Por que imigração está causando 'crise humanitária sem precedentes'pix bet 265Nova York:pix bet 265

Crédito, Getty Images

Crédito, Analía Llorente

Legenda da foto, Beruska tem 22 anos e está grávidapix bet 2659 meses — ela chegou a Nova Yorkpix bet 265buscapix bet 265um futuro melhor

No trajeto, ela passou sete dias na selva, foi roubada no México, atravessou o Rio Bravo (conhecido como Rio Grande nos EUA), e chegou ao território americano no iníciopix bet 265novembro — sem nada.

"Parecia que ia morrer ali. De tanto chorar, comecei a sentir dor no estômago", diz ela à BBC News Mundo, serviçopix bet 265notíciaspix bet 265espanhol da BBC, na sala aquecida do museu, enquanto a temperatura do ladopix bet 265fora chegava pertopix bet 2650 °C.

Agora, ela dormepix bet 265um dos hotéis — alguns com até quatro estrelas — designados pela prefeiturapix bet 265Nova York para receber os maispix bet 26522 mil migrantes que chegaram à cidade desde abril passado: muitos são venezuelanos fugindo da crise econômicapix bet 265seu país; outros estão tentando escapar da insegurança na América Central.

Crédito, Analía Llorente

Legenda da foto, O hotel The Row, no bairro Hell's Kitchen,pix bet 265Manhattan, é um dos que abriga migrantes que chegam a Nova York

Em outubro, o prefeitopix bet 265Nova York, Eric Adams, declarou estadopix bet 265emergência quando os abrigos começaram a lotar devido ao grande númeropix bet 265migrantes — que, empix bet 265maioria, depoispix bet 265cruzar a fronteira no Texas ou no Arizona, chegarampix bet 265ônibus a Nova York.

Esses ônibus são custeados por organizações beneficentes e, agora, sobretudo, por governos estaduais republicanos que querem dar um golpe político ao transferir o desafio da imigração para territórios democratas, como Nova York.

A cidade chegou a montar uma tenda gigante na Randalls Island durante quase um mês, como formapix bet 265ampliar a ofertapix bet 265alojamento.

'Crise humanitária'

A cidadepix bet 265Nova York enfrenta "uma crise humanitária sem precedentes", informou o gabinete do prefeitopix bet 265um comunicado ao prorrogar o estadopix bet 265emergênciapix bet 26521pix bet 265novembro.

"Se os solicitantespix bet 265asilo continuarem chegando no ritmo atual, a população total dentro do sistemapix bet 265abrigos ultrapassará 100 mil pessoas no próximo ano", alertou.

Trata-sepix bet 265um número nunca antes registrado nos abrigos da cidade, segundo as autoridades locais.

Crédito, Analía Llorente

Legenda da foto, O governo da cidadepix bet 265Nova York montou uma grande tenda na Randalls Island por quase um mês para abrigar os migrantes

Historicamente, a cidadepix bet 265Nova York sempre foi um farol para os migrantes. É o que mostra seu símbolo: a Estátua da Liberdade.

No século 19, a estátua deu as boas-vindas a milharespix bet 265migrantespix bet 265vários continentes que buscavam na cidade americana um novo lar.

Mas essa nova ondapix bet 265migrantes que cruzam a fronteira sul dos Estados Unidos está colocando à provapix bet 265reputaçãopix bet 265"cidade-santuário": as autoridades locais se recusam a aplicar as duras políticaspix bet 265migração do governo federal.

Por lei, Nova York deve dar refúgio a quem solicitar.

"Não estamos dizendo a ninguém que Nova York pode abrigar todos os migrantes da cidade. Não estamos incentivando as pessoas a enviar oito, nove ônibus por dia. Estamos dizendo que, como cidade-santuário e com direito à moradia, vamos cumprir nossa obrigação", declarou Adamspix bet 265setembro.

Crédito, Getty Images

Maispix bet 265dois milhõespix bet 265migrantes foram detidos na fronteira entre os Estados Unidos e o México no ano passado, um número recorde que preocupa politicamente o governopix bet 265Joe Biden.

A maioria dos que tentam cruzar a fronteira a pé são venezuelanos, nicaraguenses e cubanos, segundo dados do Departamentopix bet 265Alfândega e Proteçãopix bet 265Fronteiras dos EUA (CBP, na siglapix bet 265inglês).

Maispix bet 265150 mil venezuelanos conseguiram entrarpix bet 265território americano pela fronteira com o México durante o último ano fiscal, um aumentopix bet 265293%pix bet 265relação ao ano anterior.

É por isso que,pix bet 265meadospix bet 265outubro, o governopix bet 265Joe Biden decretou que "os venezuelanos que entrarem nos Estados Unidos sem autorização por áreas localizadas entre os portospix bet 265entrada serão devolvidos ao México".

Crédito, Getty Images

O CBP afirma que, desde que essa medida foi aplicada, houve uma queda significativapix bet 26535%pix bet 265setembro (33.804) a outubro (22.044) no númeropix bet 265venezuelanos que tentavam cruzar a fronteira.

O governo também criou um sistema para que 24 mil venezuelanos cheguem legalmente, nos moldes do sistema criado para receber os ucranianos que fogem da invasão russa.

Em geral, as autoridades processam os migrantes na fronteira — eles são então liberados e autorizados a se movimentar pelos EUA enquanto aguardam o processo judicialpix bet 265solicitaçãopix bet 265asilo, quepix bet 265alguns casos pode levar anos.

Crédito, Analía Llorente

Legenda da foto, Em 19pix bet 265novembro, foi realizado um evento do Projeto Rousseau no MET para ajudar os migrantespix bet 265Nova York

Beruska é um dos migrantes que conseguiu atravessar a fronteira pelo Texas e chegar a Nova York.

