Ter Ministério da Cultura é frutobets nacional appmentalidade patriarcal, burocrática e centralizadora, diz ex-diretor do Masp:bets nacional app

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No bate-papo, o ex-diretor do Masp (Museubets nacional appArtebets nacional appSão Paulo) expõe uma preocupação maior com a rediscussão do papel do Estado na área do que com a resistência culltural ao fim do MinC: "O Estado não é um salvador da cultura, ela existe fora dos jogos governamentais".

A seguir, os principais trechos da entrevista.

bets nacional app BBC Brasil: O momento mais recente na nossa históriabets nacional appque não tivemos um Ministério da Cultura foi na era Collor. Quais as principais diferenças daquele para este momento e o potencial impacto da ausência da pasta?

bets nacional app Teixeira Coelho: Eu acho que a gente tem que colocar essa discussão num contexto mais amplo sobre a função da intervenção do governo na cultura. Eu brinco com as pessoas que estudam política cultural que quando foi criado o ministério autônomo, lá atrás, antes do Collor, eu defendi e assinei a favor. Antesbets nacional appacontecer tudo isso aqui, eu disse que, se fosse o casobets nacional apppassar pela mesma experiência, eu pensaria duas vezes.

As pessoas estão colocando a salvação da cultura na existênciabets nacional appum ministério específico. Eu acho que isso é, antesbets nacional apptudo, fruto da mentalidade bacharelesca, administrativa, cartorial, burocrática que invade toda a esfera da vida brasileira,bets nacional apptodos os setores.

Se você fizer um mapeamento do que acontece fora do Brasilbets nacional apptermos da institucionalidade da cultura, vai ver que a maior parte dos ministérios existentes nos paísesbets nacional appreferência não tem um ministério autônomo: caso da França, Itália, Inglaterra, Espanha. A existênciabets nacional appum ministério autônomo para a Cultura não é sinônimobets nacional appsucesso da intervenção do Estado na prática da cultura.

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bets nacional app BBC Brasil: Com base no que o senhor coloca, será que não precisamos aindabets nacional appum ministério por conta do nosso tamanho, das dimensões do Brasil, e por ainda lidarmos tão precariamente com o conceitobets nacional appcultura, com as relações e as práticas culturais? É só pensar nas discussões que se teve na época do lançamento do Vale-Cultura...

bets nacional app Teixeira Coelho: É justamente porque o Brasil é deste tamanho que um Ministério da Cultura centralizadobets nacional appBrasília não se recomenda. A gente precisa terbets nacional appmente onde está a cultura, qual é o ente da cultura. A cultura sempre está nas cidades.

A cidade é a única realidade social concreta das pessoas - as pessoas não vivem no Estadobets nacional appSão Paulo, o Estado nesse sentidobets nacional appdivisão administrativa é uma ficção e a nação hojebets nacional appdia é outra ficção. Então a gente deveria aproveitar o momento atual - se é que dá para aproveitá-lo - para rediscutir o Brasil como federação, porque somos uma falsa federação.

Toda riqueza econômica e cultural que é gerada nas cidades sobe para Brasília, para depois ser distribuída ou não distribuída. A sede da cultura é a cidade, e hoje as cidades brasileiras não têm recursos para decidir que cultura elas querem ou não querem. O Brasil é autoritário, paternalista, patriarcal e centralizador. A cultura não é para ser centralizada.

bets nacional app BBC Brasil: Se olharmos para programas dos anos PT, como os Pontosbets nacional appCultura, o Sistema Nacionalbets nacional appCultura, havia tentativabets nacional appdescentralizar, investir nas culturas locais. Pensando nesses programas, perde-se alguma coisa? Havia alguma política cultural que era essencial nesse sentido?

bets nacional app Teixeira Coelho: Nessa ótica que eu coloco, não creio que a gente perca. Por que temos que ir à Brasília para discutir um sistemabets nacional appredistribuição? Precisamos reconhecer a autoridade das cidades nos assuntosbets nacional appcultura e dotar a cidadebets nacional apporçamento necessário.

Precisa ter um ministério? Eventualmente, sim. Para fazer a coordenação? Pode ser. Mas não vejo a justificativa mais para um ministério centralizador.

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bets nacional app BBC Brasil: A política cultural vinha tentando se atualizar? E aí pensando nas redes sociais, na tecnologia e seu impacto na cultura - para além do compromisso com as manifestações regionais, da cultura mais tradicional?

bets nacional app Teixeira Coelho: Existe um setor, um departamento, uma unidade, uma secretaria. Essa é a solução no Brasil, criar um departamento para isso. Se você olhar para trás, as políticas culturais existiam pela escassez cultural - não existiam bens culturais suficientes. A razãobets nacional appser benévola da política cultural era a escassez.

