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A missãoresgate mais radical na Antártida:
Roberts havia perdido muito sangue, mas sobrevivera às primeiras 24 horas. Se chegassem a tempo, talvez ele conseguisse sobreviver. No entanto, havia muitos desafios que poderiam impedi-lossalvar o paciente.
O voo levaria cerca24 horas com uma paradareabastecimentoRothera, outra base na Península Antártica. O mesmo tempo seria necessário para a viagemvolta, ou seja, o grupo voaria por 48 horas seguidas. E no retorno, teriamlidar com uma emergência médica sem praticamente nenhum descanso.
Salvar a vida do paciente já seria um desafio imenso. Além disso, como Nutbeam seria capazlidar psicologicamente com a missão?
Sériecoincidências
A princípio, ele não estava cotado para viajar. Nutbeam deveria ser o médico substituto. Quando a emergência ocorreu, ele voou para Punta Arenas, uma cidade perto do extremo sul do Chile. O plano era que ele permaneceria ali para ajudar quando o avião pousasse.
Mas quando um vulcão entrouerupção ao norteonde ele estava, tudo mudou. O médico-chefe estava esperando por um vooconexãoSantiago, mas todos foram cancelados. Ao mesmo tempo, houve uma mudança inesperadatempo na passagemDrake, a parte do Oceano Antártico situada entre a extremidade da América do Sul e a Antártida, onde a visibilidade é frequentemente fraca. "De repente, percebi que eu faria a viagem", diz Nutbeam.
Nutbeam admite que tudo aconteceu tão rapidamente que não pensou muito sobre os perigos envolvidos na missão. Em vez disso, diz que ficou animadoir à Antártida e realizar o resgate.
Personalidades extremas
Remoções médicas durante o inverno antártico já aconteceram. Em 2016, um funcionário doente foi retiradohelicóptero do Polo Sul no meio do inverno - quando havia 24 horasescuridão. Seis anos antes, um outro resgatepacientes ocorreu na principal basepesquisa dos EUA na Antártida.
De acordo com Nathan Smith, pesquisadorpsicologia da UniversidadeManchester, no Reino Unido, quem participaexpedições radicais fica normalmente empolgado pela oportunidadefazer algo que muita gente não faz.
"Essas pessoas são, na maioria das vezes, muito bem treinadas. Assim, se tratauma oportunidade para que elas testem suas habilidades e desempenhem uma tarefa que nunca desempenharam antes", diz ele.
Certos tipospersonalidade são capazeslidar melhor com o estresseexpedições extremas. Pesquisas mostraram que pessoas menos nervosas apresentam melhor performance. "O que vemos é que as pessoasfunçõesalto risco não ficam ansiosas com facilidade e quando ficam, são capazescontrolar isso muito bem", diz Smith.
A cautela também tem um papel fundamental. Isso vai contra a noção comumque pessoas que participamatividades extremas são viciadasadrenalina.
"O que descobrimos é que essas pessoas normalmente gastam muito tempo analisando os riscos", diz Smith. "Elas se esforçam ao máximo para evitar uma descargaadrenalina, porque sabem que isso representa uma ameaça ao seu bem-estar e aotoda equipe."
Nutbeam eequipe tiveramser diligentes para lidar com os desafios que enfrentaram durante a longa jornada. A todo momento, o médico precisou monitorar, por exemplo, a temperatura da bolsasangue, garantindo que ela permanecesse dentro do padrão recomendado.
A parte dianteira do avião, na qual a equipe se aglomerava, estava aquecida, mas fazia -10 °C na partetrás. "Tivetentar encontrar um ponto ideal para colocar o sangue e verificá-lo a cada hora", recorda ele.
O grupo aterrissouHalley no início da madrugada e teve cercauma hora e meia para colocar Roberts dentro do avião antes que ficasse escuro demais para decolar novamente. A sensação térmica era-30 °C.
