Por que o assassinatocasino fantasiaMarielle virou palcocasino fantasiabatalha ideológica nas redes:casino fantasia

Crédito, AFP

Legenda da foto, Levantamento da FGV mostra que maior partecasino fantasiamenções à mortecasino fantasiaMarielle nas redes sociais teve como conteúdo mençõescasino fantasialuto e lembranças da trajetória da vereadora

Elas ajudariam a expressar as interpretações majoritárias sobre o assassinato: acasino fantasiaque a mortecasino fantasiaMarielle Franco seria um símbolo da perseguição a líderescasino fantasiaminorias por um estado autoritário e a noçãocasino fantasiaque minorias estão sujeitas a violência por agentescasino fantasiasegurança, especialmente se forem críticas às corporações policiais. As investigações não permitem endossar até o momento tais opiniões.

"A execução da Marielle é uma amostra claracasino fantasiaque a intervenção começoucasino fantasiafato contra a justiça, contra a democracia. Assim como no passado", disse uma participante do Twitter.

Por outro lado, houve quem considerasse que a morte da vereadora seria uma provacasino fantasiaque suas críticas à violência policial seriam uam defesa dos criminosos que a teriam vitimado. Tampouco é possível afirmar isso à luz das investifgações por enquanto.

"PSOL defende tanto bandido e agora quer justiça?", questionou um usuário do microblog.

Em resposta a isso, muitos posts também expressavam frustração e decepção com comentários que comemoravam - ou se recusavam a lamentar - a morte da vereadora. Na reclamação, valia inclusive compartilhar conversas privadas no WhatsApp, como fez uma mulher. "Não acredito que alguém tão próximacasino fantasiamim pense assim", desabafou.

Ana Luisa Azevedo, no entanto, afirma que comentários críticos a Marielle representavam apenas 7% do totalcasino fantasiamenções ao caso nos últimos dias,casino fantasiaacordo com o levantamento da FGV Dapp. Já o númerocasino fantasiamençõescasino fantasialuto e trajetóriacasino fantasiaMarielle respondeu por 88% do debate.

"Os dados mostram que o apoio é muito maiscasino fantasiarelação ao que ela representava - como pessoacasino fantasiaorigem humilde, que representava diversas bandeiras - do que um discurso contra a defesa do direitos humanos", avalia.

Legenda da foto, | Imagem: FGV Dapp

Os tais direitos humanos

O apoio à defesa dos direitos humanos parece ter transcendido as filiações partidárias no debate surgido a partir da mortecasino fantasiaMarielle, argumenta Azevedo.

"O que vimos foi que não só políticos, meioscasino fantasiacomunicação, partidos ou celebridades influenciaram esse debate, como costuma acontecer. Vimos muito uma mobilização popularcasino fantasiapessoas comuns, cidadãos falando sobre o assunto", diz.

"O fatocasino fantasiaesse debate não estar concentradocasino fantasiaum grupo específico mostra que 'direitos humanos' é algo que vai alémcasino fantasiapartido, mobiliza a sociedade."

Para o psicanalista Tales Ab'Saber, da Universidade Federalcasino fantasiaSão Paulo (Unifesp), é latente, na sociedade brasileira, a crítica aos defensores da garantia incondicional aos direitos humanos. Esse é um tema que,casino fantasiamomentos como este, tende a vir à tona.

"Podemos dizer que o Brasil tem origem numa forma social que desconhece os direitos humanos, com uma grande população trabalhadora excluídacasino fantasiadireitos, que foram os escravos. E ao longo do século 20 tivemos vários episódios autoritários que reforçaram isso", pondera.

"No Brasil existe uma ambiguidade muito grandecasino fantasiaque a democracia é discutida por uma estrutura autoritária profunda, que tem a ideiacasino fantasiaque os direitos não são para todos. Marielle era tendência oposta à essa"

Nos últimos dias, até mesmo figuras ligadas a grupos liberais e conservadores, à direita do espectro político, se manifestaram contra a "comemoração" da mortecasino fantasiauma defensoracasino fantasiadireitos humanos nas redes sociais.

O economista e integrante do programa televisivo Manhattan Connection Ricardo Amorim dissecasino fantasiaseu perfilcasino fantasiaFacebook que, apesarcasino fantasiadiscordar das posições políticas da vereadora, não consegue "aceitar que tanta gente diga que 'ela defendia bandidos, merecia morrer'".

"Se discordar do que eu acredito fosse razão para alguém merecer morrer, não sobrava ninguém no mundo; nem eu mesmo, que toda hora aprendo algo novo e, muitas vezes, mudo minhas crenças."

De acordo com Ab'Saber, é importante mostrar com dados, como no levantamento da FGV Dapp, que "muito do pensamento autoritário na rede e também da produçãocasino fantasiamentiras públicas vêmcasino fantasiagrupos muito pequenos que tem suas produções muito ampliadas".

Mas para o psicanalista Christian Dunker, da Universidadecasino fantasiaSão Paulo, "a existência destes 7% (de críticos a Marielle Franco no momentocasino fantasiasua morte) já é muito".

"Isso mostra nossa incapacidadecasino fantasiaestar no debate, mas respeitar esse momento trágico. Vamos lembrar que podemos brigar, mas vamos terminar todos lá no cemitério. Temos opiniões diversas, mas temos um problema comum que se chama Brasil."

'Estardalhaço'?

