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Por que África volta a viver ondagolpes militares:
Porém, mesmo que o próprio Bongo estivesse despreparado para um golpe, talvez a África e o mundo não devessem estar tão surpresos assim.
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A quedaBazoum no Níger,26julho, serviu como um amplo avisoque a “epidemia golpista” na África Ocidental e Central ainda não tinha chegado ao fim.
Em janeiro do ano passado, o presidenteBurkina Faso, Roch Marc Christian Kaboré, foi deposto pelos soldados — cujo líder foi destronado por militaresbaixa patente apenas oito meses depois,setembro2022.
Antes disso, o ano2021 foi marcado por outros dois golpesEstado na África Ocidental.
Em maio, o coronel Assimi Goïta, líderum primeiro golpe militar no Mali, organizou um segundo golpe para reafirmar o próprio poder.
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Em setembro2021, as forças especiais da Guiné abriram caminho até ao palácio Sékhoutouréyah,Conacri, para deter o presidente Alpha Condé.
E não devemos nos esquecer do Chade, onde um conselho militar agiu para garantir a posse do filhoIdriss Déby Itno, morto numa batalhaabril, para dar continuidade ao regimelonga data que controla o país.
Mas por que isso está acontecendo na África Ocidental e Central — e nas antigas colônias francesasparticular?
Há seis anos, a partida para o exílio do político gambiano Yahya Jammeh, derrotado numa eleição, deixou todos os países da África Ocidental sob regimes constitucionais multipartidários.
No centro do continente, sobreviveram alguns regimes autoritários, mas a era das conquistas militares parecia ter passado há tempos.
No entanto, os últimos três anos foram marcados por sete golpesEstadocinco países — além da tomada do poder por militares fortemente armados no Chade.
Existem fatores comuns que criaram as condições para que os soldados sentissem que poderiam intervir com relativa impunidade e, muitas vezes, com o apoiouma grande fatia da população urbana, especialmentejovens frustrados com a atual situaçãoseus países.
Em grande parte da África Ocidental e Central, os cidadãos mais jovens ficaram amplamente desencantados com a classe política tradicional, mesmo com aqueles que foram legitimamente eleitos para os cargos públicos.
Esta desilusão é alimentada por uma sériequestões — a escassezempregos e atéoportunidades econômicas informais, tanto para quem tem diploma como para os menos instruídos, a percepçãoelevados níveiscorrupção eprivilégios entre a elite, bem como o ressentimento face à influência persistente da França na economia local.
Mas há também um profundo ressentimento pela forma como muitos governantes civis manipulam os processos eleitorais ou as regras constitucionais para prolongar a permanência no poder. A eliminação dos limites do mandato presidencial — após alterações controversas nas constituições — é uma fontesentimentos mais intensos.
E tais abusos também minam a autoridade moralorganismos como a União Africana — ou a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), muitas vezes rotulada como um "clube dos presidentesexercício" — na tentativaforçar os líderes golpistas a restaurar um governo civil eleito.
O bloco regional centro-africano ao qual o Gabão pertence nem sequer tem pretensões sériasestabelecer ou manter padrõesgovernançatodos os Estados-membros.
Mas, embora todos estes fatores criem um climaque os soldados se sentem cada vez mais encorajados a tomar o poder sob a alegaçãoum “novo começo”, cada golpe também foi impulsionado por motivações nacionais ou regionais estreitas — e a tomadapoder no Gabão não é uma exceção à regra.
Muitos gaboneses estavam céticos quanto à decisãoBongoconcorrer a um terceiro mandato. Ele chegou ao poder pela primeira vezeleições há 14 anos, após a morte do seu pai, Omar Bongo, que monopolizou a presidência durante mais40 anos.
Havia também sérias dúvidas sobre a capacidade dele exercer uma liderança eficaz, uma vez que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC)outubro2018.
O governo do presidente deposto promoveu sérios esforços para modernizar a máquina governamental, diversificar a economia e combater a desigualdade social — e recebeu elogios internacionais pelos esforços proativos e inovadores para proteger as florestas tropicais e a rica biodiversidade do Gabão. Também houve algumas concessões à oposição política.
Mas o dinamismo da reforma desvaneceu-se gradualmente, enquanto o regime se revelou,última análise, pouco disposto a expor-se a sérios desafios eleitorais.
Na verdade, desde o início, a legitimidade e a posição políticaBongo foram minadas pela condução opaca das eleições que levaram Bongo ao poder2009.
Muitas pessoas pensaram que André Mba Obame, o principal rival eleitoral, tenha sido provavelmente o verdadeiro vencedor.
Quando Bongo se candidatou à reeleição2016, numa disputa acirrada contra o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Jean Ping, só obteve uma vitória estreita após a contagem dos votos oficiais da regiãoHaut Ogooué — o feudo político da família Bongo —, onde ele registrou um número inacreditavelmente enormevotos.
No entanto, os registros das assembleias eleitorais foram destruídos antes que pudessem ser verificados por observadores independentes.
Nas últimas eleições, Bongo foi declarado vencedor com 64% dos votos. Ele não permitiu que quaisquer instituições internacionais monitorizassem a votação, e a oposição classificou o resultado como "fraudulento".
Os militares finalmente intervieram, dizendo que a eleição "não cumpriu as condições para uma votação transparente, crível e inclusiva como esperado pelo povo do Gabão".
Muitos gaboneses saudaram o golpe, mas o fato levanta novos receios sobre o futuro da democraciamuitos países da África Ocidental e Central.
*Paul Melly é consultor do Programa África no think tankpolítica internacional Chatham House, sediadoLondres.
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