'Em 2050, não vai haver nenhuma economia europeia entre as 10 mais importantes do mundo':aposta brasileirao serie a

Emaposta brasileirao serie aavaliação, o mundo está testemunhando o fimaposta brasileirao serie auma era geopolítica, visão que ele exploraaposta brasileirao serie aseu último livro, O fimaposta brasileirao serie auma era. Ucrânia: a guerra que acelera tudo, no qual aborda como o conflito está precipitando o declínio do domínio ocidental.

"A guerra vai muito alémaposta brasileirao serie auma disputa territorial para assegurar áreas estratégicas. Ela reflete forças profundasaposta brasileirao serie amudança na geopolítica que rege o mundo desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Hoje, o Ocidente perde força, enquanto o Sul global ganha peso", destaca.

A fragilidade política da Europa ocorreaposta brasileirao serie aum momentoaposta brasileirao serie aestagnação econômica: a previsão para 2024 éaposta brasileirao serie aum crescimento tímidoaposta brasileirao serie a0,9%, deixando uma região que representa um quinto do PIB global atrásaposta brasileirao serie aoutras partes do globo.

Analistas apontam diversas razões para explicar esse cenário, como a perdaaposta brasileirao serie acompetitividade, o aumento da concorrência internacional e as políticasaposta brasileirao serie aausteridade.

A Europa precisaaposta brasileirao serie ainúmeras reformas: ampliaraposta brasileirao serie acapacidade militar, reconfigurar seu sistemaaposta brasileirao serie aenergia, reinventaraposta brasileirao serie aindústria tecnológica e repensaraposta brasileirao serie aposturaaposta brasileirao serie arelação à Rússia e à China. Tudo isso enquanto o descontentamentoaposta brasileirao serie aseus cidadãos fortalece partidos populistas eaposta brasileirao serie aextrema direitaaposta brasileirao serie adiversos países do continente.

Nesta entrevista com Jorge Dezcallaraposta brasileirao serie aMazarredo, analisamos os fatores que levaram o Velho Continente àaposta brasileirao serie aatual crise geopolítica.

aposta brasileirao serie a Por que a Europa atravessa momentos tão turbulentos?

Em pleno século 21, testemunhamos um conflito bélico no coração do continente que mais parece uma guerra absurdaaposta brasileirao serie aexpansão territorialaposta brasileirao serie aestilo napoleônico.

A invasão da Ucrânia reflete o descontentamento da Rússia com a arquiteturaaposta brasileirao serie asegurança europeia herdada da Segunda Guerra Mundial.

No entanto, este é um fenômeno muito mais amplo,aposta brasileirao serie aalcance global: grande parte dos países do mundo está questionando a distribuiçãoaposta brasileirao serie apoder e as regras estabelecidas pelas potências vencedoras após 1945.

Isso significa que estamos diante do fimaposta brasileirao serie auma era geopolítica.

Naquele ano, algumas potências ocidentais criaram as Nações Unidas, o Conselhoaposta brasileirao serie aSegurança, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, ou seja, repartiram o poder entre si.

Agora, quase 80 anos depois, vemos que França e Reino Unido ainda têm assento permanente no Conselhoaposta brasileirao serie aSegurança, enquanto países como a Índia, com 1,4 bilhãoaposta brasileirao serie ahabitantes e statusaposta brasileirao serie apotência nuclear, ficamaposta brasileirao serie afora.

A África não tem nenhum representante, e o mesmo ocorre com a América Latina.

Os Estados Unidos não abrem mão do controle sobre o Fundo Monetário Internacional, e a Itália possui tantos votos quanto a China no Banco Mundial.

aposta brasileirao serie a E onde a China se encaixa nesse sistema?

A China afirma: "Somos um Estado civilizacional, estamos acima do bem e do mal". Os Estados Unidos não dizem isso abertamente, mas sempre agiram dessa forma — basta olhar para o que aconteceu no Iraque eaposta brasileirao serie aoutros lugares.

A Europa hoje reflete o que está ocorrendo no mundo, mas nos surpreende mais porque temos uma visão um tanto pretensiosa sobre ela.

Quando há conflitos mortais na África, isso nos parece quase natural. Mas quando acontecem na Europa, encaramos como um escândalo. Essa perspectiva não deixaaposta brasileirao serie acarregar um certo racismo.

aposta brasileirao serie a Você acredita que a Europa ainda olha para o resto do mundoaposta brasileirao serie aforma pretensiosa?

