'Dinamitar' Banco Central, vendaórgãos e fim da educação obrigatória: as propostas radicaisJavier Milei:
Mas, embora o resultado seja surpreendente — as pesquisas não davam a ele nem 20%intençãovotos —, a verdade é que Milei já tinha se tornado um fenômeno político polêmico na Argentina nos anos recentes.
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Parlamentar desde 2021, economista e amantecachorros, Milei tem agitado os debates políticos com propostas como a dolarização da economia, a privatizaçãoestatais e o fechamento (ou "dinamitar",suas palavras) do Banco Central.
Ele também já anunciou ideias como a permissão à vendaarmas e órgãos humanos.
Soma-se a issooposição à legalização do aborto e à educação sobre questõesgênero nas escolas públicas.
Milei é frequentemente comparado com outros políticos da direita radical, como o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o brasileiro Jair Bolsonaro.
"Conseguimos construir uma alternativa competitiva que não só vai acabar com o kirchnerismo, mas também com a ladra casta política e inútil que existe neste país", disse o candidato, pouco depois do resultado das primárias ter sido divulgado.
Afinal, qual são as propostasMilei — e as fortes críticas a elas? Confira.
'Dinamitar o Banco Central'
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A Argentina vive uma situação crítica devido à alta inflação que, no ano passado, chegou a 100% na inflação anual.
E foi na economia que a figuraMilei foi impulsionada: formado como economista da UniversidadeBelgrano, ele participou várias vezes como analistaeconomiaprogramastelevisão.
Nessas participações, ele foi construindo o que é a basesua proposta econômica: primeiro, a dolarização da economia, imitando o modelooutros países da região como o Equador.
"Os equatorianos estão muito melhores que os argentinos. Os números do Equador impressionam. A renda multiplicou por dez e a inflação foi pulverizada", disse Milei ao jornal espanhol El País.
Em segundo lugar nas propostas está o fechamento do Banco Central. Milei já defendeuvárias entrevistas que a criação da instituição,1935, foi o iníciotodos os problemas do país.
Terceiro: a redução nos gastos públicos. Nessa linha, Milei quer reduzir o númeroministérios para apenas oito (atualmente são 18 ministérios, sem contar outras agências estatais).
O candidato do La Libertad Avanza propõe a redução dos subsídios às empresas prestadorasserviços e que o valor da tarifa real seja repassado aos usuários.
Outra proposta é abolir o limite da quantidadedólares que um cidadão argentino pode adquirir por mês.
Essas propostas, principalmente a dolarização do país e o fechamento do Banco Central, receberam fortes críticasoutros analistas econômicos.
"A propostafechar o Banco Central significa voltar a uma discussão já travada há dois séculos", disse o economista Guido Agostinelli ao jornal Página 12.
Agostinelli argumentou que o Estado precisa regular o mercado financeiro para proteger a poupança dos cidadãos e que não existe país desenvolvido sem banco central
"A experiência mais recenteque os depósitos dos poupadores não puderam ser garantidos foi com o corralito [medida2001 que determinou o congelamento dos depósitos bancários e limites semanais para saques]Domingo Felipe Cavallo à frente do Ministério da Economia, o que é hoje justamente reivindicado por toda a ala libertária."
Armas e vendaórgãos
Mas, alémsuas propostas econômicas radicais, é no campo social e dos costumes que as ideiasMilei têm causado maior agitação.
Em várias ocasiões, especialmente durante a campanha presidencial, Milei afirmou ser a favorque os argentinos possam comprar armas livremente, justificando para isso o aumentoincidentessegurançaalgumas áreas do país.
O candidato já falou também a facilitação para outro mercado: o da vendaórgãos, atividade atualmente proibida.
"Há 7.500 pessoas sofrendo, esperando por transplantes. Tem alguma coisa que não está funcionando bem. O que proponho é procurar mecanismosmercado para resolver este problema", disse o candidato ao canaltelevisão TN.
A proposta foi categoricamente rejeitada por Carlos Soratti, diretor do Instituto Central Coordenador NacionalAblação e Implantação (Incucai), órgão que regulamenta a doaçãoórgãos no país.
"Essas propostas exóticas, que já eram colocadas há um século, hoje são absurdas", disse Sorattium comunicado.
Enquanto isso, vários meioscomunicação denunciaram um comportamento agressivoMilei contra mulheres jornalistas. Seu programagoverno se opõe a várias iniciativas relacionadas ao gênero.
"No meu governo, não haverá marxismo cultural e não pedirei perdão por ter pênis. Se dependessemim, fecharia o Ministério da Mulher", disse o candidatoentrevista.
A candidata à Vice-presidência na chapaMilei, Victoria Villarruel, também é conhecida por declarações e propostas polêmicas.
Villarruel é filhamilitares e já colocoudúvida os crimes cometidos durante o regime militar — como a tortura e o desaparecimentomilharespessoas — que governou a Argentina,1976 a 1983.
"Devemos denunciar os terroristas que realizaram ataques nos anos 70, tomaram o poder, reescreveram a história e garantiram a impunidade", disse ela durante um encontro político.
É ela quem lidera as propostasflexibilização do comércioarmas euma reforma judicial que pode dar liberdade a dezenasmilitares e policiais condenados por crimes contra a humanidade.
Verónica Torrás, diretora do instituto Memoria Aberta (voltado para a defesa dos direitos humanos), repudiou a proposta.
"Estamosuma situaçãoameaça ao consenso mínimo, que é o repúdio ao terrorismoEstado", disse Torrásentrevista ao jornal espanhol La Verdad.
Fusão dos ministérios da Saúde e Educação
Dentro da propostareduçãogastos públicos, Milei tem deixado claro que haverá cortes nas principais áreas sociais: saúde, educação e desenvolvimento social.
Ele quer aglutinar os três ministérios que tratam dessas questõesum só, que se chamaria"Capital Humano".
Na área da saúde, ele propõe a criaçãoum "seguro universal",que os usuários e médicos chegariam a um acordo sobre valores pelos serviços médicos.
No campo da educação, Milei propõe o sistema dos vouchers, no qual a educação não seria nem obrigatória nem gratuita.
"O sistema obrigatório não funciona. Se você quiser estudar, terá um voucher e poderá estudar. O dinheiro que o Estado separa para isso seria dividido entre as criançasidade escolar e um voucher seria entregue aos pais, para que eles possam escolher a escola que querem para os seus filhos" disse o candidato.
Professoracarreira e atualmente parlamentar, Victoria Morales Gorleri foi uma das pessoas que se manifestaram contra o projeto.
"A educação obrigatória não é uma arma que se coloca na cabeça da sociedade, mas um estímulo essencial para a sobrevivência", avaliou Gorleri.