'Cedemos casa para festa, mas não fomos convidados': quatro contrastes no Rio da Olimpíada:jogos sem baixar

Crédito, Daniel Ramalho/BBC Brasil

Legenda da foto, Entrevistados têmjogos sem baixarcomum a percepçãojogos sem baixarque ficaramjogos sem baixarfora da festa olímpica

"Nunca tive problema nenhumjogos sem baixarmergulhar aqui, mas agora faz um tempão que não pulo na água. A Guarda Municipal tem proibido. Eles não deixam porque dizem que a gente vai se afogar", diz. Matheus já entrou no Museu do Amanhã, cuja entrada é gratuita às terças-feiras, mas não aprovou a novidade. "Entrei só uma vez, mas não gostei muito não."

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Legenda da foto, Matheus Araújo diz que não pode mais nadar na baía

Para ele e os amigos, a nova Praça Mauá, que recebeu o Museu do Amanhã, Museujogos sem baixarArte do Rio (MAR) e por onde passa o VLT (bonde moderno) tornou-se "pointjogos sem baixarpaquera". "A gente tem vindo aquijogos sem baixarnoite. Vem gentejogos sem baixarmuitos bairros do Rio. É um lugar para se encontrar, paquerar. Virou point mesmo", diz.

Ele conta que esta foi a principal alteração na região que foi percebida como positiva pelos jovens. "A gente vai até a Pedra do Sal, onde tem samba, baile charme. Depois passamos aqui pela praça Mauá. Já virou lugarjogos sem baixarencontro, cheiojogos sem baixargatinhas", diz.

Matheus não vê benefícios diretos para ele por conta da Olimpíada. "Para mim não vai ser bom. Não vou poder assistir a nada. Não tenho como pagar o ingresso. Vou ver tudojogos sem baixarcasa".

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Legenda da foto, Segundo Matheus, a nova Praça Mauá, que recebeu o Museu do Amanhã, Museujogos sem baixarArte do Rio (MAR) e por onde passa o VLT (bonde moderno), tornou-se 'pointjogos sem baixarpaquera'

Questionado sobre as mudanças para a cidade e os cariocas, o jovem diz não identificar vantagens. "Conheço vizinhos e amigos que vão trabalhar na segurança e na limpeza da Olimpíada. Para eles, foi um emprego, mas é temporário, logo acaba. Não vi mudanças diretas na minha vida não. Foi tudo feito para os gringos", conta.

jogos sem baixar 2. Maracanã X UERJ: "Cedemos nossa casa para a festa mas não fomos convidados"

Lia Rocha tem 39 anos e para ela, que é professorajogos sem baixarCiências Sociais e presidente da Associaçãojogos sem baixarDocentes da Universidade Estadual do Riojogos sem baixarJaneiro (UERJ), a população do Rio está se dando contajogos sem baixarque "o custojogos sem baixarsediar os Jogos foi muito alto". Para ela, a sensação éjogos sem baixarque o carioca estájogos sem baixarfora das comemorações. "Cedemos nossa casa para a festa mas não fomos convidados", diz.

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Legenda da foto, Estádio do Maracanã sediará cerimôniajogos sem baixarAbertura ejogos sem baixarEncerramento dos Jogos e finais do futebol

Desde março deste anojogos sem baixargreve, a UERJ é um dos maiores símbolos da crise econômica que assola o Estado do RJ. Atualmente os professores podem voltar a qualquer momento, mas, segundo a representante dos docentes, não há condiçõesjogos sem baixarvoltar às aulas por faltajogos sem baixarverbas e por conta das interrupçõesjogos sem baixaracesso geradas pela proximidade com o Maracanã, a menosjogos sem baixarum quilômetro do campus.

Dada a proximidade, um setor do estacionamento da universidade foi cedido pelo Estado ao Comitê Olímpico Internacional (COI), o que Lia não viu com bons olhos. "É como se eles esfregassem na nossa cara, é muito simbólico. A universidade está toda suja, sem dinheiro para pagar limpeza, mas as vagas onde os carros do COI vão ficar foram limpas, foi tudo varrido, e a UERJ não ganha nada com isso", diz.

"Eles chegam como se fossem donosjogos sem baixartudo. Usam o terraço para transmissõesjogos sem baixarTV, entram nos laboratórios, colocam guimbasjogos sem baixarcigarrojogos sem baixarplantas e experimentos. Eles têm chancela do governo para fazer o que quiserem aqui."

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Legenda da foto, Lia Rocha: 'A universidade está toda suja, sem dinheiro para pagar limpeza'

A BBC Brasil procurou o Comitê Rio 2016 para esclarecimentos sobre o estacionamento, mas até o fechamento desta reportagem não houve resposta. O Governo do Estado do RJ informou que "mesmojogos sem baixarmeio à gravíssima situação financeira vem mantendo os repasses à UERJ" e que entre os dias 17 e 26jogos sem baixarjulho foram repassados R$ 12 milhões para pagamentojogos sem baixarserviços e manutenção com fornecedores e que no total, entre janeiro e julho deste ano, já foram repassados R$ 125 milhões relativos ao custeio da universidade.

jogos sem baixar 3. Vila dos Atletas X Favela Vila Uniãojogos sem baixarCuricica: "Passaram por cimajogos sem baixarnós como tratores, ficou uma terra arrasada"

Daniel Ferreira Campos tem 61 anos e é naturaljogos sem baixarCamaçari, na Bahia. Quando chegou ao Rio,jogos sem baixar1969, foi moradorjogos sem baixarrua e chegou a fugir dos militares para não ser enquadrado na "leijogos sem baixarvadiagem", vigente durante a Ditadura Militar. Para ele, é um absurdo que a favela Vila Uniãojogos sem baixarCuricica, por onde passou o BRT Transolímpica, que removeu maisjogos sem baixar870 das 1.500 famílias que moram no local, tenha sido deixada sem saneamento básico e com muitos problemas deixados pela obra.

