Como foi criada a Barsa, enciclopédia que fez a cabeça (e os trabalhos escolares)vaidebet logogerações antes da internet:vaidebet logo
“O enfoque é no público escolar: alunos, professores, gestores e comunidade escolar. Alémvaidebet logooutros interessadosvaidebet logotemáticasvaidebet logodiversas áreas do conhecimento”, explica o diretor geralvaidebet logonegócios da empresa, Anderson Silva.
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Fim do Matérias recomendadas
O pontapé inicial dessa enciclopédica aventura foi dado pela empresária e editora Dorita Barretvaidebet logoSá Putch (1914-1973).
Americana nascida na Califórnia, ela se naturalizou brasileira e vivia no Riovaidebet logoJaneiro. Seu pai era editor-executivo da Encyclopædia Britannica, que apesar das origens escancaradasvaidebet logoseu nome, vinha sendo publicada nos Estados Unidos desde o início do século 20,vaidebet logoum negócio capitaneado pela Universidadevaidebet logoChicago.
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No Brasil, a empresária vislumbrou a oportunidadevaidebet logolançar uma enciclopédia nacional. Mas não achava que simplesmente traduzir a Britannica resolveria as lacunas da cultura brasileira. Assim,vaidebet logo1960, já à frente da operação Encyclopædia Britannica do Brasil, contratou o jornalista e escritor Antônio Callado (1917-1997) para chefiar a equipe local da operação.
Esse interesse comercialvaidebet logoBarret atendia a uma necessidade que já era conhecida no Brasil. De acordo com o historiador Pedro Terres, pesquisador do Centrovaidebet logoHumanidades Digitais da Universidade Estadualvaidebet logoCampinas (Unicamp), desde os anos 1930 havia um projeto nacional e estatal da criaçãovaidebet logouma enciclopédia nacional.
“A ideia do governo era que fosse organizada pelo Estado e chegaram a chamar o [escritor] Máriovaidebet logoAndrade [(1893-1945)] para pensar o projeto”, conta ele. “Mas nunca foi para a frente, embora o Estado tenha continuado a financiar a ideia até os anos 1970. Nunca algo assim foi publicado.”
Conforme Terres contextualiza, nos anos 1960 esse nicho acabou sendo suprido pela chegada das enciclopédias comerciais. E as que mais se destacaram foi a Britannica do Brasil e a Delta Larousse.
E Barret montou o projeto mais “abrasileirado”. Inclusive adotando um nome genuíno para a publicação. Barsa, da junção dos sobrenomes seu com o do marido, o diplomata Alfredovaidebet logoAlmeida Sá.
“A Barsa nasceu com o objetivovaidebet logodar um peso brasileiro à enciclopédia”, pontua Terres. “Havia um consenso na intelectualidadevaidebet logoque as enciclopédias estrangeiras não traziam o peso da cultura brasileira. E para gestar uma enciclopédia brasileira era preciso dar esse peso, pensar o folclore, as especificidades, a síntese do Brasil.”
O terceiro e último capítulo da dissertaçãovaidebet logomestrado do historiador Terres,vaidebet logoandamento, trata exclusivamente sobre a Barsa.
Uma enciclopédia brasileira
Incumbidovaidebet logochefiar o novo projeto, Callado tinha alta reputação. Havia sido redator-chefe do Correio da Manhã e gozavavaidebet logoprestígio intelectual. Sua ideia foi chamar grandes nomes e encomendar a eles verbetes especiais, não apenas informativos mas também argumentativos.
Assim, coube ao arquiteto e urbanista Oscar Niemeyer (1907-2012) escrever sobre Brasília. O historiador e sociólogo Sérgio Buarquevaidebet logoHolanda (1902-1982) fez o texto sobre São Paulo. Jorge Amado (1912-2001), escritor já consagrado, incumbiu-se do verbete sobre o cacau. O sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987) redigiu tanto o texto sobre Pernambuco quanto aquele que detalhava a importância do açúcar para a história econômica brasileira. O verbete sobre o Ceará foi feito pela escritora Rachelvaidebet logoQueiroz (1910-2003).
“Tinha também um intuito comercial, ou seja, ter nomesvaidebet logopeso para a enciclopédia”, ressalta o historiador Terres.
Além desse time estrelado, a operação da enciclopédia também contava com uma grande redação formada por funcionários fixos. Eram, emvaidebet logomaioria, recém-graduados na Universidade do Brasil — depois rebatizadavaidebet logoUniversidade Federal do Riovaidebet logoJaneiro (UFRJ) — e da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio).
