A coleçãoroleta webR$ 12 bilhões escondida dentroroleta webum museu no Irã:roleta web

A suposta timidezroleta webWarhol, no entanto, não o impediuroleta webusar Farah como modelo para umaroleta websuas obras.

A fama da imperatriz iraniana atravessa fronteiras a pontoroleta webser chamadaroleta web"Jackie Kennedy do Oriente Médio". No verãoroleta web1976, Warhol, acompanhadoroleta webseu empresário da época, Fred Hughes, chegou ao que era então a casaroleta webFarah, o Palácio Niavaran,roleta webTeerã, para tirar uma fotografia dela.

O retrato foi usado como fonte para uma sérieroleta webobras. "O norteroleta webTeerã me lembra Beverly Hills", disse Warhol, segundo um membroroleta websua comitiva, Bob Colacello. O artista estava hospedado no hotel Intercontinental, onde, aparentemente, adorava pedir caviarroleta webseu quarto.

Dois anos depois, Warhol foi convidado a fazer outro retrato, do marido da imperatriz, embora dessa vez tenha sido obrigado a usar uma fotografia oficial como fonte. Apenas um ano depois, contudo, a dinastia Pahlavi foi derrubada e o xá fugiu para o Egito - onde morreu,roleta web1980 - comroleta webesposa e família.

A ex-imperatriz - que hoje tem 80 anos vive entre Maryland, nos Estados Unidos, e um elegante apartamento com vista para o Sena,roleta webParis - deixou para trás os retratosroleta webWarhol, juntamente com o restante das cercaroleta web300 obrasroleta webarte moderna ocidental e iraniana que havia acumulado durante os anos 70, financiada, com a bênçãoroleta webseu marido, pela riqueza do petróleo.

Coleção escondida

Hoje, essa coleção pouco vista - que sobrevive quase intacta nas abóbadas do Museuroleta webArte Contemporânearoleta webTeerã (TMoCA), que Pahlavi inaugurouroleta webseu aniversárioroleta web1977, com a presençaroleta webNelson Rockefeller - contém obrasroleta webartistas como Francis Bacon, Alberto Giacometti, René Magritte, Pablo Picasso, Jackson Pollock, Pierre-Auguste Renoir e Mark Rothko. Segundo estimativasroleta webespecialistas, valeria cercaroleta webUS$ 3 bilhões (R$ 12 bilhões).

Questionada sobre se não ficou "tentada"roleta weblevá-la consigo quando fugiu do país, Farah diz que as obras pertencem ao Irã.

"O que eu comprei foi para o Irã. Não faria sentido tirá-las do país", responde.

Sua única lembrança, acrescenta, é uma escovaroleta webcabelo que pertenceu a Warhol, que comprouroleta webleilão depoisroleta webdeixar o Irã.

Segundo Pahlavi, a história da coleção iranianaroleta webarte ocidental moderna - a maior e certamente mais valiosa fora da Europa e da América do Norte - coincide comroleta webprópria paixão pela arte e pela cultura.

Nascida Farah Dibaroleta web1938,roleta webuma famíliaroleta webclasse altaroleta webTeerã, ela se casou com o xá - que conheceuroleta webuma recepção na embaixada iranianaroleta webParis -roleta web1959, usando um vestidoroleta webYves Saint Laurent. Tinha apenas 21 anos e se tornouroleta webterceira esposa.

Farah diz que sempre esteve conscienteroleta webque vinharoleta web"um paísroleta webcivilização e cultura antigas" - afinal, Ciro, o Grande, fundara a primeira dinastia do Império Persaroleta web550 aC - e,roleta web1967, ela estabeleceu o Festival Anualroleta webArtesroleta webShiraz, na região central do Irã.

Como consorte do xá, ela frequentemente comprava quadros para apoiar jovens artistas iranianos - porque, diz, "naqueles dias, pessoas ricas compravam objetos iranianos antigos, não arte moderna. Sempre aconselhei ao governo para comprar quadros,roleta webvezroleta webmóveis feios".

Antigo para moderno

A semente para a coleção iranianaroleta webarte ocidental moderna foi plantada no final dos anos 60, quando a imperatriz compareceu à exposiçãoroleta webuma artista iraniana chamada Iran Darroudi, com quem conversou. "Ela me disse: 'Gostaria que tivéssemos um lugar onde pudéssemos mostrar nosso trabalho' - e eu disse: 'É uma ótima idéia: devemos ter um museu'."