Não tenho dúvida disso. A Europa dominou o mundo por muitos anos, graças à máquina a vapor inventada na Inglaterra, ao domínio dos mares e,aposta brasileirao serie agrande parte, à escravidão.

Essa visãoaposta brasileirao serie asuperioridade ainda persiste, mas a Europa está equivocada e perderá relevância.

Atualmente, 62% do PIB mundial e 65% da população estão na região do Indo-Pacífico.

Os mapas costumam colocar a Europa no centro, mas o continente olha para um oceano onde cada vez menos coisas acontecem, enquanto o centroaposta brasileirao serie agravidade econômica do mundo se deslocou do Atlântico para o Indo-Pacífico.

A Europa está claramenteaposta brasileirao serie adecadência.

aposta brasileirao serie a Já ouvi você dizer que a Europa tem 6% da população mundial, mas representa 50% do gasto social global. Esse modelo é insustentável? Foi longe demais com o 'Estadoaposta brasileirao serie aBem-Estar'?

Sim, fomos longe demais. Em 1900, a Europa tinha 25% da população mundial, e hoje mal chega a 6%. Mesmo assim, ainda retém 17% do PIB global.

Temos o melhor sistemaaposta brasileirao serie asaúde, a melhor educação, as melhores estradas, mas isso custa caro. Por quanto tempo conseguiremos sustentar isso?

Causamos inveja no mundo. Mantivemos esse sistema por tanto tempo porque dominávamos o cenário internacional. Mas a realidade é que,aposta brasileirao serie a2050, nenhuma economia europeia estará entre as 10 maiores do mundo.

A Índia acabaaposta brasileirao serie aultrapassar o Reino Unidoaposta brasileirao serie aProduto Interno Bruto.

Outro fator que aponta para a decadência da Europa éaposta brasileirao serie apopulação envelhecida e, além disso, cada vez mais reduzida, pois morrem mais pessoas do que nascem.

aposta brasileirao serie a Em que se traduz essa decadência?

Em uma perdaaposta brasileirao serie ainfluência. A Europa não tem uma política externa comum, nem uma capacidadeaposta brasileirao serie aprojeção militar compartilhada, e também não possui uma política energética ou migratória comum.

A Europa precisa se integrar mais se quisermos continuar a ter relevância no mundo.

aposta brasileirao serie a Em seu livro, o senhor afirma que a guerra na Ucrânia uniu mais a Europa, mas com o Reino Unido fora da União Europeia devido ao Brexit e a provável relutância da Alemanhaaposta brasileirao serie acontinuar a contribuir com tantos recursos devido àaposta brasileirao serie afraqueza econômica, parece que o que espera a Europa é mais desunião. Qual aaposta brasileirao serie aopinião sobre isso?

É verdade que o Brexit enfraqueceu a Europa, e a fragilidade da Alemanha e da França neste momento também não ajuda. Não acredito que o presidente francês, Emmanuel Macron, complete seu mandato, francamente. Mas o apoio à Ucrânia é inabalável.

Putin quer recuperar para a Rússia a influência global que a União Soviética teveaposta brasileirao serie aseu auge. Esse é o seu objetivo. E ele não percebe que não pode. Não pode fazer parte da elite internacional quando não tem o PIB necessário, quandoaposta brasileirao serie apopulação é envelhecida e quando só produz matérias-primas.

E então, com forçaaposta brasileirao serie avontade eaposta brasileirao serie apotência nuclear, ele tenta se impor. E isso é muito perigoso. Quando a Europa defende a Ucrânia, está, na verdade, se defendendo.

O grande fracassoaposta brasileirao serie atodos os europeus foi não ter sido capazaposta brasileirao serie aincorporar a Rússia pós-soviética a uma estruturaaposta brasileirao serie asegurança que nos unisse a todos.

Mas é verdade que a Rússia não facilitou isso, pois,aposta brasileirao serie avezaposta brasileirao serie aabraçar a democracia, se afastou cada vez mais para formas autoritárias.

Talvez a expansão da OTAN devesse ter sido feitaaposta brasileirao serie aforma mais gradual, com mais cautela ou com outro tipoaposta brasileirao serie acompensações.

aposta brasileirao serie a Em 8aposta brasileirao serie adezembro, Donald Trump reiterou que estava disposto a permanecer na OTAN apenas enquanto os europeus "pagarem suas contas". O que aconteceria se, como ameaçou Trump, os Estados Unidos se retirassem da OTAN?