Nutbeam foisnowmobile até a estação, onde realizou com sucesso o que se pensava ser a primeira transfusãosangue da Antártida. Em seguida, transferiu Roberts para o avião. Enquanto isso, o técnico mantinha os motores do avião ligados, já que, se esfriassem demais, não voltariam a funcionar.
Nutbeam diz que nada foi meticulosamente planejado devido às circunstâncias imprevisíveis. Sua estratégia era improvisar.
Depoisconversar com expedicionários, Smith e seus colegas descobriram que o planejamento excessivo era menos importante do que ter confiança nas habilidadesalguém.
"Então, tudo se resume a ser flexível e adaptável. Ser capazse ajustar à situação na medidaque ela se desenrola", diz ele. "Há muitas coisas que você não pode controlar, portanto, aceitar esse fato é realmente importante", acrescenta.
Privaçãosono
Mesmo uma combinaçãoexperiência, cautela e confiança poderiam não ser suficientes para compensar o maior desafio: a extrema privaçãosono. Nutbeam diz que dormiu por cercaquatro horas durante a missão. "Não estava funcionando como humano", acrescenta ele.
Os micro-sonos - episódios temporáriossono ou sonolência que podem durar uma fraçãosegundo ou até 30 segundos - podem ajudar o corpo a se recuperar.
"O cérebro encontra maneirasrecuperar o sono dessa forma, se você não conseguir dormir suficientemente", diz Hans Van Dongen, diretor do CentroPesquisasSono e Performance da Universidade EstadualWashington, nos EUA.
No entanto, os micro-sonos causam lapsos na atenção que afetam o desempenho - se eles ocorrem ao volante, muitas vezes resultamacidentescarro, por exemplo.
Durante o longo voovolta ao Chile, Nutbeam estava tão cansado que teve dificuldadelembrar fundamentos básicos da medicina e tomar decisões.
Isso representava um risco substancial, dado que a condiçãoRoberts exigia monitoramento constante e escolhas importantes. Nos arredoresRothera, por exemplo, eles precisaram voar alto para cruzar as montanhas que se localizavam logo abaixo. Roberts, no entanto, tinha um baixo volumesangue circulando devido a seu sangramento, o que afetava quanto tempo ele podia toleraraltas altitudes sem a necessidadereceber mais sangue.
"Precisava tomar uma decisão sobre o que fazer e simplesmente não conseguia", diz Nutbeam - uma sensação estranha para ele. "Normalmente, sou bastante pragmático e não titubeiominhas decisões."
O sono também desempenha um papel importante na regulação das emoções e pode afetar o humor: os centros emocionais do cérebro estão menos conectados quando uma pessoa não descansa o suficiente; por isso, é mais difícil controlar os próprios sentimentos. Como resultado, pessoas privadassono podem ficar excessivamente mal-humoradas ou tontas, diz Von Dongen.
Se não bastassem esses desafios, Roberts sofreu um derrame durante o voo. Nutbeam decidiu dar-lhe mais sangue, assim como medicação para estabilizá-lo. "Me lembrome sentir emocionalmente sobrecarregado", diz Nutbeam. "Ele deve ter se sentido muito mal, mas aguentou firme."
Entender os efeitos da perdasono pode ajudar as pessoas a lidar com ela, diz Smith. "As pessoas podem se preparar e pensar como isso moldatomadadecisões", diz ele.
Nutbeam, por exemplo, diz que tinha consciênciaque é muito menos tolerante quando está cansado, o que pode ter ajudado no processo.
Trabalhoequipe
Nutbeam também teve a sortecontar com o apoiouma equipe dedicada, que ajudou a mantermente privadasono sob controle. Além da equipe a bordo do avião, havia uma redesuporte remoto vigiandopertomissão.
Durante as escalas, quando conseguiam se comunicar, os colegas que estavamterra firme informavam a equipe das condições climáticas para facilitar a tomadadecisões.
Nutbeam também teve reuniões regulares com seu chefe no Reino Unido sobre o tratamento e o que fazervárias circunstâncias.