Ligando o bairrojogos sem baixarDeodoro à Barra, o corredor expressojogos sem baixarônibus foi uma das obras responsáveis pelo maior númerojogos sem baixarremoções nos preparativos para os Jogos. Para Daniel, a diferença com comunidades como a Vila Autódromo, vizinha ao Parque Olímpico, é que Curicica foi esquecida. "Fomos abandonados pelo Estado e pela mídia. Ninguém quis contar a nossa história para o mundo. Luto sozinho", diz.

"Essas Olimpíadas são só para inglês ver. Quem lucra são os ricos. Olha aqui esse esgoto a céu aberto, as fezes chegam totalmente in natura. Você pode ver como as ruas ficaram esburacadas pela passagem dos caminhões das obras. Não tem escoamentojogos sem baixarágua, quando chove, alaga tudo. Largaram tudo assim", diz. Ele conta que a comunidade tinha construído pontesjogos sem baixarconcreto que atravessavam o valãojogos sem baixaresgoto, por conta própria, e que estas foram derrubadas pelas obras mas não foram reconstruídas.

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Legenda da foto, Daniel Ferreria Campos, morador da favela Vila Uniãojogos sem baixarCuricica: 'Essas Olimpíadas são só para inglês ver. Quem lucra são os ricos'

Daniel mostra ainda placas do viaduto por onde passam os ônibus cedendo por contajogos sem baixarproblemas na fundação. "Isso aqui é um perigo. As crianças brincam o dia todo aqui embaixo, e o negócio está cedendo. A gente está aqui ao lado da Vila dos Atletas, que vai virar condomínio para os ricos, e veja como ficamos", diz.

Para ele, os grandes muros do viaduto que passa pelo meio da comunidade e agora a dividejogos sem baixarduas partes é símbolo dos contrastes trazidos pelos Jogos. "Lá no Porto Maravilha derrubaram o elevado da Perimetral porque ficava feio para a nova praça Mauá. Aqui, derrubaram as casasjogos sem baixarquase 900 famílias e construíram esse viaduto, esse muro da vergonha. Se lá ficava feio, por que aqui ficaria bonito?", questiona. "Passaram como trator por cimajogos sem baixarnós. Isso aqui ficou uma terra arrasada", conta.

A Prefeitura do Riojogos sem baixarJaneiro foi procurada para esclarecimentos mas até o fechamento desta reportagem não respondeu às solicitações.

jogos sem baixar 4. Parque Olímpico X Vila Autódromo

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Legenda da foto, Parque Olímpico fica ao lado da Vila Autódromo

Sandra Mariajogos sem baixarSouza tem 48 anos e Maria da Penha Macena tem 51 anos. As duas moram há décadas na comunidade Vila Autódromo, vizinha ao antigo autódromojogos sem baixarJacarepaguá, onde hoje está o Parque Olímpico, e após décadasjogos sem baixarluta e diversas tentativasjogos sem baixarremoção, ressaltam o fatojogos sem baixarterem ficadojogos sem baixarduas das 20 casas recentemente construídas no lugar onde já viveram maisjogos sem baixar600 famílias.

A comemoração, no entanto, é agridoce. Enquanto faziam a mudança, as moradoras revelaram que não há muito o que celebrar. "Sim, foi uma vitória. Lutamos até o final, e conseguimos ficar. Mas nossa luta não era por isso. Não era por essas 20 casinhas. Era pelas nossas casas que construímos com nosso suor, pela nossa identidade, nossa história", diz Sandra, que conversou com a reportagem diante dajogos sem baixarantiga casa, aindajogos sem baixarpé. Seis casas permanecemjogos sem baixarpé enquanto os moradores fazem a mudança para as casas novas. Depois serão derrubadas.

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Legenda da foto, Sandra, moradora da Vila Autódromo: 'Minha casa, onde eu morei por maisjogos sem baixar20 anos, virou um estacionamento dos ônibus deles'

Para Penha, que ficou conhecida como uma das ativistas mais determinadas da Vila Autódromo e chegou a receber uma medalhajogos sem baixarreconhecimento da Assembleia Legislativa do Estado do Riojogos sem baixarJaneiro (Alerj), o cenário no entorno do que um dia já foi a comunidade vizinha ao antigo autódromojogos sem baixarJacarepaguá é simbólico dos impactos dos Jogos para os cariocas. "Olha ao redor. De um lado o viaduto novo, o BRT. Do outro, o Parque Olímpico. Minha casa, onde eu morei por maisjogos sem baixar20 anos, virou um estacionamento dos ônibus deles. Era toda a minha história, mas para eles não é nada", conta.

Ela diz que acha interessante o país receber o evento esportivo, mas que teria sido mais útil se o legado tivesse incluído trazer jovensjogos sem baixarfavelas para interagir com os atletas e se o esporte tivesse sido mais inserido nas comunidades pobres. "Sinceramente, eu não vejo legado nenhum. O próprio BRT é superlotado, porque eles tiraram as linhasjogos sem baixarônibus alimentadoras, dos bairros. O legado verdadeiro é para os ricos, para quem construiu tudo isso e vai lucrarjogos sem baixarcima", diz.

A Prefeitura do Riojogos sem baixarJaneiro foi procurada para esclarecimentos mas até o fechamento desta reportagem não respondeu às solicitações.