O que o Rio Grande do Sul pode aprender com as falhas na resposta ao Katrina nos EUA:luva bet telegram
Quase 20 anos depois, as falhasluva bet telegramplanejamento e preparação, a extensão dos danos e os desafios na reconstrução continuam sendo um símbolo no país e uma lição para outros locais afetados por desastres naturais.
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Fim do Matérias recomendadas
Enquanto muitos dos estragos eram considerados inevitáveis, diante da força do furacão, hoje há consensoluva bet telegramque a devastação nos Estados Unidos foi agravada pela demora e ineficácia da resposta.
Segundo Jeffrey Schlegelmilch, diretor do Centro Nacionalluva bet telegramPreparação para Desastres da Universidade Columbia,luva bet telegramNova York, o Katrina até hoje continua sendo "um exemplo muito importante" dos erros a evitarluva bet telegramcatástrofes do tipo.
Problemas no sistemaluva bet telegramproteção
Uma toneladaluva bet telegramcocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês
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Schlegelmilch diz à BBC News Brasil que parte dos problemas vinhaluva bet telegramlongo prazo, e já se sabia há muito tempo que Nova Orleans era vulnerável a inundações.
Maior cidade do Estado da Louisiana, Nova Orleans está localizada às margens do Lago Pontchartrain e do rio Mississippi,luva bet telegramuma área abaixo do nível do mar, e contava com um sistemaluva bet telegramdiques para se proteger das águas.
"Sabia-se que havia fragilidades no sistema", afirma Schlegelmilch. "Tambémluva bet telegramtornoluva bet telegramcomo o rio Mississippi, como bacia hidrográfica, estava sendo usado, e como a agricultura e o desvioluva bet telegramáguas reduziam algumas das barreiras naturais para evitar inundações."
O Katrina chegouluva bet telegram29luva bet telegramagostoluva bet telegram2005. Um dia depois, os diques se romperam, provocando uma inundação que destruiu bairros inteiros e deixou 80% da cidade submersa.
Em análises e estudos feitos após a tragédia, especialistas concluíram que, caso tivessem sido construídosluva bet telegrammaneira adequada, os diques poderiam ter suportado a tempestade.
No entanto, o próprio US Army Corps of Engineers (Corpoluva bet telegramEngenheiros do Exército dos Estados Unidos, agência federalluva bet telegramengenharia pública que projetou o sistemaluva bet telegramproteção da cidade) admitiu posteriormente uma sérieluva bet telegramproblemas na construção dos diques.
O projeto havia sido baseadoluva bet telegramdados desatualizados, tinha design defeituoso e problemasluva bet telegramqualidadeluva bet telegrammateriais, resultado da faltaluva bet telegramfinanciamento apropriado.
Segundo Tim Frazier, diretor docente do programaluva bet telegramgestãoluva bet telegramemergências e desastres da Escolaluva bet telegramEstudos Continuados da Universidadeluva bet telegramGeorgetown,luva bet telegramWashington, tanto o governo federal quanto o Estado e o município falharamluva bet telegramrelação à manutenção e aperfeiçoamento dos diques.
"Mas a realidade é que os diques foram erguidos para proteger uma cidade que nunca deveria ter sido construída nesse local", diz Frazier à BBC News Brasil.
Moradores deixados para trás
Quando os diques se romperam, cercaluva bet telegram1,2 milhãoluva bet telegrampessoas já haviam deixado a região afetada, que englobava também outras cidades próximas. Mas pelo menos 100 mil moradores haviam ficado para trás, alguns por opção, outros por não conseguirem sair por conta própria.
"Não se percebeu que tantas pessoas precisariamluva bet telegramajuda, fossem idosos com problemasluva bet telegramlocomoção ou pessoas pobres, que não tinham carro nem dinheiro para pagar um meioluva bet telegramtransporte e deixar a área", ressalta Frazier. "Além disso, não havia para onde ir."
Muitos morreram afogados instantaneamente, outros sucumbiram a ferimentos dias depois. Famílias inteiras passaram horasluva bet telegramcima dos telhados, à esperaluva bet telegramresgate.
"Não havia um plano para uma evacuação dessa magnitude", observa Schlegelmilch.
O então prefeitoluva bet telegramNova Orleans, Ray Nagin, foi criticado na época por só ordenar a evacuação obrigatória da cidade na véspera da chegada do Katrina, o que teria dificultado a saídaluva bet telegramparte dos moradores.
"Havia dúvida sobre se o prefeito tinha autoridade legal para ordenar a evacuação ou para usar os ônibus escolares", lembra Schlegelmilch.
"Quando a questãoluva bet telegramquem tinha autoridade foi resolvida, já era tarde demais, a tempestade estava muito próxima."
Milharesluva bet telegrampessoas que tiveramluva bet telegramdeixar suas casas foram direcionadas ao estádio Superdome e ao Centroluva bet telegramConvenções, no que era para ser uma solução temporária, enquanto aguardavam resgate para serem transferidos para outros abrigos.
