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A infânciada quina de hojeBolsonaro entre quilombolas, guerrilheiros e a rica famíliada quina de hojeRubens Paiva:da quina de hoje
Naquela praça,da quina de hoje1970, o guerrilheiro Carlos Lamarca baleou três pessoasda quina de hojeum tiroteio com a polícia militar enquanto Jair, então com 15 anos, corria para casa. O adolescente, que havia saído da escola, testemunhouda quina de hojeperto a operaçãoda quina de hojecaça a Lamarca, que o levou a alistar-se no Exército.
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Fim do Matérias recomendadas
Dentro da igreja, durante anos, negros dos quilombosda quina de hojeEldorado ocuparam os últimos bancos, com medoda quina de hojeserem expulsos da frente do altar – os mesmos quilombolas que, para Bolsonaro, "não servem nem para procriar", como disseda quina de hojeuma palestrada quina de hoje2017.
Uma das torres do santuário foi doada por Jaime Almeida Paiva, homem mais rico e "coronel" da pobre Eldorado por vinte anos. Donoda quina de hojeuma das maiores fazendas do Vale do Ribeira, "Dr. Jaime" era pai do deputado opositor à ditadura e desaparecido político Rubens Paiva, alvoda quina de hojeacusaçõesda quina de hojeBolsonaro durante toda a vida pública do hoje presidente.
Apesarda quina de hojeBolsonaro ter nascidoda quina de hojeGlicério e vividoda quina de hojevárias partes do Estadoda quina de hojeSão Paulo, éda quina de hojeEldorado que algunsda quina de hojeseus temas favoritos têm origem. A BBC News Brasil foi à cidadeda quina de hoje15 mil habitantes para narrar os fatos que ajudaram a formar as ideias do novo mandatário do país.
O domínio dos Paiva
Uma toneladada quina de hojecocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês
Episódios
Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa
Bolsonaro é um grande críticoda quina de hojeRubens Paiva, ex-deputado federal que fez oposição ao regime militar e desapareceuda quina de hoje1971. Paiva aparece com frequência nas falas do presidente sobre a ditadura, um dos temas recorrentesda quina de hojeseus discursos.
No plenário da Câmara, Bolsonaro chegou a negar que o deputado tenha morrido durante uma sessãoda quina de hojetortura, como foi atestado pela Comissão Nacional da Verdade, e, ao longo dos anos, fez várias acusações contra ele. Uma delas é ada quina de hojeque Rubens Paiva ajudou o ex-capitão do Exército Carlos Lamarca a montar uma guerrilha no Vale do Ribeira, onde fica Eldorado. Não há provasda quina de hojeque essa colaboração tenha acontecido.
"Por coincidência, a famíliada quina de hojeRubens Paiva tinha uma fazenda na cidadeda quina de hojeEldorado Paulista, no Vale do Ribeira, São Paulo, chamada Fazenda Caraitá. O sr. Rubens Paiva fez com que o guerrilheiro, traidor e desertor Lamarca ocupasse ada quina de hojefazenda e lá fizesse uma baseda quina de hojeguerrilha", disse Bolsonaroda quina de hojesessãoda quina de hoje2013.
A fazenda Caraitá sustentou a economiada quina de hojeEldorado por maisda quina de hojevinte anos. O "doutor" Jaime Paiva, como moradores ainda chamam o empresárioda quina de hojeSantos que se tornou um grande fazendeiro do Vale do Ribeira, começou a comprar terras alida quina de hoje1941. Sua propriedade só foi vendidada quina de hoje1975, depoisda quina de hojeBolsonaro mudar-se para Resende (RJ), onde começouda quina de hojecarreira militar.
Enquanto o presidente morava na cidade – e por muitos anos antes disso –, Jaime Paiva era o chefeda quina de hojeboa parte da população. Ele tinha plantaçõesda quina de hojebanana e laranja, criaçõesda quina de hojegado e uma serrariada quina de hojemóveis, alémda quina de hojeser responsável pela vida social do lugar: a festa da Rainha da Laranja, a mais importante do ano, era organizada pela família.
Mais do que uma liderança informal, Paiva foi prefeito duas vezes. Na primeira,da quina de hoje1956 a 1959, fez a ponte sobre o rio Ribeira e uma das escolas locais. Na segunda,da quina de hoje1968, eleito pela Arena, partido da ditadura, ficou pouco menosda quina de hojeum ano.
"Teve uma Eldorado antes e uma depois do Paiva", diz Nilzilene Araújoda quina de hojeOliveira,da quina de hoje56 anos, vice-diretora da escola Dr. Jayme Almeida Paiva, onde Bolsonaro estudou até ir para o Exército,da quina de hoje1973. Enquanto o presidente e Nilzene eram alunos, no entanto, o colégio chamava-se Ginásio Escolarda quina de hojeEldorado Paulista. A homenagem ao "doutor" veio sóda quina de hoje1976.
"Mas do pontoda quina de hojevista econômico, Eldorado desenvolveu muito com o velho Paiva", Nilzilene continua. "Embora ele fosse forte, bem firme... mas isso era necessário porque ele era capitalista."
Enquanto ela fala, a ficha do ex-colega está à mostra sobre a mesa da secretaria. O fato parece deixar o diretor da escola, Domingos Pontes Junior, incomodado. "Melhor não tirar foto, não. Não tem autorização da família", ele diz, sentado ao lado da vice. "Melhor só anotar. Sabe, são notas parciais, no segundo ano ele foi melhor", Domingos sacode a cabeça.
No primeiro ano do ensino médio, Estudos Sociais (combinaçãoda quina de hojegeografia e história) foi a melhor matériada quina de hojeBolsonaro: 8,7. Em Educação Moral e Cívica, disciplina criada durante a ditadura e que exaltava o nacionalismo, teve umda quina de hojeseus piores desempenhos (6,8), ao ladoda quina de hojeQuímica (6,5).
Não há registros dos filhos ou netosda quina de hojePaiva nos mesmos arquivos. Rubens Paiva tinha 12 anos quando o pai comprou as primeiras terras por ali – ele e os irmãos estudaramda quina de hojecolégiosda quina de hojeeliteda quina de hojeSão Paulo.
"Não se tinha acesso ao Paiva, só aos empregados", Nizilene retoma o assunto. "Eram muito ricos... mas ele fazia a festa da Rainha da Laranja e todos iam."
Pouco antes, na mesma secretaria, um professorda quina de hojeHistória aposentado falava dos "dois lados"da quina de hojePaiva.
"Foi um marco histórico – para o bem e para o mal. Como todo mundo trabalhava lá, quando a fazenda fechou, a cidade entrouda quina de hojedecadência. Mas ele era amado e odiado, sabe?", disse José Milton Galindo.
O tom é frequente nas declarações sobre o empresário que fez fortunada quina de hojeSantos, como despachante. De um lado, ele era o homem visionário que alargou as ruas da antiga áreada quina de hojegarimpo – Eldorado foi batizada assimda quina de hojerazão do primeiro ciclo do ouro no Brasil –, desenvolvendo o urbanismo local. De outro, era o coronel autoritário que não conversava com o povo, trazia empregados do Nordeste no pauda quina de hojearara e pagava os funcionários com "boró", moeda própria que só valia nos comércios da região.
"Quando tinha a festa da Laranja, se ele cismava com a pessoa, quebrava o copo na mão dela com a bengala. Andava cheioda quina de hojecapangasda quina de hojevolta", diz Antônio Carlosda quina de hojeMelo Cunha,da quina de hoje64 anos, engenheiro agrônomo aposentado e amigoda quina de hojeJair Bolsonaro dos temposda quina de hojecolégio. Foida quina de hojeseu avô que Paiva comprou as terras da fazenda.
