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Agrotóxicos, depressão e dívidas criam ‘bomba-relógio’novibet sitesuicídios no RS:novibet site
A taxa é praticamente o dobro da brasileira (5,2 por 100 milnovibet site2012, segundo dados do Ministério da Saúde) e próxima da taxa mundial (11,4 por 100 mil, segundo a Organização Mundial da Saúde).
Agrotóxicos e depressão
Gramado Xavier, com pouco maisnovibet site4 mil habitantes, fica na região central gaúcha, conhecida por ser um polo fumageiro - da indústria do fumo.
A conexão entre suicídio e plantadoresnovibet sitefumo é apontadanovibet sitediversos estudos científicos. Um relatório da Comissãonovibet siteDireitos Humanos da Assembleia Legislativa gaúcha apontava,novibet site1996, que 80% dos suicídios da cidadenovibet siteVenâncio Aires, a maior produtoranovibet sitetabaco do Estado, eram cometidos por agricultores. O mesmo estudo mostrava aumento nos suicídios quando o usonovibet siteagrotóxicos era intensificado.
Segundo uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o usonovibet siteagrotóxicos, como os organofosforados, aumenta as chancesnovibet sitedepressão dos agricultores.
Em 2014, 20%novibet sitecem fumicultores entrevistados sofriamnovibet sitedepressão, segundo a UFGRS. O quadro depressivo por exposição aos venenos, somado a fatores sociais e culturais, pode evoluir para o suicídio.
A relação é contestada pelo Sindicato da Indústria do Tabaco local (Sinditabaco), que diz que "atrelar casosnovibet sitesuicídio ao usonovibet siteagrotóxicos na cultura do tabaco é inconsistente".
O Rio Grande do Sul tem 73.430 famílias (maisnovibet site577 mil pessoas) que colhem 255 mil toneladasnovibet sitetabaco anualmente,novibet siteacordo com a Afubra (Associação dos Fumicultores do Brasil).
A Afubra alega que as empresas fumageiras orientam os agricultores quanto à aplicação correta dos defensivos e o usonovibet siteequipamentosnovibet siteproteção individual (EPIs). Segundo o Sinditabaco, "alguns produtores ainda resistem à utilização correta do EPI".
Mas "o agrotóxico, para fazer efeito, tem que ser aplicado quando tem sol, naqueles calorões infernaisnovibet sitenovembro. O suor embaça os óculos (do equipamento), a máscara sufoca, falta ar. A luva prejudica a coordenação motora fina", conta Mateus Rossato,novibet site35 anos, que trabalhou na lavoura da família dos 12 aos 20 anos,novibet siteNova Palma, a 224 km da capital gaúcha.
Rossato avalia a faltanovibet siteergonomia dos equipamentosnovibet sitesegurança porque hoje entende sobre o corpo humano: é professornovibet siteEducação Física na Universidade Federal do Amazonas.
Para ele, os equipamentos não são adequados às necessidades reais dos agricultores. E, mesmo quando são usados, não impedem que o veneno, que é carregado nas costas, escorra pelo corpo no momento da aplicação.
Doença da folha verde
Os danos à saúde relatados pelos próprios agricultores, porém, não são somente psíquicos.
Do totalnovibet siteentrevistados no estudo da UFRGS, 67% apresentaram os sintomas da doença da folha verde do tabaco (DFVT), causada pela intoxicação por nicotina através do contato da planta úmida com a pele. Os principais sintomas são vômito, tontura, dornovibet sitecabeça e fraqueza,novibet siteacordo com o Ministério da Saúde.
Antesnovibet sitesuicidar-se, Osbel chegou a ser internado para tratar a depressão. Mas antes foi diagnosticado por diferentes médicos com sinais da doença da folha verde.
"Ele ia para a roça e logo tinha que procurar atendimento porque desmaiava", relembra Simone.
Ela conta que, depressivo e intoxicado, Osbel também abusava do álcool.
