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O que é electroma, rede do corpo humano recém-descoberta que pode revolucionar tratamento do câncer:4x4 bet com
Algumas pessoas atribuem a Adee a criação do neologismo “electroma”. Ela afirma que “não podemos subestimar a forma total e absoluta4x4 bet comque todos os seus movimentos, percepções e pensamentos – e os meus – são controlados pela eletricidade”.
Ela destaca que compreender o electroma é fundamental porque, se interviermos no processo bioelétrico do corpo, poderemos “consertá-lo quando houver algo4x4 bet comerrado, seja por trauma, defeitos4x4 bet comnascimento ou câncer”.
Como funciona
O professor emérito4x4 bet combiologia do câncer Mustafa Djamgoz, do Imperial College4x4 bet comLondres, é um dos primeiros cientistas a aplicar a bioeletricidade no tratamento desta doença.
Djamgoz também leciona neurobiologia na mesma universidade e estuda os processos bioelétricos do corpo há décadas. Desde 2019, ele é coeditor-chefe4x4 bet comBioelectricity, a única revista científica dedicada a este campo.
Mas, antes4x4 bet comentender como usar a bioeletricidade para tratar do câncer, a BBC News Mundo – o serviço4x4 bet comespanhol da BBC – pediu a Djamgoz que explicasse o que é essa corrente e como ela é gerada dentro do nosso corpo.
“Todos os elementos que temos no nosso corpo, como o sódio, potássio, cálcio, magnésio e zinco, passam por uma reação química que causa a separação dos seus átomos, formando o que se conhece como íons, que são partículas eletricamente carregadas”, explica o professor.
“Os fluidos do nosso corpo estão repletos destes íons. Os4x4 bet comcarga oposta se atraem e os que possuem a mesma carga se repelem”, prossegue ele. “E, quando circulam pelo nosso corpo, eles geram uma corrente.”
Djamgoz ressalta que é uma corrente com potência muito baixa: apenas 70 milivolts. Como termo4x4 bet comcomparação, uma pilha AA comum tem 1,5 mil milivolts. Mas a bioeletricidade do corpo é fundamental para seu funcionamento, segundo ele, já que é através desses sinais elétricos que as diferentes partes do corpo se comunicam.
Lei fundamental
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Episódios
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Djamgoz destaca que a rede bioelétrica do corpo funciona sob os mesmos princípios fundamentais aplicados a qualquer circuito elétrico, incluindo a lei4x4 bet comOhm, que estabelece que a tensão é igual à corrente, multiplicada pela resistência.
A grande diferença é que, enquanto a eletricidade tradicional se move ao longo do núcleo condutor dentro4x4 bet comum cabo, a bioeletricidade é gerada por íons que fluem através da membrana celular (a cobertura da célula).
Como a membrana tem função4x4 bet comvedação, os íons, para penetrar na célula, devem atravessar uma espécie4x4 bet comcomporta – proteínas chamadas4x4 bet com“canais iônicos”, incrustadas na membrana. Quando os íons fluem por esses canais, produz-se a condução elétrica.
Para o especialista, é um paradoxo que o sistema bioelétrico tenha sido muito menos estudado que outros sistemas que regem o corpo, como o genoma, já que4x4 bet comcompreensão apresenta muito menos dificuldade.
“Temos 22 mil genes e cada pessoa tem uma composição genética diferente. Por isso é que temos medicina personalizada”, segundo ele. “Mas, na bioeletricidade, existe uma única lei fundamental, aplicada a todos.”
Djamgoz também destaca que todas as células e tecidos do nosso corpo – neurônios, nervos, músculos, cartilagens, intestino etc. – utilizam o mesmo processo para se comunicar.
“Quando pensamos nas propriedades elétricas do corpo, pensamos4x4 bet comprimeiro lugar no cérebro, no coração e nos músculos, mas a realidade é que até os micróbios do nosso intestino, o sistema imunológico e as células cancerígenas geram sinais elétricos”, afirma ele.
Para o professor, “a bioeletricidade realmente é uma das forças ou mecanismos mais fundamentais da natureza”.
O câncer
Voltando à aplicação da bioeletricidade para impedir o avanço do câncer, o tratamento revolucionário sendo desenvolvido por Djamgoz está relacionado com a forma4x4 bet comtransmissão dos sinais elétricos dentro do corpo.
Já mencionamos que, para entrar e sair das células, os íons (átomos com carga elétrica) utilizam canais iônicos, que são proteínas presentes nas membranas celulares. Elas funcionam como comportas – quando elas se abrem, o íon pode passar.
No caso do câncer, que é basicamente uma doença que ocorre quando as células crescem e se propagam4x4 bet comforma descontrolada, o professor explica que esses canais iônicos desempenham papel fundamental, já que “são eles que controlam a proliferação e a migração das células”.
Graças às pesquisas iniciadas pelo especialista na década4x4 bet com1990, ele e4x4 bet comequipe descobriram um dado revelador: as células cancerígenas ficam agressivas – ou seja, elas tendem a se multiplicar e propagar – quando são “eletricamente excitáveis”.
