Blog do Julio: A Alemanha está aí; é só copiar:globo esporte apostas
- Author, Julio Gomes
- Role, Editor da BBC Brasilglobo esporte apostasSão Paulo
globo esporte apostas Ninguém gostaglobo esporte apostasver os conterrâneos humilhados. Pessoas tristes, chorando, cabisbaixas. O que aconteceu no Mineirão nesta terça-feira toca fundo o coraçãoglobo esporte apostasquem tem sentimentos. Quando o brasileiro enxugar a lágrima, lavar o rosto e sacudir a poeira, talvez perceba que o que aconteceu era previsível. Mais do que previsível, era até óbvio. E necessário. As vitórias escondem problemas, as derrotas jogam luz sobre eles.
O futebol brasileiro está parado no tempo. Os poucos que estão há bastante tempo colocando o dedo na ferida são massacrados por uma parcela da opinião pública e a enorme parte dos torcedores. As acusações são super profundas: "antipatriotas", "torcem contra", "vira-latas" e por aí vai.
Quando saiu a tabela da Copa do Mundo, muitos levantamos a bola para a possibilidadeglobo esporte apostaso Brasil simplesmente não jogar uma partida sequerglobo esporte apostasseu estádio mais importante, o Maracanã. A seleção só jogaria no maior templo do futebol mundial se fosse à final. Como os dirigentes do futebol brasileiro, que são os que determinaram isso, poderiam ter sido tão arrogantes?
Como ainda pensar,globo esporte apostaspleno ano 2014, que não haveria a possibilidadeglobo esporte apostaso Brasil ficar fora da final da Copa? Talvez a explicação esteja no fatoglobo esporte apostasmuitos ainda acharem que, pelas cinco estrelas no peito, só por aqui se sabe jogar bola. O resto é tudo "pereba" que às vezes dá a sorteglobo esporte apostasganhar da gente.
Talvez seja emblemática a fraseglobo esporte apostasCarlos Alberto Parreira no ano passado, ao final da Copa das Confederações. "Existe uma hierarquia no futebol", bradou Parreira. A Espanha, campeã do mundo e bi europeia, não havia ainda enfrentado "o verdadeiro dono do futebol mundial", era o que ele queria dizer. Claro, mais fácil tripudiar por um jogo do que entender tudo o que havia sido construído pelo rival ao longoglobo esporte apostasanos. Entender, assimilar, aplicar.
O futebol do Brasil está não um, mas vários degraus abaixo dos principais países da Europa. Precisa mudar tudo. Absolutamente tudo. Também porque, como vimos, começa a respingar na seleção brasileira. Ainda que a seleção e o futebol brasileiro sejam coisas distintas, eles são comandados pela mesma entidade, a CBF. E um poderia/deveria se beneficiar do outro. Não é o que acontece na prática.
Futebol e espírito coletivo
No ano 2000, a Alemanha fez uma Eurocopa lamentável. Saiu humilhada na primeira fase, um gol marcado. Os dirigentes do futebol alemão, federação e clubes, se reuniram para revolucionar o futebol. Duas ações básicas: organizar a liga doméstica e mudar tudo na base. A ideia era ter mais jogadores locais nos principais times, melhorar a qualidade do jogo e, consequentemente, os resultados da seleção.
A geração alemã que está na final da Copa é basicamente a primeira fornadaglobo esporte apostasalgo planejado. Não tem "geração alemã", não tem "sorte". Tem trabalho. Os alemães são desde muito cedo ensinados a valorizar o espírito coletivo. Nunca, porém, a criatividade e a capacidadeglobo esporte apostasraciocínio e desenvolvimento são deixadosglobo esporte apostaslado. Quem não vira jogadorglobo esporte apostasfutebol tem estudos e pode seguir na carreira esportiva, por exemplo, como treinador, preparador físico, etc. Eles não são preparados apenas para jogar. São preparados para a vidaglobo esporte apostassociedade. É o futebol como inclusão e ferramentaglobo esporte apostastolerânciaglobo esporte apostasum país com tantas etnias.
