O menino que teve 'infância perfeita' sem saber que o pai era um dos criminosos mais procurados do planeta:betmotion logo

Nick Reynolds, com o pai, Bruce

Crédito, PA Media

Legenda da foto, Apesarbetmotion logotudo o que aconteceu, o relacionamentobetmotion logoNick Reynolds com o pai, Bruce, sempre foi muito próximo

Nick sabe, por experiência própria, como é fazer partebetmotion logouma família envolvidabetmotion logoatividades criminosas.

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Ele cresceu à sombrabetmotion logoum dos crimes mais notórios do século 20.

Suas primeiras memórias sãobetmotion logoquando ele era criança — uma longa viagem do Reino Unido, passando pelos Estados Unidos, até a ensolarada costa do México.

"Minhas primeiras lembranças são realmente como cenasbetmotion logoum filme editadas aleatoriamente. E, como meu pai tinha uma câmera Super 8, e eu já vi imagens daquela época, e elas com certeza se misturam às minhas lembranças."

"Me lembrobetmotion logoter passado muito tempo na bancobetmotion logotrásbetmotion logoum carro, que era conduzido pela vastidão dos EUA."

"E quebetmotion logoTucson, no Arizona, meu pai comprou uma roupabetmotion logocowboy para mim."

Mas o destino final da viagem era o México.

Memórias da Cidade do México ebetmotion logoAcapulco

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Do México, ele se lembra, "mais do que tudo,betmotion logocomo era ensolarado, e das grandes avenidas e das palmeiras".

Sua família era muito rica, ebetmotion logovida, luxuosa. "Meu pai estava entre os 2% mais ricos do México."

"Eu frequentava uma escola criada para filhosbetmotion logodiplomatas americanos, e alugamos um apartamento do presidente do Banco do México (em um bairro elegante da Cidade do México)."

"Lembro que a banheira erabetmotion logomármore preto, e era enorme, como uma piscina — eu podia brincarbetmotion logobatalha naval com meus brinquedos."

"Era uma cobertura, então a vista das janelas era maravilhosa, você podia ver, inclusive, o vulcão Popocatépetl."

Alguns meses depois, eles se mudaram para Acapulco, um lugar que Nick achou incrível.

"O hotel tinha um fosso ao redorbetmotion logoque se podia nadar. Também havia uma piscina lá dentro,betmotion logoque se podia nadar debaixo d’água por um túnel que se conectava com uma lagoa que ficava no meio do mar."

"Às vezes, saíamos num barco com fundobetmotion logovidro, e eu via meu pai com seu equipamentobetmotion logomergulho embaixo d'água. Ele gostava muitobetmotion logoesportes: natação, mergulho, ciclismo."

O pai e a mãebetmotion logoNick na praia, por voltabetmotion logo1965

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O pai e a mãebetmotion logoNick na praia, por voltabetmotion logo1965

A vida dele era divertida, privilegiada e idílica.

"Era muito glamorosa. Meu pai era um grande homembetmotion logonegócios que vendia acessórios para cigarros Dunhill."

"Minha mãe sempre estava muito elegante; ela tinha as melhores roupas, e uma enorme coleçãobetmotion logoperucas, então cada vez que eles saíam, ela parecia diferente."

"Lembro que muitas vezes eles me deixavam com a empregada e iam para Las Vegas. Eram fascinados por Frank Sinatra."

"Eles eram muito amorosos comigo, e pareciam totalmente apaixonados um pelo outro."

Para Nick, era tudo normal. "Em nenhum momento, senti que estava sob alguma ameaça. Me sentia muito seguro e muito amado. Aqueles, muito possivelmente, foram os melhores anos, e mais felizes, da minha vida."

Nada indicava que algo estava errado.

"Meu pai era muito segurobetmotion logosi mesmo, e minha mãe acreditava 100% nele. Se não fosse assim, talvez eu tivesse notado que algo não estava muito certo, porque crianças são muito boas nesse tipobetmotion logocoisa."

E será que ele nunca se perguntou por que estava no México?

"Obviamente, o trabalho do meu pai era um dos motivos. Só comecei a me perguntar quem era realmente meu pai, porque tínhamos que nos mudar com frequência, e eu tinha que aprender diferentes nomes."

O pai herói

Isso mesmo. No México, seu nome não era Nick. Na verdade, ele estima que teve cercabetmotion logocinco nomes entre 1963 e 1968.

"Me davam um passaporte novo, não me explicavam nada, apenas me diziam: 'Agora esse é o seu nome, e mamãe e papai se chamam assim'."

Nick era muito pequeno para questionar o que estava acontecendo.

"Parecia um jogo. Achava que meu pai era um espião ou algo assim... para mim, ele se parecia muito com James Bond. E era divertido termos um segredo."

Mas a chegadabetmotion logoum visitante da Inglaterra mudou tudo.

A princípio, todos acolheram bem o "tio Jack" ebetmotion logofamília, mas logo o paibetmotion logoNick ficou preocupado quebetmotion logopresença pudesse prejudicarbetmotion logoimagem.

