Descobertas arqueológicas obrigam Portugal a rever mito sobre escravidão:1win casino online

Crédito, Arquivo Pessoal/ Rui Gomes Coelho

Legenda da foto, Equipe coordenada pelo arqueólogo Rui Gomes Coelho, pesquisador na Universidade1win casino onlineDurham, na Inglaterra, encontrou vestígios1win casino onlineocupações, nos séculos 16 e 17,1win casino onlineescravizados africanos na região do Monte do Vale1win casino onlineLachique, ao sul1win casino onlineLisboa

Mas o passado escravagista português não se resume ao emprego1win casino onlinemão-de-obra forçada nas colônias. Cada vez mais pesquisadores revelam que houve escravidão africana também na metrópole — ou seja,1win casino onlinePortugal — no mesmo período.

Pule Matérias recomendadas e continue lendo
Matérias recomendadas
1win casino online de :Temos os melhores relatórios de previsão, você está convidado a participar

motocicleta360 Specs Valor Tamanho da Exibição 1win casino online Nome 1.2 polegadas Tipo com In

tações AMOLED CaracterísticaS: Fitness GP S e Monitor 💋 De Frequência Cardíaca -

A EA Sports teve desentendimentos com a Maradona. família família.

codigo afiliado mr jack

The easiest way to open an HTML file in Chrome is to double-click the file on your desktop computer. Then the HTML file should display in your computer's default browser.
It is possible that your HTML file has not been saved with a . html extension. In order to open the file in Chrome, use a text editor to save the file as myfile. html and open the file in Chrome.

Fim do Matérias recomendadas

Essa história vem sendo confirmada por escavações arqueológicas. Em agosto1win casino online2023, a equipe coordenada pelo arqueólogo Rui Gomes Coelho, pesquisador na Universidade1win casino onlineDurham, na Inglaterra, encontrou vestígios1win casino onlineocupações, nos séculos 16 e 17,1win casino onlineescravizados africanos na região do Monte do Vale1win casino onlineLachique, ao sul1win casino onlineLisboa.

“Sabemos que durante esse período foram levadas muitas pessoas escravizadas para o sul1win casino onlinePortugal para trabalharem na agricultura e outras atividades, e ficaram1win casino onlinelocais como esse monte”, afirmou Coelho, à BBC News Brasil, na época.

Pule Que História! e continue lendo
Que História!

A 3ª temporada com histórias reais incríveis

Episódios

Fim do Que História!

Ele conta que foram encontrados objetos "que permitem situar a construção do monte no final do século 15 ou início do 16".

"Também descobrimos que antes desse período não existiu ocupação permanente na área durante mais1win casino onlinemil anos, desde a época romana. Isto sugere que a região só foi realmente ocupada a partir do final do século 15", conta.

Em outras palavras, a ocupação moderna da área se deve aos escravizados.

"Esse é um período1win casino onlineque o tráfico1win casino onlinepessoas escravizadas para Portugal a partir da África Ocidental e Central foi bastante intenso", comenta o arqueólogo.

Ele ressalta que os vestígios ali encontrados confirmam relatos documentais que indicam que "áreas1win casino onlinemato" daquelas redondezas foram limpadas para o cultivo graças ao trabalho1win casino onlineescravizados.

"É inevitável pensarmos no que estava acontecendo nessa época1win casino onlineoutras partes do Atlântico. Por exemplo, nas ilhas atlânticas ou até no Brasil", acrescenta ele.

"Estamos perante um fenômeno1win casino onlinecolonização, mas no interior da Europa."

Os objetos encontrados ali que remetem a esse passado escravagista ainda devem passar por análise e serão apresentados1win casino onlineum congresso1win casino onlinearqueologia marcado para novembro. Mas não é a primeira vez que vestígios do tipo são encontrados1win casino onlinePortugal.

Em 2009, outro grupo1win casino onlinepesquisadores descobriu 158 esqueletos1win casino onlineafricanos na cidade1win casino onlineLagos e estudos constataram que esses homens e mulheres sofriam1win casino onlinedesnutrição, lesões e abusos físicos graves.

