A adolescente que sobreviveu a quedavasco e pixbetavião destruído por raio a 3 kmvasco e pixbetaltura:vasco e pixbet

Juliane desembarcando no aeroportovasco e pixbetFrankfurtvasco e pixbet7vasco e pixbetabrilvasco e pixbet1972

Crédito, AP

Legenda da foto, Pouco maisvasco e pixbettrês meses após o acidente, Juliane Koepcke, ainda com 17 anos, desembarcou pela primeira vez na terravasco e pixbetseus pais, a Alemanha, onde foi recebida com grande interesse pela mídia

Ela caiu do céu, literalmente, presavasco e pixbetum assentovasco e pixbetum avião que se desintegrouvasco e pixbetpleno ar, a 3 mil metrosvasco e pixbetaltura.

Assim começou a incrível aventuravasco e pixbetuma adolescente que sobreviveu não apenas ao acidentevasco e pixbetavião e à enorme queda, como também a uma perigosa jornadavasco e pixbetvários dias pela selva amazônica.

Esse caso, ocorrido no início dos anos 1970 no Peru, é contadovasco e pixbetum episódio da terceira temporada do podcast Que História!, da BBC News Brasil. Ele pode pode ser ouvido nas principais plataformasvasco e pixbetpodcast, como Spotify e Apple Podcasts, e no canal da BBC News Brasil no YouTube.

LANSA Lockheed L-188A Electra

Crédito, Clint Groves/ Wiki Commons

Legenda da foto, O avião da Lansa era igual a esse da foto; o acidente foi tido como um dos mais graves causados por um raio na história da aviação

O voo 508 da companhia aérea peruana Lansa partiuvasco e pixbetLima pouco antes do meio-dia do dia 24vasco e pixbetdezembrovasco e pixbet1971vasco e pixbetdireção a Iquitos, no interior do Peru.

À bordo estava a germano-peruana Juliane Koepcke, estudantevasco e pixbet17 anos, filhavasco e pixbetzoólogos, viajando com a mãe para passarem o Natal com o paivasco e pixbetuma estaçãovasco e pixbetpesquisa na selva amazônica perto da cidadevasco e pixbetPucallpa, a primeira escala desse voo.

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"Os passageiros estavam bem irritados porque o voo estava 7 horas atrasado, mas isso era normal no Peru. Mas quando entramos no avião, tudo parecia estar bem", contou Juliane ao programa Outlook da BBCvasco e pixbet2012.

"Trinta minutos após a decolagem nos serviram um sanduíche, um lanchezinho, e,vasco e pixbetrepente, entramosvasco e pixbetnuvens muito pesadas e escuras. As nuvens cobriram o avião alguns minutos depois. Estávamos no meiovasco e pixbetuma tempestade muito, muito forte."

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"O avião estava pulando para cima e para baixo. A turbulência era muito, muito forte. Estava muito escuro ao nosso redor. E víamos relâmpagos ao redor do avião. Eu e minha mãe estávamos segurando as mãos uma da outra, completamente mudas."

"Passageiros começaram a chorar e a gritar. E os bagageirosvasco e pixbetcima dos passageiros se abriram e tudo começou a cair. Pacotes, presentes, flores, bolosvasco e pixbetNatal… "

"Depoisvasco e pixbetcercavasco e pixbet10 minutos ou um pouco mais no meio dessa tempestade, vi uma luz muito, muito brilhante no motor externo direito da aeronave. E naquele momento minha mãe disse com muita calma: ‘é o fim, agora está tudo acabado’. E essas foram as últimas palavras que ouvi dela."

"A partir daquele momento tudo aconteceu muito, muito rapidamente. O avião deu um salto e começou a cair. E eu me lembro até hoje das pessoas gritando desesperadamente. Estava escuro como breu ao nosso redor, e eu ouvia o rugido dos motores do aviãovasco e pixbetqueda livre."

"Foi um barulho que encheu minha cabeça completamente. E então,vasco e pixbetum momento para o outro, tudo isso acabou, tudo isso parou. E eu estava fora do avião.

O avião, um Electravasco e pixbet4 motores à hélice, com 91 pessoas a bordo, fora atingido por um relâmpago e se partiuvasco e pixbetpedaços a 3 mil metrosvasco e pixbetaltura. Juliane, que estava sentada ao lado da janela no lado direito do avião,vasco e pixbetrepente se viuvasco e pixbetqueda livre, presa no assento triplo.

"Lembro claramente que me senti completamente sozinha naquele momento,vasco e pixbetqueda livre. Estava presa pelo cintovasco e pixbetsegurança ao banco,vasco e pixbetcabeça para baixo. E me lembro do sussurro do vento. Foi o único barulho que notei. Eu vi a copa da selva girando abaixovasco e pixbetmim. E então, perdi a consciência."

