Única presidenciável negra, Marina sofre resistência entre afrodescendentes:bet apostas desportivas
As críticas mais frequentes questionam a postura da candidata sobre temas importantes à militância negra. Liberdade para religiõesbet apostas desportivasmatriz africana, registrobet apostas desportivasterras para comunidades quilombolas, viabilizaçãobet apostas desportivaspolíticas afirmativas, como cotas raciais, e a faltabet apostas desportivasvínculos com o movimento foram os principais pontos levantados pelos entrevistados.
"Ficamos muito felizes que alguém se autodeclare negro, masbet apostas desportivashipótese alguma Marina representa a luta dessa população", diz o professor Paulino Cardoso, presidente da Associação Brasileirabet apostas desportivasPesquisadores Negros (ABPN) e pesquisador da cultura afrobrasileira há 30 anos.
"Somos [os negros] os mais miseráveis entre os miseráveis no Brasil", afirma Cardoso. "Será que o Estado enxuto que ela promete,bet apostas desportivascaráter neoliberal, com Banco Central independente, vai conseguir financiar nossas políticas sociais? Os negros dependem muito dessas iniciativas, elas custam maisbet apostas desportivasR$ 12 bilhões ao governo e são mal vistas pelas oligarquias", diz o professor.
O comitêbet apostas desportivasMarina assegurou que a candidata responderia pessoalmente às questões enviadas sobre o tema pela BBC Brasil. Após desmarcar duas vezes o compromisso, os assessores deixarambet apostas desportivasatender a reportagem.
Aliados
A doutorabet apostas desportivaspsicologia Elisa Nascimento, presidente do Ipeafro (Institutobet apostas desportivasPesquisas e Estudos Afro Brasileiros), diz que os aliados políticosbet apostas desportivasMarina podem comprometerbet apostas desportivasposturabet apostas desportivasrelação à tolerância religiosa.
À imprensa, Marina Silva disse repetidas vezes defender um "estado laico". A candidata, entretanto, tem o apoiobet apostas desportivasimportantes lideranças políticas evangélicas - caso do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), que já disse "profetizar o sepultamento dos paisbet apostas desportivassanto" e o "fechamento dos terreirosbet apostas desportivasmacumba".
"Tenho visto Marina tentar desvincular religiãobet apostas desportivasseus posicionamentos, mas fica evidente que suas crenças influenciambet apostas desportivasação política. Há neopentecostais que repetidamente desrespeitam o candomblé e a umbanda. Há terreiros sendo invadidos e destruídos. Religiosos sendo perseguidos. Marina não se posiciona e tem apoiobet apostas desportivasalguns dos principais inimigos destas religiões."
Ouvida pela BBC Brasil, Valneide Nascimento, coordenadora nacionalbet apostas desportivaspolítica e promoção da igualdade racial da campanha, reconhece falhas.
"Não detalhar (a política sobre religiões) foi um erro nosso", disse à reportagem, por telefone.
"Como Marina, eu que sou a coordenadora nacional também sou protestante e a gente não tinha um acúmulobet apostas desportivasconhecimento sobre religiõesbet apostas desportivasmatriz africana", diz. "Nós deixamosbet apostas desportivascolocar porque não tínhamos um entendimento sobre como deveria ser, na época."
Valneide, no entanto, nega outra alteração no programabet apostas desportivasgoverno - no fimbet apostas desportivasagosto, o PSB eliminou trechos do capítulo destinado aos direitos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros e transexuais). A mudança foi justificada na época como "falha no processobet apostas desportivaseditoração".
"Não vamos alterar. As religiões estão no programa, o que faltou foi o detalhamento. Mas vamos anunciar esses detalhes pessoalmente no dia 20,bet apostas desportivasSalvador."
Quilombolas
Segundo dadosbet apostas desportivas2013 da Fundação Cultural Palmares,bet apostas desportivaspelo menos 1.281 comunidades quilombolasbet apostas desportivasprocessobet apostas desportivasoficialização, só 21 tiveram seus territórios efetivamente titulados, como recomenda a Constituição.
O programabet apostas desportivasgoverno divulgado por Dilma Rousseff não cita quilombolasbet apostas desportivasnenhum momento.
Já Aécio Neves menciona a "implementaçãobet apostas desportivasprogramasbet apostas desportivasapoio e auxílio a comunidades quilombolas", alémbet apostas desportivasreferências a "setores vulneráveis" como "mulheres, crianças, idosos, afrodescendentes, LGBT, quilombolas, ciganos, pessoascom deficiências, vítimas da violência e indígenas" (veja mais no quadro).
Alémbet apostas desportivascitar quilombolas 34 vezes, o programabet apostas desportivasMarina é o único a dedicar um capítulo ao tema.
No texto, ela promete "acelerar os processosbet apostas desportivasreconhecimento e titulaçãobet apostas desportivasterras quilombolas", "melhorar o abastecimentobet apostas desportivaságua, redebet apostas desportivasesgoto e coletabet apostas desportivaslixo", "coibir a especulação imobiliáriabet apostas desportivasáreasbet apostas desportivasquilombos e arredores", entre outras iniciativas. Mesmo assim, suas propostas encontram resistência.
