Por que posição do Brasil sobre eleição na Venezuela é tão crucial?:spot bet net

O Itamaraty afirmou que o governo brasileiro aguarda "a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoralspot bet netdados desagregados por mesaspot bet netvotação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito".

A nota publicada nesta segunda-feira diz que o governo brasileiro “saúda o caráter pacífico da jornada eleitoralspot bet netontem na Venezuela e acompanha com atenção o processospot bet netapuração”, alémspot bet netreafirmar "o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados".

Segundo especialistas consultados pela BBC Brasil antes da eleição, o Brasil deve ter papelspot bet netdestaque na política venezuelana nos próximos meses.

A princípio, a posse do novo presidente está marcada para janeiro, o que abre uma janelaspot bet netmaisspot bet netcinco meses entre a divulgação do resultado e a efetivação do vencedor na liderança.

“Esse período longo vai exigirspot bet nettodos os paísesspot bet nettorno, mas especialmente do Brasil como liderança regional, um cuidado muito grande na conduçãospot bet netuma mediação entre as partes”, afirma Carolina Silva Pedroso, professoraspot bet netRelações Internacionais da Universidade Federalspot bet netSão Paulo (Unifesp).

Momentos depois do anúncio dos resultados pelo CNE, a principal líder da oposição, María Corina Machado, inabilitada para exercer cargos públicos e apoiadoraspot bet netGonzález, contestou o resultado.

"Ganhamosspot bet nettodos os Estados do país e sabemos o que aconteceu hoje. Cem por cento das atas que o CNE transmitiu nós temos e toda essa informação aponta que Edmundo obteve 70% dos votos", disse Machado a jornalistas.

Ela acrescentou avaliar que as supostas modificações feitas nos resultados haviam sido "grosseiras".

O embate prenuncia mais tensão nas próximas horas e dias na Venezuela, sob acompanhamento dos países vizinhos e dos EUA.

O governo venezuelano é há muito acusadospot bet netfraude eleitoral e as eleiçõesspot bet net2018 foram consideradas ilegítimas por uma aliança formada por 14 nações latino-americanas, o Canadá e os Estados Unidos.

Desta vez, Maduro permitiu a participação da coalizãospot bet netpartidos opositores, a Plataforma Unitária,spot bet netum pacto, batizadospot bet netAcordosspot bet netBarbados, que resultouspot bet netum breve alívio nas sanções econômicas dos EUA.

No entanto, essas sanções foram reimpostasspot bet netmeio ao bloqueio da candidaturaspot bet netMaría Corina Machado e outras medidas contra opositores.

Maduro disse, durante um comício recente, que haveria "banhospot bet netsangue,spot bet netuma guerra civil fratricida" se ele não vencesse as eleições.

Tudo istospot bet netmeio a uma crise econômica que já dura anos e foi agravada pelas sanções americanas. Cercaspot bet net7,7 milhõesspot bet netvenezuelanos deixaram o país, segundo dados do Acnur, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados.

Mediação

O histórico venezuelano e as contestações do resultado - já anunciadas antes mesmo da votação - indicam que uma mediação externa entre oposição e governo Maduro pode ser necessária nos próximos meses, dizem analistas.

O governo Lula já exerceu esse papelspot bet netmediadorspot bet netoutras ocasiões, inclusive durante as negociações para os Acordosspot bet netBarbados, entre a oposição e o governo Maduro, que permitiram a realização das eleições.

“Muitos acreditam que, sem a intervenção do Brasil,spot bet netespecial a atuação pessoal do presidente Lula, o candidato da oposição Edmundo Gonzalez não estaria concorrendo e a situação seria semelhante àspot bet net2018, quando havia pouco desafio a Maduro”, afirma Phil Gunson, analista sênior da organização Crisis Group, que acompanha a situação venezuelana, sobre as negociações para o pacto.

O Brasilspot bet netLula também trabalhou nas conversas entre a Venezuela e a Guiana após a crise pela disputa da regiãospot bet netEssequibo. Uma reunião entre os chanceleres das duas nações aconteceuspot bet netBrasíliaspot bet netjaneiro deste ano, com a mediação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.

Para Phil Gunson, agora Brasil e Colômbia terão um papel crucial.

“Na Venezuela, não existem instituições neutras; o Supremo Tribunal e a autoridade eleitoral estão totalmente controlados pelo governo. Portanto, a comunidade internacional tem um papel vital, já que a oposição não tem a quem recorrer internamente para apresentar seu caso”, diz Gunson.

