As aranhas e centopeias gigantes que se alimentam20bet é boagrandes animais:20bet é boa

Em artigo publicado20bet é boa2016, por exemplo, pesquisadores descrevem um episódio no Brasil20bet é boaque uma caranguejeira (Grammostola quirogai) foi encontrada comendo uma cobra que aparentemente havia dominado e matado. A cobra tinha 39 cm20bet é boacomprimento.

Esse comportamento é mais comum do que imaginamos.

Aranhas e insetos são fundamentalmente diferentes20bet é boanós porque não possuem espinhas dorsais: são invertebrados. Nós, como cães, águias, sapos e peixes, somos vertebrados - animais com espinhas dorsais.

Vertebrados podem crescer bem mais do que invertebrados. Fora do mundo20bet é boafilmes B20bet é boaterror, não há insetos do tamanho20bet é boaelefantes. Então tendemos a pensar20bet é boavertebrados comendo invertebrados - pássaros pegando mosquitos, chimpanzés almoçando cupins - mas não o inverso.

A ideia20bet é boaum invertebrado comer um vertebrado costuma dar arrepios, por ser algo que contraria a ordem natural das coisas.

Mas a natureza não está nem aí para nossas concepções. Há muitos predadores grandes, rápidos e (muitas vezes) venenosos sem espinhas dorsais. Para eles, não importa se a presa é vertebrada: talvez a espinha deixe apenas a refeição mais crocante.

Libélulas

Um relato recente apareceu no periódico alemão Salamandra. Em abril20bet é boa2016, biólogos no Brasil registraram os primeiros casos20bet é boalarvas20bet é boalibélulas comendo sapos adultos.

Larvas20bet é boalibélulas são predadores aquáticos que costumam comer girinos, o que já desencadeou estratégias20bet é boadefesa dessas presas. Girinos20bet é boacertas espécies20bet é boasapos aceleram seu desenvolvimento20bet é boaambientes com larvas20bet é boalibélula.

Outras espécies20bet é boagirinos se escondem ou desenvolvem ornamentos nas caudas para evitar que as libélulas ataquem partes vulneráveis20bet é boaseus corpos.

Essas larvas podem ser os "tigres" dos brejos, mas não se pensava que atacassem sapos. O novo estudo provou que fazem isso, ao menos20bet é boavez20bet é boaquando. As larvas vorazes saltam nos sapos e começam a comê-los vivos.

E a lista não para aí. Também há flagrantes20bet é boaataques20bet é boalibélulas adultas, como na foto famosa20bet é boauma grande libélula canadense que atacou um beija-flor20bet é boapleno ar. Não se trata, porém,20bet é boaalgo comum: o outro caso conhecido é20bet é boa1977.

Lacraias

Outros invertebrados são predadores regulares20bet é boavertebrados. Um dos mais dedicados é a centopeia do gênero Scolopendra.

A maioria das centopeias são predadores, mas essas são ferozes. Podem ter até 30 cm20bet é boacomprimento e possuem presas poderosas, que na verdade são pernas dianteiras modificadas.

Nos trópicos, algumas espécies20bet é boaScolopendra encontradas20bet é boacavernas são predadoras20bet é boamorcegos.

As lacraias sobem até o teto das cavernas e se penduram pelas pernas, fortes e com garras afiadas nas pontas. Uma vez20bet é boaposição, a centopeia balança o restante do corpo até o espaço20bet é boavoo dos morcegos e faz a captura20bet é boapleno ar, ou então pode arrancar um morcego distraído direto da parede.

Além20bet é boamorcegos, esses bichos podem ser predadores20bet é boaratos, lagartos, sapos e até cobras. E não estamos falando20bet é boacobras inofensivas: há registro20bet é boalacraias dominando espécies rápidas e tóxicas como a coral da Índia.

Vale lembrar que as centopeias são um dos animais venenosos mais antigos do planeta. Espécies bem parecidas com as que temos hoje já foram encontradas20bet é boarochas20bet é boa420 milhões20bet é boaanos. Mamíferos, por20bet é boavez, só apareceram há cerca20bet é boa208 milhões20bet é boaanos. Ou seja, quando os primeiros mamíferos colocaram seus narizes para fora na natureza, essas lacraias já estavam à espreita.