Em livro sobre o casoda quina de hojeRubens Paiva, Segredoda quina de hojeEstado, o jornalista Jason Tércio narra que até o deputado chamava o paida quina de hoje"coronel" e discutia com ele sobre política. Em diálogo reconstruído por Tércio durante a Ceiada quina de hojeNatalda quina de hoje1970, na fazenda Caraitá, Jaime teria dito a Rubens: "a única política que tu deve fazer com os militares é a política da boa vizinhança".
Filho do deputado, o escritor Marcelo Rubens Paiva conta que o pai era brigado com o avô e por isso ia pouco à fazenda. Ele diz que não sabe responder aos comentários sobre Jaime, porque morava no Rio com os pais e a irmã.
"Querida, meu avô foi prefeito. Não sei se quebrou copos nas pessoas."
Nessa época, Rubens havia voltado do exílio há anos, depoisda quina de hojeter seu mandato pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) cassado após o golpeda quina de hoje1964, e trabalhava como engenheiro civil. No entanto, ele ainda ajudava perseguidos políticos a sair do país e mantinha contato com exilados.
Menosda quina de hojeum mês depois daquele Natal,da quina de hojejaneiroda quina de hoje1971, Rubens Paiva seria levado por militares para depor e não voltaria mais.
A casa da fazenda – e o resto da cidade
"Ato Contínuo, 1970. Aí, eu entro na história", disse Bolsonaro durante uma sessão da Câmarada quina de hojesetembroda quina de hoje2014.
"Eu tinha 15 anosda quina de hojeidade e morava na cidadeda quina de hojeEldorado paulista. Ali – já mudouda quina de hojenome – existia a Fazenda Caraitá. Proprietário: família Rubens Paiva. Rubens Paiva tinha uma chácara ali. Do cocoruto, do topo da cidadeda quina de hojeEldorado Paulista, cidade bastante pequena, via-se a chácarada quina de hojeRubens Paiva, a montante do Ribeirada quina de hojeIguape..."
A dois quilômetros do centroda quina de hojeEldorado, a fazenda, que não se chama mais Caraitá nem pertence aos Paiva, ainda estáda quina de hojepé. Hoje ela éda quina de hojeum produtorda quina de hojebananas, que usa a terra para plantação, mas não mora ali. Apesarda quina de hojedescuidado, o casarãoda quina de hojeteto europeu mantém os aresda quina de hoje"mansão", como era chamado pelo povo da cidade.
As paredes azuis, brancas na épocada quina de hojeRubens Paiva e Bolsonaro, ainda exibem as sacadas estreitas que permitiam aos hóspedes uma vista privilegiada do grande jardim e, à esquerda, dos hectaresda quina de hojemexericas e bananas.
Os quartos são oito ou nove, pequenos, segundo os filhos do atual proprietário, que oferecem apenas um tour pelo terreno porque a casa está fechada. Nele, há, como havia nos anos 1960, duas piscinas – adulta e infantil –, uma casada quina de hojehóspedes e outrada quina de hojebonecas, uma casinhada quina de hojecachorroda quina de hojeformada quina de hojecastelo, e um mirante para dois lagos artificiais. Na casada quina de hojebonecas,da quina de hojedois andares, com sala, cozinha e quarto com varanda, mesas e cadeirasda quina de hojeminiatura ocupam o espaço perto da porta, como se alguém ainda brincasse por lá.
Antesda quina de hojeentrar pelo alto portãoda quina de hojeferro que demarca o espaço do casarão, percorre-se uma estradada quina de hojeterra. Paralelas a ela, à direita e à esquerda, pequenas casasda quina de hojearquitetura semelhante estão enfileiradas.
"Tinha dezenasda quina de hojecasas aqui", diz um dos filhos do proprietário, ao pararda quina de hojecaminhoneteda quina de hojefrente ao portão. "Eram dos funcionários do Paiva. Isso aqui era uma cidade, tinha até escola." A maior parte das construções está abandonada – poucas estão ocupadas por empregados do dono atual.
Sem muita gente por ali, o único barulho vemda quina de hojeLala e Laica, cadelas pastor alemão que respiram ofegantes debaixo da caminhonete. "Como ficou sem vigia, o pessoal acabou roubando até os tijolos, por isso só tem essas", o jovem diz, secando o suor da testa. A temperatura beira os 40ºC.
A relaçãoda quina de hojeEldorado com os Paiva era,da quina de hojealguma forma, dividida pelo portão da fazenda. Do ladoda quina de hojefora, para além do bairro privado dos funcionários, a vida do povo seguia alheia aos luxos do casarão. O Vale do Ribeira era e ainda é uma das regiões mais pobres do Estadoda quina de hojeSão Paulo, com uma renda médiada quina de hojedois salários mínimos, segundo o IBGE.
Nos anos 1970, a situação era mais dramática. O emprego forada quina de hojeCaraitá era escasso e o dinheiro, difícil. As famílias pobres se viravam como podiam: pescavam, vendiam produtosda quina de hojeportada quina de hojeporta, cuidavamda quina de hojefazendas.
No caso dos Bolsonaro, o patriarca Percy Geraldo Bolsonaro trabalhava como dentista prático: fazia extrações, obturações, próteses, mesmo sem ter instrução universitária. Percy era a única opção numa comunidade sem dentistas e chegou a ser indiciadoda quina de hojeinquérito policial por "exercício ilegalda quina de hojemedicina, odontologia ou farmácia", mas foi absolvidoda quina de hoje1973.
Boa parte das pessoas entrevistadasda quina de hojeEldorado teve dentes extraídos por Percy,da quina de hojequem lembram com carinho. "A gente era muito humilde na época, então os dentes iam estragando e o pai mandava tirar", conta a vice-diretora Nilzilene. "Geraldo era uma pessoa maravilhosa. Quando eu tinha uns 8, 9 anos, fui tirar um dente com ele. Depois que acabou, ele disse para minha mãe: 'Agora leva a menina pra tomar um sorvete'."
Apesarda quina de hojetrabalhar muito, os ganhosda quina de hojePercy Bolsonaro nem sempre eram suficientes para sustentar a mulher e os seis filhos. Fumando um cigarro atrás do outro no pequeno consultório, às vezes ficava até tarde da noite com o 'buticão' – um grande alicateda quina de hojeferro –da quina de hojemãos, arrancando molares. Ao final do serviço, era compreensivo com os clientes que não podiam pagar: quem não tivesse dinheiro, que desse galinhas ou porcos.
"Eles eram muito pobrezinhos, milha filha", diz Lúcia Lima Melo,da quina de hoje72 anos, do portão da casa onde mora há 47 anos, ao fim da entrevista com ela e seu marido, Reinaldo. Durante anos, eles foram vizinhos dos Bolsonaro, e Reinaldo tornou-se amigoda quina de hojePercy.
Na conversa com a BBC News Brasil, ele contou que o dentista prático era conhecido por seu sensoda quina de hojehumor e educação. Era atencioso, mas também não perdia a piada. Chamava os conhecidosda quina de hoje"morfiosos", outro jeitoda quina de hojedizer "leprosos", explicou o vizinho. Reinaldo riu ao lembrar as tiradas do amigo, como quando ele repetia que "preferia ter as filhas todas prostitutas do que filhos viados".
"Quantos quartos têm ali?", a reportagem pergunta a Lúcia, ainda no portão. A antiga casa dos Bolsonaro, hoje pintadada quina de hojeazul claro, é a próxima, à direita.
"Acho que só dois", ela responde, olhando para o lado.
"Então era pequeno para a família", a reportagem diz.
"Eles não tinham dinheiro, não", ela abaixa a voz. "Não faltava comida, mas bens eles não tinham: carro, casa. Eram pobres mesmo. Mas que bom que graças a Deus chegaram onde chegaram, né", ela sorri por entre as barrasda quina de hojeferro.
Para ajudarda quina de hojecasa, Jair pescava e buscava maracujá no mato para vender, alémda quina de hojedescarregar caminhõesda quina de hojeadubo e, numa brincadeira cheiada quina de hojedesejo, procurava ouro nos ribeirões pela madrugada.
