar sequelas como incapacidades e deformidades.

Diagnóstico

Leoneide Bastos teve a sorte da boa intuição. Seu primeiro sintoma foi uma mancha esbranquiçada no antebraço, que mais parecia uma micose. Mas a pomada caseira, normalmente eficaz, não deu resultado.

A mancha continuava ali, e passou a incomodar a enfermeiraapostas online como funcionaSão Luís, que a escondia da vista alheia. Um dia, ela cutucou o local com a pontaapostas online como funcionauma caneta.

A sensibilidade naquele braçoapostas online como funcionarelação ao outro parecia igual. Tempos depois riscou um fósforo, apagou a chama e aproximou o palito da mancha. Mal sentiu a queimação.

Estreito, no Maranhão

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Rodoviaapostas online como funcionaEstreito, no Maranhão; índices sociais ruins favorecem avanço da doença

"Foi quando falei com o meu irmão, que é dermatologista, e ele logo desconfiouapostas online como funcionahanseníase."

A primeira biópsia deu negativo, a segunda idem. No entanto, a presença da mancha, a insensibilidade local e a posterior fraqueza naquele braço indicavam que Leoneide apresentava a forma mais branda, a tuberculoide.

Ela tinha 28 anos na época, e doze meses depois recebia alta. Hoje, aos 40 anos, depoisapostas online como funcionatambém se curarapostas online como funcionaum câncer, comparaapostas online como funcionareação a uma e outra doença.

"Acho que a tristeza e a negação foram muito parecidas, embora a hanseníase seja bem menos grave que a presençaapostas online como funcionaum tumor".

Contato

A contaminação também depende da exposição frequente ao Mycobacterium leprae, nome científico do baciloapostas online como funcionaHansen. "O contágio parece implicar uma carga continuadaapostas online como funcionabacilos", afirma Marco Frade, da SBH.

Não é à toa que esteja mais presenteapostas online como funcionalocaisapostas online como funcionagrande aglomeração - e não é à toa que normalmente o transmissor é alguém da família ou uma pessoa próxima. O bacilo tem incubação lenta -apostas online como funcionadois a sete anos -, e a infecção pode levar esse tempo todo para se manifestar.

"Tem criança doente cuja fonteapostas online como funcionacontágio foi o avô", destaca Maria Leideapostas online como funcionaOliveira.

Outro tópico muito debatido no encontroapostas online como funcionaSão Luís foi a baixa notificação da doença, atribuídaapostas online como funcionaparte à ausênciaapostas online como funcionamédicosapostas online como funcionaáreas mais remotas.

O Maranhão, segundo o Conselho Federalapostas online como funcionaMedicina, detém a menor taxaapostas online como funcionamédicos do país: 0,79 para cada mil habitantes. No entanto, mesmo nos centrosapostas online como funcionaque há mais profissionais da saúde, é grande o desconhecimento da doença.

"As pessoas aprenderam mais sobre hanseníase nas igrejas do que nas escolas, é como se essa infecção não existisse mais", diz Marco Frade. E quem sabe que ela existe nem sempre sabe reconhecê-la, seja nos primeiros sinais, sejaapostas online como funcionaseus sintomas incapacitantes.

Um pacienteapostas online como funcionaFrade, por exemplo, chegou a ele após um tratamento pesado contra uma suposta doença autoimune, com indicação inclusiveapostas online como funcionatransplanteapostas online como funcionamedula, quando na verdade as mãos e os pésapostas online como funcionagarra e a dormência eram manifestaçõesapostas online como funcionauma hanseníase avançada, multibacilar.

Atendimento para diagnóstico imediatoapostas online como funcionahanseníase

Crédito, Agência Brasil

Legenda da foto, Em ação do Movimentoapostas online como funcionaReintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), médicos voluntários fazem examesapostas online como funcionadiagnóstico imediato da doença

"Precisamos perceber esses pacientes antes que virem figurasapostas online como funcionalivro", alertou,apostas online como funcionareferência aos casos mais dramáticos.

