Após afastamento, reprovação a Temer chega a 70% e avaliaçãoDilma melhora, diz pesquisa:

Segundo pesquisa, Temer é reprovado por 70% dos entrevistados e Dilma por 75%

Crédito, Marcelo Camargo/ Ag. BrasilLula Marques/Agência PT

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Danilo Cersosimo, diretor na Ipsos Public Affairs e responsável pela pesquisa, diz que a baixa popularidadeTemer é explicada por três fatores: a faltauma agenda claramudanças, a imagempolítico tradicional e o contexto turbulento no qual governa.

Segundo Cersosismo, por não ter passado por eleições, Temer não teve um conjuntomedidas apresentado e aprovado pela população. Seus problemascomunicar as ações intensificariam o problema. Soma-se a isso o momentoinstabilidade, com escândaloscorrupção, Congresso arredio, quedaministros e a própria interinidadesua gestão.

"Dado que não passou por um crivo popular, não teve uma agenda aprovada e nunca foi gestor, não se sabe o que esperar dele."

O diretor da Ipsos lembra que o peemedebista não foi escolhido pelos brasileiros como o sucessorDilma, mas queposse foi consequênciauma vontadetirá-la do poder.

"Era muito mais o impeachment dela, do que uma esperança que se depositava nele. O pensamento era: com ela se tornou tão insustentável que é impossível o vice ser pior."

Para professor do Insper, "vitimização"Dilma após o impeachment ajudou a melhorar aprovação da petista

Crédito, Roberto Stuckert Filho/PR

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Os resultados ruins para Temer e a leve recuperaçãoDilma, no entanto, não significam que houve uma transferênciapopularidade ou um certo saudosismo, alertam os especialistas.

Para Cersosismo, o aumento da aprovação da petista se explica por seu afastamento. Ela não estaria mais no "olho do furacão", o que diminuiria o desgastesua imagem. O culpado pelos problemas agora seria Temer, alvo da opinião pública.

Já o cientista político e professor do Insper Carlos Melo vê um processovitimização gerado pelo impeachment.

O discursogolpe teria reunido uma base social maisesquerda que, mesmo crítica à presidente afastada, estaria defendendo seu mandato. Dessa forma, ao responderem que aprovam a petista, não necessariamente elogiam agestão, mas se mostram contrários a um processo supostamente antidemocrático.

Corrupção e economia

Melo explica que até o ano passado Temer era um grande desconhecido e as avaliações sobre ele eram mais dúvidas com viés positivo ou negativo.

A partir do começoseu governo, com um gabinete criticado pela faltamulheres, a saídatrês ministros, supostas ameças à continuidade da Lava Jato e vários recuos, muitas das interrogações se tornaram visões críticas.

Para o professor, dois pontos pesam nessa definição: os casoscorrupção e a faltarespostas imediatas para os problemas políticos e econômicos.

"Ele cometeu um erro inegável ao compor o gabinete com um montegente investigada. Colocar o (Romero) Jucá como segundo ministro mais importante foi um erro. Isso é percebido (pela população)."

Jucá tevedeixar o Ministério do Planejamento horas após o jornal FolhaS. Paulo divulgar uma gravaçãoque ele sugere uma articulação para conter a Operação Lava Jato, estratégia que incluiria o impeachment da então presidente. Ele também é investigado por suposto envolvimento no esquemacorrupção da Petrobras.

Segundo Rita Biason, coordenadora do CentroEstudos e Pesquisas sobre Corrupção da Unesp, esperava-se que a equipe do interino não estivesse tão envolvida com a Lava Jato e oferecesse um períodotranquilidademeio a tantos escândalos. O que não aconteceu.

"É a corrupção que continua, acrescida à crise e ao desemprego. O brasileiro é mais sensível aos problemas políticostemposdificuldade econômica. Quando há uma prosperidade, ele não olha muito, a exemplo do que aconteceu no mensalão."

Escândaloscorrupção envolvendo ministrosTemer colaboraram para aumento da reprovação

Crédito, Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

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Sobre a economia, Melo diz que as ações anunciadas até então, como a PEC que estipula um teto para o crescimento dos gastos públicos, ainda são abstratas. Elas dão sinais positivos para o mercado e os empresários, mas não dizem muito para o cidadão comum.

"Nada disso significou quedadesemprego ou aumentorenda, e é o que as pessoas veem."

Avaliação do governo

A faltamudanças na política e na economia, diz o diretor da Ipsos, também foi o fator crucial para a má avaliação do governo interino na pesquisa. Em junho, para 43% dos entrevistados, o governo federal era ruim ou péssimo. O número é menor do que o último registrado no mandatoDilma - 69% - mas é um mau começo, pondera Cersosismo.

A queda na reprovação não foi traduzidaaprovação (que caiu9% para 6%), mas no aumento do "regular' (de 21% para 29%) e do "não sabe/não respondeu" (de 2% para 22%), o que seria um resultado comum nesses primeiros mesesgestão.

"É como se as pessoas estivessem esperando mais para avaliar", diz o diretor da Ipsos.

Rumo do país

Alémindicar a desaprovação do presidente interino eseu governo, o levantamento também mostrou pessimismo quanto ao futuro do país. Para 89% dos entrevistados, o Brasil está no rumo errado. A porcentagem se mantém no patamar dos 90% desde junho2015.

Após o processoimpeachment, não deveria se esperar uma visão mais otimista? O cientista político Carlos Melo afirma que não.

"Isso passa pela autoestima. O governo A pode ser um pouco melhor do que o B, mas o país no geral não está bem. A violência, a insegurança, o sentimentoinfelicidade....o governo é parte desse mal estar, mas não é o todo."

A faltacredibilidade dos políticos e da política estariam incluídos nesse ceticismo, diz Melo.

"O que deputados, senadores e governadores falam é pouco assimilado. Toda a ideialíder estácrise."