A malévola é a proteção do Estado. Nós temos uma superabundânciabets nacional appbens culturais, você levanta as luzes amarelas para essa função do Estadobets nacional appdotar o paísbets nacional appcultura. Havia antes também uma concentração da cultura nas mãosbets nacional appalgumas pessoas, mas nós estamos no século 21. O conhecimento e a informação se difundiram. A gente tem que pensar nisso e não ficar defendendo somente uma instituição que já é do século passado.

bets nacional app BBC Brasil: O fim do MinC nesse momento do país não significa a entrega da cultura para o mercado? Não é simbólicobets nacional appuma atitude que pode representar que nesse momento não cabe ao Estado pensar na importância da cultura para a sociedade?

bets nacional app Teixeira Coelho: Eu não estou dizendo que o ministério tinha que desaparecer, mas que temos que aproveitar o momento para rediscutir. A grande oposição não é entre Estado e mercado, isso é um simplismo.

O que está na oposição é a sociedade civil. Tem o Estado num polo do eixo e a sociedade do outro. O mercado está dentro da sociedade. E tem outro problema: a cultura no Brasil não tem mercado - então até quando a gente vai ficar esperando que um Estado benévolo fique nos dando umas migalhas? Não temosbets nacional appfato um mercado.

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bets nacional app BBC Brasil: Mas com base nisso dá para argumentar que as exposições passaram a ter mais público, os musicais lotam todos as sessões. Isso é só um recorte da cultura mais como entretenimento? Porque aí parece ter plateia, mercado. Em que sentido não tem o mercado? Para que áreas da cultura?

bets nacional app Teixeira Coelho: Não tem poder aquisitivo e formação, prática, costume para comprar cultura. Isso poderia nos dar autonomia. Na décadabets nacional app40, a tiragembets nacional appum livro erabets nacional app4 mil exemplares. Hoje um livro que não seja best-seller não tem nem isso. O mercado regrediu, sumiu.

Houve mais shows musicais, mais exposições? Foi por causa da Lei Rouanet, basicamente isso, que foi um grande salto para qualitativo e quantitativo para o país. Você pode até discutir na mãobets nacional appquem acabavam ficando os recursos, mas ela foi importante, abriu espaços.

bets nacional app BBC Brasil: Falemos dela. Havia algumas distorções - artistas renomados e que poderiam facilmente financiar suas atividades acabavam recorrendo à Lei Rouanet...

bets nacional app Teixeira Coelho: Claro, tem muita coisa que pode viver no mercado, que não precisaria (de apoio financeiro). Mas ela (a Lei Rouanet) moveu algumas montanhas, cumpriu seu papel. E ela não deve acabar, pelo menos eu não ouvi esse argumentobets nacional appque ela acabaria. Mas a gente não pode deixarbets nacional applutar pela existênciabets nacional appum mercado.

O Vale-Cultura poderia ser outro embriãobets nacional appcriaçãobets nacional appum mercado, você dá dinheiro na mão da pessoa e ela compra o que quer. Ela vai comprar revista pornográfica? Aí precisamos ver isso na educação.

Por isso fundir cultura e educação aqui no Brasil pode não ser algo tão absurdo assim. Ainda mais se você contar que o Ministério da Educação tem orçamento maior do que o da Cultura. Mas a Lei Rouanet é importante, eu não vejobets nacional apponde o Brasil iria arrumar recursos para suprir aquilo que essa lei permite.

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bets nacional app BBC Brasil: Um papel do MinC que acabou ficando à margem da discussão sobre o fim do ministério é a funçãobets nacional apppensar a nação como identidade, como preservação - algo que mais recentemente começou a se chamarbets nacional app bets nacional app nation branding bets nacional app . E essa parte, não se perde com a extinção da pasta?

bets nacional app Teixeira Coelho: Eu espero que a gente não discuta identidade nunca mais. O (escritor) Salman Rushdie fala que o ser humano não tem raízes, tem pés - ele pode passar daqui pra lá. A identidade é um conceito básicobets nacional appfilosofia e sociologia do século passado.

Hojebets nacional appdia no lugarbets nacional appidentidade você usa identificação. Hoje eu soubets nacional appesquerda, amanhã soubets nacional appcentro, não venha me cobrar uma corrente que me amarre. Você junta toda a tendência das pessoas: hoje é homossexual, amanhã é bi, as coisas estão flutuando.

O Estado sempre se serviu da cultura para se defender. Com uma identidade, você tem controle mais fácil sobre as pessoas. Se não tiver um Estado para nos dizer isso, vamos viver num mundo bem melhor.

bets nacional app BBC Brasil: Nesse sentido, um Ministério da Cultura nesse nosso mundo atual seria obsoleto? Sua análise parece ir nesse sentido...

bets nacional app Teixeira Coelho: A cultura existe fora do ministério, fora dos jogos governamentais. Tem gente que diz: "veja como o Ministério da Cultura é importante, criou um departamentobets nacional appcultura digital". Ué, a cultura digital vai continuar sendo cultura, vai continuar existindo. Por que tem que ter um departamento para ela?

Essa mentalidade é fruto desse pensamento cartorial. A maior parte da cultura do mundo é feita fora dos ministérios, no mundo todo. A cultura vai continuar existindo.