Crédito, Arquivo Pessoal/ Rui Gomes Coelho

Legenda da foto, Cada vez mais pesquisadores revelam que houve escravidão africana também na metrópole — ou seja,1win casino onlinePortugal — no período colonial

Uma longa história — ainda cheia1win casino onlinelacunas

"A história das populações escravizadas e dos seus descendentes1win casino onlinePortugal é uma história cada vez mais conhecida, nos seus traços gerais, pelos pesquisadores", comenta Coelho.

"No entanto, as experiências1win casino onlinevida dessas pessoas estão fora das grandes narrativas que dão corpo ao estado-nação português e à imaginação histórica da maioria dos portugueses."

Sim, esta é uma lacuna. Para boa parte das pessoas, a escravidão empreendida pelos portugueses ocorreu somente nas colônias, como o Brasil.

Nas palavras1win casino onlineCoelho, essa situação tem sido representada "como elementos exteriores, que foram assimiladas ou desapareceram1win casino onlinetodo".

"A história da comunidade1win casino onlineorigem africana no Vale do Sado [onde fica o monte escavado], onde trabalhamos,1win casino onlineum modo geral é ainda representada dessa forma", salienta ele.

"A arqueologia permite que cheguemos às experiências dessas comunidades através das coisas mais banais, perdidas ou descartadas, através das quais podemos criticamente imaginar a gestualidade e os objetos1win casino onlinepessoas que viveram há centenas1win casino onlineanos, nas margens, longe dos documentos escritos."

Autor do livro 'Cativos do Reino: a circulação1win casino onlineescravos entre Portugal e Brasil', o historiador Renato Pinto Venancio, professor na Universidade Federal1win casino onlineMinas Gerais (UFMG) ressalta à BBC News Brasil que as pesquisas arqueológicas que vem sendo feitas "são uma contribuição importante e complementam as pesquisas históricas".

Em artigo inédito cedido à reportagem, o historiador Jorge Fonseca, autor do livro 'Escravos e Senhores na Lisboa Quinhentista' enfatiza que "a escravidão, o regime mais extremo1win casino onlineexploração1win casino onlineum ser humano,1win casino onlineque uma das partes, o escravo, era propriedade da outra, o senhor, existiu1win casino onlinePortugal desde as épocas mais remotas, mas intensificou-se com as viagens1win casino onlinecomércio e conquista iniciadas no século 15".

Venancio contextualiza bem essa situação escravista1win casino onlinePortugal. Uma história que começa muito antes do chamado "tráfico negreiro".

"É preciso lembrar que a Europa mediterrânica, na Antiguidade, foi escravista. Durante a Idade Média, essa forma1win casino onlinetrabalho declinou. Porém, nas regiões que hoje correspondem a Portugal e Espanha, esse declínio foi atenuado1win casino onlinerazão da reconquista, ou seja, das cruzadas internas contra os árabes", conta ele.

"O Reino1win casino onlinePortugal, que surge no século 12, teve a história marcada pela luta contra os muçulmanos. Os prisioneiros dessas guerras eram escravizados", pontua. "No século 15, essa população foi, inclusive, obrigada a ser batizada como cristã. Nesse mesmo século, Portugal começou a construir um imenso império colonial, que deu origem ao tráfico1win casino onlineescravos das regiões africanas subsaarianas."

É aí que a escravidão mais recente começa. "É possível afirmar que na península Ibérica houve continuidade entre a escravidão antiga e a moderna", explica Venancio.

O tema é negligenciado até mesmo por obras basilares, como a enciclopédia História1win casino onlinePortugal, conhecida como "edição monumental", dirigida pelo historiador José Mattoso (1933-2023) e publicada pela primeira vez no início dos anos 19901win casino onlineoito volumes.

Nas 1060 páginas dos dois tomos que abordam a Época Moderna, apenas cinco são dedicadas à escravidão.

Bobos da corte e zoológico humano

Crédito, Arquivo Pessoal/ Rui Gomes Coelho

Há uma importante diferença, se comparada ao Brasil colonial: os objetivos dessa mão-de-obra forçada.

"Havia 'escravidão' mas não havia ‘sistema escravista'", diz Venancio.

"Esse último só existe quando a escravidão é estrutural, ou seja, quando a classe dominante precisa da escravidão para se reproduzir social e economicamente. Por isso é possível afirmar que, entre os séculos 16 e 19, houve sistema escravista no Brasil, mas não1win casino onlinePortugal."

