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Por que um casal brasileiro deixa seu filho brincar com onças-pintadas:renan bruschi poker
"Eu tenho alguns amigos que não acreditam nisso, acham que é 'fake'. Mas a maioria dos meus conhecidos acha isso muito legal e tem vontaderenan bruschi pokerconhecê-las. Eu acho muito bom poder levar um pouquinho dessa experiênciarenan bruschi pokervida que tenho para outras pessoas que não tiveram a mesma sorte que eu", afirma à BBC News Brasil.
Além do pai do garoto, a mãe, Anah Tereza Jácomo,renan bruschi poker49 anos, também é bióloga. Os dois coordenam o Instituto Onça-Pintada (IOP), que tem o objetivorenan bruschi pokerpreservar e estudar o maior felino das Américas.
"O meu filho nasceurenan bruschi pokerum ambiente com onças-pintadas. Então, ele convive bem com elas desde a infância e sabe como lidar. Logicamente, a gente o instrui e impõe limites, mas hoje ele já sabe o que fazer ou não. É uma questão muito natural para ele", diz Leandro.
Crescendo com as onças-pintadas
O nascimentorenan bruschi pokerTiago foi planejado desde o início do relacionamentorenan bruschi pokerAnah e Leandro, que estão juntos há 28 anos. Os biólogos esperaram a conclusão do doutorado para que tivessem um filho.
"Tinha certezarenan bruschi pokerque ser mãe me privaria,renan bruschi pokercerta forma, da minha carreira. Meu marido sempre foi muito companheiro e pediu que concluíssemos os estudos primeiro, porque, na visão dele, não seria justo eu me afastar da carreira durante a maternidade, ao passo que a dele estariarenan bruschi pokerplena ascensão", diz.
Após o doutorado, Anah e Leandro decidiram que era o momentorenan bruschi pokerter um filho. Na época, eles já haviam criado o Instituto Onça-Pintada e passavam o dia lidando com estudos sobre felinos. Quando Tiago nasceu, o casal cuidavarenan bruschi pokertrês onças-pintadas recém-nascidas.
"Nessa época, íamos viajarrenan bruschi pokercaminhonete, para resolver questões do instituto, e levávamos o nosso filho e as onças juntos. Ele ia no colo da minha esposa e elas iam perto da gente, para não se machucar. No trajeto, muitas vezes parávamos para dar mamadeira para ele e para as onças. Isso aconteceu muitas vezes", relata Leandro.
Em razão do convívio que teve com os animais desde pequeno, Tiago sempre considerou natural a proximidade com onças-pintadas. "O referencial dele é baseado na gente. Ele foi crescendo e aprendendo os limites, vendo o que poderia ou não fazer. Mas, para ele, é algo muito comum esse relacionamento, porque foi criadorenan bruschi pokerum ambiente rural. Esse é o cotidiano dele. Não há nadarenan bruschi pokerabsurdo", afirma Leandro.
O garoto se considera privilegiado por ter se relacionado com as onças-pintadas desde pequeno. "Sempre foi uma relaçãorenan bruschi pokeramor e respeito. Sempre gostei muito disso e sempre ajudei a cuidar dos animais", comenta.
Tiago ressalta que segue as instruções dos pais para lidar com os bichos. "Eles me ensinaram que o medo e o respeito são sentimentos importante e inteligentes. Porque quando você não tem medo e não respeita o animal, você não respeita o limite dele e, por isso, ele também acaba não te respeitando", pontua.
Limites do convívio
Desde que o filho era menor, Leandro ensinava ao garoto sobre a conduta que ele deveria ter com as onças-pintadas. O biólogo costuma passar os mesmos ensinamentos a pessoas que desconhecem informações sobre o felino.
"Esses animais não agem contra o ser humano, no sentidorenan bruschi pokernos ver como presas. Eles reagem às nossas ações. Então, é importante respeitá-los. Por exemplo, se ele está comendo ou nervoso, ele avisa que não quer proximidade, pela linguagem corporal, então é importante respeitar", diz.
"É fundamental entender os limites e não mexer com o animal quando ele não está bem. Não há como forçar algo com a onça-pintada. É importante compreender o momentorenan bruschi pokerque ela quer ficar sozinha e se afastar. Quando ela quiser proximidade, se aproximará. Isso é uma regra fundamental para a convivência. Onça não é um animal social, mas cria laços para a vida inteira", acrescenta.