Além do tamanho, outra característica que torna essas lacraias dignas20bet é boafilmes20bet é boaterror é o veneno.

Produzido no interior das presas, o veneno dessas lacraias contém20bet é boa10 a 62 proteínas que podem, entre outras coisas, parar o coração20bet é boaum animal ou atrapalhar seu metabolismo. O veneno20bet é boaalgumas espécies pode matar crianças, cães20bet é boagrande porte e até humanos, como no caso20bet é boaum militar que engoliu uma pequena lacraia por acidente.

Também parece que essas lacraias não sabem a hora20bet é boaparar.

Em estudo20bet é boa2014, Dragan Arsovski e colegas relataram o caso20bet é boauma víbora que foi encontrada com o estômago aberto. A serpente20bet é boa20 cm engoliu a lacraia20bet é boa15 cm viva, mas a centopeia parece ter comido todos os órgãos internos da cobra e tentou achar o caminho da liberdade pelo corpo da víbora. E quase conseguiu.

Insetos aquáticos

Ambientes aquáticos também estão cheios20bet é boapredadores invertebrados.

Olhe para qualquer curso d'água no verão e você verá insetos com longas patas, saltando entre a vegetação e se equilibrando na superfície.

Eles se alimentam ao sugar as entranhas20bet é boainsetos que se afogam. Mas abaixo da superfície da água, escondidos entre arbustos e folhas mortas, há escorpiões d'água, predadores20bet é boa2 cm20bet é boacomprimento que comem o que aparecer pela frente.

Nos trópicos esses insetos são mais robustos, conhecidos como baratas d'água gigantes, e podem alcançar até 12 cm.

Eles se escondem na vegetação e então atacam. Possuem um apêndice alongado na cabeça que usam para empalar a presa, injetar sucos digestivos e sugar a "sopa" resultante. As pernas dianteiras20bet é boaforma20bet é boagancho são fortes e dificultam a fuga das vítimas.

Esses insetos se alimentam20bet é boapeixes e girinos, e até20bet é boasapos adultos e cobras d'água. Há até um relato20bet é boaum ataque a uma pequena tartaruga.

Esses insetos gigantes e as lacraias do gênero Scolopendra são predadores20bet é boaemboscada. Os ataques podem ser arrepiantes, mas pelo menos a presa é morta antes20bet é boaser ingerida.

Caranguejos, contudo, não são tão piedosos. Se uma presa está no lugar errado na hora errada e não pode reagir, encara a morte diante20bet é boamilhares20bet é boagarras, ou pequenos cortes.

Um exemplo vem20bet é boaTaiwan. Um estudo20bet é boa2005 mostrou que casais20bet é boasapos estavam sendo atacados por caranguejos da espécie Armases rubripes durante o acasalamento. Os sapos estavam muito distraídos para perceber a aproximação.

Nem girinos vivendo longe20bet é boalagos estão a salvo. Uma espécie20bet é boasapo do Panamá coloca ovos20bet é boaburacos com água no alto20bet é boaárvores, mas há registros desses ambientes sendo atacados por caranguejos.

Em Israel, besouros do gênero Epomis caçam jovens sapos e salamandras. Quando encontram um, saltam nas costas da presa e a mordem na base da espinha. Quando a vítima para20bet é boase mover, eles começam a se alimentar. Estudos20bet é boaGil Wizen e Avital Gastith, da Universidade20bet é boaTel Aviv, mostram que a dieta desses insetos20bet é boacor azul-escura e alaranjada é formada20bet é boagrande parte por anfíbios.

Um besouro20bet é boacaverna da Polônia chamado Pterostichus niger é menos atlético na caçada. Ataca salamandras enquanto elas hibernam no subsolo e estão muito sonolentas para reagir.

Pior ainda talvez seja a morte por sanguessugas. Há casos no Brasil, Índia e sul dos EUA20bet é boasanguessugas que grudam20bet é boasapos - matando as vítimas, comendo seus ovos e ameaçando até cobras d'água.

Aracnídeos

E, claro, há aranhas.