Fonseca explica que houve uma transformação do escravismo antigo para o africano: "a simples pilhagem, processo medieval e guerreiro, foi substituída pelo comércio na obtenção1win casino onlineescravos".

Segundo as pesquisas1win casino onlineVenancio, lá a escravidão "foi1win casino onlinenatureza doméstica, e não rural, salvo1win casino onlinecasos excepcionais".

"Era marcada pela presença maior1win casino onlineescravas do que1win casino onlineescravos, um traço comum à escravidão doméstica", ressalta.

Fonseca discorda desse ponto. "Foram utilizados1win casino onlinemuitas atividades econômicas [em Portugal], desde a agricultura e a guarda1win casino onlinegado, ao comércio, ofícios industriais, transportes e trabalho doméstico", diz ele.

"Os seus donos foram, além da nobreza e do clero, agricultores, mercadores, os artesãos mais prósperos e muitos funcionários da coroa. A corte régia e a aristocracia empregaram-nos, além1win casino onlinemoços1win casino onlineestrebaria e varredores do paço, como pajens e músicos,1win casino onlinepequenas orquestras1win casino onlineinstrumentos1win casino onlinesopro", descreve.

Segundo Venancio, "muitos portugueses tinham escravos como forma1win casino onlineostentação" e entre os século 16 e 18, "os reis1win casino onlinePortugal tinham bobos da corte1win casino onlineorigem africana".

D. Manuel I (1469-1521) chegou a dar um desses bobos da corte escravizados como presente para o papa Leão 10 (1475-1521). Em seu texto, Fonseca conta que esse monarca determinou,1win casino online1512, "que todos os navios com cativos africanos só pudessem desembarcá-los na cidade do Tejo, exceto quando o não conseguissem fazer por razões1win casino onlineforça maior, como intempéries".

"Quando chegavam ao porto, os mesmos eram retirados, avaliados para que fossem cobrados a vintena e o quarto da Coroa, e armazenados na Casa dos Escravos […]. Dela saíam para serem vendidos no próprio local, diretamente ao público ou por meio1win casino onlinecorretores. Por vezes andavam1win casino onlinegrupo,1win casino onlinepregão, pela cidade", relata.

Fonseca acrescenta que, nos anos 1580, foi criado1win casino onlineLisboa um órgão chamado Almoxarifado1win casino onlineEscravos.

"A concentração do comércio negreiro1win casino onlineLisboa teve como consequência que a urbe se transformasse no maior centro1win casino onlinetráfico e utilização1win casino onlineescravos do país e num dos maiores da península Ibérica,1win casino onlineparalelo com Sevilha, com a qual partilhou a metáfora do 'tabuleiro1win casino onlinexadrez', por nela se verem tantos habitantes negros como brancos", escreve ele.

Ele explica, contudo, que a proporção estava longe1win casino onlineser meio a meio, mas como os viajantes vinham1win casino onlinelocalidades1win casino onlineque quase não existiam negros, a presença destes lhes destacava aos olhos.

Segundo o historiador Mattoso,1win casino online1551 os negros escravizados eram 10%1win casino onlineuma população1win casino online100 mil habitantes1win casino onlineLisboa.

"No século 18, d. Maria I [(1734-1816)], caracterizada pela historiografia tradicional como ‘a piedosa’, colecionava seres humanos, africanos anões, homens e mulheres, que serviam1win casino onlinebobos da corte", conta Venancio.

"Ela tinha um pequeno zoológico1win casino onlineseres humanos. Lembrar isso é importante, principalmente na época atual, quando há grupos exaltando as virtudes dos antigo regime ou das monarquias."

Crédito, Arquivo Nacional

Legenda da foto, Ilustração mostra como era um "navio negreiro"

Quantidade incerta

Não é tarefa simples chegar a um número estimado1win casino onlinequantos foram os escravizados africanos levados a Portugal. Estudiosos costumam apresentar um número que vai1win casino online350 mil a 800 mil. Em1win casino onlineenciclopédia, Mattoso afirma que no século 16 chegavam1win casino online1,6 mil a 1,7 mil por ano.

"A plataforma SlaveVoyages, fruto da reunião1win casino onlineinstituições1win casino onlinevários países, estima para o conjunto da Europa o desembarque1win casino onlineentre 10 mil e 11 mil escravizados africanos entre 1501 e 1800", diz Venancio.

