Dimas, o 'bom ladrão' que virou o primeiro santo do cristianismo:bet365 casino ao vivo

Em ambos, o trecho prossegue citando que o povo e as autoridades passaram a insultar Jesus. E termina ressaltando que “até os bandidos crucificados com ele o injuriavam da mesma forma”.

O evangelhobet365 casino ao vivoLucas é o que traz a descrição mais curiosa sobre a interação que Jesus teria tido com os outros dois condenados.

Após enfatizar que o protagonista da história havia sido crucificado no centro, entre "dois malfeitores", o evangelista também cita as zombarias da população e atébet365 casino ao vivosoldados.

Mas prossegue a narração incluindo os outros dois crucificados.

"Um dos malfeitores crucificados o insultava: 'Não és tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós também!' Mas o outro o repreendeu, dizendo: 'Tu nem sequer tens o temorbet365 casino ao vivoDeus, tu que sofres a mesma pena! Para nós, é justo: nós recebemos o que os nossos atos mereceram; mas ele não fez nadabet365 casino ao vivomal'", diz o trecho.

"E dizia: 'Jesus, lembra-tebet365 casino ao vivomim quando vieres como rei'. Jesus lhe respondeu: 'Em verdade eu te digo, hoje estarás comigo no paraíso'", complementa a passagem do evangelhobet365 casino ao vivoJoão.

Para a tradição cristã, este criminoso acabou sendo classificado como "o bom ladrão".

E tanto a tradição como pesquisasbet365 casino ao vivoalguns evangelhos apócrifos chegaram ao nomebet365 casino ao vivoDimas como sendo a identidade deste cidadão.

O Martirológio Romano, o catálogo dos santos considerados oficiais pelo Vaticano, registra-o como o "santo ladrão, chamado Dimas, segundo a tradição". E o define como aquele "que na cruz professou a fébet365 casino ao vivoCristo e mereceu ouvir dele estas palavras: 'Hoje estarás comigo no paraíso'".

Canonizado pelo próprio Jesus

"A tradição o faz padroeiro dos prisioneiros, condenados e ladrões arrependidos", conta à BBC News Brasil o pesquisador José Luís Lira, fundador da Academia Brasileirabet365 casino ao vivoHagiologia e professor na Universidade Estadual Vale do Acaraú, no Ceará.

Para religiosos e estudiososbet365 casino ao vivohagiologias, ele foi o primeiro santo da história.

"É interessante comparar um processobet365 casino ao vivocanonização com a sagraçãobet365 casino ao vivoSão Dimas", comenta o pesquisador Thiago Maerki, associado da Hagiography Society, dos Estados Unidos.

"Porque ele foi declarado santo pelo próprio Cristo, foi Cristo quem o canonizou. Seguindo essa linha eclesiológica, embora não tenha sido uma canonização nos moldes convencionais,bet365 casino ao vivosagração seriabet365 casino ao vivocausar inveja a qualquer santo, a qualquer cristão", acrescenta ele.

"Mesmo sendo a inveja um sentimento não aceitável para um cristão, estou falando sóbet365 casino ao vivobrincadeira. Mas ser declarado pelo próprio Jesus é uma coisa única. E São Dimas recebeu isso."

Lira concorda que "a pessoa representada no nomebet365 casino ao vivoDimas" deve ser considerada o primeiro santo da história.

"É o bom ladrão. Uma das testemunhas do sacrifício maiorbet365 casino ao vivoJesus, a crucificação", diz.

"Ele pediu a Jesus que se lembrasse dele quando estivesse no paraíso e Jesus confirmou que ainda naquele dia ele estaria 'comigo no paraíso'. Podemos dizer que o próprio Cristo o canonizou, o elegeu, levando-o consigo ao seu reino."

Saber quembet365 casino ao vivofato foi Dimas e se ele existiu mesmo envolve cruzar informaçõesbet365 casino ao vivoduas fontes:bet365 casino ao vivoum lado, os textos apócrifos que falam um pouco sobre ele — considerando, é claro, que neles é difícil saber onde acabam os fatos e começam os mitos;bet365 casino ao vivooutro, o que se sabe sobre a prática da crucificação na Roma antiga.

Nos apócrifos

"Os evangelhos canônicos não registram seu nome. Somente a tradição e os apócrifos e, a partir dos apócrifos tem muitas histórias sobre ele, mas carecembet365 casino ao vivocomprovação", ressalva Lira.

"Ele não foi discípulo nem apóstolobet365 casino ao vivoJesus, contudo, na hora áureabet365 casino ao vivoque Jesus disse 'tudo está consumado', ele estava ali bem próximo e, ao contrário do outro crucificado que pedia a Jesus para livrar-lhe da morte, ele pediu a salvação, diríamos, a melhor parte, no que foi atendido pelo próprio Deus filho,bet365 casino ao vivoimediato."

Considerando os quatro evangelhos canônicos, é curioso o fatobet365 casino ao vivoque a menção aos dois ladrões não é equivalente.

