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'Ganhava a vida escrevendo notícias falsas':blazer com aposta
Tamara deseja permanecer anônima, então, para protegerblazer com apostaidentidade, seu nome e os dos indivíduos com quem ela trabalhou foram alterados.
A ofertablazer com apostaemprego
Em um diablazer com apostaabrilblazer com aposta2017, Tamara recebeu um telefonema. "Sei que você não está fazendo nada, e conheço uma formablazer com apostaganhar dinheiro sem sairblazer com apostacasa", disse seu amigo. "Você é boablazer com apostapolítica e tem um inglês bom, então, gostariablazer com apostatrabalharblazer com apostasitesblazer com apostanotícias?"
"Eu disse 'sim, por que não?'", lembra Tamara. O próximo passo foi participarblazer com apostauma chamadablazer com apostavídeo com "Marco", o homem com a ofertablazer com apostaemprego.
"Quando recebi a ligação, e Marco explicou que tipoblazer com apostasiteblazer com apostanotícias era, percebi que trabalharia com notícias falsas", diz Tamara.
Nas videoconferências seguintes, Marco compartilharia com ela a telablazer com apostaseu computador e mostraria como publicar artigosblazer com apostaseu site e usar o programa Photoshop para editar imagens.
"Ele era muito tímido e estranho", diz Tamara. "Talvez porque eu era mais velha e trabalhava para ele, ele se sentia desconfortável". A jovem estava na faixa dos 25 anos, enquanto Marco mal tinha chegado aos 20.
Tamara só ficaria cara a cara com Marco dois meses depois. Ela costumava percorrer a curta distânciablazer com apostacarro até a cidadeblazer com apostaVeles. Lá, Marco lhe entregaria um envelope com dinheiro.
Tamara, que se descreve como liberal, ficou horrorizada com o conteúdo dos artigos que teveblazer com apostareescrever. "Acredito que eles ainda têm artigos piores", diz ela, ao acessar um site do qual regularmente copiava conteúdo.
Eu observo enquanto ela faz uma busca na internet. "Como você pode ver, eu apenas digitei 'ataques muçulmanos', veja só a enorme quantidadeblazer com apostaartigos sobre muçulmanos atacando pessoas. Muitos deles, acredito, nem são verdadeiros, foram inventados."
Um único dos sites que apareceram na busca tinha quase cem páginasblazer com apostaresultados para essa consulta. Uma análise mais detalhada mostrou que os artigos tinham imprecisões gritantes e imagens tiradasblazer com apostaeventos inteiramente diferentes. Tamara foi instruída a simplesmente buscar imagens usando o Google para usar nos artigos que publicava.
Desinformação baseadablazer com apostafatos reais
No entanto, a experiênciablazer com apostaTamara também mostra as limitações do termo "notícias falsas" e por que a realidade do sites que as publicam é muito mais perniciosa.
Muito do que ela produziu foi desinformação baseadablazer com apostafatos reais, escritablazer com apostaforma a provocar medo e raiva nos leitores. No conjunto, as histórias forneciam uma visão falsa e distorcida do mundo, claramente indo ao encontroblazer com apostapreconceitos existentes.
"Aquilo aconteceu, as pessoas existiam, o lugar existia. Então, nunca eram histórias falsas no sentidoblazer com apostafabricar cada detalhe. Eram propaganda e lavagem cerebral", diz Tamara.
Seu trabalho era reescrever os textos originais americanos para que não fosse possível considerá-los plágio, alémblazer com apostaencurtá-los e aumentar as chancesblazer com apostaque fossem compartilhadosblazer com apostaredes sociais, para gerar receita com anúncios no Google.
Um siteblazer com apostanotícias similar, baseadoblazer com apostaVeles, com cercablazer com aposta1 milhãoblazer com apostaseguidores no Facebook, faturava maisblazer com apostaUS$ 2 mil (R$ 7,7 mil) por dia, segundo disse seu donoblazer com apostaentrevista à emissora CNN. Marco administrava dois sites, que tinham juntos maisblazer com aposta2 milhõesblazer com apostaseguidores no Facebook, segundo Tamara.