Quando o avião pousouRothera, por exemplo, Roberts teve outra hemorragia gastrointestinal. Havia um médico lá para ajudar. Mas Nutbeam não queria abandonar Roberts, mesmo estando exausto.
Um telefonemasua chefe no Reino Unido colocou as coisasordem. Ela lhe disse para deixar o médico local assumir suas funções para que ele pudesse dormir um pouco: afinal, Nutbeam era o único que poderia cuidarRoberts durante o restante do voo.
"Foi o melhor conselho do mundo", diz Nutbeam. "Caso contrário, acho que teria ficado com ele e estaria ainda mais cansado e psicologicamente esgotado para a parte final da jornada."
Situações tensas podem ser mais fáceislidar quando há outras pessoas por perto. "Estarum ambiente perigoso, cercado por pessoas competentes que o apoiam, é uma boa maneiraaliviar o estresse", diz Smith.
Mas tudo depende da dinâmica da equipe: se as pessoas não conseguem trabalhar bem juntas, isso pode ter um impacto negativo no funcionamento do grupo. Traçospersonalidade -particular a amabilidade - podem frequentemente determinar quem sabe trabalharequipe.
"As pessoas que têmtrabalharpequenos gruposambientesrisco tendem a ser boaslidar com as pessoas", diz Smith. "Elas são boasse comunicarforma eficaz e manter o grupo trabalhando."
Fim da missão
Após o voo finalRothera, o avião pousouPunta Arenas, no Chile. Roberts foi transferido para um hospital onde foi tratado com sucesso. Mas Nutbeam não sentia como se a missão tivesse acabado.
"Realmente, não queria abandonar Malcolm", diz ele. "Queria ir com ele para o hospital, embora provavelmente não conseguisse terminar uma frase [de tanto cansaço]".
Integrantesexpedições costumam ter reação semelhante quando retornammissõesalto risco. Depoister vivido uma intensa experiência juntos, há um sentimentoempatia entre eles, diz Smith.
Também pode ser difícil conversar sobre o que aconteceu com quem não estava presente. Sendo assim, a tendência natural é acabar falando com outras pessoas que já passaram pela mesma experiência.
Nutbeam conseguiu visitar Roberts com frequência no hospital. Havia uma reunião diária sobre a recuperação do paciente, o que ajudou o médico a dar por encerrado seu trabalho.
De acordo com Smith, as pessoas costumam refletir sobre o que aconteceu e o que poderia ter acontecido durante três semanas. Depoisdesempenhar um papel tão importanteuma missão, elas podem se sentir sem rumo, mas encontrar algo significativo para fazer pode facilitar a transição.
"Escrever um relatório ou narrarexperiênciauma história é realmente útil psicologicamente", diz Smith.
Novos tipostreinamento também podem ajudar. Pessoas que trabalhamambientes extremos, como astronautas ou militares, fazem muitas simulações para se preparar. Mas,acordo com Smith, é raro que haja um treinamento que se concentre nos aspectos psicológicosuma missão. "Há muito que pode ser feito para ensinar às pessoas estratégias para lidar com esses ambientes."
De certo modo, o resgate foi apenas uma versão mais extrema do que os médicos que trabalhamemergências enfrentam todos os dias.
Como estratégia, Nutbeam recomenda ensaiar mentalmente os eventosantemão, com a mente bem descansada. "Isso pode prepararmente para a privaçãosono", diz ele.
Depoismuito refletir, Nutbeam não está convencidoque participaria da missão novamente. Ele se preparou mentalmente para ser o médico substituto, por isso não analisou os riscos envolvidos. Agora, percebe que havia uma possibilidade significativaque o grupo ficasse preso ou corresse riscomorte.
"É bom refletir sobre um resgate bem sucedido, mas há uma necessidadese considerar também que ele poderia ter dado errado e se o risco foi justificado", diz ele.
"Ainda não tenho uma opinião formada sobre isso."
- Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.
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