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A ocupação que se regularizou e se tornou 'mini-Bolívia'esporte betbooSP:esporte betboo
E conseguiu algo raro para movimentosesporte betboomoradia na maior cidade do Brasil: a desapropriação e o direitoesporte betboouso da propriedade particular que ocupouesporte betboomaneira irregular.
Abandonado por 22 anos pela empresa proprietária, o terreno foi ocupadoesporte betboo2013 por membros do Movimento Independenteesporte betbooLuta por Habitação da Vila Maria (MIVM) e famílias pobres da zona norte.
A ocupação Douglas Rodrigues tem esse nomeesporte betboohomenagem a um jovem morto por um policial militar na região.
Ela cresceu e se transformouesporte betbooum pequeno bairro popular com milharesesporte betboocasas e comércio efervescente, embora serviços públicos ainda sejam precários: ruasesporte betbooterra alagam com chuva forte, falta saneamento básico e as ligaçõesesporte betbooenergia elétrica são clandestinas.
Com a pandemia, esse tipoesporte betbooassentamento se tornou ainda mais comumesporte betbooum município cuja fila da moradia social tem 219 mil pessoas cadastradas, segundo a Secretariaesporte betbooHabitação.
Em fevereiroesporte betboo2020, por exemplo, havia 218 ocupações irregulares na cidade. Hoje, são 529 pontos monitorados pela Prefeitura - uma altaesporte betboo142%esporte betboopouco maisesporte betbootrês anos.
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Foi na ocupação que a famíliaesporte betbooCosme finalmente conseguiu estabilidade financeira depoisesporte betboosairesporte betbooPernambuco para tentar a vidaesporte betbooSão Paulo.
Depoisesporte betbooanosesporte betboodificuldades, sair do aluguel significou melhoraresporte betboorenda para investiresporte betboooutras demandas da família.
“Nada como ter um teto só seu, sem ninguém batendo na porta cobrando o aluguel. Mas vou te dizer: sofremos muito", diz Maria Aparecida Nogueira,esporte betboo56 anos, mulheresporte betbooCosme, na sala recheadaesporte betbooplantas e com TVesporte betboo75 polegadas na parede.
"Aqui, teve enchente, incêndio, balaesporte betbooborracha da polícia, ameaçaesporte betbooreintegração. Não tinha água ou luz. Fizemos das tripas coração.”
O casal, que prosperou economicamente na comunidade, hoje é famoso na ocupação por ser donoesporte betbooum bar feitoesporte betboomadeira, pontoesporte betbooencontro dos imigrantes bolivianos que vivem no bairro.
“Quem movimenta o comércio aqui são os bolivianos. Com o dinheiro deles é que construí minha casa, comprei a geladeira que eu sonhava, minha TV…”, brinca Cosme.
“Quando eles querem festejar, juntam uns 15 caras aqui no bar, e eles só saem pela manhã.”
Festa boliviana
A presençaesporte betbooimigrantes é constante nas vielas e no comércio da comunidade.
Das 2 mil famílias, pelo menos 80 são formadas por bolivianos, mas há também dezenasesporte betboocolombianos, peruanos e haitianos. Há sempre representantes estrangeiros na direção do assentamento.
Neste ano, um dos escolhidos é Andres Cuarite,esporte betboo47 anos, naturalesporte betbooLa Paz e que vive há oito anos no bairro colado à Marginal Tietê.
“Se para o brasileiro pobre já é difícil conseguir uma moradia, imagina para um boliviano que chega ao Brasil com as mãos abanandoesporte betboobuscaesporte betboouma oportunidadeesporte betboovida, às vezes até passando fome”, explica ele, que saiuesporte betbooseu país para fugir da pobreza.
Antes da casa atual, Andres levou um golpe: juntou todo o dinheiro da família, R$ 20 mil, e comprou um terrenoesporte betbooItaquera, periferia da Zona Leste. Mas o terreno não existia, e o vendedor golpista sumiu do mapa.
Com sete filhos - alguns deles nascidos no Brasil -, a famíliaesporte betbooAndres vive da rendaesporte betboouma pequena oficinaesporte betboocostura montadaesporte betboocasa.
O somesporte betboomáquinasesporte betboocostura, aliás, é constante nas vielasesporte betbooDouglas Rodrigues.
Em um sábado no finalesporte betboosetembro, outro ruído produzido pelos bolivianos agitou a comunidade: o som da Banda Murilo, especializadaesporte betboomúsicas típicas do país vizinho.
Para comemorar os dez anos da ocupação, foi realizada uma festa boliviana na rua principal.