Mas o próprio pesquisador lembra que a plataforma considera apenas a relação direta África-Europa.

"E há pesquisas mostrando que no século 18 essa não era a principal forma1win casino onlinetráfico para Portugal”, detalha. “Começava a haver o fenômeno1win casino onlinesenhores que voltavam para a metrópole levando consigo seus escravos domésticos."

Tamanha diferença numérica reforça a tese1win casino onlinecomo o assunto ainda é mal-resolvido historicamente.

"Isso mostra a necessidade1win casino onlinemais pesquisas. Acho 11 mil uma cifra muito baixa. Já os números1win casino online300 mil ou 800 mil me parecem exagerados", diz o historiador.

"Eventualmente também levavam escravos para aprender ofícios e depois retornar ao Novo Mundo. Então temos a questão dos escravos temporários1win casino onlinePortugal. Como classificá-los: são coloniais ou metropolitanos?", pergunta Venancio.

Ele diz que também há discrepâncias geográficas. "Quando falamos1win casino onlineescravidão1win casino onlinePortugal da época moderna, estamos falando1win casino onlineLisboa. Dependendo do período, a população escravizada ali variou entre 5% e 10% da população total. Nas demais localidades essa população dificilmente ultrapassava 1%. Na maioria das outras localidades, nem existia."

Ciente do estudo arqueológico recentemente realizado no Vale do Sado, Venancio ressaltou que "não por acaso a região fica próxima a Lisboa".

O pesquisador conta que arquivos antigos registraram essa presença1win casino onlineescravizados1win casino onlinePortugal. Um exemplo são os documentos paroquiais1win casino onlineque certidões1win casino onlinebatismo e óbitos mencionavam a condição.

"Os documentos1win casino onlinearquivo são resultados das atividades das instituições", comenta ele.

"Ora, na sociedade dividida1win casino onlineclasses sociais, o que as elites mais fazem é criar instituições para controlar os dominados, sendo esses últimos muito bem documentos."

Miscigenação e racismo

Venancio conta que, ao contrário do Brasil, Portugal não teve uma "lei áurea" para botar fim à escravidão.

"Ela entrou1win casino onlinedeclínio na segunda metade do século 18, após a lei proibindo o tráfico1win casino onlineescravos para o solo português e por meio1win casino onlineuma lei do 'livre ventre', matriz1win casino onlinenossa lei do ventre livre, promulgada um século mais tarde", contextualiza.

"Não houve decreto abolindo a escravidão1win casino onlinePortugal. Como não havia tráfico atlântico e as crianças nascidas iam sendo libertadas, a escravidão foi se extinguindo lentamente."

Ele também ressalta que, diferentemente do que ocorreu1win casino onlinesolo brasileiro, "não há vestígios1win casino onlinequilombos1win casino onlinePortugal".

"Nem poderia haver, pois lá a escravidão1win casino onlinemomento algum foi a base do sistema econômico", justifica ele.

"Mas havia fugas."

No seu livro 'Cativos do Reino' Venancio conta um pouco sobre essas peripécias.

"A malha1win casino onlinesustentação dos fujões era complexa, incluindo os que preparavam a saída do cativo da casa senhorial, os que concediam abrigo e os que forneciam alimentos ou dinheiro a eles", explica o historiador.

"A lei também determinava que os cristãos que colaborassem1win casino onlinefugas seriam degredados."

Segundo o historiador, a principal rota1win casino onlinefuga era pelo mar.

"O fujão procurava se passar por livre ou forro, se engajando no trabalho marítimo. Mas isso era apenas um primeiro passo: à medida que eram vistos como suspeitos nos navios mercantes, esses escravos fugiam para embarcações1win casino onlinecorsários e piratas."

Venancio ressalta que "o número1win casino onlineafricanos e descendentes1win casino onlineafricanos nessas embarcações era considerável".

"De certa forma, eles foram pioneiros da globalização: nasciam1win casino onlineregiões da África Central, iam parar1win casino onlineLisboa como escravos e terminavam a vida como piratas1win casino onlinenavios no Caribe…"

Tudo indica que essa experiência escravagista1win casino onlinePortugal tenha fortalecido o sentimento1win casino onlineracismo1win casino onlineparte da sociedade.