"Para aqueles que o conheciam no México, ele era praticamente um aristocrata, uma espéciebetmotion logocavalheiro britânico. Mas o tio Jack era como um daqueles malandros simpáticos donosbetmotion logouma banca no mercado."

"Acho que meu pai teve um mau pressentimento, então decidiu que tínhamos que deixar o México."

E assim, do nada, eles foram para o Canadá.

"Foi muito abrupto. Meu pai me disse: 'Escolha seus brinquedos favoritos. Só podemos levar o que cabe no carro. Vamos embora agora'."

"Foi desolador, mas ele me vendeu como mais uma grande aventura. Íamos ficar com alguém que tinha ido visitar meu pai no México, e tinha três filhas, e eu gostava muito dele, meu tio Chad."

A família ficoubetmotion logoMontreal, depois foi para Vancouver, passou um tempo no sul da França e finalmente voltou para a Inglaterra — inicialmente, eles ficarambetmotion logoLondres, e na sequência foram para Torquay, cidade que costumava ser chamadabetmotion logoRiviera Inglesa.

"Estávamos à beira-mar, e isso me lembrava um pouco do México, por isso gostei."

O que ele não gostou foi da escola, porque "era dirigida por freiras, e a violência física parecia estar na ordem do dia". Quando ele contou aos pais, eles disseram que não ficariam lá por muito tempo.

Fazia sentido. Afinal, seus pais eram espiões. Por que outro motivo eles mudariam seus nomes e passaportes? Ebetmotion logomãe,betmotion logoaparência?

"Meu pai estava praticamente escondido à vistabetmotion logotodos, pouco antes do meu mundo desmoronar por completo."

A verdade bate à porta

Policiais do ladobetmotion logofora da casabetmotion logoNickbetmotion logoTorquay

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Policiais do ladobetmotion logofora da casabetmotion logoNickbetmotion logoTorquay, logo depois do ocorrido

No dia 9betmotion logonovembrobetmotion logo1968, por volta das 7h30 da manhã, a campainha tocou.

"Inocentemente, abri, e imediatamente uma enxurradabetmotion logopoliciais entrou, eles subiram correndo para o quarto da minha mãe e do meu pai."

"Ouvi um barulho lá fora, fui para o meu quarto olhar pela janela, e vi muita gente com câmeras."

"Eu não estava assustado nem nada, porque pensei que meu pai estava sendo resgatado."

"Só soube que não era bem isso quando meu pai veio até o meu quarto e me disse que havia se comportado mal, que sentia muito e que precisaria se ausentar por um tempo."

"Eu perguntei a ele: 'Até quando? E ele disse:' Ainda não sei'."

"Mesmo assim, não achei que fosse grave até ver minha mãe absolutamente arrasada, e pensei: 'Isso não faz sentido!'"

"Eu não conseguia entender: se os policiais eram os mocinhos, e vieram buscar meu pai, isso significava que ele não era um mocinho? Isso me confundiu, porque eu só conseguia imaginá-lo como um herói."

O paibetmotion logoNick, o espião super-herói da infância dele, estava na lista dos homens mais procurados do mundo da Interpol.

Era Bruce Reynolds, o cérebro por trásbetmotion logoum dos maiores e mais ousados ​​roubos dabetmotion logoépoca — o famoso assalto ao trem pagador.

Em 8betmotion logoagostobetmotion logo1963, Bruce e um grupobetmotion logocúmplices armados (incluindo "tio Jack"), atacaram um trem dos correios que iabetmotion logoGlasgow, na Escócia, a Londres, na Inglaterra, e roubaram £ 2,5 milhões, o que equivaleria a maisbetmotion logoUS$ 50 milhões (R$ 250 milhões) hoje.

Foi um assalto lendário e também violento. O maquinista, Jack Mills, foi brutalmente espancado por um dos homens, e morreu dois anos depois.

Portanto, a riqueza da infânciabetmotion logoNick, daqueles dias despreocupados sob o Sol, não eram provenientes da vendabetmotion logotabaco.

Fim da festa

Os autores do assalto ao trem pagador com cópias do livro que escreverambetmotion logo1979. Da esquerda para a direita: Buster Edwards, Tom Wisbey, Jim White, Bruce Reynolds, Roger Cordrey, Charlie Wilson e Jim Hussey

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Alguns dos autores do assalto ao trem pagador com cópias do livro que escreverambetmotion logo1979. Da esquerda para a direita: Buster Edwards, Tom Wisbey, Jim White, Bruce Reynolds, Roger Cordrey, Charlie Wilson e Jim Hussey

O paibetmotion logoNick era um criminoso e, como ele descobriria mais tarde, o famoso assalto não era o únicobetmotion logoque ele estava envolvido.

Antes do assalto ao trem pagador, houve outro também bastante notóriobetmotion logoum aeroportobetmotion logoLondres.