Além da suingueesporte betboometais e percussão, os imigrantes apresentaram danças tradicionais, como a El Morenada, que representa o sofrimento dos africanos traficados para a Bolívia durante a colonização espanhola.
Uma das participantes da Morenada era Rose Mari Mammani,esporte betboo46 anos, há seis no bairro. Ela conta que foi parar ali porque não conseguia bancar o aluguelesporte betbooR$ 600 com três filhos para criar.
Se preparando para entraresporte betboocena, ela contou a dificuldade que foi se estabeleceresporte betbooSão Paulo.
“Tem muito preconceito com boliviano, ainda mais porque somos pobres da classe trabalhadora. Mas aqui, na ocupação, me sinto à vontade”, diz Rose, hoje donaesporte betbooum mercadinhoesporte betbooprodutos bolivianos.
“Só não te levo lá, porque agora vou dançar”, brinca.
Propriedade privada
Na última década, os moradoresesporte betbooDouglas Rodrigues também enfrentaram uma batalha judicial contra a proprietária do terreno, uma empresa chamada Ideal Empreendimentos Imobiliários SA.
Em maio, o prefeitoesporte betbooSão Paulo, Ricardo Nunes (MBD), assinou um decretoesporte betboodesapropriação da áreaesporte betboo50 mil metros quadrados, abrindo caminho para a regularização fundiária e urbanização do pequeno bairro popular.
A reportagem apurou que a propriedade, declaradaesporte betboo"interesse social" no ano passado, foi avaliadaesporte betbooR$ 7,5 milhões por técnicos da Prefeitura - e o valor deverá ser abatido da dívidaesporte betbooIPTU que a empresa tem com o município.
A Ideal Empreendimentos era uma subsidiária ao grupo Tenório,esporte betbooPernambuco, um conglomerado empresarial com uma dívidaesporte betboocercaesporte betbooR$ 1 bilhãoesporte betbooimpostos com a União, segundo a Receita Federal.
O grupo conseguiu manter a posse do terrenoesporte betboodecisões judiciaisesporte betboovárias instâncias, até que a 33ª Vara Federalesporte betbooPernambuco decidiu colocar o movimentoesporte betboomoradia como fiel depositário da área - essa ação correuesporte betbooparalelo à desapropriação da Prefeituraesporte betbooSão Paulo.
A BBC News Brasil procurou o escritório RPF Advogados, que representa a empresa no processoesporte betbooSão Paulo.
“Agradecemos seu contato, mas, infelizmente, estamos impedidosesporte betboofornecer informações sobre esse caso, por força do estatuto da advocacia", respondeu o escritório.
A reportagem não conseguiu contato com a família que comanda o grupo empresarial.
“Foi a resistência e organizaçãoesporte betboo2 mil famílias engajadasesporte betbooum movimento político que fez a ocupação conseguir com que a área fosse desapropriada", explica Henrique Ollitta, secretário-geral do MIVM.
"Quando tinha pedidoesporte betbooreintegração, a gente levava milharesesporte betboopessoas para a frente do fórum para pressionar o juiz.”
Ao longo dos anos, houve alguns mandados judiciaisesporte betbooreintegração, mas eles nunca foram cumpridos, porque a própria Justiça,esporte betbooacordos com a Defensoria Pública, Prefeitura e Polícia Militar, adiou as ações por temer o impacto socialesporte betbooter 2 mil famílias pobres desalojadasesporte betbooplena Marginal Tietê.
“Nosso movimento foi estratégico ao conversar com todo mundo que pudesse ajudar, sempre com a pauta principal que era a moradia", diz Ollitta, que faz parte dos quadros do PT paulistano.
"Tivemos apoioesporte betbooigrejas evangélicas eesporte betboopadres, falamos com políticosesporte betbooesquerda e direita, com os ex-prefeitos Fernando Haddad e Bruno Covas, e, agora, com Ricardo Nunes.”
Ainda não se sabe se a comunidade passará por obrasesporte betboourbanização, como calçamento das ruas, instalaçãoesporte betbooesgoto e rede elétrica, ou se os moradores terãoesporte betboodesocupar toda a área para a construçãoesporte betboomoradias sociais.
A Prefeitura afirma que “existe um estudo urbano a ser desenvolvido na região que inclui a construçãoesporte betboounidades habitacionais para as famílias que lá estão”, mas não detalhou os planos.
Enquanto esperam o que será feito do bairro, os moradores comemoraram a desapropriação.
“Hoje, estou embaixo do meu teto. É o paraíso”, diz Cosme Correa, saindoesporte betbooseu sobrado para ir à festa boliviana.
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