Sem ministras, Brasil perde 22 posiçõesrankingigualdadegênero:
A queda relativamente brusca se deve ao fatoser raro, atualmente, um país não possuir pelo menos uma mulher dirigindo um ministério. "Observamos todos os países do nosso estudo e há apenas quatro onde existem mais mulheres do que homensposições ministeriais, por outro lado, há também apenas cinco onde o númeromulheres ministras é zero".
Tomando-se por base os dados citados por Zahidi, o Brasil entraria para o seleto clube dos países sem ministras ao ladoBrunei, Hungria, Arábia Saudita, Paquistão e Eslováquia.
Estudo
O Índice GlobalDesigualdade utiliza dadospesquisaspercepção eanálises cedidos por várias organizações internacionais (como a Organização Internacional do Trabalho, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e a Organização Mundial da Saúde) para avaliar a situação das mulheres na sociedade, subdividindo-secategorias como Participação Econômica e Oportunidade; Conquista Educacional; Saúde e Sobrevivência; e Empoderamento Político.
É nesse último quesitoque a ausênciamulheres no gabinetegoverno tem maior impacto - fazendo o Brasil cair 50 posições. O cálculo levaconta números atualizados e fornecidos pela União Interparlamentar, organização que agrega dadosgovernos do mundo todo.
A fórmula que avalia o nívelEmpoderamento Político baseia-se na quantidademulheres para homensposições ministeriais e no Parlamento. Também é levadoconsideração o tempo que o cargo mais alto do país (presidência ou primeiro ministro) permaneceu ocupado por mulheres nos últimos 50 anos.
No relatório do ano passado -que aparece na 85ª colocação geral - o Brasil teve bom desempenho nos quesitos Conquista Educacional e Saúde e Sobrevivência atingindo a pontuação máximaigualdade. Decepcionou, porém, nos outros dois quesitos, Participação Econômica e Oportunidades e Empoderamento Político.
"O Brasil regrediu levemente, caindo 14 posições desde 2014. Isso se dá possivelmente porque houve queda no númeromulheresposiçõesministérios (de 26% para 15%)", afirma o documento.
Entre 1990 e 2015, o Brasil teve 34 ministras. Dessas, 18 estiveram à frentepastas durante o períodoque Dilma Rousseff foi presidente (2011-2016),acordo com dados publicados pela estatalcomunicações EBC.
Mulheres no poder
Para Zahidi, a ausênciamulheres no poder é sintoma da faltapolíticas que estimulem oportunidades iguais - e não da faltacapital humano.
"Já faz muito tempo que a América Latina superou a discrepância educacional entre homens e mulheres. Há 20, 30 anos,alguns países elas já eram a maioria a se formaruniversidades (…) Essa forçatrabalho extremamente hábil são mulheres40 e 50 anos, que não ocupam posiçõesliderança."
"Então, alguma coisa deu errado no meio do caminho. Elas não foram integradasposiçõesliderança como deveriam ter sido, considerando o potencial que representam".
"As mudanças que precisavam acontecer nas estruturas institucionais simplesmente não aconteceram. O ambientepolíticas necessárias não aconteceu", lamenta.
Dividendos da diversidade
Zahidi aponta para pesquisas que revelaram que "a desigualdade (entre gêneros) é menorpaíses onde mais mulheres estão engajadastomadasdecisões políticas".
"Além disso, estudos mostraram que mulheres tendem a defender investimentosáreas diferentes do que homens, produzindo resultados mais democráticos na distribuiçãorecursos", afirma.
"Isso é semelhante ao chamado 'dividendo da diversidade'negócios, quando equipes tomam decisões melhores por meiouma variedadeperspectivas", explica Zahidi.
Um estudo da empresaconsultoria McKinsey divulgadojaneiro2015 revelou que empresas com uma forçatrabalho mista, compostahomens e mulheresdiferentes raças, registram lucros 35% superiores às empresas onde não há o "dividendo da diversidade".
"Nas nossas pesquisas notamos a correlação entre a representação políticamulheres fortes e o aumento na participaçãomulheres na forçatrabalho, por vezes devido a um efeito'modelo', que inspira meninas e mulheres a se tornarem engajadasambas atividades políticas e econômicas", concluiu Zahidi.
Polêmica
Assim que anunciou seu gabinete, Temer foi criticado pela ausênciamulheres.
Diversas personalidades do mundo artístico foram sondadas para a pasta da Cultura - "rebaixada" para Secretaria - e teriam se recusado a ocupar a posição.
Ela acabou sendo assumida por Marcelo Calero, depoisrecuperar o statusMinistério.
Entre as poucas mulheres que acabaram com cargos importantes no governo estão a executiva Maria Silvia Bastos, ex-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, designada para a chefia do Banco NacionalDesenvolvimento Econômico e Social, BNDES; a Chefe do Gabinete Presidencial, NaraDeus, e SecretáriaDireitos Humanos, Flávia Piovesan.
Em entrevista à BBC Brasil Piovesan ressaltou que "nunca houve antes uma mulher no BNDES", e que isso seria um meio "muito importante para o exercício do poder". Mas reconheceu que era pouco apenas a presençaambas no governo. "Claro. Tem que avançar e espero que avancemos".