Vivendo no aperto, a maioria da população precisava coexistir com a riqueza dos Paiva, numa convivência descrita como amigável por alguns e distante por outros. Os últimos argumentam que a relação era boa só para os "puxa-sacos" da família, muitos deles membros da Igreja. Como Aracy, mulherda quina de hojeJaime, era católica fervorosa, padres e coroinhas que iam rezar missa na fazenda acabavam se aproximando do casal.
"Fui amigo dos netosda quina de hojePaiva. Conheci Rubens Paiva, convivi com Marcelo e os irmãos", diz Antônio Avelinoda quina de hojeMelo Cunha, policial aposentado e donoda quina de hojeuma pousadada quina de hojeEldorado que hoje mora no litoral paulista.
"Na época, eu era coroinha e ia rezar missa na fazenda. Doutor Jaime e Dona Ceci (como Aracy era chamada) me convidavam para almoçar ou jantar com eles. Aí foi estreitando nossa amizade. Eu usava o lago para brincar, tinha um aquaplano. Ficava na piscina, tocava violão. Era uma fazenda-cidade."
Assim como Antônio, o agricultor Celso Luiz Leite,da quina de hoje63 anos, cuja irmã casou com um dos irmãosda quina de hojeBolsonaro, era coroinha. Ele se lembrada quina de hojeAracy abraçando-o depois das missas. Se "doutor" Jaime tinha famada quina de hojedurão,da quina de hojemulher era vista com benevolência.
"Quando o resto da família vinha para cá, nos finaisda quina de hojesemana e férias, eu ia lá ajudar nas missas, já que o padre era puxa-saco. Mas ela era muito simpática", diz Celso, sentadoda quina de hojeseu sítio, às margens do Ribeira.
Celso dáda quina de hojeombros ao falar que o fazendeiro "não dava muita bola para gente".
"Só para a turma com mais grana... mas, por outro lado, era ele quem dava emprego."
Apesarda quina de hojenão ser um cara "ruim", como Celso repete, Jaime eda quina de hojefamília não eram sempre bem vistos pelos moradores. Entrevistados descreveram que nos mesesda quina de hojeverão, quando filhos e netos visitavam a fazenda, era comum ver os Paiva cavalgando seus cavalosda quina de hojeraça pelas ruas.
Recostadoda quina de hojeseu sofá, Antônio Carlos, um dos amigosda quina de hojeinfânciada quina de hojeBolsonaro, tenta encontrar uma palavra para definir a família. "Eles eram... como eu posso dizer?", ele coça a cabeça enquantoda quina de hojemulher o observa da porta da cozinha. "Eles eram... vistos com outros olhos! O pessoal via como gente rica, né."
Antônio falada quina de hojeuma vezda quina de hojeque visitou a fazenda para fazer companhia a uma das netasda quina de hojeJaime Paiva, que estava se tratandoda quina de hojeuma leucemia. Adolescentes, ele e a mulher foram até lá com alguns amigos para conversar com ela e tocar violão.
"Nessa época, íamos por causa da doença dela, mas não tínhamos amizade com eles, não", dizda quina de hojemulher, Mara Cristina, apoiada no batente da porta. "Os jovensda quina de hojelá não davam muita bola para os daqui."
Por "lá" também passava Rubens Paiva que, segundo relatos dos moradores entrevistados, tinha uma chácara anexa à do pai com uma pistada quina de hojepouso para chegar à cidadeda quina de hojeavião. Após a publicação desta reportagem, o filhoda quina de hojeRubens Paiva, Marcelo Rubens Paiva, disse que a chácara não pertencia a seu pai, mas a seu tio Carlos e que a pistada quina de hojepouso ficava na cidade vizinhada quina de hojeRegistro e nãoda quina de hojeEldorado. A BBC News Brasil foi ao cartório registroda quina de hojemóveis, onde não teve acesso aos documentos sobre as terras, mas apenas foi informada que a família começou a comprar terrenos na regiãoda quina de hoje1941 e vendeu a propriedadeda quina de hoje1975.
Um dos moradoresda quina de hojeEldorado mais próximos do presidente, o funcionário público aposentado João Evangelista Correa, conta do diada quina de hojeque entregou um bolo a Rubens a pedido da confeiteira local. Ele e um colega caminharam os dois quilômetros até a fazenda na esperançada quina de hojeganhar um trocado pelo serviço. Chegando lá, João diz que Rubens olhou irritado para os meninos: "o que vocês querem aqui? Falei que ia buscar na cidade". Ao responderem que a confeiteira havia prometido uma gorjeta, teriam ouvido um "não" resoluto.
"Não tinha amizade com pobres", diz João Evangelista, das cadeiras estofadas que ficam emda quina de hojegaragem.
Ele é um dos poucos que narra interaçõesda quina de hojeBolsonaro com os Paiva, já que quando adolescente Jair não era um grande frequentador das festas da Rainha da Laranja ou do clube Caraitá, fundado pela família. Seus conhecidos dizem que ele preferia pescar a ir a bailes.
João conta que, apesar da eventual irritação, Rubens convidava os meninos para jogar futebol nas terras da família. Bolsonaro teria participadoda quina de hojealgumas partidas.
Quando parlamentar, ao citar mais uma vez as supostas relações entre os Paiva e o guerrilheiro Carlos Lamarca, Bolsonaro disse que conheceu o ex-deputado.
"Eu sou paulista do Vale do Ribeira,da quina de hojeEldorado. Ali conheci Rubens Paiva, com 10 anosda quina de hojeidade", disseda quina de hojesessão da Câmarada quina de hojemarçoda quina de hoje2016.
Alémda quina de hojejogar bola na fazendada quina de hojeRubens, Bolsonaro teria sido, nas palavras do agricultor Celso Leite, "um dos maiores ladrõesda quina de hojemexerica da família Paiva". Ele conta isso aos risos, explicando que os furtos, comuns entre os meninos locais, eram "só farra mesmo". Para protegerda quina de hojeplantação, Jaime Paiva teria colocado um vigiada quina de hojeplantão e um cãoda quina de hojeguarda, que teria corrido atrásda quina de hojeCelso eda quina de hojeBolsonaro enquanto os meninos fugiamda quina de hojedireção ao rio.
"Íamosda quina de hojecanoa até um lugar que tinha uma laranja muito boa. Quando o cachorro latia, a gente pulava n'água."
Bolsonaro e os Paiva
Bolsonaro não parece ter memórias felizes dos Paiva. A biografia Mito ou Verdade: Jair Messias Bolsonaro, escrita por seu filho Flávio Bolsonaro, indica que as diferençasda quina de hojeclasse incomodavam o presidente.
No livro, Flávio escreve que "parte considerável do território da cidadeda quina de hojeEldorado Paulista erada quina de hojedomínio particular, uma fazenda enorme chamada Caraitá – que hoje seria um latifúndio".
Na mesma página, é mencionada a chácarada quina de hojeRubens Paiva, que aparece como irmão e não como filhoda quina de hojeJaime Paiva – Rubens tinha um irmão chamado Jaime, mas este não era dono da fazenda, como dito na biografia.
Nessa chácara, escreve Flávio, "tinha piscina, algo raro à época, mas que não era socializada com a criançada da vizinhança – que ficava apenas admirando,da quina de hojelonge, onde os filhos da família Paiva se refrescavam".
Mito ou Verdade ainda narra que os filhosda quina de hojeRubens Paiva eram da mesma faixa etáriada quina de hojeBolsonaro e, "não raras vezes", eram vistos comprando picolés Kibonda quina de hojeEldorado, "inacessíveis à garotada local, que ao ver um deles jogar o palito fora, corria na expectativada quina de hojeestar premiado com 'vale um picolé' marcado na madeira".
Sobre esse episódio, um dos filhosda quina de hojeRubens Paiva, Marcelo Rubens Paiva, diz que "não tomava sorvete" e "não tinha irmãos", mas apenas irmãs.
