Blog do Julio: A Alemanha está aí; é só copiar:bet betnacional

Seleção alemã | Crédito: Reuters

Crédito, Reuters

Legenda da foto, "Não tem "geração alemã", não tem "sorte". Tem trabalho", escreve Julio Gomes

Talvez seja emblemática a frasebet betnacionalCarlos Alberto Parreira no ano passado, ao final da Copa das Confederações. "Existe uma hierarquia no futebol", bradou Parreira. A Espanha, campeã do mundo e bi europeia, não havia ainda enfrentado "o verdadeiro dono do futebol mundial", era o que ele queria dizer. Claro, mais fácil tripudiar por um jogo do que entender tudo o que havia sido construído pelo rival ao longobet betnacionalanos. Entender, assimilar, aplicar.

O futebol do Brasil está não um, mas vários degraus abaixo dos principais países da Europa. Precisa mudar tudo. Absolutamente tudo. Também porque, como vimos, começa a respingar na seleção brasileira. Ainda que a seleção e o futebol brasileiro sejam coisas distintas, eles são comandados pela mesma entidade, a CBF. E um poderia/deveria se beneficiar do outro. Não é o que acontece na prática.

Futebol e espírito coletivo

No ano 2000, a Alemanha fez uma Eurocopa lamentável. Saiu humilhada na primeira fase, um gol marcado. Os dirigentes do futebol alemão, federação e clubes, se reuniram para revolucionar o futebol. Duas ações básicas: organizar a liga doméstica e mudar tudo na base. A ideia era ter mais jogadores locais nos principais times, melhorar a qualidade do jogo e, consequentemente, os resultados da seleção.

A geração alemã que está na final da Copa é basicamente a primeira fornadabet betnacionalalgo planejado. Não tem "geração alemã", não tem "sorte". Tem trabalho. Os alemães são desde muito cedo ensinados a valorizar o espírito coletivo. Nunca, porém, a criatividade e a capacidadebet betnacionalraciocínio e desenvolvimento são deixadosbet betnacionallado. Quem não vira jogadorbet betnacionalfutebol tem estudos e pode seguir na carreira esportiva, por exemplo, como treinador, preparador físico, etc. Eles não são preparados apenas para jogar. São preparados para a vidabet betnacionalsociedade. É o futebol como inclusão e ferramentabet betnacionaltolerânciabet betnacionalum país com tantas etnias.

A Bundesliga é hoje a segunda ligabet betnacionalfutebol do mundo, deixou a espanhola para trás e se aproxima rapidamente da Premier League da Inglaterra. Os clubes não podem ser vendidos para magnatas russos, árabes oubet betnacionalonde for. Precisam mostrar solvência financeira para poderem disputar o campeonato. Um campeonato, aliás, com divisãobet betnacionalreceitasbet betnacionalfunçãobet betnacionalresultados dos anos anteriores, e nãobet betnacionalacordo com o que quer a televisão ou da popularidade. Os clubes são obrigados a seguir estritos padrõesbet betnacionalqualidadebet betnacionalsuas academiasbet betnacionalfutebol.

Exemplos práticos: o sub-15bet betnacionalum time qualquer precisa treinarbet betnacionalcampos com dimensões X, ter à disposição vestiários com dimensões Y e precisam ter Z profissionais da área técnica, todos devidamente formados e credenciados pelos cursos da Federação Alemã. Cada clube também é obrigado a definir uma filosofiabet betnacionaljogo, que precisa ser aplicadabet betnacionaltodos os níveis, do mirim ao profissional. Não pode o técnico sub-17 do Wolfsburg gostarbet betnacionalcentroavante alto e brigador e o técnico sub-15 achar que só baixinhos podem jogar no ataque. Existe coerência entre as faixas etáriasbet betnacionalfunçãobet betnacionalcomo o departamento técnico do clube enxerga o futebol, e tudo isso é monitorado por uma empresabet betnacionalauditoria.

A Federação Alemã é tudo o que a CBF não é, mas deveria ser. É a responsável por fomentar o esportebet betnacionaltodos os níveis, exceto primeira e segunda divisões (que são a Bundesliga, geridas pelos próprios clubes). Em todos os níveis, são aplicados padrõesbet betnacionalqualidade idênticos aos exigidos pelos clubesbet betnacionalelite para os clubesbet betnacionalelite. São centrosbet betnacionalformação, centenas deles, espalhados pelo país e sem necessariamente vínculos com clubes. Sempre, e este é um pré-requisito, com o trabalhobet betnacionalprofissionais credenciados, treinados e diplomados pela Federação.

"A CBF é um exemplo para o Brasil. É o Brasil que deu certo, que dá certo", falou o mesmo Carlos Alberto Parreira, antes do Mundial.

