PIB recua 0,3%: entenda como seus hábitos afetam índice:aposta mix

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Legenda da foto, Qual é a relação do PIB com o cotidiano, hábitosaposta mixcompra e dificuldadeaposta mixachar emprego dos brasileiros?

A BBC Brasil consultou economistas para mostrar como esse número se reflete e tem consequências na vida dos brasileiros.

O indicador pode ser calculadoaposta mixdiversas maneiras. As duas principais são pela ótica da oferta e pela óticaaposta mixdemanda. Ou seja, pelo cálculo do que se produz e do que se consome no país.

Na primeira, o IBGE soma produção gerada por agropecuária, indústria e serviços e chega à contribuiçãoaposta mixcada um para o crescimento da economia.

Na segunda, soma tudo o que é gasto pelas famílias, pelo Estado e pelas empresas nos bensaposta mixcapital - máquinas, por exemplo. A soma das exportações e importações também entra na conta.

Saiba abaixo quais fatores entram na equação do PIB e como eles afetam os brasileiros:

Hábitosaposta mixconsumo

Adiar a compra da geladeira, escolher a marca mais barata no supermercado e evitar comer fora são hábitos que impactam diretamente no PIB. Isso porque o consumoaposta mixbens e serviços das famílias representa cercaaposta mix60% do desempenho da economia.

Segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil, a proporção é semelhante aaposta mixpaíses do mundo desenvolvido, como os Estados Unidos, e mostra que o mercado interno é crucial para o desempenho econômico.

Os gastos dos brasileiros exercem papel-chave na cadeiaaposta mixprodução porque estimulam as empresas a investir, aumentar a capacidade produtiva, contratar novos funcionários, alémaposta mixincentivar o setoraposta miximportação a trabalhar mais para atender à demanda.

No entanto,aposta mixmomentosaposta mixcrise como o atual, todos ficam menos confiantes para gastar. A possibilidadeaposta mixperder o emprego, salários menores, inflação e juros altos dos empréstimos fazem com que as pessoas repensem suas compras. E isso trava a economia.

No Brasil, esse movimento vem ocorrendo desde 2011, quando as políticas do governo para estimular o consumo, como o IPI reduzido para automóveis, começaram a mostrar sinaisaposta mixesgotamento.

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Legenda da foto, A queda acumulada na produçãoaposta mixveículos no Brasil éaposta mixcaiu 25,8%; setor havia impulsionado economia nos anosaposta mixbonança

O consumo foi um dos principais motores do crescimento econômico do governo Lula (2003-2010),aposta mixdetrimento dos investimento na indústria -aposta mix2010, o PIB teve altaaposta mix7,5% e o consumo,aposta mix10,8%.

Naquele momento, eram comuns casosaposta mixbrasileiros que aproveitavam o crédito fácil e a reduçãoaposta miximpostos para comprar uma TVaposta mixtela plana ou um eletrodomésticoaposta mixúltima geração.

No entanto, como explica o economista da Guide Investimentos Ignacio Crespo, não é necessário trocaraposta mixTV todo ano e, com o agravamento da situação econômica, esse componente foi perdendo peso no PIB. Em 2015, ele caiu 4%.

Para Crespo, a retração dos gastos, exposta nos resultados do primeiro trimestre, chega a um ponto mais crítico, onde as pessoas não apenas adiam a geladeira nova, mas deixamaposta mixcomprar certos produtos no supermercado.

Desemprego

O fatoaposta mixmuitas pessoas não encontrarem emprego é preocupante, masaposta mixque forma isso entra no resultado do PIB?

O desemprego não é um componente do indicador, mas permeia aaposta mixformação. Ele é, como define o professor do Institutoaposta mixEconomia da Unicamp Pedro Rossi, um sinal que aponta para a situaçãoaposta mixoutros setores.

"É um sintomaaposta mixque o sistema econômico não está funcionando direito."

Seguindo o raciocínioaposta mixRossi, as demissões estão relacionadas, por exemplo, à queda no investimento das empresas, que não consideram o momento bom para produzir mais e cortam custos.

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Crédito, Agência Brasil

Legenda da foto, Taxaaposta mixdesemprego do país atingiu 10,9% no primeiro trimestreaposta mix2016

Além disso, o desemprego também pode estar ligado à redução nos gastos do governo, outro integrante do PIB, que afeta o funcionalismo público e as empresas que têm contratos com o Estado.

A situação do mercadoaposta mixtrabalho também é determinante para o consumo das famílias. Quando o emprego é garantido, as pessoas se sentem mais confortáveis para comprar, o que ajuda o PIB a ir melhor.

Indústria e serviços

A indústria é um dos setores que mais sofrem com a crise econômica. No PIB do ano passado, registrou quedaaposta mix6,2%, enquanto serviços tiveram retraçãoaposta mix2,7% e a agropecuária cresceu 1,8%.

Mas, na prática, quais são as consequênciasaposta mixesses setores estarem indo mal? O primeiro efeito é o corteaposta mixvagas, principalmente na indústria. No ano passado, ela foi responsável por quase 40% das demissões, segundo dados do Caged, do Ministério do Trabalho.