Questionada se esse trabalho e a exposição diária a este tipoblazer com apostaconteúdo a afetoublazer com apostaalguma forma, Tamara descreve sentimentos contraditórios. "O tempo todoblazer com apostaque estava escrevendo essas histórias, pensava: Ai, meu Deus, quem acreditaria nesse tipoblazer com apostalixo? Quão inculto e burro você temblazer com apostaser apenas para ler isso? É difícil ler esses textos. Eles são longos, talvez com maisblazer com apostamil palavras, e talvez contenham duas frases noticiosas. O restante se resume a insultos", diz Tamara.
Então, ela diz algo que eu não esperava. "Eu normalmente encurtava esses artigos e simplesmente pulava as partes que eu não queria escrever. Ou introduzia uma informação que não combinava muito", diz ela rindo. "Por exemplo, se era uma sérieblazer com apostaartigos atacando muçulmanos, eu ficava furiosa, cortava várias frases e colocava alguma coisa legal no fim que o chefe não notava porque ele não lia todos os artigos o tempo todo. Isso aliviava o peso que sentia".
Peço um exemplo. Ela diz "algo como 'mas no fim do dia, somos todos iguais', uma frase desse tipo no contexto do artigo".
Ela foi influenciada por este conteúdo? Afinal, alguns estudos sugerem que simplesmente repetir declarações falsas leva as pessoas a acreditar nelas. "Eu estava cienteblazer com apostaque estava escrevendo muitas histórias sobre muçulmanos, sobre como eles querem disseminarblazer com apostaprópria propaganda, querem que todos vivamblazer com apostaacordo com suas regras e coisas assim, e certa vez me peguei pensando algo semelhante. Então, subconscientemente, isso me influencioublazer com apostaalguma forma, porque ninguém está imune a essas coisas se é constantemente exposto a isso."
'Era algo mecânico'
Ela diz não ter mudadoblazer com apostaopinião. Mas aconteceu algo inesperado. "Meus pontosblazer com apostavista não mudaram, minhas crenças não mudaram, mas me peguei sentindo o mesmo medo que eles estavam tentando incutir nos americanos. Enquanto escrevia as histórias, o medo que estava nessas histórias estavablazer com apostamim também."
Como Tamara lidava com escrever tanto conteúdo marcado por ódio todos os dias? "Tentava separar minhas próprias crenças das coisas que escrevia. Tentava me distanciar o máximo possível. Pensava que estava apenas escrevendo palavras. Tentava não pensar que escrevia propaganda. Minha opinião é: se as pessoas são estúpidas o suficiente para acreditar nessas histórias, talvez elas mereçam isso como uma forma punição."
Quando pergunto como ela se distanciava deste trabalho, ela explica: "É muito fácil se você está cienteblazer com apostaque o conteúdo que está escrevendo não é verdadeiro; é apenas uma formablazer com apostaganhar dinheiro. Por exemplo, muitas pessoas fazem coisasblazer com apostaseus trabalhos que não gostamblazer com apostafazer porque o chefe lhes disse para fazer, então foi assim comigo, apenas fazia alguma coisa e não deixava que isso mexesse com a minha personalidade. Era algo mecânico".
Tamara diz que seus pontosblazer com apostavista políticos são, na verdade, o oposto dos adotados pelo site. Pergunto se havia alguma chanceblazer com apostaessas histórias originais terem sido escritas por pessoas que acreditavam no que escreviam. Sobre isso, ela é inflexível. "Não. Mesmo para criar um artigo como esse, você precisa estar ciente do que está escrevendo. Isso não pode ser frutoblazer com apostaestupidez. Não acho que eles acreditem nas histórias que estão escrevendo, eles sabem que são notícias falsas, sabem que estão produzindo uma mentira. Quão delirante você temblazer com apostaser para pensar que isso é real?"
