O médico excomungado por abortosites de jogosmeninasites de jogos9 anos vítimasites de jogosestupro:sites de jogos

Crédito, Foto: BBC Brasil

Legenda da foto, "Nunca tive dúvidassites de jogosque era o correto a fazer", diz obstetra sobre abortosites de jogosgarota vítimasites de jogosestupro

sites de jogos Em 30 anos como médico obstetra, o pernambucano Olímpio Moraes conhece como poucos a força do debate sobre direitos reprodutivos e aborto no Brasil. Ele foi excomungado duas vezes por representantes da Igreja Católica no Estado - uma delas apenas por apoiar a iniciativa disponibilizar pílulas do dia seguintesites de jogospostossites de jogossaúde no Carnaval do Recife. Na outra, por realizar o abortosites de jogosuma menina que ficou grávida após ser estuprada.

A polêmica que lhe trouxe fama na imprensa nacional ocorreu quando uma garotasites de jogosnove anos do interior pernambucano foi encaminhada a Recife, grávidasites de jogosgêmeos.

"Ela tinha menstruado uma vez só e não entendia o que estava acontecendo, embora fosse dito para ela o que era uma gravidez. Ela achava que estava doente e ia para o hospital tirar o tumor. Estava sempre com uma boneca", relembra.

A gravidez da menina era produto do abuso sexual do padrasto. O caso atraiu a atenção da imprensa e também das autoridades religiosas locais.

"Eu nunca tive dúvidassites de jogosque aquilo era o correto a fazer. No caso dela se somavam duas indicações para o aborto legal. Além do estupro, havia o riscosites de jogosmorte. Era uma criançasites de jogos1,32 m grávidasites de jogosgêmeos. Isso é uma gravidezsites de jogosalto risco."

A excomunhão do obstetra anunciadasites de jogos2009 pelo arcebisposites de jogosPernambuco na época, dom José Cardoso Sobrinho, não teve impacto emsites de jogosvida, diz Moraes.

"Toda a equipe médica daqui e a mãe da menina foram excomungadas. As pessoas me perguntam, mas não acontece nada. Até brinco dizendo que não recebi nenhum certificado para colocar no meu currículo,sites de jogosdefesa das mulheres", diz.

"Sou católico, como a maior parte dos brasileiros, mas não sou praticante. E acho que esse é um dos motivos que faz a gente se afastar quando começa a exercer a profissão. Às vezes acho que muitas religiões não condizem com um princípio básico que é ter compaixão e respeitar o sofrimento dos outros", diz.

Após o procedimento, a família da garota mudou-se para outra cidade. O arcebispo deixou o cargo no ano seguinte, por causa da idade avançada.

Objeçãosites de jogosconsciência

Diretor do Centro Integradosites de jogosSaúde Amaurysites de jogosMedeiros (Cisam) — o primeiro serviço médico a realizar abortos legais no Norte-Nordeste, que fazsites de jogosmédia um procedimento a cada 15 dias —,sites de jogosRecife, Moraes afirma que apesar da permissãosites de jogoscasossites de jogosestupro,sites de jogosrisco à vida da mãe esites de jogosanencefalia no bebê, mesmo o aborto legal ainda é difícil no Brasil.

Um dos principais empecilhos, diz ele, ainda é o comportamentosites de jogosmédicos e funcionáriossites de jogosrelação às pacientes.

"Um grande problema para nós é a objeçãosites de jogosconsciência, que é o direito do médicosites de jogosse negar a realizar o aborto. Mas mesmo assim, o médico tem a obrigaçãosites de jogosacolher a mulher, dar as informações a que ela tem direito e fazer o encaminhamento adequado."

"Ele não pode usar a objeçãosites de jogosconsciência para obstruir o acesso à saúde. Isso é antiético", afirma.

Moraes admite, no entanto, que o argumento da objeçãosites de jogosconsciência frequentemente significa que mulheres não terão amparo e orientação quando chegam à maternidade.

Em um caso recente, uma mulher grávida após um estupro chegou a ficar 24 horas no Cisam sem ser atendida, até que uma estudantesites de jogosmedicina se sensibilizou comsites de jogossituação.

"Você tem que tomar cuidado também porque os outros profissionaissites de jogossaúde - enfermeiro, técnicosites de jogosenfermagem — e mesmo o pessoalsites de jogosapoio, como porteiro e maqueiro, agridem as mulheres com palavras", conta Moraes.

"Mas como diretor, às vezes só fico sabendo das coisas depois que ocorrem. Aconteceusites de jogosa paciente vítimasites de jogosestupro estar numa área reservada e um funcionário abrir a porta e dizer: 'você vai matar seu filho', apenas porque soube que aquele era um casosites de jogosabortamento."

Mudançasites de jogosposição

Mas apesar disso, Moraes se diz otimista sobre a mudançasites de jogosmentalidadesites de jogosrelação aos direitos reprodutivos das mulheres.

"Houve um avanço. Quando eu me formei não se tocava no assunto. Quando a gente falavasites de jogosaborto, era bem direto: aborto é crime, a mulher é criminosa. Era uma visão muito fria. E eu saí da faculdade com essa visão mesmo. Hoje sou diferente do que era há 30 anos", diz.

"Me marcou muito um dos primeiros casos que atendi,sites de jogosuma policial que foi estuprada por três homens e ficou grávida. Com o sofrimento e o contato com as mulheres, a gente vai aprendendo coisas que não foram ditas na faculdade."

Ele diz ainda que o debate moral frequentemente ignora a experiência das mulheres que optam por interromper a gravidez.

"A mulher que faz o aborto não quer abortar. Isso causa consequências pra ela, físicas e psicológicas. Na verdade, ninguém é a favor do aborto. Mas quem é contra precisa entender que criminalizar não é a maneira mais eficientesites de jogosdiminuir esse número. É o contrário."

Na tentativasites de jogosmudar o cenário da formaçãosites de jogosmédicos, o obstetra criou, na Universidadesites de jogosPernambuco (UPE), onde ensina, uma disciplinasites de jogosque leva setores da sociedade para apresentarem seu pontosites de jogosvista aos alunos.

"Trazemos o movimentosites de jogosmulheres, por exemplo, para discutir questõessites de jogosdireitos reprodutivos e planejamento familiar na perspectiva delas. Eles debatem o mesmo assunto que estão vendo na faculdade na perspectiva da biologia, mas pelo outro lado", explica.

"O que me deixa feliz é que quem tem uma visão restritiva sobre o aborto e passa para o nosso lado, nunca mais volta. Eu tenho colegas aqui no Cisam que há 10 anos não faziam abortamento legalsites de jogosmaneira nenhuma e hoje fazem. Quando eles percebem que estão dando assistência, se sentem mais médicos."

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