O fascínio e o preconceito contra a China que atravessam história do Brasil:esporteemidia
O mesmo não se pode dizer sobre o homem que publicou a obra — ninguém menos que Monteiro Lobato, no inícioesporteemidiasua carreiraesporteemidiaeditor. Cartasesporteemidiaum Chinês do Brasil para a China era o primeiro volumeesporteemidiauma coleção intitulada Elementos para o Estudo da Psicologia Social Brasileira, e seu conteúdo oscila entre a paródia e a farsa.
} 2006e está sediada Em{K 0] Estocolmo. Suécia! Evolution Gaming Group BB Company Visão
Geral & Notícias - Forbes forbe a 🎅 : empresas; Evolution-gaing group comab ElectronicAAB
O nome que se dá à corrida esporteemidia cavalos é o Derby.O Derby e uma das mais tradicionais, importantes corridas 🍏 do cavalos no Brasil realiza-se todos os anos na Hipódromo da Gávea (Rio)
A Corrida esporteemidia Cavalos é uma das mais 🍏 antigas e prestigiosas competições do país, tendo sido concretizada pela primeira vez esporteemidia 1873.
Fim do Matérias recomendadas
“O livro foi escrito já no período republicano”, conta o historiador André Bueno, da Universidade do Estado do RioesporteemidiaJaneiro (UERJ). “Ele integra um conjunto mais amploesporteemidiaeventos,esporteemidiaque olhamos para a Ásia como um espelho distante. Nesse caso específico, alguém teve a ideiaesporteemidiasatirizar a política brasileira, e para isso criou uma identidade falsa, um contraponto imaginário, especulando como a nossa realidade se desnudaria aos olhosesporteemidiaum oriental, e como este relataria aos conterrâneos aquilo que vê”.
A obra, hoje esquecida, dialogava às avessas com um ramo específico das ciências humanas — a sinologia, sobre a qual Bueno se debruça há três décadas. “Trata-se do estudo das coisas chinesas”, explica ele. “Noutras palavras, uma tentativaesporteemidiase entender a China pela China, atravésesporteemidiasuas fontes,esporteemidialiteratura, suas tradições culturais”.
Uma toneladaesporteemidiacocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês
Episódios
Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa
É uma disciplina ainda cercada por lacunas e incompreensões, mesmo entre profissionaisesporteemidiaHistória: “Nosso currículo acadêmico se mostra bastante atrasado”, lamenta Bueno. “Frequentemente nos perdemos com utopiasesporteemidiaretrovisor. Os historiadores querem andar para frente, mas estão sempre olhando para trás, numa total incapacidadeesporteemidialer o mundo para além das próprias limitações. Ao esnobar a Ásia e a África, ignoram a trajetóriaesporteemidiadois terços da população mundial”.
Pelo menos 4,5 bilhõesesporteemidiapessoas vivem no continente asiático, segundo estimativas da ONU — e sobre esse grupo, cada vez mais numeroso, depositamos nossos próprios anseios: “O imaginário ocidental se alimentaesporteemidiaum fascínio místico pelo Oriente”, afirma o pesquisador. “Tudo que escapa à nossa tradição é visto como miragem esotérica. O povo adora yoga, acha que tudo se resolve com acupuntura ou tai chi chuan, acredita que na China todo mundo é mais espiritual”.
Ao mesmo tempo, apontam especialistas, o país se encontra no epicentro do chamado “perigo amarelo” — o estereótipo do asiático como entidade maligna que ameaça a sobrevivência do Ocidente.
“O brasileiro vive dizendo que bandido bom é bandido morto, mas acusa os chinesesesporteemidiacrueldade por balearem prisioneirosesporteemidiaestádios”, observa Bueno. “Como tudo por aqui ultimamente, esse debate contraditório se polariza entre sinófilos e sinófobos, os que amam e os que odeiam”.
Foi a partir do século 19 que as polêmicas sobre o tema se intensificaram no país: “Com o surgimento do coronavírus, diálogos daquela época passaram a se repetir por aqui”, afirma Kamila Czepula, doutorandaesporteemidiaHistória pela Universidade Federal Rural do RioesporteemidiaJaneiro (UFRRJ). “Com espanto, vi falas aparentemente extintas, que eu havia examinadoesporteemidiadocumentos centenários, ressurgiremesporteemidianossos espaços cotidianos, como o metrô. Ouvi muitas senhorinhas dizendo que os chineses são sujos e transmitem doenças, que eles comem qualquer coisa e se multiplicam feito bichos para devastar nossa nação”.
A pesquisadora acredita que tais discursos sinalizam mais do que uma lacuna acadêmica: “Para além da faltaesporteemidiaestudo, há uma maquiagem”, diz. “O Brasil se vende como uma terra acolhedora, respeitadora da diversidade etnocultural, mas qualquer chuva tira esse verniz da nossa cara, revelando traços que escondemos desde sempre”.
Entre o ópio e a escravidão
O crescimento populacional assombra a China há pelo menos três séculos. Estima-se que,esporteemidia1700, o território do país abrigava 150 milhõesesporteemidiapessoas. Cem anos depois, esse número dobraria. Em 1850, triplicou.