Floresta Amazônica peruana

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Juliane passara um ano e meio com os paisvasco e pixbetuma estaçãovasco e pixbetpesquisa biológicavasco e pixbetplena floresta, e tinha uma ideiavasco e pixbetcomo se comportar para sobreviver na selva

Juliane acordou na manhã seguintevasco e pixbetplena selva amazônica. Ela sobrevivera a uma queda livrevasco e pixbet3 mil metros. Especialistas mais tarde especularam que o assento triplo, ao qual ela estava presa, deve ter funcionado com uma espécievasco e pixbetparaquedasvasco e pixbetmeio a correntes ascendentesvasco e pixbetar provocadas pela forte tempestade. E a queda foi amortecida pelas copas das árvores.

Mas ela não sobreviveu ilesa. Sofrera uma concussão grave, tinha quebrado a clavícula, rompido o ligamentovasco e pixbetum dos joelhos, tinha cortes, alguns profundos, nas pernas e nos braços.

"Eu estava bem tonta e não conseguia ficarvasco e pixbetpé. Rastejei pelo chão e tentei procurar minha mãe. Griteivasco e pixbetespanhol,vasco e pixbetalemão e tambémvasco e pixbetinglês. E só ouvia as vozes da selva. Não achei ninguém. Eu estava completamente sozinha. Foi uma sensação bem desesperadora."

Por sorte, Juliane passara um ano e meio com os pais na pequena estaçãovasco e pixbet pesquisa biológica Panguana fundada por eles para estudarem a biodiversidade da flora e da fauna da região. Ou seja, ela tinha uma ideiavasco e pixbetcomo se comportar para sobreviver na selva.

Machucada, usando apenas um minivestidovasco e pixbetverão sem mangas e a sandália do pé esquerdo - porque tinha perdido a outra - ela seguiu andando pela floresta.

Ela contou que ouviu, alguma vezes, o barulhovasco e pixbetaviões sobrevoando a selva, que provavelmente estavam à procura da aeronave perdida, mas que ela não tinha como chamar a atenção deles.

"É uma floresta muito densa. Foi desesperador. Não tinha como ser avistada por eles. E eles não conseguiram detectar nenhuma parte do avião porque ele se espatifouvasco e pixbetvários pedaços e desapareceu sem deixar vestígios."

"Era a estaçãovasco e pixbetchuvas e chovia muito,vasco e pixbetdia e à noite. E eu sozinha apenas com aquele vestidinho…De dia era muto quente, fazia 40 graus Celsius, evasco e pixbetnoite fazia frio. Eu sentia muito frio."

Juliane Koepcke na selva peruana ao ladovasco e pixbetdestroços do avião

Crédito, Werner Herzog Film/BBC

Legenda da foto, Juliane Koepcke revisitou, maisvasco e pixbetduas décadas depois, o local do acidente na selva amazônica peruana

Juliane seguiu andando pela floresta, se alimentando apenas das balas e doces que encontraravasco e pixbetum saco plástico pertovasco e pixbetonde tinha caído. Esses doces duraram 4 dias. Nos sete dias seguintes ela não tinha o que comer. Por outro lado, tinha bastante água, pois passou a seguir a beiravasco e pixbetum riacho que encontrou pelo caminho.

"Eu estava andando na beira desse riacho que havia encontrado evasco e pixbetrepente, no quarto dia, ouvi o barulhovasco e pixbetum urubu-rei pousando. Eu conhecia aquele barulho, da estaçãovasco e pixbetpesquisa dos meus pais. Fiquei bastante apreensiva, porque sabia que eles só pousam quando há muita carniça."

"E numa pequena curva do riacho encontrei um assento triplo do avião, encravado no chão. O impacto com o solo foi tão forte que abriu um buracovasco e pixbetquase 1 metro. Os três passageiros sentados ali morreram imediatamente, o quevasco e pixbetcerta forma foi um alívio - achei que pelo menos eles não tinham sofrido. Mas foi a primeira vez na vida que vi cadáveres. Não sabia o que fazer. Fiquei paralisadavasco e pixbetpânico."

Os dias foram passando, e a fome, aumentando. Sem comida, Juliane foi ficando cada vez mais fraca. No décimo dia, ela mal conseguia andar.

"Eu estava muito fraca. Não conseguia ficarvasco e pixbetpé. Encontrei um rio maior, que passei a seguir. Mas era difícil para mim andar normalmente à beira desse rio. Eu estava muito, muito fraca e desesperada, me sentindo muito sozinha. Me sentia num universo paralelo, longevasco e pixbetqualquer ser humano. Por muito pouco eu não desistivasco e pixbetseguirvasco e pixbetfrente."

"Eu estava procurando um local onde pudesse passar a noite, um local protegido, uma raizvasco e pixbetárvore grande, ou uma encosta. E olhandovasco e pixbetvolta,vasco e pixbetrepente vi, preso na beira do rio, um barco. Mal conseguia acreditar, achei que já estava louca, tendo alucinações. Foi como uma injeçãovasco e pixbetadrenalina. Me aproximei do barco, toquei nele e vi que era real. Foi um momento incrível para mim."