Os Estados Unidos não podem sair da OTAN, pois, embora Trump tenha ameaçado fazer isso, seria necessário o apoioaposta brasileirao serie adois terços do Senado, o que ele não tem.

O que ele pode fazer, no entanto, é esvaziar a aliançaaposta brasileirao serie aconteúdo, ou seja, reduzir os fundos, diminuir o númeroaposta brasileirao serie atropas ou até renunciar à aplicação automática do artigo 5ºaposta brasileirao serie adefesa coletiva.

Se isso acontecer, a Europa ficará sem dinheiro, sem armas e sem proteção nuclear, estando sozinha diante da Rússia e sem capacidade militar, pois não tem uma defesa comum.

As balas feitas pelos belgas não se encaixam nos fuzis produzidos pelos checos. Os tanques fabricados pelos franceses não são compatíveis com os feitos pelos alemães. Não temos uma indústria unificada.

Porém,aposta brasileirao serie aacordo com o Instituto Internacionalaposta brasileirao serie aEstocolmo para Pesquisa da Paz, o gasto militar da Europa superou o da China.

Os Estados Unidos gastam maisaposta brasileirao serie aUS$ 900 bilhõesaposta brasileirao serie adefesa, a China, US$ 296 bilhões, e a Rússia, US$ 109 bilhões.

Já os 27 países da União Europeia gastam juntos US$ 321 bilhões, efetivamente mais do que a China. Mas nãoaposta brasileirao serie aforma unificada. Cada um por conta própria.

A Europa precisa se unir e, se não o fizer, perderáaposta brasileirao serie ainfluência no mundo. E, com essa perdaaposta brasileirao serie ainfluência, também se perderá seu elevado nívelaposta brasileirao serie avida.

aposta brasileirao serie a E no plano econômico, o que pode acontecer na Europa com a chegadaaposta brasileirao serie aTrump?

Alguns aumentosaposta brasileirao serie atarifas, entre 10% e 20%, prejudicarão a economia europeia, mas há mais.

Trump não acredita no aquecimento global. Consequentemente, é provável que ele diminua a redução das emissõesaposta brasileirao serie agasesaposta brasileirao serie aefeito estufa.

Se isso ocorrer, os europeus estaremosaposta brasileirao serie adesvantagem para competir economicamente com as empresas americanas, porque teremos que pagar muito mais pela nossa contribuição na carbonização da atmosfera do que os americanos.

Isso nos colocaráaposta brasileirao serie adesvantagem na horaaposta brasileirao serie acompetir nos mercados internacionais.

aposta brasileirao serie a E isso interessa a Trump?

Sim. Trump também não acredita na Europa. Ele acreditaaposta brasileirao serie apaíses europeus como Alemanha, França, Itália ou Espanha, mas não enxerga a União Europeia como um todo.

Sempre se disse que os Estados Unidos não queriam uma Europa forte, e isso é verdade. No entanto, também não é do interesse deles uma Europa excessivamente fraca, como está agora.

aposta brasileirao serie a Eu o ouvi dizer que a Europa cometeu três erros ao colocaraposta brasileirao serie asegurança nas mãos dos EUA, a energia nas mãos da Rússia e o comércio nas mãos da China. Há alguma formaaposta brasileirao serie areverter essas realidades?

O relatórioaposta brasileirao serie aDraghi foi muito claro sobre isso. A Europa precisa investir 800 bilhõesaposta brasileirao serie aeuros por ano e criar uma estrutura industrial para salvaraposta brasileirao serie aeconomia.

Além disso, pela primeira vez, há um comissário responsável por assuntosaposta brasileirao serie adefesa, que tentará harmonizar e promover economiasaposta brasileirao serie aescala na indústria militar europeia.

Estão sendo feitas algumas ações, mas é necessário acelerar o processo. Acredito que este é o momentoaposta brasileirao serie adar um grande passo, e talvez a chegadaaposta brasileirao serie aDonald Trump seja o estímuloaposta brasileirao serie aque a Europa precisa para, finalmente, tomar as decisões que sabe que tem que tomar.

Mais união, mais integração, mais Europa. Quanto menos Europa houver, menos influência mundial teremos e mais rapidamente nossa decadência se acelerará. A única formaaposta brasileirao serie aevitá-la é nos integrarmos.