Do cafezinho ao etanol: como El Niño pode afetar Brasilbetano codigo2023:betano codigo

A última vezbetano codigoque o mundo enfrentou um forte El Niño foi entre 2015 e 2016.

Aquele foi o segundo El Niño mais poderoso desde 1950, atrás apenas do ocorridobetano codigo1997 e 1998.

Sob influência do fenômeno e das mudanças climáticas, o anobetano codigo2016 foi o mais quente já registrado na história, segundo a OMM.

No Brasil, o El Niño naquele biênio intensificou a seca no Nordeste e provocou estiagem prolongada no Norte, centro-nortebetano codigoMinas ebetano codigoGoiás e no Distrito Federal.

Além disso, houve fortes inundações no Sul, e impactos sobre o setor elétrico e a produçãobetano codigoalimentos.

E agora? O que pode vir pela frente no Brasil com a volta do El Niño?

Entenda como o fenômeno pode influenciar do cafezinho ao etanol que abastece o carro.

Como El Niño afeta o clima no Brasil

O "Niño" que dá nome ao fenômeno é ninguém menos do que o menino Jesus (el niño Jesús,betano codigoespanhol). O evento climático recebeu esse nome por ser primeiro identificado por pescadores do Peru e Equador na época do Natal.

"O El Niño e a La Niña são duas fases opostas do mesmo fenômeno, que chamamosbetano codigoEl Niño Oscilação Sul [ou ENSO, na siglabetano codigoinglês]", explica Vinícius Lucyrio, meteorologista da Climatempo.

"É um fenômeno que acopla condições oceânicas e atmosféricas. Ou seja: é o oceano influenciando diretamente na condições atmosféricas."

O El Niño é a fase quente deste fenômeno, que traz águasbetano codigotemperatura mais elevada para a faixa equatorial do Pacífico Sul, na costa norte do Peru e do Equador, se estendendo ao sul da linha imaginária até quase a Oceania.

Isso ocorre por um enfraquecimento dos ventos alísios, um sistemabetano codigoventos que soprambetano codigoleste para oeste na região equatorial, explica Lucyrio.

Já a La Niña é a fase fria do fenômeno, com temperaturas abaixo da média nas água do Pacífico Sul, sob efeitobetano codigoventos alísios fortalecidos que favorecem a ressurgênciabetano codigoáguas profundas mais frias na costa do Peru e do Equador.

"É uma ótima fase para pesca, porque traz águas mais ricasbetano codigonutrientes das profundezas do oceano para as áreas mais superficiais", observa.

No Brasil, a La Niña afeta as chuvas nos dois extremos do país.

No Sul, ficam mais irregulares, favorecendo períodosbetano codigoestiagem e seca. Já no Norte e Nordeste, há um aumento das precipitações, principalmente entre agosto e fevereiro.

A La Niña também traz temperaturas abaixo da média ao país, ao favorecer a passagembetano codigofrentes frias. Isso ajuda a explicar, por exemplo, o verão mais ameno esse ano no Sudeste, observa o especialista da Climatempo.

Já o El Niño traz tempo mais quentebetano codigotodo o Brasil, principalmente entre o final do inverno e o verão. E, nas chuvas, o sinal se inverte. No Norte e Nordeste, a chuva tende a ficar abaixo da média, enquanto no Sul, fica acima.

"Pode haver inundações severas e solo encharcado no Sul, trazendo prejuízos à produção agrícola", diz Lucyrio, ponderando porém que a produtividade na região também pode ser beneficiada pela maior quantidadebetano codigochuvas.

Segundo o meteorologista, os modelos apontam uma probabilidade acimabetano codigo60%betano codigoocorrênciabetano codigoEl Niño no períodobetano codigojunho, julho e agosto. E a transição entre o La Niña e o El Niño deve acontecerbetano codigoforma mais acelerada do que o padrão histórico.

Impactos do cafezinho ao etanol

Os analistas são cautelososbetano codigoapontar possíveis impactos do El Niño na produção agrícola brasileira, já que ainda não é possível saber qual será a intensidade do fenômeno que pode ter início esse ano.

Mas, com base na ocorrência do evento climático no passado, é possível obter algumas pistas.

Um dos cultivos que podem ser afetados é o do café, segundo Natália Gandolphi, analista da consultoria HedgePoint Global Markets.

Essa é uma possível má notícia para os apreciadores da bebida, já que o café moído chegou a acumular altabetano codigopreçosbetano codigomaisbetano codigo60%betano codigo12 mesesbetano codigomeadosbetano codigo2022, segundo o Instituto Brasileirobetano codigoGeografia e Estatística (IBGE), sob efeitobetano codigosecas e geadas que afetaram a safra.

Desde então, a inflação do café perdeu força, mas o produto nunca retomou o patamar anteriorbetano codigopreços, com o pacotebetano codigo500g vendido a um preço médiobetano codigoR$ 15,48 ao fimbetano codigo2022,betano codigoacordo com a Fundação Procon-SP.