"Os agricultores acabam tratando seus problemas com o álcool. É mais um fatornovibet siterisco", afirma o médico psiquiatra Rafael Morenonovibet siteAraújo, coordenador do Comitênovibet sitePrevenção do Suicídio da Associaçãonovibet sitePsiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS).
O médico ressalta que o histórico familiar, influenciado tanto pela herança genética como pela cultura local, também colabora para o suicídio. Alémnovibet sitetudo, Osbel tinha um avô que havia se suicidado.
"É uma bomba-relógio", diz o psiquiatra ao enumerar os fatoresnovibet siterisco aos quais os fumicultores estão expostos: genética, baixa escolaridade, histórico familiar, estilonovibet sitevida estressante e intoxicação.
Dívidas com as fumageiras
A questão financeira é o principal gatilho para o estresse entre fumicultores. Eles precisam organizar o dinheiro que recebem apenas uma vez por ano para sustentar a família pelos 12 meses seguintes.
Além disso, a maioria deles tem dívidas com as próprias empresas que compramnovibet siteprodução. Não é raro que os processos movidos pelas companhias terminem com a tomada das terras dos agricultores.
"A perda das terras é a perda da vida deles", analisa o advogado Mateus Ferrari, que atende diversos casosnovibet siteagricultores endividados.
A dívida inicia quando o agricultor se compromete a entregarnovibet siteprodução a uma empresa específica. A empresa fornece sementes, venenos e equipamentosnovibet sitesegurança e muitas vezes exige a construçãonovibet sitegalpões. Mas tudo isso é descontado do valor a ser pago pela produção.
Quando esta é entregue, a empresa classifica as folhas atravésnovibet siteuma amostra: quanto mais qualidade, mais será pago. Muitas vezes os agricultores recebem menos do que o planejado e ainda precisam pagar suas dívidas dos insumos.
"Eles não têm como argumentar, a maioria tem escolaridade baixa. É o tempo todo sob ameaça: 'vamos cancelar o pedido, colocar teu nome no SPC e acionar a Justiça'", relata Ferrari.
Sob ameaçanovibet siteperderem suas terras e querendo receber os insumos da próxima safra, os agricultores acabam assinandonovibet siteconfissãonovibet sitedívida, não raro com juros sobre juros, sem estarem completamente cientes das consequências.
"A gente tenta salvar as terras, mas não há como combater os contratos. Então, tentamos um acordo para que os agricultores consigam pagar", explica Ferrari.
Depois que o marido se suicidou, Simone ficou um ano sem plantar porque, endividada, não conseguia adquirir insumos. Só retomou a lavoura porque fez novos créditos no nome "limpo" da filha,novibet site19 anos.
Faltanovibet siteapoio
Alguns dos processos contra os agricultores são iniciados pela própria Afubra,novibet siteteoria representante deles. A entidade alega que só entra na Justiça contra os fumicultores "quando o individual se sobrepõe ao coletivo", mas não especificou os casos.
A entidade tampouco respondeu se ajuda os agricultores a entenderem seus contratos ou se atuanovibet sitealguma maneira na prevençãonovibet sitesuicídios.
Questionado se auxilia os agricultores na prevenção do endividamento ou contabiliza o númeronovibet sitecasos na Justiça, o Sinditabaco diz apenas que "trata dos assuntos comuns às empresas associadas e, portanto, não dispõe desse tiponovibet siteinformação".
O painovibet siteJúlio Selbach,novibet site47 anos, do municípionovibet siteGeneral Câmara, perdeu 22 hectaresnovibet sitesuas terras na Justiça. "A causa está perdida, não conto mais com isso. Continuo lutando, mas vai ser muito difícil reverter", diz.
Seu pai era seu fiadornovibet siteuma dívidanovibet siteR$ 150 mil que a família considera "inexplicável". "No final das contas tudo é legal. O orientador técnico da empresa traz um montenovibet sitefolhas e manda tu assinar. Eles dizem 'não adianta nem tu ler que tu não vai entender. Se não quiser assinar, o negócio termina aqui'", relata.
