Área indígena do MS lideraria rankingplay fortuna bonuscapitais mais violentas:play fortuna bonus

Cacique Damiana Cavanha

Crédito, BBC Brasil

Legenda da foto, A cacique Damiana Cavanhaplay fortuna bonuscemitérioplay fortuna bonusparentes mortos atropelados

As mortes dos irmãos ilustram a gravidade da violência sofrida por indígenasplay fortuna bonusMato Grosso do Sul. Dados da Secretaria Especialplay fortuna bonusSaúde Indígena (Sesai) obtidos pela BBC Brasil com base na Leiplay fortuna bonusAcesso à Informação revelam queplay fortuna bonusnenhum outro lugar do país tantos índios morrem por causas externas.

Entre 2007 e 2013, o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI)play fortuna bonusMato Grosso do Sul registrou 487 mortes violentasplay fortuna bonusíndios, das quais 137 por homicídio.

Ao menos 14 assassinatos ocorreramplay fortuna bonus2013 na reservaplay fortuna bonusDourados, onde Doraci perdeu seus filhos. O dado confere à área o índice aproximadoplay fortuna bonus100 mortes por 100 mil habitantes, maior que a taxaplay fortuna bonushomicídios no Brasil (25,8) e até que a da capital mais violenta do país, Maceió (79,8).

A reserva, onde 14 mil índios dividem 3,5 mil hectares, é quase uma extensão da cidadeplay fortuna bonusDourados, com características comuns a bairros periféricos brasileiros. Em comparação, na Amazônia, grupos indígenas com população menor que a da reserva sul-mato-grossense costumam disporplay fortuna bonusáreas cem vezes maiores.

A insegurança vivida pelos índiosplay fortuna bonusMato Grosso do Sul se faz notar até no gosto musical dos jovens. Conjuntosplay fortuna bonusrap que denunciam o racismo e a violênciaplay fortuna bonusgrandes cidades brasileiras se tornaram populares entre o grupo.

O gênero tem ganhado expoentes dentro da própria comunidade, como os pioneiros Brô MC’s.

Os dadosplay fortuna bonussuicídio entre os índiosplay fortuna bonusMato Grosso do Sul também estão entre os maiores do país.

Nos últimos 7 anos, o DSEI local registrou 98 casos, quase todos entre jovens guarani kaiowá. A taxa, porém, pode ser muito maior, já que 109 mortes por estrangulamento não tiveramplay fortuna bonusintenção determinada.

Autorplay fortuna bonusuma dissertaçãoplay fortuna bonusmestrado na USP sobre o tema, o antropólogo Spensy Pimentel associa o fenômeno a um processo iniciado há quase um século, quando o extinto Serviçoplay fortuna bonusProteção ao Índio (SPI) passou a expulsar indígenas das terrasplay fortuna bonusque viviam para liberá-las para o agronegócio.

Essas ações, que se estenderam até o fim da ditadura militar, nos anos 80, agruparam famílias indígenas sem laços históricosplay fortuna bonusreservas com espaço e recursos limitados, gerando conflitos.

Doraci (ao centro)

Crédito, BBC Brasil

Legenda da foto, A famíliaplay fortuna bonusDoraci (centro) perdeu três filhos assassinados

Nessas áreas, as famílias deviam obediência a indígenas empoderados pelo regime militar para agirplay fortuna bonusforma autoritária. Foi nesse ambiente violento e miserável, pouco alterado desde então, que os suicídios se tornaram frequentes, diz Pimentel.

Autoria dos crimes

Essas condições também ajudam a explicar, segundo os índios, os altos índicesplay fortuna bonushomicídio na região. Ainda que não haja informações sobre os autoresplay fortuna bonuscrimes contra os índios, parentesplay fortuna bonusvítimas e lideranças comunitáriasplay fortuna bonusDourados ouvidos pela BBC Brasil atribuem a maioria das mortes a moradores das próprias áreas indígenas.

Segundo o cacique kaiowá Getúlio Juca, os crimes na reservaplay fortuna bonusDourados geralmente envolvem o consumoplay fortuna bonusálcool ou drogas. Embora uma lei federal criminalize a a vendaplay fortuna bonusbebidas a indígenas, ele diz que o comércio ocorre livremente nas aldeias eplay fortuna bonusbares do entorno.