No entanto, os desabrigados acabaram passando dias nesses locais, sob calor intenso, sem água, comida, medicamentos ou segurança,luva bet telegrampéssimas condiçõesluva bet telegraminfraestrutura e higiene que deixaram claras as deficiências e a desorganização na resposta imediata.
"Houve atraso na tomadaluva bet telegramdecisõesluva bet telegramevacuação, decisõesluva bet telegramtrazer recursos. Subestimaram os danos que poderiam ocorrer", salienta Schlegelmilch. "E também não havia muita flexibilidade no sistema."
Trocaluva bet telegramacusações e faltaluva bet telegramcoordenação
Em meio à trocaluva bet telegramacusações entre autoridades locais, estaduais e federais, a faltaluva bet telegramcoordenação e a burocracia contribuíram para o caos.
As principais críticas recaem sobre o governo federal e, principalmente, a Federal Emergency Management Agency (Agência Federalluva bet telegramGestãoluva bet telegramEmergências, FEMA na siglaluva bet telegraminglês), responsável por coordenar a resposta nacional a situaçõesluva bet telegramemergência.
Na época liderada por um administrador com pouca experiêncialuva bet telegramdesastres, a agência foi acusadaluva bet telegramatrasar e bloquear esforçosluva bet telegramsocorroluva bet telegrammeio a trâmites burocráticos e confusão sobre o tipoluva bet telegramautorização necessária, impedindo que ajuda e suprimentos chegassem aos necessitados.
"Havia relatosluva bet telegrampessoas morrendoluva bet telegramdesidratação por faltaluva bet telegramágua, enquanto caminhões com água não tinha permissão para entrar na cidade porque não traziam o formulário correto ou a assinatura necessária", lembra Frazier.
Gruposluva bet telegrambombeiros altamente treinados para situaçõesluva bet telegramemergência foram enviados a Nova Orleans, mas passaram diasluva bet telegramum hotelluva bet telegramoutro Estado recebendo treinamento sobre temas como assédio sexual antesluva bet telegrampoderem chegar aos locais atingidos.
Ônibus requisitados para transportar os desabrigados chegaram com vários diasluva bet telegramatraso eluva bet telegramnúmero muito menor do que o necessário. Trens saíram da região sem passageiros por não ter autorização para transportar as pessoas que precisavam evacuar.
Os dias e semanas após a chegada do Katrina também foram marcados por relatosluva bet telegramviolência, com tiroteios e saques. Tropas da Guarda Nacional enviada por outros Estados demoraram a chegar à área afetada por problemas burocráticos e faltaluva bet telegramcomunicação.
Uma comissão especial criada pela Câmara dos Representantes para investigar a preparação e a resposta ao Katrina concluiu que houve "falhasluva bet telegramtodos os níveisluva bet telegramgoverno".
Danos e disparidades
À medida que a extensão da tragédia ficava mais clara, os americanos tiveramluva bet telegramconfrontar a sérieluva bet telegramerros que deixaram o país mais rico do mundo, acostumado a enviar ajuda a vítimasluva bet telegramdesastresluva bet telegramoutras nações, tão vulnerável a tamanha devastação e incapazluva bet telegrammanejar a criseluva bet telegramseu próprio território.
O Katrina foi o desastre natural mais caro da história dos Estados Unidos, com danos calculadosluva bet telegrammaisluva bet telegramUS$ 190 bilhões (R$ 977 bilhões),luva bet telegramvalores revisadosluva bet telegram2024 pelo governo americano. Cercaluva bet telegram200 mil casas foram totalmente destruídas ou seriamente danificadas.
O númeroluva bet telegrammortos, inicialmente estimadoluva bet telegram1.833 pessoas, foi posteriormente revisado para 1.392. A populaçãoluva bet telegramNova Orleans, que antes eraluva bet telegramaproximadamente 485 mil habitantes, caiu pela metade e até hoje não voltou ao nívelluva bet telegramantes do Katrina, com 370 mil moradores segundo os dados mais recentes.
Apesarluva bet telegramo furacão e a inundação terem afetado tanto moradores negros quanto brancos, a resposta e a reconstrução deixaram claras as desigualdades sociais e raciais. Em Nova Orleans, 60% dos moradores são negros, e a taxaluva bet telegrampobreza nessa parcela da população é o triplo da verificada entre os habitantes brancos.
Muitos dos mais pobres não tinham seguro residencial e viviamluva bet telegramcasas alugadas ou sem títuloluva bet telegrampropriedade, dificultando o recebimentoluva bet telegramauxílio financeiro para recuperar os imóveis. O aumento nos preços dos aluguéis após a reconstrução impediu que muitos voltassem para os bairrosluva bet telegramque viviam.
Enquanto as partes turísticas e os bairros mais afluentes foram reconstruídos, áreas mais pobres eluva bet telegrammaioria negra, como Lower Ninth Ward, que fica na beira do Mississippi e foi uma das mais devastadas, até hoje não se recuperaram completamente.