A CBF administra uma seleçãobet betnacionalum país que, hoje, tem história e matéria prima. Um paísbet betnacionalque há monocultura esportiva e jovensbet betnacionalclasses menos abastadas veem no futebol a chancebet betnacionalprover para suas famílias algo que nunca conseguiriam por outros meios. Quando se mudam para a Europa, ainda adolescentes na maioria dos casos, passam a ter contato com outras facetas do jogo e viram profissionais mais completos. São estes os que formam a seleção. Ou seja, a CBF tem uma seleção forte basicamente porque os jogadores se beneficiam do que aprendem no futebolbet betnacionalalto nível.

De resto, o que a CBF faz pelo futebol brasileiro? Ela alimentar uma triste relaçãobet betnacionalpoder com as federações estaduais, que parecem se aproveitar da incompetência e má administração dos clubes. Uma emissorabet betnacionalTV é voz ativa e fundamental na determinaçãobet betnacionalalgo tão básico como o calendário. Temos uma liga fraca, futebolbet betnacionalbase comandando por empresários e público pequeno nos estádios - aliás, estava esquecendo que a Bundesliga, com preços baixos, tem a maior médiabet betnacionalpúblico do futebol mundial, com 40 mil pessoas por jogo.

Uma derrota como a do Mineirão deveria fazer o futebol brasileiro olhar para a Alemanha e copiar tudo. Sem dó. Tudo.

'Não somos donos do futebol'

Mas, conversando com os jogadores após a derrota, eu vi que muitos não pensam assim. Daniel Alves, talvez com cabeça mais fria por não ter jogado, foi o único que admitiu que temos muito o que fazer.

"Somos o país do futebol, mas não somos donos. Venho falando isso faz muito tempo. O futebol está evoluindobet betnacionaltodas as partes do mundo e temos que evoluir junto. A seleção brasileira não tem muito a ver com o futebol brasileiro. Hoje, todas as seleções competem. Independentebet betnacionalhoje (os 7 a 1), a gente tem que procurar evoluir, melhorar, na questão do futebol e no pessoal também", disse Daniel.

"Quando perde, tem que olhar, né. Quando ganha, passam algumas coisas despercebidas. Tem que aprender sempre, com vitória e com derrota", falou Fred. "Nesse momento, cada um tira frutosbet betnacionalalguma coisa. Tem que refletir, as coisas não podem ser desse jeito. A gente espera que mude para melhor", disse Maicon.

Dante, que atua no futebol alemão há anos, que vêbet betnacionalperto tudo o que é feito lá, disse o seguinte: "Não tem que repensarbet betnacionalnada. Acha que se ganhássemos hoje os alemães, iam repensar no método delesbet betnacionaltrabalhar?".

Luiz Gustavo, que foi do Bayernbet betnacionalMunique e hoje está no Wolfsburg, disse que "o futebol alemão é muito organizado, eles têm um trabalho desde categoriasbet betnacionalbase até as principais muito bom." "Na seleção, jogam há seis, sete anos juntos e muitos no mesmo clube. De tudo, temos que tirar aprendizado. Quando se perde da forma que perdemos hoje, tem que tentar procurar as coisas boas para levar para frente"

Da seleção brasileira que entroubet betnacionalcampo contra a Alemanha, mais da metade nem atuou no Brasil ou jogou por pouquíssimo tempo aqui. Será que isso é normal?

Ultimamente, alguns técnicos brasileiros, que não conseguem triunfarbet betnacionallugar algum do mundo no esportebet betnacionalalto nível, andaram ridicularizando os "acadêmicos do futebol". Talvez seria legal eles lerem esta reportagem sobre como a pesquisa acadêmica foi usada pelos alemães antes do jogo com o Brasil (leia mais: Alemanha usa pesquisa acadêmicabet betnacionalplanobet betnacionaljogo contra Brasil).

O futebol no Brasil é empírico, artesanal e vive sentado na petulância e na história. Paramos no tempo. Não formamos jogadores, não formamos técnicos, não influenciamos há décadas o futebol mundial. A única coisa que fazemos é exportar matéria prima, diamantes brutos. Agora, alémbet betnacionaltudo, estamos perdendo a aura e os fãs conquistados mundo afora pelas geraçõesbet betnacional70 e 82. Quem vai se apaixonar pela seleção brasileira? Qual a escola brasileira dos últimos 30 anos?

Não acho que o futebol do nosso país passará por uma revoluçãobet betnacionalum dia para o outro. Infelizmente, não é o que parece, principalmente quando vemos emergir o discurso do "foi uma goleada casual". As mudanças estão ocorrendo aqui e ali,bet betnacionalmaneira lenta, mas tudo precisa começar por uma mentalidade diferente. Precisamos descer do salto, sermos menos arrogantes e petulantes, entender que o futebol hoje é global, jogado no mundo todo. Que é estudado, analisado. Gente como os jogadores do movimento Bom Senso, que andaram sendo ridicularizados, talvez ganhe mais atenção. Talvez, apenas talvez, a humilhação do Mineirão seja um catalizador, as coisas aconteçam um pouco mais rapidamente.

Dos 7 a 1, pode ficar só a dor. Ou pode ficar a esperança da revolução que o futebol brasileiro precisa.

A Alemanha está aí. É só copiar.