Como suposto espião russo 'esquentou' documentos no Brasil, segundo a PF:nbb 2024 23

Elas apontam que Sergey teria tido a ajudanbb 2024 23uma escreventenbb 2024 23cartório brasileira para conseguir a anulaçãonbb 2024 23multas eleitorais e a liberação documental para a compranbb 2024 23um apartamentonbb 2024 23São Paulo. Pela ajuda, ele teria presenteado a mulher com um colar da marca Swarovski avaliadonbb 2024 23US$ 400, pouco maisnbb 2024 23R$ 2 mil.

Sergey foi presonbb 2024 23abrilnbb 2024 232022 após tentar, sem sucesso, entrar na Holanda. As autoridades do país europeu apontam que se fazia passar por Victor Muller Ferreira, um cidadão brasileiro que tinha conseguido um estágio no Tribunal Penal Internacional,nbb 2024 23Haia.

O serviçonbb 2024 23inteligência holandês afirma quenbb 2024 23veznbb 2024 23ser um estudante brasileiro, Victor era, na realidade, Sergey, um agente secreto do FSB, um dos serviçosnbb 2024 23inteligência da Rússia.

Ao chegar ao Brasil, ele foi preso, processado e condenado a 15 anosnbb 2024 23prisão por usonbb 2024 23documentos falsos. Aqui, ele admitiu ser russo, mas negou qualquer ligação com os serviçosnbb 2024 23inteligência russos.

Alertada sobre a possibilidadenbb 2024 23ter um espião internacionalnbb 2024 23suas mãos, a Polícia Federal passou a investigar Cherkasov e conseguiu apreender documentos e dispositivos eletrônicos escondidosnbb 2024 23uma áreanbb 2024 23matanbb 2024 23Cotia (SP).

Esses dispositivos, acreditam os investigadores, eram usados para o russo deixar mensagens e passar relatórios sobre suas atividades aos seus "controladores"nbb 2024 23território nacional.

A ajuda

Foi num desses dispositivos parecidos com um pen drive que os investigadores da PF encontraram um arquivo com um relato que acredita-se ter sido feito por Sergey para umnbb 2024 23seus controladores no qual ele narra como a agora ex-escreventenbb 2024 23um tabelionatonbb 2024 23notasnbb 2024 23São Paulo o teria ajudadonbb 2024 23trocanbb 2024 23um colar Swarovski.

A BBC optou por omitir a identidade da agora ex-funcionária enquanto a investigação ainda estánbb 2024 23curso.

"Os fatos, objeto da investigação, ocorreramnbb 2024 23São Paulo/SP, entre os anosnbb 2024 232021 e 2022, quando o russo Sergey Vladimirovich Cherkasov, passando-se pelo fictício brasileiro Victor Muller Ferreira, cooptou [...] a quem deu vantagem indevida, consistente num colar swarosky (sic), no valornbb 2024 23U$D 400,00, para que ela o auxiliasse na autenticaçãonbb 2024 23documentos, na anulaçãonbb 2024 23multas eleitorais, na autorizaçãonbb 2024 23compranbb 2024 23um apartamento, dentre outros auxílios,nbb 2024 23face dos quais há robustos indíciosnbb 2024 23irregularidades", diz o trechonbb 2024 23um pedidonbb 2024 23prisão contra Cherkasov relacionado ao caso.

Nos documentos encontrados pela PF e que teriam sido elaborados por Cherkasov, o russo diz que a funcionária teria feito uma espécienbb 2024 23autenticaçãonbb 2024 23seu RG tendo como base uma foto do documento apresentada por elenbb 2024 23seu telefone. Segundo o suspeitonbb 2024 23espionagem, isso teria facilitadonbb 2024 23vida no país.

"Com essa autorização consegui iniciar o processonbb 2024 23cidadania (portuguesa), consegui nova carteiranbb 2024 23motorista e obter novas certidõesnbb 2024 23nascimento e etc. (sic) sem sequer ter um documentonbb 2024 23identidade", diz um trecho do documento encontrado e traduzido do inglês pela PF.

A menção ao processonbb 2024 23cidadania portuguesa chama atenção porque, segundo as investigações, Cherkasov tentava obtê-la para transitar com mais facilidadenbb 2024 23suas viagens internacionais.

"Ela autenticou todos os documentos dos meus 'pais', o que ajudou a economizar muito tempo e atenção desnecessária dos advogados. Loyola anulou as multas eleitorais por não votar no país por cinco anos, limpou meu CPF e está pronta para autorizar a compra do meu apartamento como feito com bens financeiros legitimamente obtidos", diz outro trecho do documento.