“As células cancerígenas geram um zumbido4x4 bet comatividade elétrica e isso as torna hiperativas”, explica Djamgoz.
Este dado é muito importante, segundo o professor, porque “o problema do câncer não é ter um tumor. Você pode viver com um tumor, desde que seja local. O problema aumenta quando o câncer se propaga,4x4 bet comum processo que chamamos4x4 bet commetástase.”
Djamgoz descobriu que a chave para interromper esse crescimento hiperativo é fechar as comportas elétricas das células – ou seja, bloquear os canais iônicos, mais especificamente os canais4x4 bet comíons4x4 bet comsódio, que são os responsáveis por causar a “excitação eletrônica” que promove o crescimento do câncer.
Utilizando produtos farmacêuticos para bloquear esses canais, o professor conseguiu interromper a proliferação e a propagação4x4 bet comcélulas cancerígenas4x4 bet comanimais. Seu próximo desafio é realizar testes4x4 bet comseres humanos, o que é um processo muito mais complexo.
Mas ele diz já ter indícios4x4 bet comque a técnica também poderá funcionar4x4 bet compessoas.
O especialista4x4 bet comciências biomédicas William Brackenbury, da Universidade4x4 bet comYork, no Reino Unido, é ex-estudante4x4 bet comdoutorado4x4 bet comDjamgoz. No final4x4 bet com2022, ele publicou os resultados4x4 bet comum estudo epidemiológico que analisou informações4x4 bet com53 mil pacientes com câncer4x4 bet comtrês tipos: mama, próstata e cólon.
Cerca4x4 bet com150 desses pacientes também tinham angina crônica, uma doença coronariana que é tratada utilizando um medicamento chamado ranolazina, que bloqueia os canais4x4 bet comíons4x4 bet comsódio4x4 bet comcondições4x4 bet combaixo nível4x4 bet comoxigênio, que também são produzidas nos tumores4x4 bet comcrescimento.
O estudo demonstrou que as pessoas que tomaram o bloqueador sobreviviam,4x4 bet commédia, por 60% mais tempo que os demais pacientes4x4 bet comcâncer que não estavam tomando esse produto.
“Medicamentos como a ranolazina podem transformar os cânceres agressivos4x4 bet comestado benigno, ou seja, sem metástase, permitindo que os pacientes vivam com o câncer4x4 bet comforma crônica, como no caso4x4 bet comdiabetes”, segundo o especialista. “Isso também elimina os efeitos secundários tóxicos e indesejáveis4x4 bet comtratamentos como a quimioterapia.”
Djamgoz patenteou seu tratamento contra o câncer usando o bloqueador4x4 bet comcanais4x4 bet comíons4x4 bet comsódio4x4 bet comvários países, incluindo o Reino Unido, Japão, Canadá, Austrália e Estados Unidos.
Outros usos médicos
Mas a bioeletricidade não tem potencial apenas para a cura do câncer. A mesma “excitação eletrônica” que faz com que as células cancerígenas se multipliquem pode ser usada com outro objetivo positivo: a cura4x4 bet comferidas.
Sally Adee explica que já foi descoberto que as células da pele “geram um campo elétrico quando são lesionadas”.
“A corrente da ferida chama o tecido vizinho, atraindo ajudantes como agentes curativos, macrófagos para limpar a desordem e células reparadoras4x4 bet comtecido4x4 bet comcolágeno, chamadas fibroblastos”, explica ela.
Em 2012, o cientista Richard Nuccitelli conseguiu medir a corrente elétrica das feridas e concluiu que ela aumenta quando há a lesão, é reduzida à medida que a ferida sara e volta a ser indetectável quando a cura está completa.
Adee também descobriu que as pessoas cuja corrente4x4 bet comtensão era fraca se curavam mais lentamente do que aquelas cuja corrente4x4 bet comlesão era “mais forte”. Além disso, a força da corrente da ferida é reduzida com a idade, emitindo um sinal com a metade da força nas pessoas maiores4x4 bet com65 anos,4x4 bet comrelação aos menores4x4 bet com25 anos4x4 bet comidade, segundo detalha a especialista no seu artigo.
Esta descoberta levou alguns cientistas a tentar estimular a eletricidade natural do corpo para acelerar a cura4x4 bet comferidas.
Dois estudos publicados na última década sobre o tratamento4x4 bet comuma das feridas mais difíceis4x4 bet comcurar (as escaras, que afetam principalmente as pessoas acamadas), demonstraram que o estímulo elétrico “quase duplicou4x4 bet comtaxa4x4 bet comcura”, segundo Adee, mencionando os trabalhos4x4 bet comKoel e Hoghton,4x4 bet com2014, e4x4 bet comGirgis e Duarte,4x4 bet com2018.
A divulgadora científica destaca que existem até evidências4x4 bet comque a mesma técnica pode acelerar a cura4x4 bet comossos fraturados.