“Havia um diálogo com as universidades, que ainda eram pouquíssimas no Brasil, e isso se articulava para pensar uma obravaidebet logosínteses que era focada no Brasil, uma síntese do Brasil dentrovaidebet logoum projeto intelectual”, comenta o historiador.
De acordo com o pesquisador, havia uma redevaidebet logocolaboradores que chegou a 257 nomes — 221 homens e 36 mulheres. Isso apenas para a primeira edição da Barsa, lançadavaidebet logo1964.
O trabalho na redação não era apenas escrever e compilar os verbetes. Em um tempo anterior aos computadores, era preciso organizar e catalogarvaidebet logoforma sistemática, para que os índices remissivos funcionassem corretamente e não houvesse falhas. Checagem também era extremamente necessária.
Terres encontrou alguns documentos que levam a crer que Callado tinha um salário combinadovaidebet logodólar para cuidar da operação — algo na casavaidebet logo1 mil dólares. Para os colaboradoresvaidebet logogrife, há correspondências que permitem especular o quanto era pago: cercavaidebet logo30 mil cruzeiros por artigo.
“Era mais ou menos o salário mensal que ganhava uma secretáriavaidebet logoescritório na época. Uma quantia razoável, mas também não um preço exorbitante”, conta Terres, que diz que há indíciosvaidebet logoque Freyre tenha tentado negociar melhores honorários.
“Esses verbetes assinados eram muito bem publicizados na imprensa, ou seja, o Callado fez toda uma jogada para poder comercializar a enciclopédia”, acrescenta o historiador.
Esses verbetes escritos por autores renomados tinham um estilo muito interessante. “Não eram verbetesvaidebet logodefinição, mas tinham um caráter dissertativo, mais do que uma visão panorâmica do tema, também traziam argumentos, hipóteses. No texto do Gilberto Freyre, há o pensamento dele sendo colocado ali, com todos os vieses disso. Eram produções acadêmicas, com o objetivovaidebet logodefender ideias, teorias”, analisa.
A Barsa foi lançadavaidebet logo1964 com 30%vaidebet logoconteúdo inédito, totalmente produzido no Brasil. O restante foi feito com traduçãovaidebet logoverbetes da Brytannica.
De acordo com a Editora Planeta, essa prerrogativavaidebet logorecorrer a figurões para determinados verbetes se manteve ao longo das décadas seguintes. Acabou virando uma tradição, uma marca da Barsa.
“A enciclopédia, porvaidebet logovocação, foi assim produzida para contribuir com o conhecimento científico e cultural da sociedade e do mundo”, diz Silva. Ele citou contratados ilustres como o filólogo Antônio Houaiss (1915-1999), que integrou o corpo editorial da publicação desde o início, e também o jornalista Otto Maria Carpeaux (1900-1978).
Silva também destacou alguns verbetes produzidosvaidebet logoedições mais recentes, assinados por nomesvaidebet logodestaque. O texto sobre Oscar Niemeyer foi feito pelo poeta e escritor Ferreira Gullar (1930-2016); o do Recôncavo Baiano, pelo geógrafo Milton Santos (1926-2001); o verbete Ayrton Senna évaidebet logoautoria da irmã do piloto, Viviane Senna; o jornalista e biógrafo Ruy Castro foi o contratado para redigir um artigo sobre o centenáriovaidebet logoCarmen Miranda.
Preçovaidebet logoum carro?
Se a enciclopédia se tornou fetiche para famíliasvaidebet logoclasse média, não era sem sufoco que as compras eram feitas. Foi com o advento da Barsa, por exemplo, que a ideiavaidebet logoparcelar uma compra se tornou praxe no Brasil.
É comum encontrarmos comentários saudosos nas redes sociais sobre como era cara a enciclopédia. Isso é verdade. Muitos dizem que custava o preçovaidebet logoum carro zero. Não era para tanto. Mas quando me recordo do Fiat velho que habitava a garagem da casa dos meus pais quando eu era criança, consigo entender que aqueles volumes no alto da estante haviam custado mais do que o meiovaidebet logotransporte da família.
A gratidão aos meus pais se torna maior ainda quando me lembro que houve um período, não muito distante daquelevaidebet logoque o Edison pai chegou anunciando a novidade da compra da Barsa,vaidebet logoque a garagem ficou completamente vazia: o retrato da crise.