Muitas pessoas têm algum tipo20bet é boamedo20bet é boaaranha, mesmo quando elas comem apenas insetos como moscas. Aquele fator20bet é boaterror aumenta, contudo, quando esses bichos peludos20bet é boaoito patas atacam parentes mais próximos.

Um estudo20bet é boa2012 enumerou registros20bet é boa54 espécies20bet é boapássaros20bet é boa23 famílias que foram presos20bet é boateias20bet é boaaranha apenas nos EUA.

A maioria dessas teias foi produzida por espécies do gênero Nephila. Fêmeas adultas têm o tamanho20bet é boaum polegar humano e suas teias podem ter até três metros20bet é boalargura. A maioria das vítimas eram beija-flores pesando menos20bet é boa15 gramas. Quando encontrados, já estavam enrolados e envenenados, prontos para serem sugados até o final.

Um estudo20bet é boa2007 descreveu o caso20bet é boaum ferreirinho-relógio encontrado20bet é boauma teia no Brasil. a aranha Nephilengys cruentata tinha quase o tamanho do pássaro20bet é boa7 gramas.

É quase o peso20bet é boaum morcego que já foi localizado preso20bet é boateia da aranha Argiope savigni, como mostrou20bet é boa2005 um relato do biólogo Robert Timm.

E aranhas também podem atacar anfíbios, como revelou um artigo20bet é boa2010 sobre uma aranha-lobo que comeu uma rã recém-saída da metamorfose.

E não há como não mencionar a aranha-golias-comedora-de pássaros, que está entre as maiores do mundo. Apesar do nome, ela raramente ataca pássaros, mas isso não significa nunca. Em 2016, pesquisadores descreveram um episódio20bet é boaque essa aranha matou um pássaro que ficara preso em20bet é boateia.

Entendendo nossas reações

Essas aranhas gigantes trazem à tona a questão do tamanho. A maioria das pessoas fica satisfeita20bet é boaver vertebrados caçando vertebrados. Se um leão mata uma girafa, podemos sentir tristeza, mas não repulsão; e vibramos quando o filhote20bet é boaiguana escapa20bet é boadezenas20bet é boacobras. Do mesmo modo, parece normal se um vertebrado caça um invertebrado: um jovem pássaro capturando uma minhoca é algo "do jogo".

Mas invertebrados comendo vertebrados é outra história. Ficamos horrorizados ao ver caranguejos comendo pequenas tartarugas ou uma lacraia gigante atacando um morcego. Parece algo errado, como se a ordem natural tivesse sido subvertida - mas por quê?

Talvez seja porque reconheçamos instintivamente uma verdade evolutiva: outros vertebrados são mais parecidos conosco do que invertebrados.

Pode ser que nem pensemos na palavra "vertebrado", mas um cachorro é claramente mais parecido com um humano do que uma centopeia gigante. O cão tem pêlos e o mesmo número20bet é boamembros, e também age20bet é boamaneira compreensível, demonstrando emoções conhecidas como alegria e raiva.

Na pré-história humana, poder prever o comportamento20bet é boaum animal era obter segurança. Mas não entendemos os invertebrados como já deciframos cachorros, leões ou águias. Esses bichos são muito diferentes, com comportamento muito estranho e corpos muito distintos. Não possuem caudas que balançam e olhos que ajudam a traduzir suas emoções.

Talvez20bet é boaalgum nível mais profundo não confiemos nos invertebrados, então somos agradecidos por20bet é boaestranheza não se manifestar20bet é boaações predatórias. Isso poderia explicar porque ficamos tão abalados quando isso ocorre. Se um morcego comer uma aranha, nós mal nos levantamos do sofá; mas se uma aranha comer um morcego, talvez fujamos atrás das almofadas.

Mas seria um erro reduzir esses invertebrados a apenas uma fonte20bet é boapesadelos e filmes ruins20bet é boaterror. Até essas criaturas aparentemente assustadoras estão provando ser valiosas.

Em um desses casos, os complexos venenos das centopeias gigantes estão sendo estudados a fundo pelos possíveis benefícios medicinais20bet é boasuas proteínas. Até agora, compostos com grande potencial para tratamento20bet é boacâncer20bet é boamama, pressão sanguínea, asma e trombose estão sob investigação. E os animais até ganharam um novo apelido: centopeias medicinais.