O termo "pais" entre aspas é uma provável referência ao fatonbb 2024 23que, para dar cobertura ànbb 2024 23história, Cherkasov teve que "fabricar" uma família falsa composta por um pai com cidadania portuguesa e uma mãe brasileira, ambos já falecidos.

Mais adiante, Cherkasov afirma que presenteou a funcionária pornbb 2024 23"ajuda".

"Pornbb 2024 23ajuda, dei-lhe um presentenbb 2024 23janeiro - colar Swarowksy no valornbb 2024 23US$ 400", diz o documento.

Segundo o relato atribuído a Cherkasov, a funcionária serianbb 2024 23um Tabelionatonbb 2024 23Notasnbb 2024 23São Paulo. A reportagem da BBC News Brasil conseguiu confirmar que ela trabalhou até pelo menos 2021 no estabelecimento.

O relato contido nos documentos fazem partenbb 2024 23um pedidonbb 2024 23prisão feito pela Polícia Federalnbb 2024 23dezembro deste ano. O caso tramitou na Justiça Federalnbb 2024 23São Paulo. O pedidonbb 2024 23prisão, na realidade, tinha um caráter meramente formal, uma vez que Cherkasov já estava preso.

Apesarnbb 2024 23mencionar o nome da funcionária, a PF não pediu anbb 2024 23prisão e nem informou detalhes sobre que medidas teriam sido tomadas para investigá-la.

Nos documentos obtidos pela reportagem, não fica claro se a PF aprofundou investigações sobre as ações atribuídas a ela, ou se ela sabia da real identidadenbb 2024 23Sergey.

Por e-mail, o tabelionato informou que a escrevente trabalhou no estabelecimento, mas não dissenbb 2024 23qual período. O tabelionato também disse não ter tido nenhum conhecimento sobre os fatos irregulares supostamente praticados por ela.

Por telefone, a ex-funcionária confirmou que trabalhou no tabelionato, mas disse que não poderia responder a nenhuma questão sobre o caso.

Procurada, a PF não se manifestou sobre o assunto.

Preso, investigado e alvo da Rússia

Os elementos colhidos pelas autoridades holandesas apontam que Cherkasov faria partenbb 2024 23um grupo específiconbb 2024 23agentesnbb 2024 23inteligência russos.

Usandonbb 2024 23identidade brasileira, segundo as investigações, Cherkasov morou na Irlanda e nos Estados Unidos onde fez cursosnbb 2024 23universidades dos dois países. Foi com seus documentos falsos brasileiros que ele obteve vistos emitidos por autoridades americanas.

Em outubronbb 2024 232022, um outro caso semelhante aonbb 2024 23Cherkasov foi revelado pelas autoridades da Noruega.

A polícia local prendeu um homem supostamente brasileiro que atuava como pesquisadornbb 2024 23um centro que estuda questões relacionadas ao Ártico e ameaças híbridas.

Do pontonbb 2024 23vista geopolítico, a Noruega é considerada importante para a Rússia por conta da proximidade com o país e pelo fatonbb 2024 23o país fazer parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

O casonbb 2024 23Cherkasov chamou ainda mais atenção a partirnbb 2024 23agostonbb 2024 232022, quando o governo da Rússia pediu anbb 2024 23extradição. No pedido, as autoridades russas afirmam que ele seria investigado no país por crimes relacionados ao tráficonbb 2024 23drogas.

O que despertou a curiosidadenbb 2024 23pessoas familiarizadas com o caso no Brasil foi o fatonbb 2024 23que Cherkasov se manifestou favorável ànbb 2024 23extradição para a Rússia uma vez que as penas às quais ele pode estar sujeitonbb 2024 23seu país-natal são maiores que aquelas às quais ele estaria sujeito no Brasil.

O pedidonbb 2024 23extradição, agora, depende do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF). Ainda não há data prevista para o julgamento.

A reportagem da BBC News Brasil procurou a Defensoria Pública da União (DPU), que atua no caso da extradiçãonbb 2024 23Cherkasov. Por meionbb 2024 23nota, o órgão disse que não poderia se manifestar sobre eventuais denúncias contra elenbb 2024 23outras instâncias da Justiça.

A reportagem também fez contato com advogados que começaram a defendê-lo logo que ele foi preso, mas não obteve retorno.

- Este texto foi publicadonbb 2024 23

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