A Bundesliga é hoje a segunda ligaglobo esporte apostasfutebol do mundo, deixou a espanhola para trás e se aproxima rapidamente da Premier League da Inglaterra. Os clubes não podem ser vendidos para magnatas russos, árabes ouglobo esporte apostasonde for. Precisam mostrar solvência financeira para poderem disputar o campeonato. Um campeonato, aliás, com divisãoglobo esporte apostasreceitasglobo esporte apostasfunçãoglobo esporte apostasresultados dos anos anteriores, e nãoglobo esporte apostasacordo com o que quer a televisão ou da popularidade. Os clubes são obrigados a seguir estritos padrõesglobo esporte apostasqualidadeglobo esporte apostassuas academiasglobo esporte apostasfutebol.
Exemplos práticos: o sub-15globo esporte apostasum time qualquer precisa treinarglobo esporte apostascampos com dimensões X, ter à disposição vestiários com dimensões Y e precisam ter Z profissionais da área técnica, todos devidamente formados e credenciados pelos cursos da Federação Alemã. Cada clube também é obrigado a definir uma filosofiaglobo esporte apostasjogo, que precisa ser aplicadaglobo esporte apostastodos os níveis, do mirim ao profissional. Não pode o técnico sub-17 do Wolfsburg gostarglobo esporte apostascentroavante alto e brigador e o técnico sub-15 achar que só baixinhos podem jogar no ataque. Existe coerência entre as faixas etáriasglobo esporte apostasfunçãoglobo esporte apostascomo o departamento técnico do clube enxerga o futebol, e tudo isso é monitorado por uma empresaglobo esporte apostasauditoria.
A Federação Alemã é tudo o que a CBF não é, mas deveria ser. É a responsável por fomentar o esporteglobo esporte apostastodos os níveis, exceto primeira e segunda divisões (que são a Bundesliga, geridas pelos próprios clubes). Em todos os níveis, são aplicados padrõesglobo esporte apostasqualidade idênticos aos exigidos pelos clubesglobo esporte apostaselite para os clubesglobo esporte apostaselite. São centrosglobo esporte apostasformação, centenas deles, espalhados pelo país e sem necessariamente vínculos com clubes. Sempre, e este é um pré-requisito, com o trabalhoglobo esporte apostasprofissionais credenciados, treinados e diplomados pela Federação.
"A CBF é um exemplo para o Brasil. É o Brasil que deu certo, que dá certo", falou o mesmo Carlos Alberto Parreira, antes do Mundial.
A CBF administra uma seleçãoglobo esporte apostasum país que, hoje, tem história e matéria prima. Um paísglobo esporte apostasque há monocultura esportiva e jovensglobo esporte apostasclasses menos abastadas veem no futebol a chanceglobo esporte apostasprover para suas famílias algo que nunca conseguiriam por outros meios. Quando se mudam para a Europa, ainda adolescentes na maioria dos casos, passam a ter contato com outras facetas do jogo e viram profissionais mais completos. São estes os que formam a seleção. Ou seja, a CBF tem uma seleção forte basicamente porque os jogadores se beneficiam do que aprendem no futebolglobo esporte apostasalto nível.
De resto, o que a CBF faz pelo futebol brasileiro? Ela alimentar uma triste relaçãoglobo esporte apostaspoder com as federações estaduais, que parecem se aproveitar da incompetência e má administração dos clubes. Uma emissoraglobo esporte apostasTV é voz ativa e fundamental na determinaçãoglobo esporte apostasalgo tão básico como o calendário. Temos uma liga fraca, futebolglobo esporte apostasbase comandando por empresários e público pequeno nos estádios - aliás, estava esquecendo que a Bundesliga, com preços baixos, tem a maior médiaglobo esporte apostaspúblico do futebol mundial, com 40 mil pessoas por jogo.
Uma derrota como a do Mineirão deveria fazer o futebol brasileiro olhar para a Alemanha e copiar tudo. Sem dó. Tudo.
