VitóriaNunes consagra 'direita da máquina' e cacifa Tarcísio:
O prefeito tinha a legitimidade no Executivo questionada pela oposição nunca ter sido eleitoum pleito majoritário — o que muda com a votação que obteve nas eleições municipais deste ano.
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Durante a campanha, o prefeito reeleito desviouacusaçõescorrupção e apostouum discurso que mesclou conservadorismo com pragmatismo administrativo.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil destacam a influência da máquina pública para a vitória nestas eleições e o fortalecimentoTarcísioFreitas (Republicanos), que sai chancelado como articulador político e um nome possível para disputa presidencial2026.
'Direita da máquina' x 'direita das redes'
No ano que três candidatos chegaram empatados no fim do primeiro turno, a vitóriaNunes evidencia que, apesar do crescimento da "direita digital" representada por Marçal, a política tradicional mantémforça. É o que analisa Hannah Maruci, doutoraCiência Política pela USP.
"A máquina importa, o tempoTV ainda importa", diz. "Quando o candidato que já está no cargo vai para o segundo turno, é muito difícil para outro candidato ganhar", diz a pesquisadora.
O resultado na capital paulista mostra uma redução da polarização, diz Eduardo Grin, professorCiência Política na Fundação Getúlio Vargas (FGV).
"A gente esperava uma reprodução na esfera local do que foi [as eleições presidenciais de] 2022, a polarização entre o lulismo e o bolsonarismo. E isso não aconteceu", afirma o professor.
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Para ele, essa polarização não aconteceu pelo fatoLula e Bolsonaro terem altas rejeições na cidade e participarem das campanhasmaneira tímida.
"Lula tinha limites para entrar na campanha, porque vários partidos que estão apoiando o Nunes estão nabaseapoio no Congresso Nacional e isso poderia gerar indisposições com o próprio MDB ou com União Brasil, por exemplo. E Bolsonaro não entrou na campanha porque ele sabia que isso significaria carregardesgastes diretos", diz.
Maruci pondera que o resultado não significa que o fim da polarização.
"O MDB é um partido não ideológico e o bolsonarismo nunca teve uma associação a um partido. Tanto é que Bolsonaro mudapartido inúmeras vezes. E o próprio Boulos foi alvo desse antipetismo também, embora ele não seja do PT. Então ainda estamos falandoduas forças antagonistas", pontua.
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Mas algo é consenso entre os analistas políticos ouvidos pela reportagem: TarcísioFreitas sai destas eleições fortalecido.
No segundo turno, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o atual governadorSão Paulo e o prefeito reeleito almoçaram e fizeram campanha juntos — mas o grande fiador político da campanha do candidato do MDB foi o governador.
Antesencontrar Bolsonaro, Nunes destacou o apoio do "grande amigo e irmão" Tarcísio, que esteve "ombro a ombro" comcampanha.
"Ele é uma grande referência nossa. Foi fazer caminhada com a gente, reunião, foi convocar pessoas para a nossa campanha. Agradeço muito ao governador Tarcísio por tudo", disse.
Enquanto o ex-presidente hesitouapoiar abertamente Nunes no primeiro turno, já que o prefeito causou controvérsia nas redes sociais bolsonaristas por não ser um aliado "raiz", foi Tarcísio quem garantiu sustentação ao prefeito e se mostrou um padrinho confiável e entroucabeça na campanha.
Neste domingo, o governador afirmou sem provas que a facção criminosa PCC orientou votoBoulos na capital paulista. A declaração foi feita no localvotaçãoTarcísio, na zona sulSão Paulo.
O candidato do PSOL classificou a declaração como “irresponsável e mentirosa”. “Este é o laudo falso do segundo turno”, disse Boulos,referência à publicaçãoum atestado médico falso por Marçal às vésperas do segundo turno.
Para Eduardo Grin, ele demonstrou capacidade própriaarticulação política e um nome forte para 2026.
"O apoioTarcísio para o Ricardo Nunes mostra que, politicamente falando, o governador não é mais uma liderança tão dependente quanto foiBolsonaro", analisa.