"Talvez ele me confunda com meus primos", ele diz. "Quando ele tinha 16 anos, eu tinha 11 e foi a última vez que fui a Eldorado."
No parágrafo seguinte do livro é citada,da quina de hojenovo, a suposta ligação entre os Paiva e Lamarca que, porda quina de hojeafinidade com a família, teria escolhido uma área próxima à fazenda para montar a guerrilha. A afirmação foi feitada quina de hojevários discursosda quina de hojeBolsonaro na Câmara.
"A verdade está láda quina de hojeEldorado Paulista!", Bolsonaro disse no plenário da Casada quina de hojefevereiroda quina de hoje2013. "Está todo mundo vivo lá. A Fazenda Caraitá estáda quina de hojecartório. A baseda quina de hojerenda do Lamarca está lá na fazenda da família Paiva. É muito fácil verificar isso."
Em visita ao registroda quina de hojeimóveis da cidade, a BBC News Brasil confirmou que a compra e venda da fazenda estão, sim, documentadas. Mas nada indica que os Paiva tenham fornecido recursos a Lamarca. Nem os antigos amigos do presidente, João Evangelista e Antônio Carlos, dizem conhecer essa versão da história.
"Nunca ouvi falar que financiava o Lamarca, não", disse Antônio quando perguntado sobre o tema.
Apesarda quina de hojenão haver indíciosda quina de hojeajuda financeira, o guerrilheiro chegou a cruzar as terras da família duranteda quina de hojefuga,da quina de hoje1970, como escreveu Marcelo Rubens Paivada quina de hojetexto publicado no jornal Folhada quina de hojeS.Pauloda quina de hoje1994.
"Meu tio Jaime acenou para ele, pouco antes do tiroteio com a Força Públicada quina de hojeEldorado (...) O tiroteio foi a metros da fazenda, ao lado da Escola Jaime Paiva. Lamarca atravessou também o sítio 0K, do meu tio Carlos, e seguiu para Sete Barras."
Depois do tiroteio, conta o escritor, a fazenda foi invadida por soldados que procuravam armas e tentavam estabelecer conexões entre os Paiva e Lamarca. Segundo ele, empregados e amigos da família chegaram a ser presos e torturados, e Carlos levou um tiro no pé acidentalda quina de hojeuma das barreiras para cercar Lamarca.
À BBC News Brasil, Marcelo Rubens Paiva disse que a família não tinha nenhuma relação com Lamarca e que seu pai era contra a luta armada.
"Ele não era comunista, mas do PSB (Partido Socialista Brasileiro) e se elegeu deputado pelo PTB."
As teoriasda quina de hojeBolsonaro sobre esses dois personagens se estendem até ao desaparecimentoda quina de hojeRubens Paiva. Ele argumenta que o ex-deputado não foi morto por agentes da repressão, mas por membros da esquerda comandada por Carlos Lamarca. Segundo Bolsonaro, o grupoda quina de hojeLamarca teria chegado à conclusãoda quina de hojeque ele foi denunciado por Rubens Paiva depois que este foi preso.
"Ninguém resiste à tortura (…). Então, o grupo do Lamarca suspeitou que Rubens Paiva o havia denunciado", disse Bolsonaro na Câmarada quina de hojemarçoda quina de hoje2012. "E esperaram o momento certo. Quando o Rubens Paiva foi detido pelo Exército, postoda quina de hojeliberdade, com toda a certeza, foi capturado e justiçado pelo bando do Lamarca e pelo bando da Esquerda, da VPR. E aí a culpa recai sobre as Forças Armadas."
Em 2013, a Comissão Nacional da Verdade divulgou um documento inédito do Arquivo Nacional sobre as circunstâncias da morte do ex-deputado. O coordenador da Comissão, Claudio Fonteles, afirmou "não haver dúvidas"da quina de hojeque Paiva fora torturado e morto nas dependências do DOI-Codi do Rio.
Às palavrasda quina de hojeBolsonaro somam-se ações que marcaramda quina de hojeanimosidade contra os Paivas. Em um relato publicado no Facebookda quina de hojeoutubro, o netoda quina de hojeRubens Paiva, Chico Paiva Avelino, diz que,da quina de hoje2014, o então parlamentar do PP cuspiu no busto que a Câmara inauguravada quina de hojehomenagem a seu avô. No texto, Chico diz queda quina de hojemãe e tia faziam discursos emocionados quando foram interrompidas.
"Era Jair Bolsonaro, junto com alguns amigos (talvez fossem os filhos, na época eu não sabia quem eram), que se deu ao trabalho do sairda quina de hojeseu gabinete e virda quina de hojenossa direção, gritando que 'Rubens Paiva teve o que mereceu, comunista desgraçado, vagabundo!'. Ao passar por nós, deu uma cusparada no busto. Uma cusparada. Em uma homenagem a um colega deputado brutalmente assassinado."
A BBC News Brasil procurou o Palácio do Planalto para falar sobre o episódio, mas não teve resposta.
O gestoda quina de hojeBolsonaro não foi noticiado na época, mas jornais reportaram como ele vaiou o discurso do então líder do PSOL na Câmara, deputado Ivan Valente (SP), durante a inauguração do busto.
Após a publicação do textoda quina de hojeChico no Facebook, Marcelo Rubens Paiva dedicou uma coluna no jornal Estadoda quina de hojeS. Paulo a elencar – e responder – as acusações que Bolsonaro fez a seu pai e à família nos últimos vinte anos.
"Como deputado, Jair Bolsonaro costuma proferir desde os anos 1990 na Câmara dos Deputados discursos mentirosos sobre meu pai, Rubens Paiva, um deputado federal como ele", Marcelo escreveu tambémda quina de hojeoutubro.
"A família Rubens Paiva, alémda quina de hojeconviver com a dor morte sob tortura absurda por tantas décadas, ainda tem que aturar o ódio deliranteda quina de hojeBolsonaro (...)"
Os Paiva deixaram Eldorado nos anos 1970 e hoje os Bolsonaro são a família mais abastada da cidade. Os irmãos do presidente têm uma rededa quina de hojelojasda quina de hojemóveis eda quina de hojematerialda quina de hojeconstrução presenteda quina de hojemaisda quina de hojedez municípios do Vale do Ribeira.
A BBC News Brasil foi à lojada quina de hojeum sobrinhoda quina de hojeBolsonaro, um dos poucos parentes que ainda vivemda quina de hojeEldorado, mas disseram que ele estava viajando.
O tiroteioda quina de hojeLamarca
Não muito aconteceda quina de hojeEldorado. É até difícil distinguir dias úteisda quina de hojeferiados, já que o movimento nas ruas é parecido, as lojas abertas e vazias, a mesma dupla tocando violão no Centro, os conhecidos se cumprimentandoda quina de hojenovo eda quina de hojenovo pelas calçadas.
Não éda quina de hojese estranhar que um tiroteio na praça da cidade tenha gerado tanto rebuliçoda quina de hoje1970 – agitação que se mantém até hoje, quando os moradores recontam o enfrentamento entre Carlos Lamarca e a polícia. Falarda quina de hoje8da quina de hojemaioda quina de hoje1970 na cidade é como perguntar onde alguém estava no dia da queda das Torres Gêmeasda quina de hojeNova York: todo mundo tem uma história.
"Quando Lamarca passou eu tinha dez anos. Foi muito tiro! A gente era pequena, mas era atenta. Meu pai disse 'abaixa, abaixa' e foi todo mundo para debaixo da mesa", diz Nilzileneda quina de hojeOliveira, a vice-diretora da escola Dr. Jayme Almeida Paiva. "O pai da minha amiga foi baleado e ficou com chumbo no corpo até morrer!"
Os relatos ouvidos divergemda quina de hojealguns pontos, mas combinados com registros históricos sobre a passagemda quina de hojeLamarca pelo Vale do Ribeira constroem uma narrativa sobre o que aconteceu naquela noite – e onde Bolsonaro estava ao longo da ação.