Uma forte onda migratória se delineava naqueles tempos. As terras cultiváveis tornaram-se escassas, e as necessidades da produção agrícola não superavam as barreiras tecnológicas. A ofertaesporteemidiaalimentos caiu — e os preços, consequentemente, elevaram-se.
Outros fatores agravariam o cenário: uma sucessãoesporteemidiacatástrofes naturais, com enchentes se intercalando a períodosesporteemidiaseca, e o assédio da Grã-Bretanha, então detentora da maior força naval do mundo.
Os ingleses acossavam a dinastia Qing (1644-1912) com exigências diversas, sobretudo a abertura dos portos e a negociaçãoesporteemidiatratados econômicos. Com a recusa da Chinaesporteemidiaatender a esses privilégios, a Grã-Bretanha intensificou o tráficoesporteemidiaópio no país asiático — ao mesmo tempoesporteemidiaque pressionava parceiros comerciais pelo fim da escravidão africana.
Assim, uma demanda surgia no horizonte — a busca por uma nova fonteesporteemidiamãoesporteemidiaobra, capazesporteemidiasuprir o mercado europeu e suas colônias. Os chineses, então chamadosesporteemidiacoolies ou chins, logo foram vistos como substitutos ideais para os negros, alimentando uma lucrativa redeesporteemidiaexploração que se disseminou pela costa da Ásia.
Sob o comandoesporteemidiaempresários britânicos, agênciasesporteemidiarecrutamento se estabeleceriam nos portosesporteemidiaMacau e Hong Kong, aliciando com falsas promessas os trabalhadores locais — e, não raras vezes, recorrendo a sequestros.
Após a captura, os chineses permaneciam nus, junto a centenasesporteemidiaoutras vítimas,esporteemidiabarracões desprovidosesporteemidiaqualquer infraestrutura — a água era escassa, e a alimentação, precária. Quando finalmente adentravam os navios, eram submetidos a torturas e castigos físicos — estima-se que até 40% da tripulação morria ao longo do trajeto, frequentemente por tifo ou suicídio.
“Eclodiram inúmeras denúncias expondo essas situaçõesesporteemidiacenário mundial”, explica Czepula. “Falava-se no surgimentoesporteemidiauma nova escravidão amarela. E,esporteemidiafato, o cenário era análogo ao dos navios negreiros. Isso gerou um enorme constrangimento, por tudo o que ocorria debaixo dos panos — afinal, os ingleses pressionavam aqui, mas escravizavam acolá. A sociedade vinha se empenhandoesporteemidiadiscussões sobre a natureza do trabalho, e esse tipoesporteemidiaviolência já não era tão aceita como anteriormente”.
E o Brasil?
Em 4esporteemidiasetembroesporteemidia1850, o governo imperial promulgou a Lei EusébioesporteemidiaQueirós, criminalizando o ingressoesporteemidiaescravizados no Brasil. Ao longo das décadas seguintes, preocupações econômicas levariam políticos, fazendeiros e intelectuais a se embrenharem no mesmo debate que movimentava a Inglaterra: como substituir a mãoesporteemidiaobra negra?
A influência das teorias raciais estrangeiras, que associavam o continente africano ao atraso e à inferioridade, culminou na rejeição do próprio trabalhador nacional, visto como indolente e pouco disciplinado. A saída, acreditava-se, estaria na contrataçãoesporteemidiabrancos europeus — estes, porém, preferiam migrar para territórios como a Argentina ou os EUA, cujos climas eram mais próximos aos dos seus paísesesporteemidiaorigem.
Em 1879, na Assembleia da ProvínciaesporteemidiaSão Paulo, o parlamentar Ulhoa Cintra sugeriu uma alternativa: o empregoesporteemidiachineses na lavoura cafeeira, como solução intermediária na transição do trabalho escravo para o livre. O projeto, logo colocadoesporteemidiapauta na Câmara dos Deputados do RioesporteemidiaJaneiro, ganhou destaque nacional. De acordo com seus defensores, a população do país asiático se caracterizaria pela obediência e servilidade.
“Muitos desses políticos eram grandes fazendeiros”, afirma Czepula. “Estavam interessadosesporteemidiamãoesporteemidiaobra barata e acreditavam que os chineses não mudariam as estruturas do status quo brasileiro. Os críticos da imigração chinesa, poresporteemidiavez, utilizaram isso como estratégia combativa, alegando que a vinda desses trabalhadores representaria uma nova escravidão”.
Joaquim Nabuco, membro do Partido Liberal e figura histórica do abolicionismo, era um dos maiores detratores do projeto, qualificando-o como uma tentativaesporteemidia“mongolizar” a pátria:
“Mas, sendo os chins reclamados pela lavoura, serão eles convenientes?”, discursou o deputado. “Não, por muitos motivos. Etnologicamente, porque vêm criar um conflitoesporteemidiaraças e degradar as existentes no país. Economicamente, porque não resolvem o problema da faltaesporteemidiabraços. Moralmente, porque vêm introduziresporteemidianossa sociedade essa lepraesporteemidiavícios que infesta todas as cidades onde a imigração chinesa se estabelece”.