"Ao lado do barco, na beira do rio, havia um pequeno caminho entrando na selva e subindo uma encosta, que tive grande dificuldadevasco e pixbetsubir, porque estava muito fraca. Mas finalmente consegui e encontrei uma cabana com telhadovasco e pixbetfolhavasco e pixbetpalmeiras, no típico estilovasco e pixbethabitação indígena. Lá estava o motorvasco e pixbetpopa daquele barco, um barril vazio e nada mais. Resolvi passar a noite ali. Já estava muito escuro."

"Eu tinha uma ferida no braço direito que estava infectada com larvas. Elas já estavam crescidas, com cercavasco e pixbetum centímetrovasco e pixbetcomprimento. Eu lembrei que nosso cachorro teve uma infecção dessas na nossa estaçãovasco e pixbetpesquisas e que meu pai colocou querosene nela. E conseguiu, assim, tirar os vermes da perna do cachorro. Me lembrei disso e resolvi abrir o tanque do motorvasco e pixbetpopa. Foi difícil, mas depoisvasco e pixbetum certo tempo eu consegui. Havia ali um pequeno tubo, que usei para chupar a gasolina. Pus ela na ferida, foi uma dor fortíssima. Mas os vermes finalmente saíram da ferida - consegui tirar cercavasco e pixbet30 larvas. E fiquei bastante orgulhosa disso."

Werner Herzog e Juliane Koepcke

Crédito, Werner Herzog Film/BBC

Legenda da foto, Juliane Koepcke refez o trajeto na selva amazônica peruanavasco e pixbetum documentário lançadovasco e pixbet1998 pelo cineasta Werner Herzog, que por muito pouco não embarcara no mesmo voo fatídicovasco e pixbet1971

No dia seguinte, choveu muito e Juliane resolveu ficar na cabana.

"No final da tarde,vasco e pixbetrepente, ouvi vozesvasco e pixbethomens conversando. Foi como ouvir as vozesvasco e pixbetanjos. Foi um dos momentos mais intensos que já passei."

"Eles pararam alarmados quando me viram. Num primeiro momento, acho que pensaram que eu era uma espécievasco e pixbetdeusa da água e não souberam o que dizer. Mas felizmente falo bem espanhol e me apresentei a eles. Contei que era passageira do avião da Lansa que caiu e aí eles se aproximaram. Mais dois homens saíram da floresta e eram cinco ao todo, todos pescadores. Eles trataram minhas feridas e me deram comida. E no dia seguinte, bem cedo pela manhã, me levaramvasco e pixbetvolta à civilização."

De barco, o grupo viajou por várias horas até um assentamento. De lá, Juliane foi levadavasco e pixbetavião a um hospitalvasco e pixbetPucallpa, onde recebeu tratamento e se encontrou com seu pai.

Alguns dias depois, o pai foi chamado para identificar o corpovasco e pixbetsua mulher, mãevasco e pixbetJuliane. Todos os corpos, 90 ao todo,vasco e pixbetpassageiros e tripulantes, foram encontrados na floresta, com ajudavasco e pixbetinformações fornecidas por Juliane. No resgate, foi constatado que 14 pessoas ainda estavam vivas após a queda do avião, mas morreram por causavasco e pixbetseus ferimentos.

As autoridades concluíram que o acidente foi causado por erro humano. Que se o piloto tivesse seguido o protocolo para situações como a enfrentada pelo avião, teria retornado ao aeroportovasco e pixbetLima. E que o fatovasco e pixbeto avião estar levando pessoas para passarem o Natal com entes queridos pode ter pesado na decisão do pilotovasco e pixbetenfrentar a tempestade.

Maisvasco e pixbetvinte anos depois, Juliane acabaria visitando o local do acidente e refazendo o trajetovasco e pixbetdez dias que percorreu na Floresta Amazônica junto com o cineasta alemão Werner Herzog.

Por muito pouco que este não tinha embarcado no mesmo voo fatídico, quando estava pesquisando locações para o filme Aguirre, a Cólera dos Deuses. Por isso, quis fazer o documentário sobre o calváriovasco e pixbetJuliane, que acabou sendo chamadovasco e pixbetAsas da Esperança.

"Primeiro eu me recusei a participar", contou Juliane, "porque não sabia como isso me afetaria. Mas depois eu topei, achei que seria um passo importante para mim. Acabamos vendo os destroços - que ainda estavam lá! - e tudo isso me colocou cara a cara com minhas próprias lembranças. Foi uma espécievasco e pixbetterapia para mim."

Depoisvasco e pixbetrecuperada, Juliane Koepcke viajou pela primeira vez, à Alemanha, paísvasco e pixbetseus pais e ondevasco e pixbetincrível história tinha despertado grande interesse da mídia.

Ela acabou ficando e se formouvasco e pixbetbiologia. Após a mortevasco e pixbetseu pai, ela trabalhou por um tempo no comando da estaçãovasco e pixbetPanguana no Peru e, depois, voltou para a Alemanha. Em 2011, lançou uma autobiografia, chamada Quando caí do Céu.

Juliane Koepckevasco e pixbetentrevista concedidavasco e pixbetLima,vasco e pixbet2014

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Juliane se formouvasco e pixbetbiologia e é mastozoóloga, especializadavasco e pixbetmorcegos