Carlos Lamarca foi um dos principais nomes da oposição armada à ditadura brasileira como um dos líderes da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária). Ele chegou a ser capitão do Exército, mas desertou e foi expulso da corporaçãoda quina de hoje1969, quando já estava engajado na luta contra o regime. Participouda quina de hojeassaltos a bancos para financiar as atividadesda quina de hojeseu grupo e comandou o sequestro do embaixador suíço no Brasil, Giovanni Enrico Bucher,da quina de hoje1970, que foi trocado por 70 presos políticos. Nesse mesmo ano, considerado inimigo número um dos militares, Lamarca foi duramente perseguido.
A perseguição pelo Vale do Ribeira
Em abrilda quina de hoje1970, um militante da VPR capturado no Rioda quina de hojeJaneiro revelou que Lamarca estava no Vale do Ribeira, próximo a Registro, formando um grupoda quina de hojeguerrilha. Lá, contou o militante preso, o ex-capitão ensinava tática, tiro, desenhava uniformes e construía armadilhas.
O que os livros não detalham foi que, antesda quina de hojese juntar a seus companheiros, Lamarca teria circulado sozinho pela região. Antônio Avelinoda quina de hojeMelo Cunha, policial aposentado e donoda quina de hojeuma pousadada quina de hojeEldorado, diz que chegou a conhecer o ex-capitão, que se apresentava como estudante universitário, assim como ele. O guerrilheiro teria se hospedado no hotel Eldorado, que ainda fica na praça central da cidade, e dito que gostariada quina de hojeconhecer as cavernas da região – hoje uma das principais atrações locais.
"Ele estava procurando meu avô Guilherme, que tinha sido pesquisador do Exército e descobriu algumas cavernas. Lamarca se aproximouda quina de hojemim perguntando se eu conhecia alguém da família e eu respondi que era neto. Mas não sabia com quem estava falando", diz Cunha.
O ex-capitão teria pedido ao estudante que o levasse até as cavernas e, mesmo avisado que enfrentaria um diada quina de hojecaminhada, não hesitou.
Cunha convidou dois amigos para se juntarem a eles, alémda quina de hojeum mateiro que sempre andava com seu avô. Enquanto caminhavam na mata fechada, surpreendeu-se com a agilidade do novo amigo.
"Ele dizia que era universitário, mas caminhava na frente da gente e do mateiro também, cortando galho com facão", diz.
Lamarca teria ficado alguns dias na cidade, conta o policial aposentado, participando dos bailes e pedindo música para a bandinha local, da qual ele fazia parte. Aquele tempo serviria para que conhecesse a região a fundo antesda quina de hojeorganizarda quina de hojeguerrilha.
Mas recebida a informação sobre o paradeiroda quina de hojeLamarca,da quina de hojeabrilda quina de hoje1970, o Exército foi rápidoda quina de hojeenviar 1,5 mil homens ao Vale do Ribeira.
À procurada quina de hojeseu inimigo número 1, as tropas fecharam estradas, prenderam dezenasda quina de hojepessoas e varreram a serra com helicópteros, bombardeando a floresta.
Moradorda quina de hoje"sítio", como os habitantesda quina de hojeEldorado se referiam aos bairros afastados do Centro, o diretor da escola Dr. Jayme Almeida Paiva, Domingosda quina de hojePontes Junior, lembra bem dos helicópteros. Foi a primeira vez que viu um.
"O Exército pousou no meio do campoda quina de hojefutebol, quando o pessoal estava jogando. Os policiais queriam saber se meu tio tinha ajudado Lamarca a fugir, porque ele roubou a canoa do meu tio e desceu o rio. 'Foi roubo mesmo? Foi roubo?' eles ficavam gritando."
Informado do perigo, Lamarca desativou suas basesda quina de hojeguerrilha próximas a cidadeda quina de hojeJacupiranga. Oito membros foram emborada quina de hojeônibus, misturados à população. Outros dois foram capturados na estrada. Sobraram sete.
Esses caminharam na floresta por três semanas, até que no dia 8da quina de hojemaio entraram num vilarejo e alugaram o caminhãoda quina de hojeum comerciante. O homem fechou negócio, mas enviou um cavaleiro para avisar a polícia, que montou uma pequena barreirada quina de hojepoliciais na praça centralda quina de hojeEldorado. Por volta das sete da noite, quando o caminhãoda quina de hojeLamarca parou na cidade, um policial pediu que os sete passageiros descessem com documentosda quina de hojemãos. Foi aí que os tiros começaram.
Tal versão não bate com a contada por moradores. Eles dizem que o grupoda quina de hojeguerrilheiros roubou o caminhão, obrigando seus donos a dirigirem até Eldorado enquanto ficavam escondidos na traseira, debaixoda quina de hojeuma lona. Quando o veículo parou no postoda quina de hojegasolina, os policiais teriam desconfiado da movimentação, puxado a lona e passado a atirar.
Nessa hora, Bolsonaro estariada quina de hojeaula na escola Dr. Jayme Almeida Paiva, que fica a 100 metros da praça. Antônio Carlosda quina de hojeMelo Cunha, amigo do presidente eleito, conta que estava na mesma sala quando alguém apareceu na porta para avisar que Lamarca tinha passado por Barra do Braço, a 30 kmda quina de hojeEldorado, e se aproximava.
"Pediram para o diretor liberar os alunos, mas não deu tempo porque pouco depois veio o tiroteio. Tivemos que ir rastejando. A polícia não tinha arma e o pessoal do Lamarca tinha armamento pesado", diz.
Como ele, Bolsonaro e outros alunos moravam próximo ao rio Ribeira, do outro lado da cidade, e precisaram atravessar a praça. Antônio diz que o grupoda quina de hojeadolescentes viu um dos policiais feridos ser carregado, cobertoda quina de hojesangue, atéda quina de hojecasa. O homem foi atingido na perna e depois precisou amputá-la.
"Os soldados estavam sendo massacrados!", ele arregala os olhos. "Um grupoda quina de hojehomens invadiu a delegacia para pegar armamento. A gente gostava do Exército. Os outros, para nós, eram terroristas."
Moradores relatam que Lamarca gritava "não queremos nada com vocês, nosso negócio é com o Exército", tentando evitar mais tiros. Mesmo assim, dois PMs e uma mulher foram baleados. Ninguém morreu.
O 'moleque' na caça à Lamarca
Lamarca apareceda quina de hoje33 discursosda quina de hojeBolsonaro no plenário da Câmara desde 1995. Como deputado, ele repetiu que, quando adolescente, ajudou os militares a procurarem o guerrilheiro na mata.
"Eu souda quina de hojeEldorado Paulista. Eu participei,da quina de hojeforma bastante discreta, porque tinha 15 anosda quina de hojeidade, da caça ao Lamarca, ao lado do Ribeira", disse Bolsonaroda quina de hojesessãoda quina de hojemarçoda quina de hoje2012.
A mesma história foi citadada quina de hojeentrevista ao Programa Roda Viva, da TV Cultura, já como candidato a Presidência. A afirmaçãoda quina de hojeque teria ajudado na caça à Lamarca "ainda moleque" levou a revista Época a publicar uma reportagem dizendo que Bolsonaro teria misturado dois episódios para engrandecerda quina de hojebiografia.
No texto, o jornalista Plínio Fraga narra o causo do chamado "moleque sabido"da quina de hojeItapecerica da Serra que,da quina de hoje1969, ao anotar a placada quina de hojeum Fusca, teria dado aos militares a primeira pista sobre Lamarca – "moleque" este que não seria o presidente, explica o jornalista. Fraga argumenta que na passagem do guerrilheiro pelo Vale do Ribeira, um ano depois, não haveria registro da ajudada quina de hojeBolsonaro.