"Em Marcos ebet365 casino ao vivoMateus, dois criminosos foram crucificados com Jesus e ambos o ultrajaram e o insultaram. Diferentemente daquilo narradobet365 casino ao vivoLucas,bet365 casino ao vivoque um deles [o que seria Dimas] o defendeu", compara Maerki.

"Já João fala sobre duas pessoas que foram crucificadas com Jesus, mas não faz qualquer menção aos insultos."

O mais antigo registrobet365 casino ao vivoque se tem conhecimento do nome do bom ladrão remonta ao século IV. Está no Evangelhobet365 casino ao vivoNicodemos. Ali são apresentados Dimas e também o mau ladrão, Gestas.

"Na verdade, nesse texto ele é chamadobet365 casino ao vivoDisma", atenta Maerki, ressaltando que outras tradições cristãs conferem a ele outros nomes, como Demas, para os coptas, e Rakh, para os ortodoxos russos.

Nesse evangelho, há inclusive menções aos crimes cometidos por ele.

"Diz-se que ele era originário da Galileia e que lá era donobet365 casino ao vivouma pousada", complementa o pesquisador.

"Ele atacava os ricos, mas se preocupava com os pobres, favorecia os pobres, seria uma espéciebet365 casino ao vivoRobin Hood cristão."

"No chamado Evangelho Árabe da Infânciabet365 casino ao vivoJesus ele é Tito e o outro ladrão, Dímaco", conta Maerki, citando o texto apócrifo do século 6.

Neste documento, aliás, está a mais curiosa narrativa incluindo os dois companheirosbet365 casino ao vivoexecuçãobet365 casino ao vivoJesus.

"Ele [o evangelho] diz que Tito e Dímaco, juntamente a outros ladrões do seu bando, teriam tentado roubar Maria e José [os paisbet365 casino ao vivoJesus], durante a fuga para o Egito [episódio ocorrido logo após que Jesus nasceu, segundo o evangelhobet365 casino ao vivoMateus], mas Tito impediu que isso acontecesse, o que configuraria um prenúnciobet365 casino ao vivoque ele era um homem que se tornaria santo", conta o pesquisador.

Segundo a narrativa, o então bebê Jesus teria visto os bandidos e profetizado que, 30 anos mais tarde, os três morreriam juntos, condenados à execução na cruz.

Maerki enfatiza que, conforme esse texto, Jesus teria dito que Tito o "precederia no paraíso".

"Isso é muito interessante", comenta ele.

Crucificação

É preciso lembrar, contudo, que a crucificaçãobet365 casino ao vivoJesus, seja ao ladobet365 casino ao vivooutros dois considerados criminosos, sejabet365 casino ao vivooutra configuração, não foi uma exceção. Era o modus operandi condenatório da Roma antiga.

"Crucificar alguém era uma decisão do Estado", frisa à BBC News Brasil o historiador André Leonardo Chevitarese, professor do Institutobet365 casino ao vivoHistória da Universidade Federal do Riobet365 casino ao vivoJaneiro (UFRJ) e autor de, entre outros livros, Jesusbet365 casino ao vivoNazaré: o que a história tem a dizer sobre ele.

Este ponto é importante porque, segundo o pesquisador, promove uma leitura que aceita a ideiabet365 casino ao vivoque Jesus tenha sido executado na companhiabet365 casino ao vivooutros dois.

"A prática das crucificações culminou com a execuçãobet365 casino ao vivo6 mil escravos ao longo da Via Ápia. A médiabet365 casino ao vivocrucificações na guerra judaico-romana erabet365 casino ao vivo500 pessoas por dia. Então, a ideiabet365 casino ao vivotrês indivíduos crucificados simultaneamente não é estranha, fazia parte da rotina", pondera.

O pesquisador diz que, partindo dos relatos tanto dos evangelhos canônicos quanto dos apócrifos, é possível entender que aqueles três condenados, inclusive Jesus, eram na verdade "bons ladrões".

"Todos foram crucificados sob o argumentobet365 casino ao vivoque eram 'bandidos sociais', ou seja, ao estilobet365 casino ao vivoLampião ebet365 casino ao vivotantos outros."

Para Chevitarese, se há um problema histórico na menção aos outros dois condenados, isto não reside no fatobet365 casino ao vivohaver ou não crucificações coletivas.

Mas sim no pontobet365 casino ao vivoque a menção ao númerobet365 casino ao vivotrês condenados só aparecebet365 casino ao vivonarrativas da segunda metade do século I, ou seja, muito após a mortebet365 casino ao vivoJesus.

"Paulo [cujas cartas são os textos mais antigos, cronologicamente, do Novo Testamento], que escreveu nos anos 50 [do primeiro século], não faz menção a dois outros indivíduos crucificados com Jesus. Ele apenas diz que Jesus havia sido crucificado", salienta o historiador.