Segundo a bióloga, nunca houve incidente entre o garoto e as onças - e ela comenta que nunca deixou o filho sozinho com os animais.
"Sempre tivemos muitos cuidados. Não somente com as onças, mas com qualquer outro animal. Mas o mais importante é que o meu filho aprendeu muito cedo como conhecer cada um. Em nosso sítio, as regrasrenan bruschi pokersegurança sempre foram muito determinadas, claras e obedecidas", diz.
Na imagem que repercutiu nas redes sociais, uma cadela da raça blue heeler aparece próxima aos felinos. Os bichos mantêm uma relaçãorenan bruschi pokerproximidade. Na Organização Não-Governamental (ONG), há outros animais, normalmente encaminhados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), como veados, macacos e lobos-guará,. Segundo Leandro, todos vivemrenan bruschi pokerharmonia.
O IOP está localizado na região ruralrenan bruschi pokerMineiros, no interiorrenan bruschi pokerGoiás,renan bruschi pokeruma propriedaderenan bruschi poker50 hectares, pertencente ao casalrenan bruschi pokerbiólogos. O instituto não é aberto a visitação, para evitar incômodo aos animais ou prejuízo aos estudos realizados no lugar.
Amor por onças-pintadas levou à criaçãorenan bruschi pokerinstituto
Leandro se encantou pelas onças-pintadas ainda na infância, quando assistiu a um documentário sobre os felinos. Anos depois, a paixão pela espécie o levou a cursar biologia. O primeiro estágio dele foirenan bruschi pokerum projeto que lidava com onças-pintadas. "Foi a primeira vezrenan bruschi pokerque tive contato com a espécie. Depois, nunca mais pareirenan bruschi pokertrabalhar com ela", relata.
Na universidade, ele conheceu Anah, que também cursava biologia. Os dois sãorenan bruschi pokerGoiás. Desde a épocarenan bruschi pokerque eram estudantes, desenvolvem atividades com o maior felino das Américas. Em junhorenan bruschi poker2002, criaram o Instituto Onça-Pintada. O principal objetivo deles era estudar a espécie e ajudar a preservá-la.
Anos após a criação do instituto, uma equipe do Ibama perguntou se Leandro e Anah tinham interesserenan bruschi pokerreceber onças-pintadas recém-nascidas, que eram órfãs e haviam sido resgatadas da natureza. O casal, que não tinha a criação dos felinos como objetivo inicial, aceitou. Para acolhê-los, elaborou um criadouro científico, que hoje ocupa metade da propriedade rural.
O IOP está localizado dentro do sítio. Alémrenan bruschi poker25 hectares para o criadouro, o lugar também é dividido entre a parte destinada aos animaisrenan bruschi pokeroutras espécies, a área utilizada para os estudos desenvolvidos por profissionais que atuam no instituto e a residência da família.
O instituto é mantido com doaçõesrenan bruschi pokerempresários ou pessoas físicas e por meiorenan bruschi pokerrecursos particulares do casalrenan bruschi pokerbiólogos. "É uma eterna busca por recursos. Nunca são valores governamentais, porque o poder público nunca nos ajudou. Ultimamente, temos apoiorenan bruschi pokerempresas. Mas 95% dos recursos têm sido particulares, meus e da Anah, por meiorenan bruschi pokerassessorias que fazemos", diz Leandro.
No IOP, atualmente há 14 onças-pintadas. Destas, quatro são filhotes, dois são jovens e há oito adultos. Na última década, 35 felinos passaram pelo lugar. Normalmente, os que deixam o instituto são encaminhados para outros criadouros, para auxiliar na reprodução e preservação da espécie.
As onças-pintadas que chegam recém-nascidas ao criadouro não retornam à natureza porque a principal ameaça a elas, segundo pesquisas do IOP, são os pecuaristas.
"Nesse sentido, consideramos um contrassenso devolver à natureza um animal que já veio para o cativeiro fruto desse conflito", explica Anah. Outro motivo que faz com que os felinos sejam encaminhados a outro criadouro é a necessidaderenan bruschi pokercontato com humanos, que eles desenvolvem no início da vida, por meio da alimentação ourenan bruschi pokeroutros cuidados básicos,renan bruschi pokerrazão da ausência da mãe.