"No geral, quando observamos os eventosbetano codigoEl Niño, há uma redução médiabetano codigo5% na produçãobetano codigo[café do tipo] Arábica", diz Gandolphi, analista da HedgePoint especialista neste produto.

Isso acontece, segundo ela, porque o El Niño provoca um inverno mais quente, prejudicando o desenvolvimento vegetativo do pébetano codigocafé.

A épocabetano codigoflorada, após setembro, ebetano codigocrescimento, desenvolvimento e maturação dos frutos também pode ser prejudicada pelas temperaturas mais elevadas, diz a especialista.

"O El Niño historicamente afetou negativamente a produçãobetano codigocafé no Brasil e isso é um fator altista [para os preços do produto]. Mas, hoje, a perspectiva para a safra 2024-2025, que seria a afetada pelo El Niño, é muito boa", pondera.

Na culturabetano codigocana-de-açúcar, o pico da safra no Brasil ocorre entre abril e agosto.

"Se vier um El Niño forte, ele pode levar a um inverno mais úmido. Isso é ruim para o ritmo da safrabetano codigoaçúcar, porque, se chove demais, as usinas não conseguem moer", explica Lívea Coda, analistabetano codigoaçúcar e etanol da HedgePoint.

"Também é ruim para a concentraçãobetano codigosacarose, porque, nessa etapa do desenvolvimento da cana, se chove muito, ela fica mais 'aguada', com menor concentraçãobetano codigoaçúcar. Então, poderia ser ruim para a safra 2023-2024 do Brasil", diz Coda.

Segundo ela, se o fenômeno se estenderbetano codigodezembro a fevereiro, a precipitação no Centro-Sul pode diminuir, principalmente no nortebetano codigoSão Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, comprometendo a próxima safra.

"Havendo um evento climático que afete a moagem, afeta tanto para o açúcar, como para o etanol. Se tiver um El Niño muito forte, que atrapalhe o ritmo da safra, pode ter um impacto na disponibilidade totalbetano codigoproduto, e isso é uma pressão inflacionária para preços", explica.

"Mas precisaria ter um evento muito forte, muito relevante, para isso acontecer e termosbetano codigofato um problema na safra brasileirabetano codigocana."

Grãos e proteína animal

Pedro Schicchi, analistabetano codigogrãos e proteína animal da consultoria, explica que um inverno mais úmido pode ser benéfico para a safrabetano codigomilhobetano codigoinverno no Mato Grosso e Goiás.

O evento também pode favorecer a safrabetano codigosoja no Sul do país, com maior volumebetano codigochuvas, embora possa prejudicar o grão no Centro-Oeste, devido ao tempo mais seco.

"Se a chuva realmente vier e tivermos maior produçãobetano codigomilho, isso pode reduzir o custo da ração para os produtoresbetano codigofrango e suínos", diz Schicchi.

"Para o gado bovino, a chuva amplia a áreabetano codigopastagem, então, o efeito também pode ser positivo."

Mas isso pode não necessariamente impactar o consumidor final, afirma o analista.

"Pode ser que essa reduçãobetano codigocustos não seja repassada por diversos motivos, como o alto volumebetano codigoexportação, real desvalorizado. Então, isso interage com outros fatoresbetano codigomercado."

E o setor elétrico?

No Brasil, os principais reservatórios hidrelétricos ficam nas regiões Sudeste e central do país.

"Para o setor elétrico, geralmente a La Niña é melhor, porque favorece a formaçãobetano codigozonabetano codigoconvergência do Atlântico Sul e frentes estacionárias nessas regiões", explica o meteorologista Filipe Pungirum, mestrebetano codigoClima pela Universidade Federal do Riobetano codigoJaneiro (UFRJ).

"O El Niño favorece um tempo mais quente e seco na porção centro-norte do país e, por isso, não costuma ser positivo para a manutenção dos reservatóriosbetano codigoenergia."

Por regiões, os reservatóriosbetano codigoNorte, Nordeste e Minas Gerais costumam ser prejudicados por um El Niño forte, enquanto o Sul é beneficiado – mas a região tem poucos reservatórios.

O fenômeno também costuma elevar as temperaturas nas capitais, pressionando a demanda, já que o ar condicionado se tornou o principal fatorbetano codigopico do consumo elétrico nacional.

O meteorologista pondera, porém, que os reservatórios do país se encontrambetano codigoexcelente momento.

Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste encerraram fevereirobetano codigopatamares superiores a 70%, maior nível desde 2012. Enquanto no Sul e Nordeste, os níveis estão acimabetano codigo80%, e no Norte,betano codigoquase 100%.

"Mesmo se esse próximo El Niño for bem rigoroso e tivermos poucas chuvas, não vai ser tão grave quanto nas últimas crises", acredita o especialista.

- Texto originalmente publicadobetano codigohttp://vesser.net/articles/c14n1d7dlexo