'Voltar para casa vivo se tornou um luxo', diz síria ao abandonar Damasco:aami cbet exam
aami cbet exam A repórter da BBC Lina Sinjab relataaami cbet examprofunda emoção ao deixar para trásaami cbet examcidade natal, Damasco, capital da Síria - país que vive há maisaami cbet examdois anos uma dura guerra civil:
"Damasco, a cidade onde eu cresci, com suas árvoresaami cbet examjasmim, mercadosaami cbet examespeciarias e barazes, o rio Barada e uma históriaaami cbet exammilharesaami cbet examanos.
A cidade está totalmente diferente. Cobri a Primavera Árabe desde seu começo,aami cbet exammarçoaami cbet exam2011, e mantive meu amor por Damasco mesmo enquanto ela mudava diante dos meus olhos.
Todos achavam que a cidade ficaria imune à violência, que os conflitosaami cbet examcidades e aldeias vizinhas não afetariam a capital.
Mas eles estavam enganados. Damasco se tornou mais um pontoaami cbet examconfrontos, testemunhando violência praticada pelo governo contra manifestantes pacíficos.
No início, o regime conseguiu reunir muitos simpatizantes ao redor da liderançaaami cbet examBashar al-Assad. Houve dezenasaami cbet exammanifestações pró-governo, com slogans como "longa vida a Assad" e "Deus, Síria, Bashar apenas".
Depois, os cantos mudaram para: "Ou Assad ou ninguém" e "Ou Assad ou incendiaremos o país".
Hoje, são simplesmente "Incendiaremos o país".
Polarização
Para os aliadosaami cbet examAssad, que são principalmente do ramo alauíta (dentro do islã xiita), a sobrevivência do presidente significa a sobrevivência do próprio grupo.
A sociedade se tornou polarizada - amigos se separaram; familiares entraramaami cbet examdisputa, já que todos tomaram partido no conflito. A dinâmica da vida também mudou. Todos estão tentando, àaami cbet exammaneira, se ajustar a uma cidadeaami cbet examguerra.
Voltar para casa vivo se tornou um luxo. Todos na cidade sabem que podem morrer a qualquer minuto. Ou alguém próximo pode morrer no fogo cruzado ou nos morteiros que começam a chover sobre a cidade.
Na praça Abbassien, perto dos subúrbios ao sul, é possível ver as operações militares a todo vapor. Um estádio esportivo foi convertidoaami cbet exambase, com tanques e soldados. De lá, assisti um tanque disparar contra o distritoaami cbet examJobar, a duas ruasaami cbet examonde mora a minha família.
Não sabia como me sentir. Por algum motivo, eu ri - não sei seaami cbet examraiva, ou da sensaçãoaami cbet examimpotência porque tantos estão morrendo e não há nada que eu possa fazer; ouaami cbet examegoísmo, pela minha sorteaami cbet examestar atrás do tanque e ainda poder viver.
Algum tempo atrás, percebi que não era mais capazaami cbet examchorar ouaami cbet examsentir. Mas eu queria chorar a cada morte, reconquistar minha humanidade e a minha alma. Não quero ficar confortável com a morte, quero vida.
Destruição
Ao longo do conflito, visitei muitas cidades. Fui a protestosaami cbet examHoms; vi jovens cristãos e ativistas alauítas visitando subúrbiosaami cbet examDamasco para oferecer condolências a famílias que perderam crianças, mortas por tropas pró-governo; acompanhei mulheres indoaami cbet examportaaami cbet examporta para ajudar pessoas traumatizadas pela guerra.
Mas mesmo pequenos gestos pacíficos eram motivo para prisão - imagine então estar na linhaaami cbet examfrente do combate, pegandoaami cbet examarmas para lutar contra o regime.
Douma, um subúrbioaami cbet examDamasco, foi um dos primeiros lugares a protestar,aami cbet examforma totalmente pacífica. Hoje, está totalmente destruído.
Os civis que continuaram lá ficaram marcados pelo conflito. Um meninoaami cbet exam14 anos que abandonou a escola para se tornar enfermeiro me disse que, se tivesse continuado os estudos, já estaria falando inglês fluentemente.
Ele diz que vive rodeadoaami cbet examsangue e ferimentos. Mas manteve-se forte. E, enquanto um avião militar o sobrevoava durante a nossa conversa, ele disse que não tinha medo da morte; pelo menos agora ele podia falar livremente.
Dar valor
Criamos maneirasaami cbet examsobreviver - cozinhando, bebendo, dançando, rindo.
Fizemos piadas sobre a guerra, sobre nossos medos, criticando o governo e a oposição.
Não se passa um dia sequer sem que haja um encontro social entre amigos. É bizarro como a guerra faz você dar valor a todas as pessoas naaami cbet examvida.
Não podemos nos dar ao luxoaami cbet examficarmos tristes ou fracos, e não há alternativas senão levantar e seguiraami cbet examfrente.
Após um ano impedidaaami cbet examdeixar o país, consegui meu passaporte, e era horaaami cbet examir embora. Disse adeus aos últimos amigos.
A situaçãoaami cbet examDamasco piora a cada dia. Algo dentroaami cbet examcada umaami cbet examnós se despede, e não sabemos se vamos voltar a nos ver.
Não sei o que acontecerá com a minha cidade e com quem permanece na Síria. Saíaami cbet examDamasco com o coração e a alma partidos, deixando para trás memórias, minha vida, amizades e histórias.
Não sei quando voltarei, mas, se voltar, temo que não será para a mesma cidade onde eu cresci.