'Minha salvação foi a persistênciaprognostico aposta esportivaviver', conta filhaprognostico aposta esportivavítimaprognostico aposta esportivaacidente da Gol:prognostico aposta esportiva

Crédito, Álbumprognostico aposta esportivafamília

Legenda da foto, Mauro Romano foi uma das 154 vítimas do desastre da Gol,prognostico aposta esportiva2006

Costumo dizer que sou otimista por pura covardia, por incapacidade completaprognostico aposta esportivalidar com o tamanho da minha dor. Assim foiprognostico aposta esportiva2006 quando meu padrasto - Mauro Romano, que,prognostico aposta esportivatanto amar, chamava pai - foi uma das 154 vítimas do voo 1907 da Gol (NR: a aeronave colidiu no ar com um jato particular quando fazia a rota Manaus-Rioprognostico aposta esportivaJaneiro, e caiuprognostico aposta esportivauma áreaprognostico aposta esportivafloresta no Estado do Mato Grosso).

Ele era botafoguense e adorava samba. Tinha 50 anos, três filhos e não pode conhecer os netos, que nasceriam depois.

Insurgência

Perdas são doloridas para os seus, não importa a causa mortis. Porém, os acidentes trazem algumas peculiaridades que dificultam um processo já penoso. No nosso caso, foram dias para que pudéssemos fazer a cremação, tempoprognostico aposta esportivaque fomos atormentados por advogados inescrupulosos e jornalistas inconvenientes que nos queriamprognostico aposta esportivaprogramas sensacionalistas.

Desligamos a televisão e os telefones, deixamosprognostico aposta esportivaler os jornais. Era a nossa dor, mas o mundo inteiro parecia querer sofrê-la conosco. A casa ficouprognostico aposta esportivavigília permanente, tudoprognostico aposta esportivavolta parecia estarprognostico aposta esportivacâmera lenta: os carros, as conversas, o trabalho. O vazio ocupava todos os espaços.

Depoisprognostico aposta esportiva15 dias, quando o corpo finalmente foi localizado, fomos fazer o reconhecimento mais perto do local do acidente, bem longeprognostico aposta esportivanossa cidade. No meu coração, só tinha uma certeza: eu precisava voltar a ver alguma beleza no viver; aquele breu estava além do que eu era capazprognostico aposta esportivasuportar. Entre ir e voltar dessa viagem, cometi meu primeiro atoprognostico aposta esportivainsurgência: saí para tomar um chope.

"Já que você ficou por aqui, viva", era a voz interna que me cutucava. Ali, eu reconheci que a minha salvação estava na persistênciaprognostico aposta esportivaviver.

Nossa sociedade se desacostumou com a ideiaprognostico aposta esportivaque as pessoas morrem,prognostico aposta esportivaque a vida - essa vida, pelo menos - tem fim. Vivemos muito, geralmente vivemos com saúde. Mas é justamente quando a morte nos surpreende na esquina que temos a clara noção da urgência.

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Legenda da foto, "Se houve algo que aprendi com a morte do meu pai, é que a vida pode ser muito curta para as tantas coisas que se têm para fazer, para trocar e para sentir"

Se houve algo que aprendi com a morte do meu pai, é que a vida pode ser muito curta para as tantas coisas que se têm para fazer, para trocar e para sentir.

Minha única escapatória, a partirprognostico aposta esportivaentão, foi tentar viver com um compromisso enorme comigo mesma, com o meu papel no mundo, tendo a sensação claraprognostico aposta esportivaque a gente não pode estar aqui a passeio. No processo, vou aprendendo que alguns limites somos nós que nos impomos. Dá um certo trabalho, mas tem lá suas compensações.

Nesses 10 anos que se passaram (10 aniversários, 10 Natais, nascimentos e outros falecimentos), é muito comum que as pessoas me perguntem como fizemos para conseguir viver bem depois do acidente, como eu fiz para seguir viajando pelo mundo, uma das minhas maiores paixões.

Cláusulas

Mesmo com o tempo, não existe um momento da vidaprognostico aposta esportivaque meu pai e toda essa história estejam ausentes, embora a presença se esfumace com o tempo. Além disso, continuo cheiaprognostico aposta esportivamedos. Porém, assumi algumas cláusulas que têm me ajudado muito nessa missão.

  • Falo "eu te amo" para as mais variadas pessoas, quantas vezes me sentir amando, mesmo correndo o riscoprognostico aposta esportivaparecer tola ou exagerada.
  • Não durmo brigada ou mal esclarecida com pessoas que amo.
  • Não deixoprognostico aposta esportivafazer o que quero por alguma limitação social. Danço sem pensarprognostico aposta esportivaquem me olha, grito, choro no cinema.
  • Chego mais tarde ao trabalho quando o dia está bom para a praia.
  • Aceito convitesprognostico aposta esportivaúltima hora.
  • Experimento novos saboresprognostico aposta esportivasorvete; descubro caminhos novos; bebo sozinha no lugar mais bonito que encontrar.
  • Fico emocionadaprognostico aposta esportivaver o balé das árvores da serra,prognostico aposta esportivaver a bruma,prognostico aposta esportivaencontrar amigasprognostico aposta esportivainfância,prognostico aposta esportivaouvir um blocoprognostico aposta esportivacarnaval,prognostico aposta esportivadescobrir que há coleçõesprognostico aposta esportivaorquídeas nas ruas da minha cidade.
  • Abraço minhas amigas e amigos, frequento a minha família.

E, cada vez mais, tento ligar cada vez menos para as pequenezas.

Apenas há pouco tempo atentei para a expressão "vale a pena", que traz consigo a ideiaprognostico aposta esportiva"vale a dor". Viver é este treco: fazer valer as dores que se têm. Ou um eterno degustar e digerir. No fundo, o que nos sobra sempre é o amar e, se possível,prognostico aposta esportivatroco, ser amada.

PS: Quando a BBC Brasil me pediu este texto, na tarde da tragédia da Chapecoense, que vitimou amigos e me abalou bastante, estava comendo minha sobremesa favorita, que foi seguida por dois piscos sour.

Ambos momentos na companhiaprognostico aposta esportivapessoas amadas. Entre as cláusulas pétreas, afinal, está também viver no mundo, e não apenas perdida nas telas.

Deborah Thomé é jornalista e cientista política. E filhaprognostico aposta esportivaMauro Romano.