Por causa da dívida e da perda das terras do pai, Selbach largou a plantaçãonovibet sitetabaco e agora produz leite. Ele conta que histórias como essa muitas vezes acabamnovibet sitesuicídio porque o "chefe" da família sente culpa por envolver a famílianovibet siteuma situaçãonovibet siteconflito.
O psiquiatra coordenador da APRS corrobora a tese. "Nessa região o suicídio é um problema que atinge os homens, que têm essa responsabilidadenovibet siteser o provedor da família e acabam ficando com a culpa pela (má) safra, pela dívida", diz Araújo. Segundo ele, poucos desses homens procuram ajuda psicológica.
Há também, segundo ele, negligência no atendimento do sistemanovibet sitesaúde. "Às vezes o paciente chega (após ter tentado) suicídio, passa por uma lavagem no estômago e é liberado, sem avaliação psiquiátrica", relata.
Intoxicação infantil
O problema se torna ainda mais complexo porque a entradanovibet sitemuitos agricultores na lavoura ocorre muito cedo. O maridonovibet siteSimone, que se suicidounovibet site2013, trabalhou na lavouranovibet sitefumo por 34 anos, desde criança. Rossato, o professornovibet siteEducação Física, também trabalhou na roça quando era pequeno.
Por causa da presença constante das crianças no campo, casosnovibet siteintoxicação e alergias são comuns.
O filho mais velhonovibet siteLuciana Pereira da Rosa,novibet site44 anos,novibet siteGeneral Câmara, apresentou sinaisnovibet sitedoença da folha verde quando tinha apenas 12 anos. "Ele ia para a roça colher fumo e vomitava direto", relembra a mãe.
O filho agora tem 28 anos e recentemente abandonou a atividade, junto com os pais. Todos se mudaram para Taquari, cidade próxima, por causa da alergia da irmã mais nova, hoje com sete anos. "A pele ficava vermelha, saía sangue e levantava uma casca. Era horrível", lembra Luciana.
Os médicos não davam um diagnóstico preciso sobre a causa, mas Luciana notava que as crises ocorriam logo depois que a substância glifosato era aplicado nos pésnovibet sitefumo da família ounovibet sitevizinhos.
Com a mudançanovibet sitecidade, a filha não ficou mais doente.
O Ministério Público do Trabalho do RS não dispõenovibet siteestatísticas sobre trabalho infantil nas lavouras. De acordo com a procuradora Erinéia Thomazini,novibet siteSanta Cruz do Sul, na região fumageira, "em muitos casos a denúncianovibet sitetrabalho infantil sequer chega".
Uma pesquisa do IBGE aponta que 39.659 criançasnovibet site10 a 13 anos trabalhavam no Rio Grande do Sulnovibet site2010.
O Sinditabaco diz combater a prática, mas agrega que "temos ainda um caminho a percorrer para a completa erradicação do problema". A entidade aponta a necessidadenovibet sitemais escolas rurais para auxiliar na prevenção.
Quem deixa a plantaçãonovibet sitefumo diz que a sensação énovibet sitealívio. Mas notícias sobre suicídiosnovibet sitevizinhos e conhecidos sempre chegam.
"Lá na minha região tem uma expressão: 'só se vende corda com receita médica'. Isso porque é alta a incidêncianovibet sitesuicídio dos agricultores. Você junta a depressão com a dívida, a frustraçãonovibet siteperder uma safra. É o contexto perfeito para se suicidar", comenta Rossato sobre os conterrâneos.
Além disso, o silêncio dos agricultores sobre o tema agrava o quadro. " O suicídio parece que é tratado como um tabu, quase proibido ou até vergonhosonovibet sitefalar. Claro que dói. Mas preciso falar porque quero que menos gente tire a própria vida, como meu marido fez", alerta Simone.
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