Em conversa com a BBC News Brasil, o historiador Francisco Bethencourt, autor do livro 'Racismos: das Cruzadas ao Século 20' e professor do King’s College1win casino onlineLondres, embora o preconceito racial seja anterior à esse fenômeno, ele "foi reforçado com o tráfico1win casino onlineescravos".

De acordo com o historiador Fonseca, há registros1win casino onlineque muitos ex-escravos acabaram se fixando, no fim do século 18, "em povoados isolados, situados mais a norte do Alentejo, no Vale do Sado, onde se reproduziram1win casino onlineforma endogâmica". Exatamente onde as escavações da equipe1win casino onlineCoelho aconteceram.

Evidentemente que também houve miscigenação na sociedade portuguesa, mas para o historiador, "não dá para comparar com o que ocorreu no Brasil". "Portugal desenvolveu uma tipologia racial própria", afirma. "Nos registros paroquiais1win casino onlineLisboa, identifiquei termos como ‘trigueiro’ e até mesmo 'embaçado'. [Mas] é preciso sublinhar que o percentual desse segmento era pequeno."

Segundo ele, quando houve a migração1win casino onlinemassa1win casino onlineeuropeus ao Brasil no fim do século 19 e início do século 20, no contexto da substituição da mão-de-obra escravizada, estudos indicam que muitos descendentes1win casino onlineafricanos que viviam1win casino onlineLisboa se mudaram para cá.

"Creio que a migração1win casino onlinemassa para o Brasil, no século 19, foi um momento importante no apagamento da presença africana1win casino onlinePortugal", ressalta ele.

Nas escolas, um tema tabu

Toda essa história ainda fica1win casino onlinesegundo plano nos livros escolares e no próprio imaginário comum dos portugueses.

"Há pouca educação1win casino onlinePortugal1win casino onlinematéria1win casino onlineracismo", acredita Bethencourt, admitindo que o cenário vem mudando nos últimos anos.

"Não só os historiadores portugueses parecem se preocupar pouco com a história da escravidão no território europeu, o mesmo ocorre1win casino onlineoutros países do continente. Parece haver uma difusa consciência culpada da Europa1win casino onlinerelação ao seu passado", argumenta Venancio.

"É comum esquecer que esse continente saqueou o mundo entre os século 15 e 19."

Em 2018, as pesquisadoras Ana Paula Squinelo, Glória Solé e Isabel Barca publicaram na revista acadêmica História & Ensino um artigo comparativo1win casino onlinecomo a escravidão é abordada1win casino onlinelivros didáticos portugueses e brasileiros.

"No caso1win casino onlinePortugal averiguamos uma ausência do tema nos livros didáticos, seja do ponto1win casino onlinevista quantitativo ou da apresentação e abordagem […]", escrevem as pesquisadoras.

A diferença começa no período1win casino onlineque o assunto é abordado — no Brasil, a escravidão é ensinada na 7ª série, enquanto1win casino onlinePortugal, na 8ª.

"Vale registrar que especificamente sobre o conceito escravidão os conteúdos [em livros didáticos portugueses] são diminutos, esparsos e dilúidos entre as páginas […]", afirma o artigo. "[…] por vezes configuram-se1win casino onlineum, dois e/ou três parágrafos."

As pesquisadoras trazem um exemplo do livro 'Missão: História'.

Nele, as relações entre portugueses e africanos são apresentadas como amistosas. Elas destacam um trecho que aponta a "prática do comércio" como responsável pela "fixação1win casino onlinealguns portugueses" no continente africano, "assim como o tráfico1win casino onlineescravos levou muitos africanos para a Europa e a América (como escravos)."

"Dessa forma desenvolveram-se interinfluências culturais. A convivência (pacífica ou, no caso dos escravos, imposta) entre estes povos levou à partilha1win casino onlineconhecimentos e práticas, desenvolvendo-se um processo1win casino onlineaculturação que se fez sentir sobretudo nos domínios da religião, da língua e da cultura", defende o livro didático, na página 35.

Na análise1win casino onlineSquinelo, Solé e Barca, "a narrativa didática1win casino onlinetorno do conteúdo escravidão" tende a justificar que o tráfico1win casino onlineescravos foi a solução encontrada "para suprir a demanda portuguesa nas propriedades do engenheiro açucareiro no Brasil". Esta abordagem pode ser explicada com trecho do livro 'Viagem na História'.