'Não somos donos do futebol'
Mas, conversando com os jogadores após a derrota, eu vi que muitos não pensam assim. Daniel Alves, talvez com cabeça mais fria por não ter jogado, foi o único que admitiu que temos muito o que fazer.
"Somos o país do futebol, mas não somos donos. Venho falando isso faz muito tempo. O futebol está evoluindoglobo esporte apostastodas as partes do mundo e temos que evoluir junto. A seleção brasileira não tem muito a ver com o futebol brasileiro. Hoje, todas as seleções competem. Independenteglobo esporte apostashoje (os 7 a 1), a gente tem que procurar evoluir, melhorar, na questão do futebol e no pessoal também", disse Daniel.
"Quando perde, tem que olhar, né. Quando ganha, passam algumas coisas despercebidas. Tem que aprender sempre, com vitória e com derrota", falou Fred. "Nesse momento, cada um tira frutosglobo esporte apostasalguma coisa. Tem que refletir, as coisas não podem ser desse jeito. A gente espera que mude para melhor", disse Maicon.
Dante, que atua no futebol alemão há anos, que vêglobo esporte apostasperto tudo o que é feito lá, disse o seguinte: "Não tem que repensarglobo esporte apostasnada. Acha que se ganhássemos hoje os alemães, iam repensar no método delesglobo esporte apostastrabalhar?".
Luiz Gustavo, que foi do Bayernglobo esporte apostasMunique e hoje está no Wolfsburg, disse que "o futebol alemão é muito organizado, eles têm um trabalho desde categoriasglobo esporte apostasbase até as principais muito bom." "Na seleção, jogam há seis, sete anos juntos e muitos no mesmo clube. De tudo, temos que tirar aprendizado. Quando se perde da forma que perdemos hoje, tem que tentar procurar as coisas boas para levar para frente"
Da seleção brasileira que entrouglobo esporte apostascampo contra a Alemanha, mais da metade nem atuou no Brasil ou jogou por pouquíssimo tempo aqui. Será que isso é normal?
Ultimamente, alguns técnicos brasileiros, que não conseguem triunfarglobo esporte apostaslugar algum do mundo no esporteglobo esporte apostasalto nível, andaram ridicularizando os "acadêmicos do futebol". Talvez seria legal eles lerem esta reportagem sobre como a pesquisa acadêmica foi usada pelos alemães antes do jogo com o Brasil (leia mais: Alemanha usa pesquisa acadêmicaglobo esporte apostasplanoglobo esporte apostasjogo contra Brasil).
O futebol no Brasil é empírico, artesanal e vive sentado na petulância e na história. Paramos no tempo. Não formamos jogadores, não formamos técnicos, não influenciamos há décadas o futebol mundial. A única coisa que fazemos é exportar matéria prima, diamantes brutos. Agora, alémglobo esporte apostastudo, estamos perdendo a aura e os fãs conquistados mundo afora pelas geraçõesglobo esporte apostas70 e 82. Quem vai se apaixonar pela seleção brasileira? Qual a escola brasileira dos últimos 30 anos?
Não acho que o futebol do nosso país passará por uma revoluçãoglobo esporte apostasum dia para o outro. Infelizmente, não é o que parece, principalmente quando vemos emergir o discurso do "foi uma goleada casual". As mudanças estão ocorrendo aqui e ali,globo esporte apostasmaneira lenta, mas tudo precisa começar por uma mentalidade diferente. Precisamos descer do salto, sermos menos arrogantes e petulantes, entender que o futebol hoje é global, jogado no mundo todo. Que é estudado, analisado. Gente como os jogadores do movimento Bom Senso, que andaram sendo ridicularizados, talvez ganhe mais atenção. Talvez, apenas talvez, a humilhação do Mineirão seja um catalizador, as coisas aconteçam um pouco mais rapidamente.
Dos 7 a 1, pode ficar só a dor. Ou pode ficar a esperança da revolução que o futebol brasileiro precisa.
A Alemanha está aí. É só copiar.