Como falar sobre abuso sexual com as crianças:cbet no poker

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Helena sempre teve uma relaçãocbet no pokerabertura e confiança com a mãe, Célia | Foto: Helena Vitali/Arquivo pessoal

"O alarme soou porque minha mãe já havia conversado sobre isso comigo. Eu soube na hora que havia alguma coisa errada. Me senti culpada. Detestei meu corpo, me senti suja. Mas contei. Lembrei das conversas que criaram essa confiança entre nós", afirma.

Ela é uma das muitas pessoas que têm compartilhado histórias sobre como os pais conversaram com elas sobre o assunto quando pequenas. Ou como elas têm falado com os próprios filhos sobre o assunto - mesmo que não tenham sofrido nenhum tipocbet no pokerabuso.

A postagemcbet no pokerHelena Vitali teve quase 4 mil curtidas e maiscbet no poker1,6 mil compartilhamentoscbet no pokerpoucas horas.

A BBC Brasil ouviu algumas dessas pessoas e especialistas que indicam qual o caminho para abordar o assunto com as crianças.

Alerta vermelho

Vitali conta quecbet no pokermãe lia livros sobre educação sexual infantil desde cedo. Ela lembra até hojecbet no pokersuas palavras:

"Ela disse: filha, ninguém pode te tocar aqui tá? Só você e a mamãe. Nenhum adulto, nenhum homem. Isso é errado e pode ter machucar. Quando você for adulta você pode escolher. Mas quando essa época chegar vamos juntas no médico e você não vai ter medo."

Helena afirma que nunca esqueceu o que a mãe havia dito sobre fugir, gritar e pedir ajuda se algo acontecesse. "Ela disse que sempre iria me ouvir, acreditarcbet no pokermim e me proteger. Não importando quem fosse, se fosse da família ou alguém que amamos. E que eu nunca poderia mentir sobre isso."

A conversa foi importante para que ela conseguisse contar à mãe sobre o abuso que sofreu.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, É preciso que a criança saiba que não deve manter segredo se alguém lhe fizer mal - mesmo que seja um membro da família

"Um dos funcionários me convenceu a ircbet no pokerum cômodo ver algo. Me botou sentada no seu colo e começou a abrir a própria roupa. Enquanto tentava me tocar e eu me esquivava (ou tentava), soou na minha cabeça um alarme, enorme, vermelho e piscante. Uma sirene. Eu sabia o que era aquilo", escreveu ela.

"Depois que eu contei, descobriram que um meninocbet no pokertrês anos era sempre abusado pela mesma pessoa, mas a babá e a família não acreditavam."

A designer diz achar importante que as pessoas não subestimem a capacidadecbet no pokerdiscernimento das crianças.

"Com educação apropriada, elas são muito capazescbet no pokerentender o que é carinho e o que abuso. Quando se despir é normal, por exemplo, quando a criança está na praia com a família, e quando a pessoa está mal intencionada", diz ela.

"Tenho a clara memóriacbet no pokerque eu sabia diferir perfeitamente a nudez comum da mençãocbet no pokernudez para um abuso", escreveu.

"Pedofilia não é uma criança ser exposta à arte ou a nudezcbet no pokerum contexto não sexual. Proibir o acessocbet no pokercrianças a lugares onde estarão vulneráveis e sem a tutoriacbet no pokerum adulto: claro. Proibir acesso a materialcbet no pokercunho sexual? Perfeito. Mas banir nudez e confundir tudo e qualquer coisa com pedofilia é um desserviço", escreveu ela,cbet no pokerreferência à polêmica sobre a performance no museu.

Educação aberta

"Não é uma questãocbet no pokermarcar um dia para falarcbet no pokerabuso sexual. É preciso ter uma educação aberta desde o berço, na qual a criança sempre, a todo momento, se sinta à vontade para falar sobre qualquer assunto. E na qual se ensine a lidar com o corpo e com a questão dos limites", explica a psicopedagoga Neide Barbosa Saisi, professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica).

"Precisa ensinar limitescbet no pokercoisas básicas, como respeitar se ela não quiser beijar as pessoas, por exemplo. Ela tem que aprender que o outro não tem domínio sobre ela. Se ela sabe o que são limites, ela já responde a uma intromissão", afirma.

A pedagoga e mestrecbet no pokereducação sexual Caroline Arcari explica que, ao falar especificamente sobre abuso sexual, é preciso usar a linguagem adequada para cada idade. E ser claro.

"É importante evitar termos muito abstratos. Por exemplo, dizer 'se você se sentir estranho, ou se alguém fizer algo que te deixe triste' etc. Porque quanto mais nova a criança, menos ferramentas ela vai ter para entender o que seria esse sentimento estranho, o que seriam esses atos que poderiam a deixar triste", afirma.

Segundo ela, inicialmente a criança aprende que violência é algo muito concreto, que causa dor física: um beliscão, uma palmada, um puxãocbet no pokercabelo. Logo, quando se falacbet no pokerviolência sexual, é preciso mostrar concretamente como ela pode acontecer.