"Para quem estáluva bet telegramfora, a cidade parece recuperada", afirma Schlegelmilch. "Mas há muitas pessoas que nunca se recuperaram. Muitos partiram e nunca mais voltaram."
Mudanças após o Katrina
O fracasso da resposta ao Katrina levou a uma sérieluva bet telegramreformas na políticaluva bet telegramgestãoluva bet telegramemergências nos Estados Unidos.
Entre as mudanças está uma melhor coordenação entre diferentes agências e níveisluva bet telegramgoverno, com definição clara sobre o papelluva bet telegramcada um e adoçãoluva bet telegramacordos e autorizações preliminares para que a ajuda possa ser acionada imediatamenteluva bet telegramcasoluva bet telegramdesastre.
Foram implementadas exigências mais rígidasluva bet telegramplanejamento e treinamento conjunto entre autoridades locais, estaduais e federais, para que estejam preparadas para agirluva bet telegramforma coordenada. Gestores também são melhores treinados para aceitar e coordenar a ajudaluva bet telegramvoluntários.
"Ainda temos problemasluva bet telegramresposta, mas há menos barreiras legais e burocráticas do que na época do Katrina, quando voluntários estavam prontos para trabalhar, mas sendo instruídos a não agir", observa Schlegelmilch.
Para evitar a faltaluva bet telegramsuprimentos vista durante o Katrina, quando caminhões com água e comida não conseguiam chegar às pessoas afetadas, hojeluva bet telegramdia há maior organização para abastecer previamente locais que serão designados como abrigo.
Também foram feitas reformas para aprimorar o planejamento e a coordenação entre hospitais e laresluva bet telegramidosos para transferir doentes para centros médicos mais capacitadosluva bet telegramcasoluva bet telegramemergência.
O Congresso americano aprovou ainda uma lei que exige que a evacuação e abrigoluva bet telegramanimaisluva bet telegramestimação sejam incluídos nos planosluva bet telegramemergência. Durante o Katrina, muitos se recusaram a deixar suas casas sem seus cães e gatos.
Reconstrução
Os especialistas consultados pela BBC News Brasil ressaltam que a reconstrução após um desastre da magnitude do Katrina ou do que atinge o Rio Grande do Sul pode levar décadas, mas também representar uma oportunidadeluva bet telegramrepensar a forma como as comunidades são construídas.
"Pode exigir mais dinheiro, demorar um pouco mais, mas evitará que essas casas sejam perdidas (novamente) no futuro", afirma Schlegelmilch, lembrando que é também uma oportunidadeluva bet telegramlevarluva bet telegramconta questões sociais,luva bet telegramequidade eluva bet telegramjustiça ambiental.
"Muitas vezes há pressão para reconstruir o mais rápido possível. Isso normalmente significa que as comunidades mais influentes e ricas são reconstruídas rapidamente, e as comunidades pobres e marginalizadas ficam ainda mais para trás", diz Schlegelmilch.
Frazier ressalta que muitas vezes comunidadesluva bet telegramlocais vulneráveis são construídasluva bet telegramforma menos resiliente do que deveriam.
"É mais barato", diz Frazier. "Há uma disposiçãoluva bet telegramarriscar a exposição a tempestades por causa dos custos associados aos níveisluva bet telegrampreparação que minimizariam o risco."
Em Nova Orleans, o sistemaluva bet telegramdiques e barreirasluva bet telegramproteção contra inundações foi reconstruído e aprimorado, a um custo estimadoluva bet telegramcercaluva bet telegramUS$ 15 bilhões.
Especialistas concordam que a cidade está melhor preparada do que na época do Katrina, mas alertam que ainda há riscos, especialmente à medida que mudanças climáticas podem afetar a intensidade e frequência dos furacões.
"(A região) enfrentou outras tempestades. Certamente não da extensão do Katrina, mas algumas bastante significativas, e se saiu melhor", observa. "Mas a questão é: estamos tão bem preparados como deveríamos? A resposta, provavelmente, é não."
Frazier salienta que um dos desafios enfrentados globalmente é testar a eficácia das reformas.
"Depoisluva bet telegramcada desastre, tentamos determinar o que deu errado, criamos novas políticas para corrigir problemas e fragilidades. Mas não temos uma boa maneiraluva bet telegramtestar as mudanças até o próximo desastre."
Para Schlegelmilch, apesarluva bet telegramavanços, lições importantes do Katrina até hoje não foram aprendidas.
Segundo ele, muitos dos incentivos políticos continuam sendo para resposta e recuperação, e não preparação e planejamento para evitar que catástrofes aconteçam.
"(Quando há um desastre natural) todo mundo fala: 'Não poderíamos ter previsto'", observa Schlegelmilch. "Isso é categoricamente falso. Sempre há pilhas e pilhasluva bet telegramrelatórios onde isso foi analisado. Sabemos das vulnerabilidades, mas optamos por não nos preparar."