Os sitesblazer com apostaMarco estão longeblazer com apostaserem os únicos. Em 2016, apenas uma semana antes da eleição presidencial americana, o site Buzzfeed revelou que maisblazer com aposta140 "sitesblazer com apostanotícias falsasblazer com apostapolítica" dos Estados Unidos estavam baseadosblazer com apostaVeles, uma pequena cidade degradada. Os adolescentes que administram esses sites alegam ganhar milharesblazer com apostadólares por mês ou mesmo por dia. No entanto, não ganhou uma fortuna. Ela recebia 3 euros (R$ 14) por texto. Isso não é muito para alguns, mas o triplo do que poderia ganharblazer com apostaum emprego comum.
Há evidênciasblazer com apostaque essas páginas tiveram um impacto real. Nos três meses finais da corrida presidencial dos Estados Unidos,blazer com aposta2016, sitesblazer com apostanotícias falsos ou "hiperpartidários" ultrapassaram os principais veículosblazer com apostanotícias na lista dos 20 textos sobre a eleição mais compartilhadas no Facebook,blazer com apostaacordo com uma análise do Buzzfeed News.
Quem está por trás destes sites?
Em dezembroblazer com aposta2017, o Facebook baniu várias páginasblazer com apostanotícias falsasblazer com apostaseu site, incluindo asblazer com apostaMarco. "Estava trabalhando naquele dia. Quando as páginas do Facebook foram fechadas, tentei escrever para ele no [Facebook] Messenger. Sua página [pessoal] também foi desativada, então liguei para ele, que estava muito abalado". Depois disso, eles não tiveram mais contato, até o ano passado, quando Tamara recebeu um telefonemablazer com apostaque Marco perguntou se ela queria escrever para outro site. Ela recusou.
Quem são os verdadeiros instigadores por trás desses sites? Até recentemente, acreditava-se que os sitesblazer com apostanotícias falsos da Macedônia do Norte surgiram espontaneamente pelas mãosblazer com apostaadolescentes locais que buscavam capitalizar a corrida do ouro digital que emergiu da corrida presidencial americanablazer com aposta2016.
Evidências mais recentes sugerem, no entanto, que pode não ser o caso. De acordo com o Buzzfeed News, a advogada macedônia Trajche Arsov trabalhou com dois importantes parceiros nos Estados Unidos, incluindo Paris Wade, um candidato republicano que recentemente concorreu à Assembleia do Estadoblazer com apostaNevada. O Buzzfeed descobriu que Arsov registrou o domínio do primeiro siteblazer com apostapolítica voltado para americanosblazer com apostaVeles, o USAPoliticsToday.com,blazer com aposta23blazer com apostasetembroblazer com aposta2015.
Isso pode ter gerado uma reaçãoblazer com apostacadeia na cidade, levando à criaçãoblazer com apostacentenasblazer com apostasites, incluindo osblazer com apostaMarco. Este relatório contradiz a narrativa dominanteblazer com apostaque o surgimento sitesblazer com apostapropaganda e notícias falsas que operam a partir da cidade são apenas fruto do trabalhoblazer com apostaadolescentes que tentavam lucrar com a histeria do presidente Donald Trump. Isso pode até ser um pouco verdade no fim das contas, mas o fenômenoblazer com apostaVeles não começou desta forma.
A históriablazer com apostaTamara não esclarece muito a questãoblazer com apostatorno do possível apoio externo. No entanto, desafia a narrativablazer com apostaque todos os jovens que trabalham para esses sites prolíficos estavam fazendo para ganhar muito dinheiro. O caso dela mostra que jovens escrevem para estes sitesblazer com apostatrocablazer com apostauma pequena fração dos seus lucros.
Quando me despediblazer com apostaTamara, enquanto dirigia pela estrada que levava aos países vizinhos Kosovo, Albânia e Bósnia, fiquei impressionado com uma ironia. Aquela região, os Balcãs, é marcada pelas divisões entre seu povo. Agora, tornou-se um lar para sites que alimentam desarmonia e polarizaçãoblazer com apostalugares a milharesblazer com apostaquilômetrosblazer com apostadistância, como os Estados Unidos.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.
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