Quando o plano se materializou, Pahlavi contratouroleta webprima, a arquiteta Kamran Diba, para projetar o TMoCAroleta webum antigo camporoleta webparadas militares ao lado do que é hoje o parque Laleh (Tulipa,roleta webpersa) - anteriormente chamado parque Farah, emroleta webhomenagem.

A arquiteta, que também se tornou diretora-fundadora do museu, inspirou-seroleta webelementos da arquitetura persa tradicional, bem como na formaroleta webespiral do Museu Guggenheimroleta webNova York. A ideia era que a instituição fizesse parteroleta webuma rederoleta webmuseus patrocinada pela imperatriz, incluindo o Museu Nacional dos Tapetes, fundadoroleta web1976.

Tendo decidido construir um novo museuroleta webarte, Pahlavi percebeu que precisariaroleta webuma coleção. No início dos anos 70, o Irã era rico: "Foi um períodoroleta webque tínhamos muito dinheiro do petróleo", lembra, "embora isso coincida com o início dos nossos problemas".

Inicialmente, Farah cogitou comprarroleta webvolta antigos artefatos iranianos que, ao longo dos séculos, se espalharam pelo mundo. No entanto, concluiu rapidamente que seria muito caro. Já a arte ocidental moderna, que ela também admirava, era mais acessível e mais fácilroleta webadquirir. Assim, ela reuniu uma equiperoleta webconsultores para construir do zero uma coleçãoroleta webarte modernaroleta webprimeira linha, começando com os impressionistas.

Seus representantes começaram a negociar com as galerias e até viajaram para Nova Yorkroleta webbuscaroleta webconselhos do Museu Metropolitan, um dos mais famosos da cidade ("Para ver se uma pintura era boa e se o preço era aceitável", explica). Ao mesmo tempo, entrouroleta webcontato com a fundaçãoroleta webMaeght (um famoso museuroleta webarte moderna no sul da França, estabelecidoroleta web1964) para ajudá-la.

Dentroroleta webum espaçoroleta webtempo muito curto, a equiperoleta webPahlavi reuniu uma coleçãoroleta webarte modernaroleta webcausar invejaroleta webqualquer instituição.

Seu marido, por outro lado, não compartilhavaroleta webpaixão.

"Ele estava ocupado com tantas outras coisas importantes no Irã", diz ela, "e não se interessavaroleta webarte moderna estrangeira", acrescenta.

Mas o xá apoiou o projeto, autorizando a estatalroleta webpetróleo do país a financiar as compras das obrasroleta webarte (em 1973, o Irã era o segundo maior exportadorroleta webpetróleo do mundo). Como Farah diz, "ele sempre me ajudou se eu precisasseroleta webum dinheiro para isso ou aquilo."

"Isso", no caso, poderia ser o quadro Natureza morta com estampa japonesa (1889),roleta webPaul Gauguin, ou o Mural no chão vermelho indiano (1950),roleta webJackson Pollock. Em 2010, a casaroleta webleilões Christie's estimou o preço deste últimoroleta webUS$ 250 milhões (R$ 1 bilhão).

Em certo sentido, as aquisiçõesroleta webFarah podem ser entendidas dentro do contexto da chamada "Revolução Branca" do xá, que priorizava a modernização do país e a implementaçãoroleta webreformas progressistas. No livro, as escritoras Viola Raikhel-Bolot e Miranda Darling, que assinam a autoria com a imperatriz, descrevem-na como "um testemunho da influência do soft power para mudar a estruturaroleta webuma nação para sempre. Sua visão e dedicação transformaram a décadaroleta web1970roleta webuma eraroleta webouro para o Irã."

Para os críticos do xá, contudo, essa descrição pode parecer parcial. O que o povo iraniano fez da arte moderna que ela comprou nos anos 70?

"Você sabe", responde Farah, "até hoje, na Inglaterra ouroleta webNova York, não se pode esperar que todos amem a arte moderna. Mas são tesourosroleta webarte para o país. A arte aproxima as pessoas mais do que qualquer discurso político", defende.

No entanto, despesas como essas não contribuíram para a percepção negativaroleta webque o regimeroleta webseu marido estava desperdiçando dinheiro, o que porroleta webvez pode ter colaborado pararoleta webqueda?

