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Para o Ministério Público, todos os detidos formam, com outras 16 pessoas, uma quadrilhabancas de apostas esportivaspichadores responsável por prejuízos milionários, conectada com o tráficobancas de apostas esportivasdrogas e a "banda podre"bancas de apostas esportivastorcidas organizadas.
Quem se opõe à operação vê réus primários acusadosbancas de apostas esportivasformar quadrilha apenas por serem amigos, punições desproporcionais e desrespeito a uma expressão cultural e políticabancas de apostas esportivasnosso tempo.
O fato é que desde então um pichador já foi condenado a oito anosbancas de apostas esportivasprisão, dois esperam julgamento na cadeia e 16 são monitorados com tornozeleiras eletrônicas - não podem sairbancas de apostas esportivascasa entre 23h e 6h.
Acusação
"Picho não é manifestação cultural e nem crimebancas de apostas esportivasmenor potencial ofensivo", diz o promotor Marcos Paulo Miranda, que encabeça a ofensiva contra a pichação no Ministério Público mineiro.
O alvo principal são os "Pixadoresbancas de apostas esportivasElite" (com X na grafia original), grupo mais conhecidobancas de apostas esportivasBH quando o assunto é tinta e spray.
O grupo foi criadobancas de apostas esportivas1992 para "baterbancas de apostas esportivasfrente" com o sistema: reunir os melhores pichadores da cidade para peripécias pelas principais avenidas e prédios públicos "em estadobancas de apostas esportivasabandono".
Hoje, reúne 15 pessoas, todas com pichaçõesbancas de apostas esportivaslocais altos oubancas de apostas esportivasgrande movimento na bagagem. Marcasbancas de apostas esportivaspatrimônio público - unidades do Exército e do Tribunalbancas de apostas esportivasJustiça foram alvos recentes - e frasesbancas de apostas esportivasprotesto também somam ao "currículo".
Para o promotor Miranda, trata-sebancas de apostas esportivasuma quadrilha que busca "autopromoção, práticas criminosas e enfrentamento às instituições" - e que onera os cofres públicosbancas de apostas esportivasR$ 2 milhões/anobancas de apostas esportivasaçõesbancas de apostas esportivasrecuperação e limpeza.
A estratégia da Promotoria é ampliar o lequebancas de apostas esportivasacusações aos pichadores. Para além do crimebancas de apostas esportivaspichação (três meses a um anobancas de apostas esportivasprisão), as denúncias incluem formaçãobancas de apostas esportivasquadrilha, dano material, apologia e incitação ao crime - e as possíveis condenações podem facilmente superar cinco anosbancas de apostas esportivascadeia.
O atual cerco ao pichobancas de apostas esportivasBH começoubancas de apostas esportivasoutubrobancas de apostas esportivas2014, quando paredesbancas de apostas esportivasvidro da Biblioteca Municipal amanheceram com as marcasbancas de apostas esportivasdois membros dos "Pixadoresbancas de apostas esportivasElite" - GG e Morrou* - e a frase "Qual será o futuro do Brasil?" - juntas, as inscrições ocupavam cercabancas de apostas esportivas5m².
Também não escaparam as estátuasbancas de apostas esportivasbronze dos escritores Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende e Hélio Pellegrino, que ficaram com as iniciais,bancas de apostas esportivastinta branca, do grupobancas de apostas esportivaspichadores.
A ofensiva ganhou forçabancas de apostas esportivasmarço deste ano, quando um dos principais símbolos da cidade - a igrejinha da Pampulha, projetada por Oscar Niemeyer e com painéisbancas de apostas esportivasCandido Portinari - amanheceu pichada.
Na construção, que integra o conjunto arquitetônico que neste ano recebeu o títulobancas de apostas esportivaspatrimônio cultural da humanidade, letras grandes, retas e pontiagudas formavam,bancas de apostas esportivas7m², a assinaturabancas de apostas esportivasMarú, um conhecido pichador da cidade.
"Aquilo foi uma afronta, e o clima no Ministério Público do dia seguinte foibancas de apostas esportivascomoção", afirma o promotor Miranda. Menosbancas de apostas esportivastrês meses depois, duas pessoas estavam presas por suspeitabancas de apostas esportivasparticipação na pichação - entre elas o comerciante e pichador conhecido como Goma, dono da principal lojabancas de apostas esportivasprodutos para grafite na cidade.
Defesa
"Em Vitória, São Paulo ou Riobancas de apostas esportivasJaneiro, jogar tintabancas de apostas esportivasum muro sem autorização do dono dá multa e medida socioeducativa. Sóbancas de apostas esportivasBH dá cadeia", diz o caminhoneiro Morrou, veterano do "grupobancas de apostas esportivaselite" da pichação na cidade e que assumiu as inscrições na biblioteca.