Apesarda quina de hojea BBC News Brasil não ter encontrado documentos sobre a participação do presidente, moradores que testemunharam a operaçãoda quina de hojebusca dizem que era comum o Exército pedir e receber dicasda quina de hojepessoas que conheciam os arredores, inclusive adolescentes. O contato entre militares e população foi frequente, já que soldados rondaram a região por semanas. Lamarca só conseguiu escapar do Vale do Ribeira três semanas depois do tiroteio.
Filho do escrivãoda quina de hojepolíciada quina de hojeEldorado na época, Antônio Avelino conta que foi informante do Exército, narrando seus encontros com Lamarca. Segundo ele, Bolsonaro fez o mesmo.
"Jair Bolsonaro também foi informante. Ele conhecia bem o mato. Indicava para onde eles podiam ter fugido."
Mesmo com todos esses esforços, Lamarca não foi capturado ali. Depois do enfrentamentoda quina de hojeEldorado, escapouda quina de hojedireção a Sete Barras. A pouco maisda quina de hojeum quilômetro da cidade, seu grupo foi interceptado por uma tropa da PM. Os guerrilheiros abriram fogo, ferindo catorze policiais e rendendo outros 18.
O pelotão era comandado pelo tenente Alberto Mendes Júnior,da quina de hoje23 anos, que se tornou refém do grupo. Depois que doisda quina de hojeseus companheiros foram capturados, Lamarca decidiu que o tenente deveria morrer.
O assassinatoda quina de hojeMendes Júnior é usado por Bolsonaro como símbolo da violência que a esquerda teria praticado contra os militares durante a ditadura. Ele mencionou o militar ao rebater o pagamentoda quina de hojeindenização aos familiaresda quina de hojeLamarca, ao criticar a criação da Comissão Nacional da Verdade e até ao defender a possibilidadeda quina de hojeum regimeda quina de hojeexceção no casoda quina de hojevitóriada quina de hojeDilma Rousseff nas eleiçõesda quina de hoje2010.
"O Tenente Alberto, heroicamente, trocou-se por outros soldados subordinados seus para seguir mata a dentro como refémda quina de hojeCarlos Lamarca, o grande traidor", disse Bolsonaro no plenário da Câmarada quina de hoje1996. "E depois, como Lamarca não precisava mais dele, porque estava livre, já longe das tropas das Forças Armadas, submeteu-o a bárbaras torturas,da quina de hojeque inclusive foi obrigado a engolir os seus órgãos genitais, assassinando-o a coronhas."
A versãoda quina de hojeque, antesda quina de hojeser morto, Mendes teria sido obrigado a engolir seus órgãos genitais não consta nos documentos do Exército, disponíveis no Arquivo Nacional, nem nos escritos do general Carlos Alberto Brilhante Ustrada quina de hojeA Verdade Sufocada, livroda quina de hojecabeceira do presidente. Em um capítulo destinado apenas a descrever o assassinato, Ustra relata apenas que Mendes foi morto com "violentos golpes na cabeça", deferidos por Yoshitame Fujimore, outro membro da VPR, com a coronhada quina de hojeseu fuzil.
Soldados e meninos
Depois da trocada quina de hojetiros na praça, soldados continuaramda quina de hojeEldorado para impedir que o ex-capitão reaparecesse por ali. Moradores contam que os militares acampavam na ponte que passa sobre o rio Ribeira e liga a cidade a Sete Barras, ao norte. A ponte fica no quarteirão onde os Bolsonaro moravam. Os vizinhos Reinaldo e Lúcia Melo lembram os diasda quina de hojeque recebiam os pracinhas da operação para o almoço ou um cafézinho.
"O sargentoda quina de hojeGuaratinguetá vinha tomar caféda quina de hojecasa. Eles lanchavam, eu fritava uns bolinhosda quina de hojechuva. Ficaram maisda quina de hojeuma semana acampados aí. As meninas iam lá conversar com eles e muitas ficaram grávidas depois. Meninos iam conversar também, tinham fascínio por esse negócioda quina de hojearma", diz Lúcia na pequena sala onde cabos e sargentos pediam licença para entrar.
Os amigosda quina de hojeinfânciada quina de hojeBolsonaro relatam como as crianças e adolescentes procuravam os soldados para saber se o "terrorista" já tinha sido capturado.
"Depois do tiroteio, estávamos conversando com um pracinha quando ele enroscou a arma no cinto e ela disparou. Pegou só no sapato dele, que ficou cravado no chão", ri Antônio Carlos, o colegada quina de hojeturma. "A gente era a favor do militarismo, nunca tivemos problema."
Em versão bem conhecida da história – e repetida pelo próprio presidente –, um desses soldados entregou um panfleto sobre o alistamento militar para o jovem Jair.
O sonho da Presidência
João Evangelista, colegada quina de hojecolégio e parceiroda quina de hojepescarias do presidente, diz que depois da fugada quina de hojeLamarca, Bolsonaro passou a repetir seu novo sonho: ir para o Exército. Três anos mais tarde, ele entraria na Academia Militar das Agulhas Negras.
"Depois disso daí, ele sempre falava que queria ir para o Exército. Achou bonito o trabalho deles."
Em Mito ou Verdade, Flávio Bolsonaro escreve como seu pai "conheceu e se encantou pelo Exército Brasileiro, quando sentiu tocar no seu coração a vontadeda quina de hojeservir ao seu país".
Para um ex-prefeito da cidade, a influência da passagemda quina de hojeLamarca na escolhada quina de hojeBolsonaro é reforçada pela posturada quina de hojesua família, que não era uma grande apoiadora da ditadura. Fernando Cláudioda quina de hojeFreitas, que administrou a cidade entre 1982 e 1988, era vereador pelo MDB quando Percy Geraldo Bolsonaro, paida quina de hojeJair, se candidatou à prefeitura pelo mesmo partido,da quina de hoje1976. A sigla abrigava os opositores da ditadura.
Percy tentou o cargo mais duas vezes –da quina de hoje1982 e 1988, dessa vez pelo PDS (Partido Democrático Social), sucessor da Arena e extintoda quina de hoje1993 –, mas nunca foi eleito.
O paida quina de hojeBolsonaro foi fichado e monitorado pela ditadurada quina de hojerazãoda quina de hojesua candidatura pelo MDB. Documentos oficiais mostram que o Departamentoda quina de hojeOrdem Política e Social (Dops), o Serviço Nacionalda quina de hojeInformação (SNI) e o comando da Aeronáutica monitoraram suas atividades políticas e registraram o crime pelo qual ele tinha sido acusado,da quina de hojeexercício ilegalda quina de hojeprofissão (medicina, odontologia ou farmácia).
Sobre o ex-colegada quina de hojepartido, Freitas diz que era "um cara democrático, liberal e tranquilo".
Ele acredita que o caminho seguido por Bolsonaro foi ditado pelo episódioda quina de hojeLamarca e cita seus irmãos como prova: "tanto é que os outros cinco seguiram caminhos diferentes".
Só o caçula, Renato, foi militar. Depoisda quina de hojecandidatar-se à Prefeiturada quina de hojeMiracatu por duas vezes e não ser eleito, eda quina de hojeser exonerado do cargoda quina de hojeassessor especial da Assembleia Legislativada quina de hojeSão Paulo sob o argumentoda quina de hojeque seria funcionário-fantasma, hoje ele administra lojasda quina de hojemóveis no Vale do Ribeira. Os outros irmãos também estão no comércio.
Cláudio lembra que a oposição ao governo era feita "dentro da legalidade e da normalidade". Não havia ali defensores do comunismo ou socialismo, mas pessoas contrárias a ações do regime, como o desaparecimentoda quina de hojeinimigos políticos. A disputa entre Arena e MDB era mais parecida a uma partidada quina de hojefutebol do que a um campoda quina de hojebatalha, ele compara.
Seja como for, Bolsonaro decidiu-se pela vida militar.
Depoisda quina de hojepartir para Resende, no interior do Rioda quina de hojeJaneiro, voltava nas folgas para Eldorado. Numada quina de hojesuas visitas, reunido com os amigos, teria expressado o já famoso desejoda quina de hojeser presidente do Brasil. João Evangelista estava lá quando isso aconteceu e narra o momento à BBC News Brasil.