“Realmente era muito cara a coleção, exigia grande poder aquisitivo ou um endividamento considerável”, analisa Terres.
“No passado, há relatosvaidebet logoque custava próximo ao valorvaidebet logoum carro ou avaidebet logoum terreno, um lote”, comenta o diretor Silva.
Hoje não há mais a figura do vendedorvaidebet logoenciclopédia, aquele quase folclórico sujeito que batiavaidebet logoportavaidebet logoporta. A Barsa só é comercializada pelo site Barsa Shop, mantido pela editora.
Em 1964, quando a enciclopédia foi lançada, os 45 mil conjuntos da primeira impressão se esgotaramvaidebet logooito meses — um tremendo sucesso. O auge das vendas,vaidebet logo1990, significou 120 mil coleções vendidas. Em 2010,vaidebet logoum mundo já habituado a usar buscadoresvaidebet logointernet e a enciclopédia colaborativa Wikipédia, foram apenas 8 mil.
Mandei uma mensagemvaidebet logoWhatsApp para meus pais perguntando quanto eles tinham desembolsado pela Barsavaidebet logominha infância, se é que ainda seria possível relembrar algo nesse sentido. “Ah, filho, perguntei aqui ao seu pai… Ele diz que não lembra quanto, só lembra que foi bastante”, foi a resposta da minha mãe, algumas horas depois, via mensagemvaidebet logoáudio.
Cresci ouvindo que aquele investimento havia sido suado, mas que era “pensando nos meus estudos”, “para me ajudar na escola” e que, por isso, “valia a pena”. Para mim, a Barsa era a metáfora perfeitavaidebet logocomo, para meus pais que nunca tiveram acesso ao ensino universitário, a educação dos filhos deveria virvaidebet logoprimeiro lugar.
Pedi ao historiador Terres que me ajudasse a chegar ao preço da Barsa nos tempos áureos. Ele buscou a informaçãovaidebet logoanúnciosvaidebet logojornal e, com a ajudavaidebet logodados do Banco Central, concluiu que do anovaidebet logolançamento,vaidebet logo1964, até o fim dos anos 1970, o valor era sempre algo entre R$ 12 mil e 14 mil, se corrigido para os valores atuais.
“Uma coleção Barsavaidebet logodezembrovaidebet logo1964 custava 350 mil cruzeiros. Um fusca zero, 3,8 milhõesvaidebet logocruzeiros”, compara Terres.
Fiz o mesmo processo com anúncios dos anos 1980, quando meus pais compraram a Barsa, e cheguei às mesmas cifras. A enciclopédia havia custado muito mais do que o ordenado mensal do meu pai, à época funcionário do crédito agrícola do Banespavaidebet logoTaquarituba. Mas ainda menos do que um carro zero ou um terreno, conforme insiste o imaginário comum.
Quando eu era criança, a Barsa eram os livros inacessíveis naquela estante. Ficavam no alto — tudo bem que a referênciavaidebet logoaltura é muito diferente quando a idade não permite termos muito mais do que 1,20 metro. Os bonitos livrosvaidebet logocapa vermelha tinham que ser manuseados com extremo cuidado, “para não estragar”.
Eu olhava para aquela imensidãovaidebet logoconhecimento e, resignado, fantasiava expectativas. Avaidebet logoum dia ler todos os 130 mil verbetes — cheguei a tentar, na adolescência, mas fracassei no quarto ou no quinto livro. A mais simples dessas expectativas, contudo, era imaginar qual assunto eu pediria para meu pai ler, à noite, quando chegasse do trabalho.
E são dali algumas das melhores lembranças que guardovaidebet logominha infância. Entre tantas e tantas coisas, aprendi assim que Pedro Álvares Cabral, “navegante português e descobridor do Brasil, nasceuvaidebet logoBelmontevaidebet logo1467 ou 1468”, que pragmatismo “é antesvaidebet logotudo um método, do qual decorre uma teoria da verdade”, que osso, “duro e resistente”, é algo “configurado para suportar o peso dos vertebrados”, “uma das mais surpreendentes aquisições evolutivas do reino animal”.
E, claro, que Zwingli, o tal último verbete do último livro, é somente o sobrenomevaidebet logoHuldrich. Que foi, segundo diz a enciclopédia, o “principal líder da Reforma na Suíça”, cujas “doutrinas influenciaram as confissões calvinistas”.