Preconceito

Não bastassem tantas complicações no diagnóstico, há outraapostas online como funcionaordem semântica: a faltaapostas online como funcionaum nome que dimensione a gravidade da doença sem que se aumente seu estigma milenar.

A lei 9.010,apostas online como funciona1995, oficializou no Brasil a mudança do termo lepra para hanseníase. "Só quem passa por esse diagnóstico sabe o que significa o medoapostas online como funcionaser chamadoapostas online como funcionaleproso", diz Pollyane Medeiros, voluntária do Movimentoapostas online como funcionaReintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan).

Pollyane éapostas online como funcionaRecife, queapostas online como funciona2015 ocupava o nono lugarapostas online como funcionacasos detectados no país. Aos 26 anos, a faltaapostas online como funcionaforçaapostas online como funcionaum dos braços a levou a peregrinar por dez consultórios médicos até que uma eletroneuromiografia apontou o comprometimento do nervo.

Identificada a hanseníase, a funcionária pública fez tratamento para anular a carga bacilar e se afastou do trabalho por três anos, tempo durante o qual fez 120 sessõesapostas online como funcionafisioterapia, 40apostas online como funcionaacupuntura e 80apostas online como funcionaterapia ocupacional.

Ela diz acreditar ter pegado a doençaapostas online como funcionaum vizinho que convivia diretamente com a família e que apresentava várias placas no corpo, sinais que hoje desconfia serapostas online como funcionahanseníase.

Pollyane Medeiros e Leoneide Bastos

Crédito, Mônica Manir

Legenda da foto, Funcionária pública Pollyane Medeiros (à esq. na foto) e a enfermeira Leoneide Bastos se curaram da hanseníase

A questão é que, para alguns, o termo cunhado para homenagear Gerhard Armauer Hansen, descobridor do baciloapostas online como funciona1873, ainda é distante e complexo para a população brasileira.

"Muitos acham que lepra é doençaapostas online como funcionagente e hanseníase é doençaapostas online como funcionacachorro", afirma Maria Leideapostas online como funcionaOliveira, referindo-se à confusão com a leishmaniose.

"Do pontoapostas online como funcionavista do estigma, a mudança foi boa, mas talvez tenhamos minimizado demais o impacto da infecção", completa.

O hansenólogo Egon Daxbacher, médico pela Universidade Estadual do Rioapostas online como funcionaJaneiro, vai além. Não só discorda da palavra lepra como prefere "portadorapostas online como funcionahanseníase"apostas online como funcionavez apostas online como funcionahanseniano.

Por coerência, usa "portadorapostas online como funcionadiabetes" e não diabético, e "portadorapostas online como funcionahipertensão" no lugarapostas online como funcionahipertenso. "O problema é adjetivar uma pessoa com uma doença", afirma.

Remanescentes

Antiga colôniaapostas online como funcionaportadoresapostas online como funcionahanseníase, retratoapostas online como funcionaum tempoapostas online como funcionaque os doentes eram isolados, o Hospital Aquiles Lisboa, na periferiaapostas online como funcionaSão Luís, é centroapostas online como funcionareferência para tratamento da doença no Maranhão.

O hospital está aberto à populaçãoapostas online como funcionageral, mas se tornou referênciaapostas online como funcionahanseníase pelo próprio histórico. Seus 15 leitosapostas online como funcionainternação, contudo, normalmente ainda abrigam apenas sequelados da doença, muitos vindos do interior.

"O portadorapostas online como funcionahanseníase devia ser atendidoapostas online como funcionaqualquer hospital, mas não é bem assim que acontece", diz Raul Fagner da Silva, diretor administrativo do Aquiles.

"O preconceito ainda é muito grande, principalmente do pessoal da saúde, que deveria oferecer um tratamento humanizado, mas não o faz."