Ele diz que depoisda quina de hojejogar bola, um grupoda quina de hojemeninosda quina de hoje18 ou 19 anos, Bolsonaro entre eles, conversava sobre as novidades dos últimos meses. O jovem militar começou a falar sobre como estava subindo na hierarquia do Exército – ele havia deixadoda quina de hojeser aspirante a oficial e passava a tenente.
"Jair, então logo logo você vai ser presidente", disse um colega.
"Mas é o meu sonho", ele respondeu. "Um dia ser presidente!"
João explica o contexto da conversa. Segundo ele, o colega dizia que, subindo rápido assim, um dia Jair poderia tornar-se general e assumir a Presidência do Brasil como Castelo Branco, Costa e Silva e Médici haviam feito. Um dia, Bolsonaro poderia tornar-se o comandante máximo do regime.
"Naquela época, era o militarismo que tomava conta do Brasil. 1970 era o Garrastazu, Garrastazu Médici", ele explica.
"Jair disse 'meu sonho é um dia ser presidente' só que naquela época era o militarismo. Porque era militar, né, general, coronel, que ia para a Presidência."
Uma cidade, doze quilombos
Leonila tem uma casa no mesmo lugar que seu tataravô escolheu para morar. Para chegar até lá, é preciso subir uma estrada íngreme por entre a mata do Vale do Ribeira. Tão complicado é o caminho que a reportagem é desaconselhada a continuar – pedras podem se soltar, furando um pneu ou causando acidentes.
O difícil acesso não é coincidência. O tataravóda quina de hojeLeonila construiuda quina de hojecasa ali justamente por isso. Afinal, escravo fugido, ele não queria ser encontrado.
A famíliada quina de hojeLeonila da Costa Pontes,da quina de hoje69 anos, faz parte do quilombo Abobral, um dos doze que existemda quina de hojeEldorado Paulista. Como o município é o quarto do Estadoda quina de hojedimensão territorial, com quilômetrosda quina de hojebananais entre seus bairros, todas as comunidades cabem emda quina de hojeárea. A maioria foi reconhecida nos últimos anos, como no casoda quina de hojeAbobral, oficializadada quina de hoje2015. O lugar, no entanto, não teve suas terras demarcadas.
Para a maioria dos moradores entrevistados, a forte presençada quina de hojequilombolas na região foi um dos motivos para que a votaçãoda quina de hojeBolsonaro não fosse tão expressivada quina de hojeEldorado. O presidente teve 54% dos votos contra 45%da quina de hojeFernando Haddad (PT).
"O PT é forte aqui com os quilombos, as ONGs e a igreja católica. Para mim o número foi vergonhoso, tinha que ter sido muito mais", diz a professora aposentada Mara Cristinada quina de hojeFreitas Cunha, mulherda quina de hojeAntônio Carlos, um dos velhos amigosda quina de hojeBolsonaro.
Apesar da torcidada quina de hojeMara Cristina, não havia sinaisda quina de hojeapoio ao presidente pela cidade. Adesivosda quina de hojesua campanha foram vistosda quina de hojetrês carros e duas janelas ao longoda quina de hojequatro diasda quina de hojeviagem. Não havia banners, faixas ou bandeiras do Brasil, usados como símbolo da candidaturada quina de hojeBolsonaro.
Ao perguntar a moradores por que escolheram seu conterrâneo para o cargo mais alto do país, o motivo que se destacava não era ideológico, mas econômico: "Esperamos que ele trabalhe para melhorar o Vale do Ribeira".
Do outro lado, a preferência dos quilombolas por Haddad não vem apenas da proximidade do PT com movimentos sociais, mas da indignação que uma declaraçãoda quina de hojeBolsonaro causou.
Em abrilda quina de hoje2017, já pré-candidato a Presidência da República, ele disseda quina de hojeuma palestra no Clube Hebraica, no Rioda quina de hojeJaneiro, que havia visitado um quilomboda quina de hojeEldorado Paulista e seus habitantes "não faziam nada".
"O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Maisda quina de hojeR$ 1 bilhão por ano é gasto com eles", discursou.
O então deputado também afirmou que, se eleito, nenhum "centímetro" a mais seria destinado para reservas indígenas ou quilombolas.
Dos 12 quilombosda quina de hojeEldorado Paulista, apenas um, Ivaporonduva, já teve suas terras demarcadas.
Os outros, como Abobral, veem os terrenos onde faziam seus roçados serem ocupados por bananais e casasda quina de hoje"terceiros", como os quilombolas chamam os que passaram a comprar terra na região a partirda quina de hoje1970, diminuindo a área que os descentesda quina de hojeescravos usavam havia séculos. As negociações feitas desde então são pouco claras, diz Leonila, e não se sabe se os compradores têm qualquer registro que comprove a posse dos hectares.
Para ela, apesarda quina de hojeser um passo importante, o reconhecimento das comunidades quilombolas, possibilidade que surgiu com a Constituiçãoda quina de hoje1988, não mudou muita coisa. Suas terras seguem encolhendo e as diferençasda quina de hojetratamento continuam.
No fundo da igreja
Leonila franze a testa quando a reportagem pergunta sobre as mençõesda quina de hojeBolsonaro a seus amigos negros, citados para rebater acusaçõesda quina de hojeracismo. Gotasda quina de hojesuor correm por debaixoda quina de hojeseus óculos enquanto ela aperta os olhos.
"Isso pode ser lá onde ele nasceu, masda quina de hojeEldorado, não! Sempre foi separado. Hoje está menos, mas é porque está enrustido. Naquela época, se fosse do sítio e pobre era discriminado. Se fosse negro, pior ainda!"
O paida quina de hojeLeonila fazia parte da Congregação Mariana, uma associação públicada quina de hojeleigos católicos, e todo domingo caminhava por horas para ir a missa na cidade. Ele sempre levava os filhos, para quem recomendava: "não sentem na frente senão vão tirar vocêsda quina de hojelá".
"Ele colocava a gente bem na porta da igreja, no fundinho, e sempre ficamos ali", conta.
No carro, ao voltar do quilombo para Eldorado, onde hoje mora com uma prima, Leonila diz que ainda não se sente bem na cidade. Elas se mudaram há alguns anos, quando um tio adoeceu e precisouda quina de hojetratamento no hospital local. Para explicar seu desconforto, lembrada quina de hojeuma procissãoda quina de hojeque ela e outras duas mulheres negras foram escolhidas para carregar a imagem da santa. Ao deixarem a igreja, um grupo teria tirado a estátuada quina de hojesuas mãos.
"Só faltaram me derrubar", ela balança a cabeça.
"Privilegiados" e "acomodados" são algumas das palavras usadas por moradores para falar dos quilombolas. Esses entrevistados têm a idadeda quina de hojeBolsonaro ou são mais velhos e, apesarda quina de hojenão representarem a opinião geral, indicam que uma distância persiste.
"Depoisda quina de hoje1990, eles foram denominados quilombos", a professora aposentada Maria Cristina diz, quando perguntada sobre as comunidades.
E o que mudou?, a reportagem insiste.
"Eles agora têm vantagens", seu marido Antônio Carlos entra na conversa. "Têm privilégios. Depois disso aí começou a pipocar quilombo", diz, sem tirar os olhos da televisão. Um filme antigo está passando.
"As áreas que demarcaram para os quilombos é um absurdo", ele continua.
"Mas Bolsonaro falada quina de hojegarantir a propriedade privada", a mulher retoma a palavra.
"Talvez essas demarcações absurdas acabem!"
Dinheiro emprestado e dentes arrancados
Leonila conhece os Bolsonaro. Quando Percy Geraldo chegou com a família a Eldorado, para administrar uma fazenda às margens do Ribeira, ela diz que o dentista pediu dinheiro emprestado a seu pai, então um inspetorda quina de hojequarteirão. Sem conseguir pagar, Geraldo ofereceu seus serviços. Vários dentesda quina de hojeLeonila foram arrancados por ele.