Para André Bueno, tais polêmicas reservam uma certa doseesporteemidiaatualidade: “Eram mundos que não conseguiam dialogar”, sustenta o historiador. “Como é que você elabora imagens identitáriasesporteemidiaum mesmo povo a partiresporteemidiaduas matrizes tão diferentes? No século 19, esses estereótipos tinham como base uma ideiaesporteemidiacomum, segundo a qual as culturas seriam um desdobramentoesporteemidiacaracteres étnico-genéticos. Por mais ultrapassadas que sejam essas ideias, ainda há quem acredite nelas”.
As culturas se encontram
As informações que os brasileiros dispunham sobre o gigante asiático pautavam-se apenasesporteemidiafontes externas — livros franceses, principalmente. No rastro dos debates imigratórios, esse quadro se reverteu: João Sinimbu, ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, aprovou então a primeira viagem oficial do país ao território chinês.
A missão, liderada por Eduardo Callado e Artur Silveira da Mota, teve inícioesporteemidia1879 e se estendeu pelo ano seguinte, quando os tripulantes desembarcaram na Ásia para encontrar Li Hongzhang, vice-rei do império chinês. Henrique Lisboa, diplomata residente na Espanha, havia se juntado à comitiva duranteesporteemidiapassagem pela Europa, tornando-se o secretário-geral do grupo. Fascinado pelo que viu, ele registraria seus pensamentos no livro A China e os Chins (1888), tido como o marco inicial da sinologia brasileira.
“Naquela época, percebemos que havia uma enorme lacuna ao redor da China, um abismo separando o que sabíamos e aquilo que a Chinaesporteemidiafato era”, afirma Bueno. “O diferencialesporteemidiaLisboa era que ele, ao contrárioesporteemidiatodos os outros, tinha ido até lá. Ele dedicou-se à observação antropológica do mundo chinês, e com isso obteve avanços importantíssimos. Seu trabalho é um esforço fabulosoesporteemidiadiálogo intercultural”.
O exame da vida cotidiana atravessa boa parte da obra. Ao debruçar-se sobre as especificidadesesporteemidiacada região, Lisboa esboça um vasto panorama das tradições locais e questiona algumas práticas do Ocidente, como a insistênciaesporteemidiaclassificar os habitantes da China como pertencentes à raça mongólica.
“Essa é, mesmo, a opinião mais vulgarizada eesporteemidiaque os adversários da imigração chinesa no Brasil não duvidam tirar partido, acenando ao patriotismo o perigo da nossa futura mongolização”, diz o autor. “Não sei, realmente, qual seja a origemesporteemidiatão crasso erro; talvez a casualidadeesporteemidiater Marco Polo visitado a China e dado as primeiras notícias circunstanciadas daquele império justamente na curta épocaesporteemidiaque achava-se ele submetido aos descendentes mongóisesporteemidiaGengis Khan”.
Lisboa também se dedica a desconstruir estereótipos negativos sobre o povo chinês, como a suposta ignorância e a alardeada dependência química.
“Muito se tem exagerado sobre o uso do ópio na China”, atesta. “Pode-se comparar o seu abuso ao vício da embriaguez entre os ocidentais; geralmente reprovado, apenas afeta esse vício uma parte relativamente diminuta da população. O ópio ainda está menos generalizado na China do que as bebidas alcoólicas no Ocidente, e os ébrios inveterados são, entre algumas raças europeias, muito mais numerosas do que os que chegam, na China, ao estadoesporteemidiabestialidade a que conduz o abuso daquela droga”.
Lisboa destaca, igualmente, um dos grandes feitos do país asiático — a construçãoesporteemidiauma das maiores redes escolares do mundo: “Não há, com efeito, aldeia por mais insignificante que não tenha aesporteemidiaescola”, diz. “Não houve necessidade na Chinaesporteemidiadecretar o ensino obrigatório; ali, envergonham-se os paisesporteemidiaque seus filhos não saibam tanto ou mais do que eles”.
Seus diagnósticos foram altamente favoráveis à vinda dos trabalhadores chineses: “Entre a viagem e a publicação do livro, oito anos se passam”, afirma Bueno. “Nesse intervalo, ele participaesporteemidiadebates públicos, escreveesporteemidiadiversos jornais e dissemina os conhecimentos adquiridos na missão diplomática, tornando-se uma autoridadeesporteemidiaquestões orientais”.
Em 1897, Lisboa foi enviado ao Japão, onde atuaria como cônsul até 1900. No dia 15esporteemidiaagosto daquele mesmo ano, ocorreu a chegada oficial dos primeiros imigrantes chineses a São Paulo — o grupo, formado por 107 pessoas, vinha do RioesporteemidiaJaneiro, a bordoesporteemidiaum navio português. Desde 2018, com a sanção da Lei 13.686/2018, a data é celebrada anualmente como o Dia Nacional da Imigração Chinesa no Brasil.