Reconhecimento dos resultados

Esta não é a primeira vez que a oposição denuncia a existênciaspot bet netfraudes. Em 2018, o presidente venezuelano foi reeleitospot bet netuma eleição contestada tanto internamente quanto internacionalmente.

A votação foi amplamente boicotada pela oposição e a Organização dos Estados Americanos (OEA) a descreveu como uma “farsa”.

Segundo o órgão, a eleição aconteceu “com uma falta geralspot bet netliberdades públicas, com candidatos e partidos ilegais, e com autoridades eleitorais desprovidasspot bet nettoda credibilidade, sujeitas ao poder executivo”.

Consequentemente, a vitóriaspot bet netMaduro não foi aceita pelos Estados Unidos e vários outros países - inclusive o Brasilspot bet netJair Bolsonaro (PL) - que passaram a reconhecer Juan Guaidó, então presidente da Assembleia Nacional, como líder legítimo do país.

No entanto, Guaidó nunca conseguiu assumir o controle efetivo do governo, e Maduro permaneceu no poder. Em resposta, os Estados Unidos impuseram sanções econômicas contra a Venezuela.

Nestas eleições, a oposição já havia acusado o governospot bet netagir ilegalmente antes do dia da eleição, ao bloquear as candidaturasspot bet netMaría Corina Machado espot bet netsubstituta, a historiadora Corina Yoris.

Também foram feitas denúncias sobre dificuldadespot bet netacesso ao registro necessário para votar (o voto não é obrigatório na Venezuela), tanto no território venezuelano quanto no exterior.

Carolina Silva Pedroso explica que, na Venezuela, as fraudes podem acontecer muito mais antes do voto do que no momento da ida à urna ou na contagem.

“Como o voto não é obrigatório, podem acontecer ações para impedir as pessoasspot bet netchegarem ao centrospot bet netvotação”, diz. “Em eleições passadas também foram registrados casosspot bet netcoação ou trocaspot bet netvotos por doaçõesspot bet netalimentos e cestas básicas.”

Tudo isso tornou o dia da eleição bastante delicado - assim como o período até a posse.

Pedroso vê a presença na Venezuela do ex-chanceler e atual assessor especial da Presidência, Celso Amorim, como central para a avaliação da situação e posicionamento do Brasil.

Antesspot bet netviajar a Caracas,spot bet netdeclaração para o portal G1, Amorim afirmou que seu objetivo é “contribuir para uma eleição correta e limpa” e disse: “Que quem ganhar possa tomar posse tranquilamente”.

“A decisãospot bet netenviar Amorim, que é uma figura chave para a política externa brasileira, mostra uma posição assertiva”, avalia a professora da Unifesp.

E segundo Felicianospot bet netSá Guimarães, professor do Institutospot bet netRelações Internacionais da Universidadespot bet netSão Paulo (USP), as declarações e movimentações recentes do governo Lula indicam que há uma preparação no governo para não legitimar a eleição venezuelana caso haja qualquer indíciospot bet netfraude ou uma vitóriaspot bet netMaduro por uma margem muito pequena.

“O custospot bet netreconhecer Maduro como vitorioso é muito alto para o governo brasileiro”, diz. “Esse é um tema muito delicado domesticamente, porque a maioria da população brasileira tem uma visão muito negativa da Venezuela e do governo Maduro.”

Ryan Berg, diretor do Programaspot bet netAméricas do Centrospot bet netEstudos Estratégicos e Internacionais, think tank com sedespot bet netWashington, D. C., afirma que o posicionamento tomado por Brasil e Colômbia após a divulgação dos resultados pode ser decisivo para o desenrolar da situação.

“Se Maduro conseguir impedir que esses países denunciem a eleição como injusta e não livre, isso será decisivo para ele nos dias seguintes”, diz.

O presidente da Colômbia ainda não se pronunciou. Mas o ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, afirmou que é fundamental que sejam ouvidas "todas as vozesspot bet nettodos os setores".

"É importante esclarecer todas as dúvidas sobre os resultados. Nós pedimos a contagem totalspot bet netvotos,spot bet netverificação, e uma auditoria independente o mais rápido possível", escreveu no Twitter. "Os resultados eleitoraisspot bet netum dia tão importante devem ter toda a credibilidade e legitimidade possíveis para o bem da região e, sobretudo, do povo venezuelano."