"O pai era um homem muito humilde. Ele tinha um gabinete na cidade, bem organizadinho e bem pobrezinho. Essa aqui também tirou dente", ela diz, apontando para Virginia,da quina de hojeprima, que senta a seu lado no pátio da Igreja do Abobral.
"Arranquei todos os dentes com ele", Virginia ri, mostrando a dentadura.
"Ele contava que Jair tinha 17 anos e tinha ido para o Rioda quina de hojeJaneiro", lembra Leonila.
Se, quando criança, sentada na cadeira do pequeno consultórioda quina de hojeEldorado, o filho do dentista era indiferente para ela, hoje Jair Bolsonaro é umada quina de hojesuas maiores preocupações.
Ela diz temer o que presidente possa fazer com os quilombos:da quina de hojenão demarcar terras a incentivar a construçãoda quina de hojebarragens que poderiam deixar as comunidades debaixo d'água.
Leonila faz parte do Movimento dos Ameaçados por Barragens do Vale do Ribeira, uma centralda quina de hojemovimentos sociais criadada quina de hoje1990. Por quase trinta anos, o grupo lutou contra projetosda quina de hojehidrelétricas no rio Ribeirada quina de hojeIguape que, segundo seus representantes, ameaçariam comunidades quilombolas, pequenos agricultores, ribeirinhos e caiçaras.
Em 2016, o Ibama decretou a inviabilidade ambiental da usinada quina de hojeTijuco Alto, projeto da Companhia Brasileirada quina de hojeAlumínio (CBA), sepultando a obra. O lagoda quina de hojeTijuco Alco atingiria dois municípiosda quina de hojeSão Paulo (Ribeira e Itapirapuã Paulista) e três no Paraná (Adrianópolis, Dr. Ulysses e Cerro Azul) e poderia afetar toda a bacia hidrográfica do rio Ribeira do Iguape. No ano passado, o Ministérioda quina de hojeMinas e Energia publicou uma portaria que extinguiu a concessão para o aproveitamentoda quina de hojeenergia da mesma usina.
O medoda quina de hojeLeonila, no entanto, é que um governo Bolsonaro promova a voltada quina de hojeprojetos como esse, apoiado por parte da populaçãoda quina de hojeEldorado. Moradores dizem que uma hidrelétrica movimentaria a economia local.
Em outubro, após a vitóriada quina de hojeBolsonaro no segundo turno, o presidente do Fórumda quina de hojeMeio Ambiente do Setor Elétrico (FMASE), Marcelo Moraes, disse que o governo recém-eleito aceleraria o processoda quina de hojelicenciamento ambientalda quina de hojegrandes empreendimentosda quina de hojeenergia elétrica, com destaque para usinas. O FMASE é o principal interlocutor do setorda quina de hojedebates sobre questões ambientais.
"Só peço a Deus que ele não maltrate a gente", Leonila diz, secando o suor da testa. A manhã avança quente sobre os bananais.
"Que esperar muito dele a gente não espera. Mas peço que não maltrate a gente..."
Resistência
Católico também, Setembrino Marinho não pede a Deus. Um dos líderes do quilomboda quina de hojeIvaporunduva e presidente do PTda quina de hojeEldorado, ele diz que resistir lhe interessa mais. Como seus antepassados fizeram há séculos.
A 45 km do centroda quina de hojeEldorado, mas ainda parte da cidade, Ivaporunduva aparece depoisda quina de hojeuma horada quina de hojeviagem por estradas esburacadas e duas pontes, a última feitada quina de hojeestreitas placasda quina de hojemadeira sobre pilaresda quina de hojeconcreto. A comunidade,da quina de hoje3,7 mil hectares e 80 famílias, ocupa aquela terra desde o século 17, quando a área ainda servia à mineraçãoda quina de hojeouro.
Uma das histórias sobre a origemda quina de hojeIvaporunduva conta que a antiga proprietária do lugar, dona Maria Joana, adoeceu, foi tratar-seda quina de hojePortugal e acabou morrendo por lá, por voltada quina de hoje1690. Viúva e sem parentes, a fazenda teria ficado para seus escravos.
"Eles foram abandonados aqui", diz Setembrino,da quina de hojefrente ada quina de hojevenda, um cubículoda quina de hojemadeira onde vende cerveja, refrigerante e cachaça.
Mas "abandonados" seria a palavra? Não estariam livres?
"Não", Setembrino sacode a cabeça, secando o peito com a camiseta que leva pendurada no ombro. "Eles não sabiam o que fazer. Junto com a Maria Joana tinham o que comer, o que beber. E, quando ela foi embora, se eles atravessassem o rio, eram capturados. Tinham que ficar aqui."
Os escravos decidiram reunir-se na igreja, que antes da morteda quina de hojeMaria Joana já estavada quina de hojeconstrução. Ali formou-se o quilombo.
A igrejada quina de hojebarro batido e estruturada quina de hojemadeira, iniciada pelos escravos a pedidoda quina de hojesua dona e terminada por vontade própria, ocupa o centro e a parte mais alta da comunidade. Levou o nomeda quina de hojeNossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Nas ruasda quina de hojeterras não bem paralelas, mas concêntricas, estão as casasda quina de hojealvenaria dos moradores. De um lado, margeiam o rio Ribeira; do outro, os paredõesda quina de hojemata que se estendem, intocados, morro acima.
"A maioria da Mata Atlântica está aqui", diz Setembrino. "Falam que o Vale do Ribeira é o Nordesteda quina de hojeSão Paulo, mas não é verdade. A gente é muito ricoda quina de hojetudo:da quina de hojefloresta,da quina de hojeágua,da quina de hojecachoeira."
Para Setembrino, o que incomoda os críticos é o fatoda quina de hojeos quilombolas serem pobres, pretos e terem terra.
"Estamosda quina de hojediasda quina de hojecrise política, econômica, mas aqui não tem crise porque ninguém passa fome. Plantamos o que precisamos. Mas falarda quina de hojedar terra para preto e pobre é difícil, porque terra é poder."
Visitasda quina de hojeBolsonaro
O líderda quina de hojeIvaporunduva não se recordada quina de hojenenhuma visitada quina de hojeBolsonaro, mas diz ter certeza que o presidente se referia a este quilombo durante a palestra no Clube Hebraica.
"Ele falou que visitou uma comunidade que tinha maquinário e nós temos três tratores. Além disso, é a mais conhecida e organizada da região", ele argumenta.
Contra as acusaçõesda quina de hojeque "não fazem nada", Setembrino diz que Ivaporunduva forneceda quina de hoje600 a 800 caixasda quina de hojebananas orgânicas por semana para as prefeiturasda quina de hojeEmbu, Campinas e Santo André. O alimento vai para merenda escolar. No total, diz, a comunidade gera quase R$ 33 mil por mês com o fornecimento da fruta, alémda quina de hojereceber gruposda quina de hojeturistas para conhecer a área.
Como a resposta sugere,da quina de hojetática é mais incisiva do que ada quina de hojeLeonila. Ele teme, sim, que Bolsonaro faça mudanças na região, como incentivar a construçãoda quina de hojebarragens ou abrir áreasda quina de hojereserva para mineração, mas pretende manter a postura ofensiva.
Até 25 anos atrás, os quilombolas proibiam a entradada quina de hojepessoas estranhas ali, o que seus antepassados faziam há séculos, para evitarda quina de hojerecaptura. Os motivos mudaram, diz Setembrino, mas a necessidadeda quina de hojefechar-se permanece.
"Eles deixaram isso pra nós. Não temos medoda quina de hojelutar", diz, arregalando os olhos negros.
Imagensda quina de hojeFernando Cavalcanti/BBC News Brasil, Arquivo Nacional, Ag. Brasil, Ag. Câmara, Família Paiva e Instagram do presidente Jair Bolsonaro.
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