Por que conservadores estãoguerra contra Disney e cervejaria nos EUA:

Crédito, Sarah Fields

Legenda da foto, Sarah Fields apoia a luta do Partido Republicano contra a cultura 'woke' no mundo empresarial

Sarah,36 anos, se tornou politicamente ativa durante a pandemiacovid-19, protestando contra medidaslockdown.

Agora delegada do Partido Republicanoseu estado, ela é uma das pessoas que pressiona o partido a se mobilizartornoquestões sociais, como identidadegênero, e enfrentar empresas "woke".

O termo "woke" significa, segundo o dicionário Oxford, "estar consciente sobre temas sociais e políticos, especialmente o racismo". No entanto, pode ser usada como um insulto "por pessoas que pensam que outros se incomodam muito facilmente com estes assuntos, ou falam demais sobre eles, sem promover nenhuma mudança". Entenda mais nesta reportagem.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A Bud Light enfrentou uma reação conservadora depoistrabalhar com a influenciadora transgênero Dylan Mulvaney
Pule Novo podcast investigativo: A Raposa e continue lendo
Novo podcast investigativo: A Raposa

Uma toneladacocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês

Episódios

Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa

As empresas já se virammeio ao fogo cruzado das guerras culturais dos Estados Unidos antes. E, à medida que o país se torna mais polarizado, as companhias enfrentam pressão por partefuncionários, clientes e acionistasesquerda e direita a escolher um lado.

Mas medidas legislativas que têm como alvo as empresas marcam uma nova fronteira para os republicanos, que tradicionalmente se aliaram às grandes corporaçõesquestões como reduçãoimpostos e regulamentação leve.

Na Flórida, os legisladores do estado votaram para retirar o poder da Disney sobre um distrito que inclui o parque temático Walt Disney World, depois que o conglomerado criticou uma lei que proibia discussões sobre gênero e sexualidade nas escolas.

Na Geórgia, legisladores ameaçaram retirar um incentivo fiscal da Delta Airlines, depois que seu presidente-executivo chamou mudançasleisvotação"inaceitáveis".

Enquanto isso, dezenasestados estão considerando propostas destinadas a impedir o governofazer negócios com empresas financeiras que levemconsideração fatores ambientais, sociais egovernança ao fazer investimentos — o que custou à BlackRock, um dos principais alvos da campanha, maisUS$ 4 bilhõesfundosclientes desde janeiro.

As medidas foram consideradas controversas, inclusive entre os republicanos — alguns deles dizem que as propostas vão longe demais interferindonegócios privados.

Os proponentes não demonstram remorso.

"Meu trabalho é proteger os contribuintes e meus eleitoresabusos, independentementeonde venha", diz Blaise Ignoglia, um dos senadores do estado da Flórida que apoiou a legislação relacionada à Disney — um embate que agora evoluiu para uma batalha legal pela liberdadeexpressão.

"Eles viraram as costas para pais e filhos quando decidiram apoiar a sexualizaçãonossos jovens mais vulneráveis."

Ignoglia afirma que não está preocupadoenfrentar a Disney, que o apoiou no passado e tem um grande peso econômico e político na Flórida.

Pelo contrário, ele diz: "Eu moro no segundo distrito mais vermelho (cor associada aos republicanos) do estado. Meus eleitores têm a mesma mentalidade".

As grandes empresas perderam o controle sobre o Partido Republicano, à medida que o partido se inclina mais para a direita e ganha apoioeleitores sem diploma universitário, enquanto perde terreno entre os universitários, avalia o sociólogo Mark Mizruchi, professor da UniversidadeMichigan, nos EUA.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, À medida que os EUA se tornam mais polarizados, as empresas estão sendo pressionadas por funcionários e clientes a tomar partido

Em 2022, a parcelarepublicanos que diziam que as grandes corporações têm um impacto positivo foi26% —péigualdade com os democratas e menos da metade do percentualtrês anos antes, segundo o instituto Pew.

Mas Mizruchi afirma que os ataques dos políticos às empresas por serem "woke" são "sobretudo uma cortinafumaça", observando quequestões como sindicalismo, impostos e regulamentação, os líderes corporativos americanos e republicanos permanecem fortemente alinhados.

No ciclo eleitoral2022, a maioria das doações políticas corporativas oficiais foi destinada aos republicanos, assim como aconteceu por quase três décadas,acordo com dados do OpenSecrets.

"Os republicanos têm que jogar esse jogo muito cuidadosoapoiar os ricos e as grandes empresas nos bastidores, mas fazendo parecer para o público que estão do lado das pessoas físicas", diz o professor.

"É por isso que ir atrás do 'wokeísmo' é uma boa maneirafazer isso — porque não é uma questão fundamental [para as corporações]."

O impacto financeiro da reação conservadora parece ser relativamente limitado até agora.

Na BlackRock, os fundos perdidos correspondem a menos2%sua carteira. A queda nas vendas da Bud Light nas primeiras três semanasabril refletiu apenas 1% do volume geral da Anheuser-Busch.

Mas o clamor mudou o clima, diz Martin Whittaker, executivo-chefe da Just Capital, organização sem fins lucrativos que classifica as empresas com basequestões como remuneração dos trabalhadores e impacto ambiental.

Embora muitas empresas ainda estejam seguindofrente com iniciativas internas, ele afirma que as discussões públicas ficaram mais silenciosas.

"Você não está vendo CEOs arriscando o pescoço."

A Disney, que se pronunciou sobre o projetolei da Flórida sob pressãoseus funcionários, entrou com um processo judicial contra o estado. Mas outras empresas parecem ter recuado.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A BlackRock foi alvoprotestos da esquerda e da direita sobre o papel que seus investimentos desempenham na luta contra as mudanças climáticas

Na carta anual da BlackRock deste ano, os riscos climáticos mal foram mencionados, embora a companhia reconhecesse os desafios devido a opiniões "divergentes entre as regiões".

Empresascartãocrédito informaram que adiariam as mudanças que os ativistas esperavam que poderiam ajudar a rastrear comprasarmas, citando a incerteza jurídica. E algumas grandes empresas financeiras, incluindo a Vanguard, desistiraminiciativas voltadas para as mudanças climáticas, indicando "confusão" sobre seus pontosvista.

Will Hild é o diretor executivo da Consumers' Research, um grupo que desde 2021 lidera campanhas publicitárias multimilionárias voltadas para empresas como Nike, American Airlines, Major League Baseball e Levi's por colocar "políticas 'woke' acima dos interesses do consumidor".

"As pessoas esquecem que na primavera2021 você tinha empresas se envolvendodiscussõesintegridade eleitoral a nível estadual na Geórgia e no Texas”, diz ele. "Você não viu isso nos anos seguintes e, para nós, isso é uma indicaçãoque nossas campanhas foram bem-sucedidas."

No mês passado, após semanasataquesanalistas e políticos conservadores à Anheuser-Busch porparceria com Dylan Mulvaney, a empresa colocou dois executivoslicença e divulgou uma sérieanúncios da Bud Light repletosimagensbandeiras americanas e cavalos galopandoum campo aberto.

A companhia, que não respondeu ao pedidocomentário da BBC, disse que não pretendia fazer "parteuma conversa que divide as pessoas".

Criticada por alguns da esquerda, a reviravolta foi vista por Sarah como uma vitória.

"O que aconteceu com a Bud Light é um ótimo começo e deveria ser assim com todas as empresas", afirma. "Precisamos ter menos medo e precisamos começar a usar mais nossa voz."