Um trio na cruz

"Não estou dizendo que historicamente aquele fato se deu ou não, mas estou dizendo que historicamente o Estado romano podia, sim, crucificar, um indivíduo, três indivíduos, cinco ou dez ou 6 mil", comenta.

Mas quando o olhar se detém minuciosamente nos textos sagrados há discrepâncias e incongruências que botambet365 casino ao vivoxeque a própria existênciabet365 casino ao vivoSão Dimas. "É quando [a autoridade] Pilatos argumenta que faz parte da tradição romana libertar um prisioneiro durante o diabet365 casino ao vivofesta, à épocabet365 casino ao vivofesta", atenta Chevitarese, ressaltando que tal "costume" não encontra endossobet365 casino ao vivooutros documentos antigos.

Na sequência dessa narrativa, são apresentados à multidão Jesus e outro condenado, Barrabás, para que o escrutínio popular escolhesse qual dos dois deveria ser executado e qual ganharia a absolvição. "Este é pontobet365 casino ao vivopartida", diz Chevitarese.

"Atente para o fatobet365 casino ao vivoque só dois foram chamados para essa escolha, os outros dois [supostamente mortos ao ladobet365 casino ao vivoJesus] não foram chamados. Há, portanto, uma incongruência."

A figurabet365 casino ao vivoBarrabás, o bandido libertado depois da a popular, é ainda mais difícilbet365 casino ao vivoser confirmada.

"Nunca encontramos qualquer vestígio ou indíciobet365 casino ao vivoque era da tradição romana libertar um prisioneirobet365 casino ao vivoépocabet365 casino ao vivofesta,bet365 casino ao vivoqualquer província romana", salienta.

"Se existiam quatro prisioneiros, Jesus, Barrabás, Dimas e o outro bandido social, por que eles todos não foram perfilados um ao lado do outro,bet365 casino ao vivomodo que o povo pudesse escolher?", questiona o pesquisador.

"Talvez porque nunca tenha existidobet365 casino ao vivofato essa cena. Um crucificado indo parar diantebet365 casino ao vivoalguém como Pilatos, uma autoridade como Pilatos perdendo tempo com esses caras… Isso é pura ficção."

Para Chevitarese, essa passagem "não tem nadabet365 casino ao vivohistória", mas sim é "um discurso antissemita, o momentobet365 casino ao vivoque se constrói a narrativabet365 casino ao vivoquebet365 casino ao vivoum lado está Jesus,bet365 casino ao vivooutro Barrabás, o povo judaico". "Nessa passagem está a ideiabet365 casino ao vivoque os judeus mataram o próprio Deus. E daí para a frente é só ladeira abaixo", argumenta.

Considerando tudo isso, o historiador explica que, no âmbito das narrativas neotestamentárias, “quando ocorrebet365 casino ao vivose deparar com um personagem cuja menção não trazbet365 casino ao vivohistória pregressa, tampoucobet365 casino ao vivohistória após do fato que justificabet365 casino ao vivoinserção no texto, a probabilidadebet365 casino ao vivoele ser um personagem meramente literário é gigantesca".

"Dimas é exatamente isso. Seu nome já é tradição pura. Essa figura, a ideia do bom e do mau ladrão, é literatura, não tem fundo histórico, não tem nada. A ideia é mostrar que até o último segundo Deus tem o poderbet365 casino ao vivosalvar o pecador", contextualiza Chevitarese.

Última conversa

Tudo isso precisa ser levadobet365 casino ao vivoconta. Mas considerando que os crucificados sofriam dor e humilhação descomunais, faz sentido imaginar que Jesus tenha conseguido interagir minimamente com dois colegas?

"Eles [os crucificados] estavam cheiosbet365 casino ao vivodores, cãibras, sensações horrorosas, dificuldadesbet365 casino ao vivorespiração, enfrentando a voracidadebet365 casino ao vivoavesbet365 casino ao vivorapina. Era um tortura absolutamente violenta, os caras estavam quebrados", diz o historiador.

Mas, neste caso, há um certo lastro histórico para tal comportamento. Chevitarese lembra dos relatos do historiador Flávio Josefo (37-100). Há uma passagembet365 casino ao vivoque, quando Josefo andava por uma áreabet365 casino ao vivoque havia um enorme grupobet365 casino ao vivocrucificados, acabou intercedendo para que trêsbet365 casino ao vivoseu amigos fossem libertados. Corria o anobet365 casino ao vivo69. As autoridades atenderam ao seu pedido.

"Então, por mais macabra que possa ter sido essa conversa, houve uma conversa entre Josefo e seus amigos que estavam sofrendo sob a cruz", afirma o historiador.

Chevitarese também lembra que esse tipobet365 casino ao vivocomportamento poderia ser observado "ao menos no início das torturas", quando os condenados estariam "lastimando ali suas horas finaisbet365 casino ao vivovida". "E isso não seriabet365 casino ao vivotodo estranho,bet365 casino ao vivotodo absurdo", concorda