Observação da votação

Tradicional aliado do chavismo espot bet netNicolás Maduro, o governo Lula endureceu o tomspot bet netrelação ao processo eleitoral venezuelano nos últimos meses.

Na semana anterior à eleição, o presidente brasileiro expressou preocupação com a retórica recentespot bet netMaduro, e solicitou respeito pelo processo democrático e pelo resultado do pleito presidencial no país.

"Fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que, se ele perder as eleições, vai ter um banhospot bet netsangue. Quem perde as eleições toma um banhospot bet netvoto. O Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica; quando você perde, você vai embora", disse Lula,spot bet netentrevista a agênciasspot bet netnotícias internacionais no Palácio da Alvorada.

O venezuelano rebateu sugerindo que quem se assusta precisa tomar “cháspot bet netcamomila”.

Maduro também atacou o sistema eleitoral brasileiro, dizendo sem provas que os pleitos no Brasil não são auditados. Segundo ele, a Venezuela tem "a melhor auditoria do mundo" e que "nenhum boletimspot bet neturna é auditado no Brasil".

Após as declarações, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reafirmou que as urnas eletrônicas são auditáveis e seguras e declarou que as falasspot bet netMaduro são falsas. O órgão também cancelou o enviospot bet netdois representantes para acompanhar as eleições venezuelanas.

O convite para acompanhar a realização da votação havia sido feito pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela.

O enviospot bet netministros ou servidores do tribunal para acompanhar as eleiçõesspot bet netpaíses estrangeiros é uma medida praxe realizada pelo TSE, que também recebe delegações internacionais durante as eleições municipais e presidenciais.

Segundo analistas, a presença dos representantes brasileiros reforçaria ainda mais o papel importantespot bet netobservação do Brasil e ajudaria a embasar a resposta do governo Lula -spot bet netapoio ou questionamento - aos resultados.

Credibilidade

Mas os especialistas reconhecem que o Brasilspot bet nethoje é um dos poucos - se não o único - países capazesspot bet netdialogar bem com os dois lados da política venezuelana.

Carolina Silva Pedroso, da Unifesp, vê o posicionamento recente mais crítico do governo Lulaspot bet netrelação ao governo Maduro como uma tentativaspot bet netconstruir credibilidade com a oposição para negociar e se mostrar disponível para ajudarspot bet netcasospot bet netuma crise.

Ao mesmo tempo, Felicianospot bet netSá Guimarães reconhece que o grande ator externo nos próximos meses serão os Estados Unidos.

Apesarspot bet netnão manterem relações boas com o chavismo e serem vistos como “o inimigo” por Maduro e seus aliados, os americanos têm a capacidadespot bet netusar as sanções econômicas como um poderoso instrumento político, diz Guimarães.

“E o governo americano está especialmente preocupadospot bet netnão deixar a situação da Venezuela se transformarspot bet netum problema que pode afetar as próprias eleições nos Estados Unidos, marcadas para novembro.”

Controlespot bet netfronteiras e integração regional

Mas a participação do Brasil pode ir além do papel na observação e reconhecimento dos resultados e mediação.

A crise na Venezuela é vista como uma ameaça à segurança nacional e um obstáculo na consolidação do projetospot bet netreintegração da América do Sul, uma das prioridades do governo Lulaspot bet netpolítica externa.

Há, segundo o professor da USP, uma preocupação especial com a possibilidadespot bet netuma nova ondaspot bet netfugaspot bet netvenezuelanosspot bet netdireção ao território brasileiro,spot bet netcasospot bet netuma crise política e social.

Mas uma instabilidade eleitoral poderia levar,spot bet netúltima instância, à voltaspot bet netuma tensãospot bet netrelação a uma invasão venezuelanaspot bet netEssequibo.

“Maduro poderia usar isso como uma cartada final se mais nada funcionar”, diz Felicianospot bet netSá Guimarães.

“Até agora parece pouco provável, mas um país da América do Sul invadindo militarmente outro país da América do Sul seria uma derrota fragorosa e completa da política externa brasileira.”

Para Silva Pedroso, apesar do Brasil defender uma aliança mais profunda entre os países sul-americanos, o Brasil poderia se articular melhor com o governo do colombiano Gustavo Petro para trabalharspot bet netconjunto.

“Petro tem sido muito proativo nesse processo eleitoral e vemspot bet netum país que passou efetivamente por um conflito civilspot bet netmuitas décadas, o que traz uma perspectiva interessante.”