Desde a visita matinal da PMbancas de apostas esportivas2015, Morrou já foi preso por duas vezes. Descumpriu ordens judiciais, rompeu a tornozeleira eletrônica (diz ter feito isso porque não estava conseguindo trabalhar como caminhoneiro), passou sete meses foragido.
Detido ao ladobancas de apostas esportivasGG pelos danos à biblioteca, ele foi condenado a dois anos e sete mesesbancas de apostas esportivasprisão, e ao pagamentobancas de apostas esportivasR$ 20 mil pelos danos. O colegabancas de apostas esportivasspray levou oito anosbancas de apostas esportivasprisão e R$ 25 milbancas de apostas esportivasmulta.
Hoje, com o aparelho novamente no tornozelo (conseguiu o benefício por ser réu primário), ele diz que começou a pichar aos 15 anos e que nem a cadeia o afastará das tintas.
Afirma que a família defendebancas de apostas esportivasopção, mesmo sofrendo o impacto financeiro e emocional da prisão do pai - a filhabancas de apostas esportivas17 anos teve que ir para uma escola pública, por exemplo.
"A pichação é legítima porque é uma formabancas de apostas esportivasprotesto", afirma ele, que se diz contra o pichobancas de apostas esportivasimóveis particulares.
Para o advogado Felipe Soares, que defende integrantes dos "Pixadoresbancas de apostas esportivasElite", a denúncia da Promotoria é "confusa e frágil".
"O que embasou as acusações por associação criminosa foi a amizade que,bancas de apostas esportivasfato, existe entre eles. Formaçãobancas de apostas esportivasquadrilha e apologia ao crime são formas artificiais que o Ministério Público encontrou para prender pichador".
Como o crimebancas de apostas esportivaspichação previsto na leibancas de apostas esportivascrimes ambientais prevê pena máximabancas de apostas esportivas1 ano apenas, ela acaba sendo, muitas vezes, convertidabancas de apostas esportivasmedidas alternativas.
Pichador com BMW
Entre os "pichadoresbancas de apostas esportivaselite" da capital mineira há quem fuja do estereótipobancas de apostas esportivasjovembancas de apostas esportivasbaixa renda. Casaco, 33 anos, cursa pós-graduação (prefere não revelar a área) e circulabancas de apostas esportivasuma BMW 325, cujo modelo 0 km custa cercabancas de apostas esportivasR$ 150 mil.
Ele diz que começou a pichar aos 13 anos como uma formabancas de apostas esportivas"fuga", e que estava afastado desse mundo desde 2002 para se dedicar aos estudos, mas retomou os contatos pouco antes da ação na biblioteca.
"O que mais vemos na política é criminoso rico e que fez faculdade. Eu não sou bandido e trabalhei para comprar meu carro", afirma ele, que diz virbancas de apostas esportivasuma famíliabancas de apostas esportivasbaixa renda.
Alvo da açãobancas de apostas esportivasmaiobancas de apostas esportivas2015, Casaco passou cinco dias preso - teve a cabeça raspada e perdeu o emprego. Vive numa cidade do interiorbancas de apostas esportivasMinasbancas de apostas esportivasque não há sistemabancas de apostas esportivastornozeleiras, mas precisa ir ao fórum toda semana demonstrar que não está foragido.
Para ele, que não faz distinção entre parede pública ou privada - o critério é a visibilidade -, a pichação é mais diversão do que protesto.
Após passar nove meses desempregado, ele hoje procura ser discreto enquanto tenta resolver suas pendências com a Justiça. "Mas é pichação é um vício, é difícil pararbancas de apostas esportivastudo", reconhece.
Constrangimento
Snil, 21 anos, o repositor citado no começo da reportagem, perdeu o emprego um dia após explicar ao chefe as restrições que envolvem o uso da tornozeleira eletrônica - como recarregá-la por 90 minutos duas vezes ao dia e ligar para assistência técnica caso o alarme toque sem querer.
Com vida socialbancas de apostas esportivasbaixa - está proibidobancas de apostas esportivasfrequentar festas ou encontros forabancas de apostas esportivascasa -, ele conseguiu novo emprego como office-boy e diz atuar agora somente no "grapixo". A técnica combina pichação e grafite, com spray colorido e letras mais encorpadas e arrendondadas, e gera menos problemas com a Justiça.
O jovem já perdeu o constrangimento com o aparelho na perna e circulabancas de apostas esportivasbermuda sem se preocupar com olhares desconfiados. Nem o banho tem sido problema. "Pelo menos a tornozeleira é a prova d'água", brinca.
Ele diz ter começado a pichar "pela vontadebancas de apostas esportivascriar algo original, pela adrenalina e para divulgar o meu nome". "Espalhar o nome é uma formabancas de apostas esportivasmostrar que, por mais que o sistema reprima, eles não conseguem controlar tudo", afirma.
