A doméstica brasileira que virou líder trabalhista nos EUA:jogadores casa de apostas

BBC Brasil
Legenda da foto, Natalícia Tracy chegou aos EUA como doméstica e, hoje, estájogadores casa de apostascursojogadores casa de apostasobter um doutorado
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Hoje com 45 anos, Tracy foi recrutada aos 19jogadores casa de apostasSão Paulo para acompanhar uma família brasileira numa temporadajogadores casa de apostasdois anosjogadores casa de apostasBoston. Alémjogadores casa de apostascuidarjogadores casa de apostasum bebêjogadores casa de apostasdois anos, desempenhava todas as tarefas domésticas da casa. A jornada, diz ela, ia das seis da manhã às onze da noite.

"De acordo com as leis trabalhistas dos Estados Unidos, eu estava num trabalho considerado escravo", ela afirma à BBC Brasil.

Tracy diz que dormia numa "varanda fechada com cimento grosso no chão" e que não podia usar o telefone nem receber cartas. "Eles não me deixavam pôr meu nome na caixajogadores casa de apostascorreio, e o carteiro não entregava."

Ela conta que, muitas vezes, não sobrava comida após cozinhar para os patrões. "Fiquei doente e não me levaram ao médico. Era um ser humano que estava sob a responsabilidade deles: não falava inglês, não tinha família aqui."

A pior parte, diz ela, era o pagamento: US$ 25 por uma jornadajogadores casa de apostas90 horas semanais, valor muito abaixo do salário mínimo local.

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Encerrado o contrato com a família, os patrões voltaram ao Brasil, e Tracy resolveu ficar. Um ano depois, "estava morando num subúrbio americano, casada com um americano e vivendo uma vida americana".

Com o ensino médio incompleto, ela se dedicou aos estudos. Graduou-sejogadores casa de apostaspsicologia e sociologia e se tornou mestre pela Universidadejogadores casa de apostasMassachusetts.

Hoje Tracy leciona na universidade e se prepara para obter o títulojogadores casa de apostasPhD com um estudo que relaciona imigração, raça, família e classe.

Ao mergulhar nos estudos e abraçar a vida americana, Tracy se afastou do Brasil e dos compatriotas que tornaram Massachusetts o Estado com a maior população brasileira nos Estados Unidos. Estima-se que ao menos 200 mil brasileiros vivam no Estado, a maioriajogadores casa de apostassituação irregular.

Hoje ela fala português com um leve sotaque americano e titubeia na escolhajogadores casa de apostasalgumas palavras. Ao se comunicar com a BBC Brasil durante a realização desta reportagem, quase sempre enviava mensagensjogadores casa de apostasinglês.

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Virar brasileirajogadores casa de apostasnovo

BBC Brasil
Legenda da foto, Tracy dirige um centro que auxilia imigrantesjogadores casa de apostasquestões legais

Quinze anos após se mudar para Boston, Tracy começou a se reaproximar da comunidade brasileira fazendo trabalhos voluntários.

"Tinha colocado minha história numa caixinha e trancado. Quando reabri essa caixinha, eu não era mais fraca nem vulnerável: tinha poder econômico e social, e o político eu ia construir."

Em 2010, assumiu a direção do então Centro do Imigrante Brasileiro, cargo que ocupa até hoje. Maior associação brasileira nos Estados Unidos, a entidade assessora imigrantesjogadores casa de apostasquestões legais e se sustenta principalmente com doaçõesjogadores casa de apostasempresas.

Seu papel na comunidade, somado à experiência como doméstica e à carreira acadêmica, lhe abriram portas.

Com o apoio da maior central sindical do país (a American Federation of Labor and Congress of Industrial Organizations), Tracy passou a articular com outras organizações a aprovação,jogadores casa de apostasMassachusetts,jogadores casa de apostasuma das mais avançadas legislações estaduais sobre trabalho doméstico dos Estados Unidos.