"(Eles) eram muito ousados. Faziam o tipobetmotion logoroubo que, até então, só se via no cinema."

Nick conta que seu pai adorava planejar os assaltos.

"Ele via os roubos como um diretorbetmotion logocinema, roteirista e ator. Era uma unidadebetmotion logoprodução completa."

"E ele me disse que depois sentiu um grande anticlímax. Tinha acabadobetmotion logorealizar o maior roubo da história da Inglaterra até então e,betmotion logovezbetmotion logose sentir eufórico, se sentiu mal porque pensou: 'E agora?'"

A resposta, no casobetmotion logoBruce Reynolds, foi a prisão. Ele foi condenado a 25 anos, dos quais cumpriria dez.

Mas o que aconteceu com Nick? Como ele reagiu depoisbetmotion logoabrir a porta e ver seu mundo desabar?

"Me lembro vividamente daquele momento porque foi quando a festa acabou: aquelas fériasbetmotion logoseis anos e a unidade familiar desapareceram para sempre."

"Minha mãe ficou completamente perdida sem meu pai. Pouco depois, desenvolveu vários problemasbetmotion logosaúde mental e, ao longo dos anos, foi internada maisbetmotion logocinco vezes."

"Para ela, foi o fim do mundo."

Para Nick, nem tanto.

"As crianças são bastante adaptáveis."

"Eu tinha muita fébetmotion logoque não seria assim para sempre, e que as coisas iriam melhorar."

Embora tenha havido algo que o impressionou muito.

"Quando fui visitá-lo pela primeira vez na prisão, meu pai estavabetmotion logouma caixabetmotion logovidro – como Hannibal Lecter. Eu nem sequer podia tocá-lo. Isso foi mais assustador. Pensei: 'Meu Deus, quem é meu pai, para terem prendido ele assim!'"

Nova fase

Nick, no palco,betmotion logoshow do Alabama 3

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Nick, no palco,betmotion logoshow do Alabama 3

A vidabetmotion logoNick mudou drasticamente, até porque seus pais decidiram mandá-lo para um colégio interno, um lugarbetmotion logoque ele desesperadamente não queria estar.

Mas havia uma constante: seu relacionamento com o pai.

"Eu tinha passado mais tempo com meu pai naquela época do que a maioria das outras crianças. Tínhamos um vínculo muito, muito próximo."

Da prisão, "ele me escrevia cartas muito longas. Era uma formabetmotion logome ensinar sobre tudo que interessava a ele, para que quando eu fosse à prisão tivéssemos muito o que conversar".

Nick também escrevia para ele, e ia visitá-lo a cada duas semanas

Claro, ele mantevebetmotion logosegredo quem era seu pai por muito tempo.

"Se me perguntavam, eu dizia que era policial."

Masbetmotion logoalgum momentobetmotion logosua vida, ele percebeu que, sem querer, estava fazendo tudo o que seu pai queria, mas não podia fazer.

"Ele queria ser músico, mas não tinha aptidão musical (Nick ainda faz parte do Alabama 3). Ele queria estar na Marinha, masbetmotion logovisão não era boa (Nick ingressou na Marinha Real britânica quando terminou a escola)."

E não para por aí.

Seu pai adorava arte e costumava enviar um cartão postal com cada carta. Na frente, a imagembetmotion logoalguma obrabetmotion logoarte; e no verso, descrições detalhadas sobre o artista e o estilo.

Aos poucos, Nick também ficou fascinado. Tanto que, hojebetmotion logodia, ele é o principal praticante no mundobetmotion logouma formabetmotion logoarte quase esquecida: as máscaras mortuárias.

Nick Reynolds na inauguração da estátua do crucifixobetmotion logoPete Doherty, chamada For Pete's Sake,betmotion logo2005

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Alémbetmotion logomúsico, Nick Reynolds também é escultor

"Uma máscara mortuária é feita moldando as feiçõesbetmotion logouma pessoa morta. É quase como se o seu último suspiro tivesse sido congelado no tempo, é o último retrato."

Em 2023, o museu National Portrait Gallery,betmotion logoLondres, abriu uma nova ala — e parte dela é dedicada às máscaras mortuárias. Entre elas, estão obrasbetmotion logoNick.

O papel do pai no assalto ao trem pagador influenciou dramaticamentebetmotion logovida.

Será que, às vezes, ele deseja que nada disso tivesse acontecido? E que pudesse ter levado uma vida normal?

"As coisas não podem ser revertidas. Você é o que é. Passei minha vida inteira tentando jogar com as cartas que recebi, e não faz sentido reclamar."

"Às vezes, acho um pouco irritante que aos 61 anos eu ainda seja 'filhobetmotion logoalguém'. É uma grande sombra, e um peso que há muitos anos tento tirar dos ombros. Mas não é fácilbetmotion logotirar, e tenho convivido com isso."

"De qualquer forma, você tem que aproveitar ao máximo as coisas da vida e, se puder, ver o lado engraçadobetmotion logotudo."