Farah franze a testa. "Nem um pouco, nem um pouco. Não houve uma reação negativa."

Alémroleta webpassar tempo com Warhol, enquanto amealhavaroleta webcoleção, a imperatriz conheceu vários artistas que admirava, incluindo Salvador Dalí, Marc Chagall (que morava perto da Fundação Maeght) e o escultor britânico Henry Moore, cujo estúdio foraroleta webLondres, no vilarejoroleta webPerry Green,roleta webHertfordshire, ela visitou uma vez.

"Quando entrei", lembra ela, "ele me mostrou uma pequena pintura e disse: 'Peço a todos que me digam quem fez isso'. Graças a Deus, eu disse Miró (Joan Miró, artista surrealista espanhol) - que foi a resposta certa. Fiquei orgulhosa, claro".

Segundo relatos, uma das esculturasroleta webMoore, nos jardins da TMoCA, foi danificada por uma bala. O buraco ainda é visível: um lembrete, muito provavelmente, da turbulência causada pela Revolução.

Uma das coisas mais surpreendentes sobre a história da coleçãoroleta webarte moderna do Irã é que, na esteira da Revolução, ela não foiroleta webgrande parte danificada nem dispersa. Houve exceções: Farah (que foi condenada à morte, à revelia, depois da revolta) lembra-seroleta webassistir a um documentário da televisão francesa, que mostrava que um dos retratosroleta webWarhol,roleta webseu antigo palácioroleta webTeerã, havia sido cortado com uma faca.

Além disso,roleta web1990, Woman III (1953), do pintor expressionista abstrato Willemroleta webKooning, foi trocado por miniaturas persas do século XVI pertencentes a um colecionadorroleta webarte americano. Em uma cena dignaroleta webum filmeroleta websuspense, a permuta ocorreu na pista do aeroporto internacionalroleta webViena.

Por anos, porém, a coleção definhou, sem ser vista, nos cofres do museuroleta webTeerã. Em 2005, algumas das pinturas foram exibidas ao público.

Continua sendo um mistério, no entanto, por que ela nunca atraiu a ira dos governantes do regime teocrático que sucedeu a Revolução. Possivelmente, seu valor a torna intocável. Pinturas como Gabrielle com Blusa Aberta (1907),roleta webPierre-Auguste Renoir, que retrata uma mulher com os seios à mostra, nunca vão poder ser exibidas no Irã.

Enquanto isso, no ano passado, destaques da coleção - que seriam exibidosroleta webBerlim e Roma,roleta webuma exposição itinerante internacional, antesroleta webos planos serem cancelados no último minuto - foram exibidos no TMoCA.

No entanto, duas horas após ser aberta ao público, a exposição acabou sendo alvo dos censores. Eles removeram o painel centralroleta webum trípticoroleta web1968roleta webFrancis Bacon, retratando duas figuras masculinas nuas ladoroleta webcimaroleta webuma cama, segundo um jornalista do diário inglês The Sunday Times, que visitou a mostra. A homossexualidade é ilegal no Irã.

Educadamente, Farah se recusa a especular sobre por que os líderes que sucederam à Revolução Iraniana não venderam nem destruíram a coleção que ela criou.

Questionada se fica triste ao folhear o livro, que reproduz tantas obrasroleta webarte que muito provavelmente nunca verároleta webnovo, ela responde devagar e baixo.

"Não. Não estou triste. Depois da Revolução, fiquei muito preocupada com essas pinturas. Mas, felizmente, exceto por uma troca, elas ainda estão lá. Lembro que, há alguns anos [em 2005], um dos diretores [do museu] colocou algumas das pinturas [em exibição]roleta webuma exposição - e eu recebi um emailroleta webuma jovem senhora, uma pintora iraniana, que disse: 'Quando me vi na frenteroleta webum Rothko, fiquei com lágrimas nos meus olhos'." O museu possui dois Rothkos (Mark Rothko, artista expressionista americano), cada um avaliado atualmente entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões (R$ 400 milhões e R$ 800 milhões).

"Fico feliz que as pessoas possam ver o que têm, porque essas pinturas" - ela aponta para o livro, na mesa àroleta webfrente - "pertencem ao Irã". E faz uma pausa. "Sempre digo que as sementes que você planta com amor e fé nunca perecem, nunca morrem."

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