Por que não é utilizada?
A grande pergunta é: se já existem pesquisas que demonstram que a bioeletricidade do corpo pode ser alterada para ajudar na nossa cura, por que os médicos não estão aplicando estas técnicas?
Djamgoz aponta três motivos principais.
“Primeiro, a profissão médica é muito conservadora”, afirma ele. “Leva muito tempo para que as ideias mudem.”
“Se você pegar, por exemplo, o caso do câncer, nós ainda o tratamos usando quimioterapia, radioterapia e técnicas e métodos4x4 bet comtratamento que têm mais4x4 bet com50 anos”, explica o professor.
Parte deste conservadorismo está relacionada ao fato4x4 bet comque “estamos lidando com a vida humana”, segundo ele, e há o medo4x4 bet comcometer erros. Mas, na prática, quando alguém quer testar “algo que está fora do convencional, a reação instintiva é se opor”.
“Um dos motivos por que não há mais pessoas assumindo riscos é que não existe financiamento. As pessoas querem se ater ao seguro”, destaca Djamgoz.
A segunda razão da falta4x4 bet cominvestimento neste campo é o fator comercial. “As grandes empresas farmacêuticas que desenvolvem medicamentos caros não querem necessariamente este tipo4x4 bet commedicação, que é barata”, explica o especialista.
Já o terceiro e último motivo indicado pelo professor Djamgoz é mais curioso: para usar a bioeletricidade, é preciso conhecer um pouco4x4 bet comfísica e, segundo ele, “o médico ou biólogo comum tem medo” desta disciplina científica.
“Existe quase que um preconceito... eles dizem ‘meu Deus, isso é física, não entendo’.”
Adee menciona um estudo4x4 bet com2019, realizado pela Universidade Goethe, da Alemanha, e pela Universidade do Novo México, nos Estados Unidos, que “concluiu que a ideia4x4 bet comque a eletricidade é relevante na biologia ainda é muito nova e contraria a intuição para que tenha ampla aceitação”.
“Até quando os médicos já ouviram falar dela, eles não sabem como usá-la”, destaca.
Dois dos cientistas que participaram deste estudo, que analisou os motivos por que poucos cirurgiões ortopédicos utilizam o estímulo elétrico para curar fraturas, “embora funcione tão bem”, concordaram com o professor do Imperial College sobre os dois primeiros motivos apontados por ele.
Mas a especialista russa4x4 bet commedicina regenerativa Liudmila Leppik e o cirurgião plástico e especialista4x4 bet comortopedia argentino-americano John Barker afirmaram à BBC News Mundo que não acreditam que a falta4x4 bet comconhecimento dos médicos sobre física seja um dos problemas.
“Não acredito que nenhum4x4 bet comnós, médicos, compreenda profundamente os mecanismos4x4 bet comfuncionamento4x4 bet comnenhuma das drogas que administramos aos pacientes e, mesmo assim, nós as administramos todos os dias”, afirma Barker, que trabalhou por décadas com estímulos elétricos e hoje é aposentado.
Leppik acha que “o médico e o biólogo médio estudaram física na universidade e acredito que eles entendam os conceitos básicos da eletricidade. Mas eles também entendem que se sabe pouco sobre reações celulares à eletricidade.”
Neste sentido, o trabalho no qual ambos colaboraram demonstrou que não existem diretrizes claras que especifiquem como utilizar a eletricidade4x4 bet comum consultório ou mesa4x4 bet comoperações.
Também não está claro se a corrente a ser usada deve ser direta ou alternada, qual deve ser o tempo4x4 bet comaplicação e qual tensão deve ser empregada. E outro fator fundamental demonstrado pelo estudo é que ainda não existem ferramentas padronizadas para serem usadas pelos médicos4x4 bet comseus pacientes.
'Questão4x4 bet comtempo'
Apesar das limitações, os especialistas estão4x4 bet comacordo sobre o enorme potencial do campo da bioeletricidade.
Mustafa Djamgoz destaca que o financiamento desta área da ciência está crescendo. “É um dos principais desenvolvimentos que estão por acontecer. É apenas questão4x4 bet comtempo”, prevê o professor.
Já John Barker adverte que, embora o potencial seja inquestionável, a ciência não costuma avançar4x4 bet comforma linear.
Para ele, “a eletricidade serve para curar. Ponto. Existem muitas pesquisas que o comprovam”.
“Mas, 40 ou 50 anos atrás, também sabíamos que os carros eletrônicos tinham muitas vantagens e, mesmo assim, foi preciso chegar alguém como o Elon Musk, que se jogou4x4 bet comcorpo e alma nessa indústria, para mudar o status quo”, destaca Barker.
O especialista acredita que o interesse pelo uso da eletricidade na medicina certamente irá aumentar, agora que “o campo da microeletrônica está sendo explorado. Não tenho dúvida4x4 bet comque será um grande avanço. Falta apenas desenvolver um dispositivo que seja fácil4x4 bet comusar.”
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