"Culturalmente, os limites da negociaçãobet apostas desportivasterras para comunidades tradicionais esbarra na agropecuária. A demarcação nunca vai ser interesse dos proprietários", diz João Jorge Rodrigues, mestrebet apostas desportivasDireito Público e presidente do Olodum, na Bahia.
"Como alguém pode anunciar uma sériebet apostas desportivaspolíticas para comunidades quilombolas e ao mesmo tempo ter um dos líderes do agronegócio como vice?", indaga.
Paulino Cardoso, da Associação Brasileirabet apostas desportivasPesquisadores Negros (ABPN), também é cético. "Marina se alia a bancos e oligarquias para fazer o que chamabet apostas desportivasnova política. Papel aceita tudo. A gente precisa saber como vai ser feito."
Cotas por dez anos
Os três principais candidatos à presidência nestas eleições defendem a políticabet apostas desportivascotas raciaisbet apostas desportivasuniversidades.
Em seu programabet apostas desportivasgoverno, a ex-senadora diz "reafirmar a importância das cotas para população negra brasileira, como medida temporária, emergencial e reparatória da dívida histórica, com data prevista para terminar".
Já Dilma Rousseff afirma pretender "tornar realidade a Leibet apostas desportivasCotas no serviço público federal, garantindo-lhe a mesma efetividade já alcançada pela leibet apostas desportivascotas nas universidades". Aécio Neves vai na mesma linha, pregando a "defesa e manutenção das ações afirmativasbet apostas desportivasinclusão social, inclusive cotas,bet apostas desportivasrazãobet apostas desportivasraça".
Viúva do ex-senador Abdias Nascimento, criador do Teatro Experimental do Negro nos anos 1940 e premiado pela Unesco por seu pioneirismo na luta pelos direitos da população negra, Elisa Nascimento, a presidente do Ipeafro, critica o texto do programa da candidata do PSB sobre cotas.
"Ela fala sobre as cotas como medida com data prevista para terminar, mas não vejo como determinar uma data. Estamos longebet apostas desportivasuma situação socialbet apostas desportivasequilíbrio, sem desigualdades estatísticas entre negros e brancos", diz.
Segundo o IBGE, 66,6% dos estudantes brancosbet apostas desportivas18 a 24 anos frequentam universidades, enquanto 37,4% dos negros ou pardos estão no ensino superior.
Ouvida pela BBC Brasil, a coordenação do programa racialbet apostas desportivasMarina afirma que 10 anos seriam o horizonte esperado para a transiçãobet apostas desportivascotas raciais para cotas sociais.
"A gente não quer que o negro fique para sempre dependendo das cotas", diz Valneide Nascimento.
"O recorte racial nas cotas é necessário, porque pobreza e racismo são coisas diferentes", contra argumenta Elisa. "O fator racial é outro e não se resolve com políticas generalistas."
Símbolo
Para a médica Jurema Werneck, da Articulaçãobet apostas desportivasOrganizaçõesbet apostas desportivasMulheres Negras Brasileiras, a faltabet apostas desportivaspropostas efetivas para a população negra é um problema comum a todos os candidatos.
A possibilidadebet apostas desportivasuma presidente negra "é simbolicamente importante", diz a ativista.
"Mas este é um simbolismo que fala mais do passado, da luta que o movimento negro travou e que permitiu que ela chegasse lá", diz. "Marina Silva e nenhuma outra candidatura à presidência se colocaram [sobre políticas para os negros]. A classe política ainda está muito atrasada nisto."
Para Thaís Santos, do Coletivo Negro, da USP, a candidata se declarar ou não negra "não significa muito".
"Num país onde muitos dos negros não se entendem como negros, não a entenderão também. Se ela declarasse isso nas propagandas, se isso fosse partebet apostas desportivassua campanha, era outra coisa."
A biografia da candidata, publicadabet apostas desportivasseu site oficialbet apostas desportivascampanha, não mencionabet apostas desportivascor.
Ainda assim, Dennisbet apostas desportivasOliveira, professor da USP e coordenador do coletivo Quilombação, considera importante que afrobrasileiros ganhem espaçobet apostas desportivasesferasbet apostas desportivaspoder - e cita Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal.
"Marina militou com seringueiros, mas não me lembrobet apostas desportivaspolíticas para a população negra", afirma. "Ela é muito mais percebida pela questão ambiental do que pela identificação com os negros."
Segundo a coordenadorabet apostas desportivaspolíticas raciais, Valneide Nascimento, "o programa foi construído com a participaçãobet apostas desportivasrepresentantes da sociedade e da militânciabet apostas desportivastodo o Brasil".
Questionada sobre quais gruposbet apostas desportivasmilitância participaram, Nascimento não soube responder. "Eram muitos, a gente chamava e eles iam."