Sancionadajogadores casa de apostasjulhojogadores casa de apostas2014, a legislação exige, entre outros pontos, que os domésticos - mesmo os indocumentados - sejam pagos pelo totaljogadores casa de apostashoras trabalhadas, garante dias mínimosjogadores casa de apostasdescanso e cria canais para denunciar abusos.

Como representantejogadores casa de apostasimigrantes e trabalhadores domésticos, Tracy participoujogadores casa de apostaseventos e reuniões com altas autoridades, entre as quais a senadora Democrata Elizabeth Warren, o presidente Barack Obama e o papa Francisco.

Em 2014, ela foi escolhida por um conjuntojogadores casa de apostasorganizações e sindicatos baseadosjogadores casa de apostasWashington como uma das 25 principais mulheres na liderança do movimento laboral dos Estados Unidos.

"Tive acesso a espaços que antes não eram abertos nem a americanosjogadores casa de apostascor. Foi poderoso."

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Movimento negro

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Legenda da foto, Em eventos com autoridades, Tracy representa imigrantes e trabalhadores domésticos
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Legenda da foto, A brasileira foi eleitajogadores casa de apostas2014 uma das principais lideranças entre trabalhadores dos EUA

Na universidade, Tracy viujogadores casa de apostashistória se conectar à luta dos negros americanos por direitos civis. Ela diz que umajogadores casa de apostassuas maiores referências é a abolicionista Sojourner Truth (1797-1883), que nasceu escrava e se tornou livre ao fugir quando tinha 29 anos.

"Ela ajudava os escravos a se moverem à noite atravésjogadores casa de apostastúneis para o Canadá."

Tracy diz usar histórias como ajogadores casa de apostasTruth para inspirar a comunidade brasileira, por mostrarem o quanto é possível conquistar mesmojogadores casa de apostassituações adversas.

Ela também associa a experiência dos imigrantes aos desafios que negros americanos vivem no presente. No escritório do Centro do Trabalhador Brasileiro, Tracy pendurou um cartaz com o lema "Black Lives Matter" (vidasjogadores casa de apostasnegros importam), movimento que alcançou projeção mundialjogadores casa de apostas2015 após vários negros americanos serem mortosjogadores casa de apostasabordagens policiais.

Mulher, negra e imigrante, diz usar a seu favor as três características, "desvalorizadas não só nesta sociedade, mas globalmente".

"Essa consciênciajogadores casa de apostasser mulher, imigrante e negra, eu uso isso como uma arma,jogadores casa de apostasforma que sei quem sou e sei da minha capacidade. E se você disse que eu não posso fazer alguma coisa, eu vou te provar o contrário."

Para Tracy, mesmo a vulnerabilidade vivenciada por imigrantes sem documentos pode ser usada para fortalecê-las. No debate sobre trabalho doméstico na Universidade Harvard, ela disse que, ao contar suas histórias e revelarjogadores casa de apostasfragilidade, trabalhadoras domésticas criam conexões entre si.

Tracy citou o casojogadores casa de apostasuma brasileira que chegou desanimada a um encontro com outras trabalhadoras no centro. Seu patrão havia pedido que ela limpasse todos os azulejos do banheiro com uma escovajogadores casa de apostasdente.

Apesar da tarefa extenuante, ela disse ter se esforçado e terminado o serviço antes da hora. Naquele dia, chovia e fazia frio.

"Ela pensou que o empregador ficaria feliz, mas, como tinha terminado o trabalho cedo, ele lhe deu um balde e pediu que ela lavasse a cerca lá fora."

Tracy conta que a senhora chorou o tempo todo ao lavar a cerca e decidiu que, depois daquele dia, jamais permitiria a alguém tratá-la daquela maneira.

"Ela saiu da reunião com a sensaçãojogadores casa de apostasque não estava mais sozinha,jogadores casa de apostasque era partejogadores casa de apostasalgo maior,jogadores casa de apostasque não estava batalhando sozinha."

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