A responsabilidade pela segurançaplay fortuna bonusáreas indígenas é compartilhada. Cabe à Polícia Federal proteger as terrasplay fortuna bonusagressões externas e à polícia estadual, coibir e investigar crimes entre indígenas. Desde 2011, a Força Nacional também tem patrulhado a reserva. Os índicesplay fortuna bonusviolência, contudo, não se alteraram.

O delegado Lupércio Degerone Lúcio, da Polícia Civilplay fortuna bonusDourados, admite que "não há um efetivo combate" da vendaplay fortuna bonusbebidas na área, tarefa dificultada pelos vários acessos à reserva.

Ele diz, contudo, que a polícia tem se esforçado para investigar os homicídios e que há dezenasplay fortuna bonusíndios condenados por crimes. O delegado afirma queplay fortuna bonusmuitos casos, porém, não é possível provar a responsabilidadeplay fortuna bonussuspeitos detidos pelos índios, que acabam liberados.

Ritual Kaiowá

Crédito, BBc Brasil

Legenda da foto, Segundo cacique kaiowá, crimes na reserva geralmente envolvem o consumoplay fortuna bonusálcool ou drogas

Segundo o cacique Juca, a inoperância policial faz com que muitos indígenas busquem punir os assassinosplay fortuna bonusseus parentes, gerando um cicloplay fortuna bonusvinganças.

Ele diz que, como a polícia e a Justiça não têm conseguido pôr fim à violência na reserva, os líderes têm discutido criar um grupoplay fortuna bonus"segurança tradicional" para cumprir as funções policiais.

Mortes por acidente

O DSEI Mato Grosso do Sul também detêm, entre todas as áreas indígenas do país, os maiores índicesplay fortuna bonusmortes acidentais. Desde 2007, houve lá 27 mortes por afogamento e 33 por acidentesplay fortuna bonustransporte.

Atropelamentos são especialmente comuns nos numerosos acampamentos erguidos por índios à beiraplay fortuna bonusestradas. Fugindo das péssimas condições nas reservas demarcadas e buscando recuperar terras que dizem ter sidoplay fortuna bonusseus antepassados, eles têm ocupado, desde a última década, áreas que hoje pertencem a fazendeiros.

As ações obrigaram a Funai (Fundação Nacional do Índio) a iniciar estudos para avaliar se as áreasplay fortuna bonusfato abrigavam indígenas e demarcá-las. No entanto, os fazendeiros têm conseguido travar os processos na Justiça.

Enquanto as disputas avançam a conta-gotas, os índios se expõem aos riscosplay fortuna bonusconfrontos com segurançasplay fortuna bonusfazendas. Eles atribuem a "pistoleiros" uma sérieplay fortuna bonusmortesplay fortuna bonusindígenas na última década, entre as quais as dos líderes Nísio Gomes e Marcos Verón.

Os índios também associam as mortes por atropelamento à "luta pela terra". Na comunidadeplay fortuna bonusApyka'i, erguida no meioplay fortuna bonusuma plantaçãoplay fortuna bonuscana na estrada entre Dourados e Ponta Porã, a frequência dos acidentes é assombrosa.

A cacique Damiana Cavanha mostra à BBC Brasil as sepulturasplay fortuna bonusseis parentes mortos nos últimos anos. Seu marido, dois filhos e dois netos morreram atropelados, e uma tia, envenenada por agrotóxicos.

A juíza federal Adrianaplay fortuna bonusZanetti determinou que a comunidade fosse expulsa da área até 15play fortuna bonusfevereiro, o que ainda não ocorreu.

A cacique afirma que não deixará as terras, que considera um "tekoha" ("lugar onde se pode viver do nosso próprio jeito"). Ela diz que seus antepassados, entre os quais seu pai, estão enterrados no local.

Na semana seguinte à visita da BBC Brasil, houve outra morte na comunidade. Deuci Lopes,play fortuna bonus17 anos, foi atropelada por um caminhão.

Ela deixou um filhoplay fortuna bonus2 anos.