Hospital Aquiles Lisboa

Crédito, Mônica Manir

Legenda da foto, Hospital na periferiaapostas online como funcionaSão Luís é antiga colôniaapostas online como funcionaportadoresapostas online como funcionahanseníase e ainda abriga idosos afetados pela doença

Deusanira Pereiraapostas online como funcionaSouza,apostas online como funciona59 anos, é uma das pacientes. Recebeu o diagnóstico aos 16 anos, e a partirapostas online como funcionaentão a faltaapostas online como funcionasensibilidade nas extremidades só lhe fez castigar o corpo. Ela perdeu todas as falanges dos dedos das mãos, um dos pés tem os dedosapostas online como funcionagarra e o outro, com uma úlcera que não sara, está para ser amputado.

Souza parece resignada com a cirurgia. "Quero acabar com essa dor e pararapostas online como funcionatomar tanto remédio; estou com anemia e isso está acabando com os meus rins", diz, enquanto mostra a perna avermelhada escapando da gaze.

O Aquiles Lisboa é velho conhecidoapostas online como funcionaDeusanira Souza. Ali ela morou com "dona" Domingas Borges, que viveu o períodoapostas online como funcionainternação compulsória para hansenianos, medida que vigorou no Brasilapostas online como funciona1923 a 1962 e que teve pico no Brasil nos anos 1940.

Isso era comum à época: crianças e adolescentes detectados com a doença eram enviados para o local, e a administração escolhia com quem morariam.

Naquele período, o governo abriu cercaapostas online como funciona40 "leprosários" no país, hoje todos fechados ou funcionando como hospitais convencionais. O Aquiles, mais conhecido como Colônia do Bonfim, é um pouco anterior,apostas online como funciona1937.

Chegou a ter 600 internos isolados numa estrutura que abrigava cinema, refeitório, igreja, escola, cemitério, delegacia e prefeitura. Dentro do terreno do hospital foram mantidas algumas casasapostas online como funcionaantigos moradores, aqueles internados compulsoriamente.

"A direção do vento determinava a posição geográfica das colônias", diz o paciente Flávio Lisboa, as mãos com dedos incompletos, os pésapostas online como funcionabotinas especiais, uma medalhaapostas online como funcionaJesus Cristo no peito.

"O vento precisava soprar da zona sadia, onde ficava a administração, para a zona doente, onde ficávamos", explica.

Com a morteapostas online como funcionadona Domingas,apostas online como funciona2013, restaram dois do período do isolamento obrigatório dos doentes: Flávio,apostas online como funciona70 anos, e Maria Lucinda Santiago Pinheiro,apostas online como funciona74 anos, que não estão mais infectados pelo baciloapostas online como funcionaHansen, mas lidam com as consequências da doença.

Flávio Lisboa e Deusaniraapostas online como funcionaSouza

Crédito, Mônica Manir

Legenda da foto, Flávio Lisboa está curado, mas ainda vive numa das casas da antiga colônia; Deusanira luta contra as sequelas da doença; informação é arma contra o preconceito, dizem os médicos

Eles ocupam duas das 30 casas do terreno, recebem pensão vitalícia do governo federal e Lisboa conta com outra,apostas online como funcionaum salário mínimo, do governo do Maranhão. Não pagam aluguel, nem água, nem luz, mas a TV e a internet são por conta deles.

Lisboa, obrigado a pararapostas online como funcionaestudar na adolescência por causa da internação, gostaapostas online como funcionapalavras novas, cujo significado sonda no Aurélio. A última que aprendeu foi "adrede". "Significa 'de propósito'", diz, orgulhoso do conhecimento.

Souza vira com dificuldade as páginasapostas online como funcionaoutro livro, um evangelho comentado para cada dia do ano, que ela abriga embaixo do travesseiro do hospital. Lá está o provérbio do dia: "O desejo mais profundo da humanidade é o da imortalidade."

No caso dela, o desejo mais íntimo é sair dali para cozinhar para a família. Seu provérbio pessoal para uma doença curável e sem propósito no século 21 é mais amargo. "Ela veio para destruir os membros mais importantes do ser humano: as mãos e os pés."

Livroapostas online como funcionaregistroapostas online como funcionainternosapostas online como funcionaantigo 'leprosário'

Crédito, Mônica Manir

Legenda da foto, Livro dos internosapostas online como funciona1937 da antiga Colônia do Bonfim,apostas online como funcionaSão Luís, atual Aquiles Lisboa