No entanto, mais do que o númeroaposta mixpostos, os problemas se refletem na saídaaposta mixpessoas qualificadas e na quedaaposta mixqualidade das vagas oferecidas, explica o professor do Institutoaposta mixEconomia da Unicamp Pedro Rossi.

"Todos os países avançados tiveram uma faseaposta mixavanço industrial, o que implicou ganhoaposta mixtecnologia e produtividade, e uma estruturaaposta mixemprego com melhor qualidade. A indústria demanda serviços mais sofisticados e emprega pessoas com melhor formação, o que é prejudicado quando ela vai mal."

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Legenda da foto, Indústriaaposta mixetanol no Estadoaposta mixSão Paulo; setor enfrenta forte retração pela crise econômica

Outra consequência dos problemas no setor, especificamente da demanda menor dos consumidores, seria um barateamento dos produtos, diz o economista da MCM Consultores Antonio Madeira. Segundo ele, quem puder pagar, vai poder aproveitar alguns descontos. O mesmo vale para os serviços.

A grande diferença entre esses dois segmentos fica por conta do emprego. No caso dos serviços, a mãoaposta mixobra não costuma ser tão qualificada.

Com os cortes na indústria nos últimos anos, o setor se tornou um refúgio dos desempregados, justamente por seraposta mixmais fácil entrada. Madeira exemplifica: com o dinheiroaposta mixuma rescisão, uma pessoa pode comprar um carro para ser motorista do aplicativo Uber, sem custo ou formação a mais.

"É uma válvulaaposta mixescape. Uma piora no mercadoaposta mixtrabalho formal levou os que perderam o emprego a buscar alternativas e aí abriram mãoaposta mixseguro,aposta mixcarteira assinada."

A "uberização" da economia, como define Madera, pode estar chegando ao limite, com o setoraposta mixserviços saturado e demitindo.

A economista da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro diz que até 2014 a lógicaaposta mixcorrer para os serviços funcionou bem, mas que desde 2015 as demissões tornaram-se mais intensas.

Dadosaposta mixjaneiro da Sondagemaposta mixServiços da Fundação Getulio Vargas apontam que 27% das empresasaposta mixserviços administrativos e complementares planejavam demitir até abril.

"A expectativa é que continue assim. Até porque foi um setor que entrou por último (nos cortes), depoisaposta mixindústria e construção", diz Ribeiro.

Gastos do governo

Um dos componentes do PIB que parecem mais distantes do dia a dia dos brasileiros são os gastos do governo com bens e serviços.

Apontado como vilão pelo alto nívelaposta mixendividamento do país, o gasto público representa cercaaposta mix20% do indicador.

Seus impactos vãoaposta mixnegócios com grandes empresas - muitas dependentesaposta mixcontratos públicos - a serviçosaposta mixeducação e saúde, passando pelos milharesaposta mixfuncionários do Estado.

Quando essas despesas são reduzidas, como pretende a equipe econômica do presidente interino Michel Temer, toda essa estrutura é afetada.

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Legenda da foto, O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, encabeça os esforços do governo interino para reduzir despesas

Possíveis benesses e prejuízos desses cortes dividem os economistas.

Para o professor da Unicamp Pedro Rossi, o Estado é o "grande gastador do sistema" e mexer nos seus gastos é prejudicar partes importantes da economia.

"Ele emprega muita gente. Se contrair ou cortar (os gastos), é um setor muito grande que vai ter menos renda. Mesmo que você não esteja diretamente ligado ao governo, o seu entorno econômico tem relação com ele. Toda a sociedade sente o corte."

Ao explicar a reaçãoaposta mixcadeia, Rossi cita o exemploaposta mixum estudante que paraaposta mixreceber a bolsa do governo e, por isso, deixaaposta mixir ao bar. Sem esse e outros clientes universitários, o dono do boteco tem uma diminuição do movimento e decide demitir.

O funcionário dispensado, sem renda e com medoaposta mixassumir dívidas, paraaposta mixcomprar. Outros na mesma situação também põem o pé no freio e afetam a demanda das empresas, que não investem e demitem mais gente.

Outro efeito dessa retração do Estado seria, para Rossi, a diminuição da qualidade do serviço público, obrigando as pessoas a recorrer a planosaposta mixsaúde, por exemplo.

Para outros economistas entrevistados, a propostaaposta mixTemeraposta mixmexer nos recursos destinados à saúde e educação não deve causar a precarização dessas áreas, mas pode estimularaposta mixeficiência.

"É mais uma questão gerencial. Além da receita, é preciso a melhor aplicação dos recursos, ter maior controle", diz Antonio Madera.

O economista afirma que gastos públicos como seguro-desemprego, programas sociais e aposentadorias servem como "estabilizadores" da economia, ao darem garantias para os trabalhadores. No entanto, pondera que o nívelaposta mixdespesas do governo já havia ultrapassado o aceitável.

Para Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, os gastos do governo contribuem para um PIB melhor, mas minam a capacidadeaposta mixfazer bem à economia ao ultrapassar as receitas.

"Gastos menores com saúde e educação contribuem, sim, para um PIB mais fraco. O governo pode gastar, mas quando tem como financiar. A renda está caindo muito, a arrecadação está caindo e os gastos estão subindo. É por isso estamos com esse deficitaposta mixR$ 170 bilhões. E com isso todo mundo perde", diz.