"Esses animais dificilmente perdem o elo com a presença humana e, se soltos, muito fatalmente, caso se aproximemrenan bruschi pokerlocais com a presença humana, podem acabar sendo abatidos", acrescenta a bióloga.
Ameaçarenan bruschi pokerextinção
A onça-pintada está presenterenan bruschi poker21 países, entre eles Argentina e Estados Unidos. Em alguns, como Uruguai e El Salvador, ela foi extinta. O Brasil concentra a maior parte delas, abrigando 48% da espécierenan bruschi pokertodo o mundo. No país, o animal também está ameaçadorenan bruschi pokerextinção.
"Temosrenan bruschi poker20 mil a 30 mil onças-pintadas no Brasil. Elas são consideradas ameaçadas porque, ao longo dos anos, perdemos maisrenan bruschi poker50% da distribuição original delas. A tendência é que, como todos os grandes predadores mundo afora, caso não haja políticarenan bruschi pokerconservação, ela seja extinta."
"É um animal que compete com condições humanas, tem riscos aos seres humanos. Então, a tendência do homem é eliminar. Tudo o que gera riscos, gera prejuízo. Se não criarmos uma política diretarenan bruschi pokercompensação aos prejuízos que esses animais causam, ele vai ser eliminado", pontua. Segundo o biólogo, não há nenhum tiporenan bruschi pokeração do poder público para a preservação dos felinos.
Muitos dos filhotes que chegam ao IOP se tornaram órfãos após as mães serem mortas por produtores rurais, enquanto saíamrenan bruschi pokerbuscarenan bruschi pokeralimentos para os filhos. "Há inúmeros filhotes que morrem depois da perda da mãe, por não conseguirem se manter sozinhos. Infelizmente, o númerorenan bruschi pokerórfãos que chegam para a gente é muito pequeno, perto do total que fica abandonado", explica Leandro.
Um dos principais trabalhos do IOP é conscientizar a população sobre a preservação das onças-pintadas. Os principais alvos da iniciativa são os produtores rurais. Para auxiliar no diálogo com eles, o instituto criou o Certificado Onça-Pintada. "Propomos valorizar os produtosrenan bruschi pokerproprietários que se comprometem a tolerar os prejuízos causados por onças e jamais abatê-las", diz Anah. Segundo ela, 170 mil hectaresrenan bruschi pokerfazendas já aderiram ao selo. "O nosso objetivo é atingir 1 milhãorenan bruschi pokerhectaresrenan bruschi poker10 anos", revela.
Anah explica que a importância da conscientização dos produtores rurais ocorre porque, no Brasil, 70% das terras estãorenan bruschi pokeráreas privadas. "As unidadesrenan bruschi pokerconservação, sozinhas e isoladas, não têm tamanho e não asseguram a conservação da onça-pintadarenan bruschi pokerlongo prazo. Dessa forma, ela precisa do proprietário rural para ter a chancerenan bruschi pokersobreviver", pontua a bióloga.
Preocupação com o futuro
A luta pela preservação das onças-pintadas é conhecida por Tiago desde a mais tenra idade. Há um ano, ele deixou o sítio onde morava com os pais, na sede do IOP, para se mudar para Goiânia, para estudar. O garoto, que está no oitavo ano do ensino fundamental, sente saudades da convivência diária com os bichos.
"Está sendo muito difícil ficar longe dos animais, porque convivi com eles desde pequeno. Toda vez que volto para a casa dos meus pais, sinto que os animais também sentem saudaderenan bruschi pokermim. Eles me reconhecem e brincam comigorenan bruschi pokeruma maneira diferente. Isso é muito gratificante, porque vejo que o amor e o carinho que dei para eles anos atrás está sendo retribuído", diz o estudante.
Tiago visita os pais a cada três meses. A foto que viralizou na internet foi tirada durante o feriado da Proclamação da República,renan bruschi poker15renan bruschi pokernovembro. No futuro, ele não quer continuar distante do lugar onde nasceu. O garoto planeja cursar biologia e retornar para o sítio da família, onde quer dar continuidade à iniciativa desenvolvida pelos pais.
"Quero fazer biologia, mas não para ser professor. Quero trabalhar com os animais, na prática. Pretendo dar continuidade ao instituto e ajudar meus pais, porque essa é uma causa muito nobre. A gente está tentando salvar uma espécierenan bruschi pokerextinção e realmente quero continuar com essa luta", declara.
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