"A1win casino onlineprodução [da cana] exigia muita mão1win casino onlineobra, o que obrigou à importação1win casino onlineescravos negros da costa africana para trabalharem nos engenhos", diz o texto didático. "Iniciou-se, dessa forma, um comércio regular entre os dois lados do Atlântico, envolvendo Portugal, a África e o Brasil, que se designa comércio triangular."

Para as pesquisadoras, os materiais didáticos "eximem1win casino onlinecerta forma a responsabilidade portuguesa no que concerne ao tráfico1win casino onlineescravos ao afirmar que esta já era uma prática entre os líderes tribais".

O 'Viagem na História' diz que "na costa africana, estabeleceram-se relações pacíficas com os chefes locais, que favoreceram o desenvolvimento comercial e a fixação dos portugueses, permitindo a assimilação mútua1win casino onlinealguns costumes".

"Cabe ressaltar ainda que é enfatizado o 'deslocamento' do negro como se houvesse sido um processo natural e não uma diáspora forçada da África para o Brasil", apontam as pesquisadoras, notando que a "narrativa didática reforça ainda que tal 'deslocamento' promoveu processos1win casino onlineaculturação, movimentos interculturais e multiculturais, entre outros.

'Missão: História' usa uma figura estereotipada do carnaval brasileiro para ilustrar o resultado das trocas "pacíficas" que mesclaram as culturas1win casino onlineeuropeus, indígenas e negros.

"Portugueses e africanos mantinham,1win casino onlinegeral, relações pacíficas, principalmente com um caráter comercial", diz texto da página 201win casino online'Viva a História'.

"Não creio que entre a população portuguesa haja uma negação da antiga presença1win casino onlineescravizados africanos1win casino onlinePortugal. O que existe é talvez um desconhecimento sobre a escala dessa presença e a negação do desenvolvimento1win casino onlinerelações sociais no interior do país fortemente influenciadas pelo colonialismo", comenta o arqueólogo Coelho.

"Conhecemos pouco ainda sobre como a chegada1win casino onlinepessoas escravizadas,1win casino onlineforma tão intensa, a partir do século 16, transformou o valor do trabalho, ajudou a consolidar o latifúndio, e influenciou a própria formação das comunidades camponesas no sul1win casino onlinePortugal", enumera.

"A dureza das experiências1win casino onlinevida, mas também1win casino onlineluta e resistência do povo alentejano convergem e se entrelaçam com as experiências dos ancestrais escravizados e seus descendentes. Com este projeto queremos encorajar a sociedade a pensar sobre isso."

"É preciso ter cuidado na apresentação desse tema,1win casino onlinequalquer forma. A escravidão nunca foi a base do sistema socioeconômico1win casino onlinePortugal, então há o risco1win casino onlinemistificações a respeito dessa experiência histórica", relativiza Venancio.

No entanto, o historiador argumenta que "o fato1win casino onlinea escravidão não ter sido economicamente relevante1win casino onlinePortugal" não é motivo para "ignorar esse fenômeno".

Ele afirma que estudos apontam que "mesmo1win casino onlinesituação1win casino onlineminorias, os africanos1win casino onlinePortugal, principalmente1win casino onlineLisboa, lutaram por manter suas tradições culturais e espirituais".

E "mesmo massacrados", eles "não desistiram1win casino onlinelutar por suas crenças". "São exemplos para a humanidade e não podem ser esquecidos", ressalta o historiador.

Próximos passos

O arqueólogo Rui Gomes Coelho conta que nos próximos meses todo o material coletado será analisado.

Os cientistas também devem se ater a amostras ambientais.

"Temos duas colegas no projeto que recolheram sedimentos no rio Sado e agora irão analisá-los para encontrar vestígios1win casino onlinepólen e outros dados que nos permitam fazer uma história ambiental da região", diz ele.

"Nós sabemos que o colonialismo e a escravidão causaram grandes alterações ambientais por todo o mundo. Mas como é que isso se materializou especificamente nesta região? Que plantas desapareceram e foram introduzidas nessa época? Com que ritmo se espalharam? Essas são questões a que estamos tentando dar resposta", explica.

O material biológico será comparado com o encontrado1win casino onlineGuiné-Bissau, na África.

*Esta reportagem foi publicada originalmente1win casino onlinesetembro1win casino online2023 e atualizada1win casino online251win casino onlineabril1win casino online2024.