De outro lado, críticos da esquerda e do PSOL, partidocasino fantasiaMarielle, argumentam que o "estardalhaço"casino fantasiatorno do assassinato seria uma manobra para galvanizar opiniões contra o governo Temer e a intervenção militar.

"A morte da vereadora Marielle deveria reforçar a discussão sobre o enfrentamento do narcotráfico e da bandidagem, bem como da necessidadecasino fantasiase manter a intervenção federal no RJ. Contudo, a tragédia só está servindo da palco ideológico para atacar a intervenção e o governo federal", lamenta um comentador na rede social.

Estes críticos dizem, ainda, que a comoção "esquece" as maiscasino fantasia60 mil mortes violentas que ocorreram no Brasilcasino fantasia2016, incluindo ascasino fantasiapoliciais - dado mais recente divulgado pelo Fórum Brasileirocasino fantasiaSegurança Pública.

Uma montagemcasino fantasiafotoscasino fantasiaduas policiais militares negras mortascasino fantasiaataquescasino fantasiacriminosos a UPPs do Riocasino fantasia2012 e 2014, Fabiana Aparecidacasino fantasiaSouza e Alda Rafael Castilho, circula com a mensagem: "Mulheres, negras, pobres e brutalmente assassinadas no Rio. Se você nunca ouviu falar delas, é porque não eram militantescasino fantasiaesquerda, eram policiais".

À época, os crimes contra as duas policiais foram amplamente noticiados por meioscasino fantasiacomunicação locais e nacionais.

Outros já compartilham da teoria conspiratóriacasino fantasiaque a vereadora teria sido morta pelo narcotráficocasino fantasiamodo a simular uma execução perpetrada por policiais ou milicianos, com o intuitocasino fantasiaminar o apoio popular à intervenção federal no Estado do Rio.

"Marielle seria um alvo escolhido por reunir características que gerariam comoção nacional e questionamento da intervenção, e passar a mensagemcasino fantasiaque o comando do tráfico ainda está no comando e há questões que não devem ser mexidas", diz uma mulher no Twitter.

A proliferaçãocasino fantasiasuposições, teorias da conspiração e notícias falsas a respeito do caso Marielle Franco é, segundo Ana Luisa Azevedo, da FGV Dapp, esperada pela repercussão do evento nas redes sociais.

O graucasino fantasiapenetração destas publicações, no entanto, ainda não foi medido pela equipe.

"Ainda não tivemos tempo hábilcasino fantasiafazer busca por informações falsas, mascasino fantasiaum evento com essas proporções é importante termos a responsabilidadecasino fantasiaverificar a procedênciacasino fantasiainformações ao retuitar algo", alerta.

Nos últimos dias, boatos que ligavam a vereadora ao traficante Marcinho VP e ao Comando Vermelho, e outros que diziam quecasino fantasiamorte poderia ser utilizada para aumentar o "nívelcasino fantasiaalerta no Rio" e suspender as eleições começaram a se espalhar pelo Facebook e pelo WhatsApp. Ambos, no entanto foram esclarecidos pelas agênciascasino fantasiachecagemcasino fantasiafatos Lupa e Aos Fatos.

'Faltacasino fantasiaempatia'

Dois dias depois da morte da vereadora - ecasino fantasiatextões e debates acalorados nas redes - muitos participantes já começam a rejeitar qualquer enquadramento político do assassinato.

"Tá faltando humanidade. Tá faltando empatia. E não me refiro apenas à direita, a esquerda também não tem que usar a morte dela para defender ideias políticas. Antescasino fantasiaqualquer posicionamento político, uma pessoa morreu cruelmente", disse uma mulher no Twitter.

"É Temer usando a morte para justificar a intervenção, é Dilma usando a morte para dizer que faz parte do golpe. Por isso políticos como Marielle vão fazer falta. Porque a renovação está difícil, e a velha guarda consegue transformar tudocasino fantasiapalanque", afirmou outro usuário.

Na opiniãocasino fantasiaTales Ab'Saber, no entanto, não é mais possível separar a mortecasino fantasiaFrancocasino fantasiasua atuação política - mesmo que ainda não esteja comprovada uma possível motivação política para o crime.

"A militância dela eracasino fantasiamulher, negra, com a defesa da população favelada do Riocasino fantasiaJaneiro. Não dá pra dizer que é uma pessoa qualquer que levou um tiro na rua. Isso também é querer esvaziar a dimensão política do fato e a violência política que está acontecendo no Brasil", afirma.

Dunker diz ainda que a apropriaçãocasino fantasiaum episódio dessa dimensão por grupos políticos é inevitável.

"A política necessariamente faz isso. Mas é ruim destruir a força desse evento simplesmente por causa disso. É preciso entender que ele tem importância, sim. Senão, se reduz a mortecasino fantasiauma pessoa a uma conversacasino fantasiaopiniões", afirma Dunker.

Para ele, as pessoas adotam o caso da vereadora - uma tragédia humana - para expressar suas insatisfações mais amplas com o país.

"A gente pode não saber exatamente o que a mortecasino fantasiaMarielle significa, mas sabe que isso tocou a todos nós. Por isso muitas pessoas dizem 'quero uma investigação rigorosa'. Porque é essa investigação que passa por Brasília, por desviocasino fantasiacaixascasino fantasiamunição, por ligações entre polícia e milícias, pela apropriação da mídia. Mas ainda é a mortecasino fantasiaalguém."