"Ele adquiriu voos próprios, começou muito apoiado pelo Gilberto Kassab, que vem tentando moderar ou polir a imagem como alguém que é um político não bolsonarista."
O cientista político destaca uma derrotaBolsonaro nestas eleições. Isso porque o ex-presidente viu o campo da direita radical se fragmentar einfluência como cabo eleitoral ser posta à prova.
Ivan Fernandes, professorPolíticas Públicas da Universidade Federal do ABC (UFABC), destaca a tentativa do governadortentar caminhar para o centro e se desligar,um primeiro momento,alas radicais do bolsonarismo.
O professor da UFABC diz que o governador "nunca foi uma figura super radical" e lembra e sempre foi alguém que conseguiu transitar.
"Mesmo que não sendo um cargoalto escalão, ele fez parte do governo Dilma e continuou durante o governo Bolsonaro. Ele já teve posturas excessivamente truculentas e podemos discutir até a atuação dele como governador, mas não como ator político."
Possíveis caminhos da direita2026
O pleito paulistano dá pistaspossíveis cenários para 2026.
"É muito provável que um racha à direita, com o Bolsonaro sendo ou não candidato2026, continue", projeta Grin.
Ele diz que a vitóriaNunes mostra a força da "política profissional", simbolizada na figuraGilberto Kassab, presidente nacional do PSD e que apoiou a campanhaNunes.
"Estamos lidando com um grande empresário da política, como o Kassab, que entendeu uma coisa muito importante dessa eleição: candidaturas que não caminharem no sentidogerar grandes coalizõesapoio, a exemplo do João CamposRecife ou do Eduardo Paes no RioJaneiro, estarão fadadas a serem derrotadas eleitoralmente", afirma.
"Quando o Valdemar Costa Neto, um profissional da política, fala que não quer o bolsonarismo mandando no PL, ou Lula afirma que ele quer fazer alianças com a centro-direita, qual é a conclusão que temoscomum? Todos entenderam que tem que fazer arcosalianças mais amplos para terem chancesvitória2026."
O cientista político, no entanto, diz que não é correto dizer que o centro prevaleceu sobre os extremos.
"Não tem centro nenhum. União Brasil, Republicanos, as próprias várias alas do PSD são partidosdireita. O que prevaleceu foi outra lógica. Esses partidos, turbinados com muito dinheiro do fundo eleitoral evários tiposemendas que vieram do Congresso, ajudaram a atingir uma taxaadesãoprefeitos como nunca houve antes."
Ivan Fernandes também afirma que a eleição municipal acena para novos nomes na direita.
"Ao longo30 anosdemocracia, na esquerda você não consegue se consolidar sem o apoio do Lula. Na direita, o mesmo acontecia com Bolsonaro. Agora, há indícios que é possível alguém se viabilizar sem o apoio do bolsonarismo."
O futuroNunes
O perfil dos vereadores eleitos neste ano mostra que a gestão do MDB deve ter governabilidade: os partidos da coligaçãoNunes terão 36 dos 55 cadeiras a partir do próximo ano.
Ou seja, os aliados do atual prefeito formam 65% da Câmara Municipal, o deve facilitar a aprovaçãoprojetos enviados pelo prefeito.
Por isso, Eduardo Grin diz que Nunes não encontrará dificuldades para governar.
Quanto ao futuro político do prefeito reeleito, Ivan Fernandes acredita que Nunes deve seguir trajetória semelhante àGilberto Kassab.
"Não acredito que ele vá ser candidato ao governo estadual. O Tarcísio precisaria viabilizar o sucessor, mas acho que Nunes não é este nome. Meu palpite é que ele seguirá o percurso do Kassab", diz.
"Ele tem um partido forte, vai se fortalecer ainda mais que são seis anosgestãoSão Paulo, o que lhe dá um orçamento enorme para criar suas redesapoio eclientela política."
Fernandes projeta que os próximos quatro anosgestão Nunes serão marcados pela continuidadesuas políticas: forte diálogo com construtoras e parceriaspolíticas com o governoseu agora padrinho, TarcísioFreitas.