"É importante que a criança saiba os que são partes íntimas. Ela precisa saber que ela tem órgãos genitais, que o bumbum e os mamilos são partes íntimas. Tem que ter nome ou apelido para as partes", afirma.

Segundo as especialistas, é preciso dizer que essas partes não devem ser tocadas por outras pessoas. E que uma pessoa que a tocar está fazendo uma coisa errada.

Arcari diz ainda que é importante que os materiais didáticos usados - livros, vídeos - tenham representatividade, para que as crianças se identifiquem.

Ela vê um problemacbet no pokerum dos vídeos que têm sido muito compartilhados recentemente no WhatsApp - há apenas crianças brancas.

"É difícil encontrar materiais que tenham uma quantidade significativacbet no pokercrianças negras. O material didático precisa refletir a diversidade que existe no Brasil."

Educação e confiança

A baiana Ariane Carmo contou no Facebook como seus pais conversavam com elacbet no pokerforma bastante objetiva - a postagem teve 11 mil curtidas e maiscbet no poker7 mil compartilhamentos.

"Uma amiga abriu debate sobre abuso sexualcbet no pokercriançascbet no pokerseu perfil e muitas mulheres que participaram sofreram abuso na infância. Com tantos perigos e relatos desanimadores começa a parecer impossível proteger as crianças", afirma.

"Uma das moças disse que simplesmente não há muito o que fazer. Nesse ponto, eu pensei: não, calma! Há. Sei que ela queria dizer que não há como garantir plenamente a segurança. Mas eu senti que devia relatar a estratégia da minha família para fazer um contraponto, dar uma esperança."

Legenda da foto, Ariane Carmo quis contar como foicbet no pokereducação para incentivar pais a conversarem com seus filhos | Foto: Luiz Carlos Vaz/Arquivo pessoal

"Meus pais me ensinaram o que era sexo e abuso sexual juntos. Minha mãe me disse que qualquer homem que tentasse fazer qualquer coisa comigo eu deveria contar pra ela e ela me protegeria, inclusive meu pai - isso na presença dele", escreveu ela.

"Ela apontou pra ele. Na frente dele. Meu pai jamais me fez ou faria mal, e também não se ofendeu. Ele sabia o que eles estavam fazendo, que estavam criando o vínculo para que eu sempre sentisse segura e me ensinando a me proteger", relatou.

"Eles me disseram que nunca seria culpada e não deveria acreditar se me dissessem que minha mãe ficaria brava ou me iria me castigar. Que ela me protegeria e que eu nunca deveria ter nenhum segredo com nenhum adulto, pois adultos não tem segredos com crianças. Que sempre que alguém falasse ou fizesse algo dizendo que eu não podia 'contar pra mamãe', imediatamente eu deveria falar."

Arcari concorda sobre mostrar que não deve haver segredos e que os limites tem que ser respeitados por todos. "O abusador pode ser um estranho, mas raramente é. Normalmente é alguém da família, um amigo ou conhecido", afirma ela.

Amor e carinho

Ariane diz que nunca teve nenhum tipocbet no pokertrauma por ter tido essa conversa com os pais.

"Não tive uma iniciação sexual precoce por saber o que é sexo, nem tive algum tipocbet no pokerbloqueio por me avisarem o que é abuso. Só fui protegidacbet no pokerabusadores", escreveu.

A pedagoga Caroline Arcari diz que, para evitar que a criança fique com muito medo ao se falar da possibilidadecbet no pokeralguém machucá-la, é preciso contextualizar a conversa e falar mais sobre os aspectos positivos da interação com adultos e outras crianças.

"Tem mostrar o que é bom na interação com um adulto. A parte positiva da convivência, para ela não achar que todo adulto é ruim. Para que a criança saiba o que é uma demonstraçãocbet no pokeramor e carinho e o que é abuso", afirma a pedagoga Caroline Arcari.

Ariane Carmo diz que o motivou a escrever sobrecbet no pokereducação foi notar que os pais "têm receiocbet no pokerfalar claramente com seus filhos, como se eles fossem incapazescbet no pokerentender - não só sobre abuso".

"Quando você senta uma criança e conversa com elacbet no pokerforma clara, seja sobre o que for, sobre a importância do estudo aos riscos que o mundo oferece, incluindo abuso, ela vai entender."

"Eu sei que muitos pais até conversam com seus filhos, mas o que eu gostocbet no pokerdestacar é que meus pais fizeram isso juntos, e que foram claroscbet no pokerdefinir que me protegeriamcbet no pokerqualquer um, inclusive um do outro. Nenhuma mãe ou pai espera que seu oucbet no pokercompanheira(o) seja um abusador. E meus pais, claro, não eram", conta ela.

"Mas se houvesse qualquer risco, a clareza daquela situação me daria confiança. Porque secbet no pokermãe deixa claro que nem seu pai pode te fazer mal, você sabe que ninguém pode. A maioria dos abusadores é parente ou amigo da família que usa da confiança para praticar o crime. É preciso que a criança saiba que está segura - sejacbet no pokerquem for."