Questionado sobre o trabalho durobancas de apostas esportivasquem eventualmente tenha que limpar as pichações, ele diz que "pode até ser trabalhoso, mas não justifica essa perseguição toda". "Se me condenassem a limpar o que eu fiz, seria mais justo."
Donobancas de apostas esportivasuma lojabancas de apostas esportivascolchões no centro da capital mineira, Marcos Inneco diz ter perdido a conta das pichaçõesbancas de apostas esportivasseu comércio. Defende punições à prática, mas defende focobancas de apostas esportivasreeducação.
"Prisão é uma medida pesada, porque sabemos o estado lastimável das prisões no Brasil. E os pichadores não são violentos, não oferecem perigo à sociedade", afirma ele, que é vice-presidente da Câmarabancas de apostas esportivasDirigentes Lojistasbancas de apostas esportivasBelo Horizonte.
Entre os 22 acusados na atual ofensiva (19 na operação na operaçãobancas de apostas esportivas2015 e três pela ação na Pampulha), classificada pelos advogadosbancas de apostas esportivasdefesa como "Lava Jato do picho", 12 não tinham antecedentes criminais e oito somavam passagens pela polícia por pichação ou consumobancas de apostas esportivasdrogas. Um já havia cumprido pena por tráficobancas de apostas esportivasdrogas e outro irá a júri por tentativabancas de apostas esportivashomicídiobancas de apostas esportivasuma brigabancas de apostas esportivasrua.
O pintor Ivanbancas de apostas esportivasLima, 51 anos, ganha a vida limpando muros pichados no centrobancas de apostas esportivasBH. Diz considerar "absurda" a ação na igreja da Pampulha ("esse negóciobancas de apostas esportivaspichação ser protesto é conversa fiada", diz) e defende a prisão dos responsáveis.
"É muito difícil pintar uma parede pichada. Tem que lixar, passar removedor até três vezes e depois colocar tinta. Alémbancas de apostas esportivasprender, tinha que pegar todo o material do pichador e obrigá-lo a limpar as paredes", afirma.
Protesto
Em maio, cercabancas de apostas esportivas50 pessoas ocuparam uma praça no centrobancas de apostas esportivasBHbancas de apostas esportivasprotesto contra as prisões dos pichadores. Nos cartazes que empunhavam, frases como "Prender pichador é fácil, quero ver é prender o dono da Samarco (mineradora envolvida no acidente ambientalbancas de apostas esportivasMariana", "Somos todos Goma (donobancas de apostas esportivaslojabancas de apostas esportivasgrafite preso)" e "Se pichador pichasse só na favela, nunca acabaria numa cela".
O promotor Marcos Paulo Miranda ironizou o ato e disse ser "uma provabancas de apostas esportivasque o crime é mesmo organizado". Afirma que a atual ofensiva não irá terminar e que investigações continuam.
Para a psicanalista Ludmilla Zago, que pesquisa culturabancas de apostas esportivasrua na Faculdadebancas de apostas esportivasDireito da UFMG, o que ocorre com os pichadoresbancas de apostas esportivasBH "não é proporcional aos danos causados".
"A questão não é mudar a lei e tornar picho uma arte muralista. A questão é: por que um grupo decide qual deve ser a estética da cidade e coloca o pichador como um bandido que oferece alto risco para a sociedade?", questiona.
A pesquisadora defende o valor estético das pichações. "O pichador se empenha na construção tipográficabancas de apostas esportivassua assinatura. Embora seja vista por alguns como precária esteticamente, há um trabalho por trás do picho - uma raiz na culturabancas de apostas esportivasrua, uma formabancas de apostas esportivasmanejar o spray, uma referência ao local periférico do pichador."
Enquanto os processos correm, Napo, o operadorbancas de apostas esportivastelemarketing do começo da reportagem, diz que está sem emprego fixo há mais um ano. Evita expor a tornozeleira por medobancas de apostas esportivasser abordado por policiais, mas diz: "Agora não estou pichando, mas se não larguei o picho depoisbancas de apostas esportivastudo isso, não largo mais."
Segundo ele, que diz espalhar seu nome "pela aventura, sentimentobancas de apostas esportivasrevolta e vontadebancas de apostas esportivasser reconhecido por outros pichadores", a prática também "tem muitobancas de apostas esportivasvício, uma vontade inconsciente que não dá pra explicar".
Para Yes, 33 anos, outro "pichadorbancas de apostas esportivaselite", a algema eletrônica no tornozelo veio a calhar. "Eu só dormia forabancas de apostas esportivascasa, agora tenho hábitos mais saudáveis", brinca. Como a maioria dos colegas, ele diz que largou as pichações, mas apenas por um tempo. "Tão logo esses problemas se resolvam, voltaremos a jogar nossas frustrações nas paredes".
* Os pichadores falaram com a reportagem sob a condiçãobancas de apostas esportivasserem identificados apenas pelos apelidos.