"Estou bem no hotel. Tenho comida e um lugar para dormir", diz ela agradecida, enquanto carregava um bolopix bet 265Açãopix bet 265Graças doado aos maispix bet 265250 imigrantes que participaram do eventopix bet 265"Dia da Comunidade" no MET.

Mas ela sabe que a ajuda que recebe hoje não vai durar para sempre.

Ela conta que fez uma consulta médicapix bet 265um hospital por causa da gestação quando chegou a Nova York. E foi orientada a voltar quando sentisse dor. Mas ela não sabe quais são os próximos passospix bet 265relação àpix bet 265coberturapix bet 265saúde, um dos grandes desafios para os recém-chegados ao país.

Apesar do seu otimismo e do fatopix bet 265o marido ter acabadopix bet 265arrumar um empregopix bet 265uma redepix bet 265fast food, Beruska se pergunta se essa renda será suficiente para criar e sustentarpix bet 265filhapix bet 265uma cidade com tantos obstáculos para que migrantes sem documentação possam conseguir trabalho, seguropix bet 265saúde e um teto.

Só com a roupa do corpo

"Uma pergunta: vocês trouxeram roupas masculinas?", indaga um rapaz durante uma noite friapix bet 265Manhattan,pix bet 265meadospix bet 265novembro.

A pergunta é dirigida a Yajaira "Yaya" Saavedra, que chegou pouco antes com dois carros carregadospix bet 265caixas e sacolas na esquina do hotel The Row, uma das acomodações ocupadas por migrantes na áreapix bet 265Hell's Kitchen,pix bet 265Nova York.

Crédito, Analía Llorente

Legenda da foto, Membros do restaurante La Morada oferecem doações para imigrantespix bet 265uma noite friapix bet 265novembropix bet 265Manhattan

A mulherpix bet 26534 anos é dona do La Morada, um restaurante familiarpix bet 265comida mexicana no Bronx.

Mas ela diz que metadepix bet 265sua operação é dedicada agora à distribuiçãopix bet 265doações.

"Desde abril, estamos ajudando as pessoas que vêm para Nova York. Às terças e quintas, saímos para distribuir. Recebemos doações, mas compramos a maioria", afirma à BBC News Mundo.

Junto a um grupopix bet 265colaboradores, ela distribui alimentos e principalmente roupas nos hotéis e abrigospix bet 265que os migrantes estão hospedados, porque a maioria deles chega só com a roupa do corpo.

"Esta é uma das cidades mais ricas do mundo. Se eu, com o pouco dinheiro que tenho, ajudo, creio que o governo pode fazer mais. A cidade deve oferecer moradia às pessoas. Isso é desumano", diz ela, apesar da ajuda prestada pela cidade.

"Este país não pode existir sem migrantes", acrescenta "Yaya", que chegou aos Estados Unidos cruzando a pé a fronteira há três décadas.

Crédito, Analía Llorente

Legenda da foto, Um grupopix bet 265colaboradores do restaurante La Morada distribui doações duas vezes por semana para migrantespix bet 265Nova York

Nessa mesma esquina, na 8ª avenida com a rua 44, surge Sara,pix bet 26517 anos, com um bebêpix bet 265pouco maispix bet 2651 ano.

Ela saiu da Venezuela caminhando com seu companheiro.

"Vim porque quero dar um futuro melhor para minha filha. Também estou procurando um futuro para mim, quero estudar", ela afirma, enquanto recebe algumas mudaspix bet 265roupa para a filha.

"Graças a Deus estoupix bet 265Nova York. Aqui poderei alcançar meu objetivo", diz esperançosa.

Ela explica que passou alguns dias no Texas, mas sabia que receberia mais ajuda na Big Apple.

Crédito, Analía Llorente

Legenda da foto, Sara tem 17 anos e chegou a Nova York com o companheiro e a filha bebê há pouco maispix bet 265um ano

Osiris Pulgar,pix bet 26521 anos, estápix bet 265buscapix bet 265uma comida quente — e compartilha da mesma opinião.

"Vim para Nova York porque sei que aqui eles priorizam a ajuda mais do quepix bet 265outros estados", diz ela, depoispix bet 265passar um tempo com a filhapix bet 2654 anos e o companheiro no Texas, onde não se sentiam bem-vindos.

"Estou procurando um emprego para fazer qualquer coisa, faxina, qualquer coisa. Não consigo encontrar. Preciso dos papéis e aprender inglês. Mas não vou desistir. Quero dar à minha filha o que não pude ter", afirma.

Crédito, Analía Llorente

Legenda da foto, Osiris, que também é venezuelana, diz quepix bet 265Nova York eles priorizam a ajuda aos migrantes mais do quepix bet 265outros lugares dos EUA

Os papéis a que Osiris se refere é o pedidopix bet 265asilo nos Estados Unidos. Após ser aprovado, garantiria a ela permissão para trabalhar.

"Tenho esperança e fépix bet 265que as coisas vão melhorar aqui", diz ela. "Não hesitariapix bet 265me mudar para outro estado se conseguisse um emprego."

'O sonho americano não existe'

Pelo menos uma dúziapix bet 265migrantes com quem a BBC News Mundo conversoupix bet 265Nova York repetem com otimismo que buscam um futuro melhor do que o que seus países podem oferecer. E pretendem atingir seus objetivos trabalhando. Eles também reiteram que arrumar emprego não é fácil.

"Vamos progredir trabalhando", diz confiante Lorena, uma colombianapix bet 26543 anos que chegou a Nova York com a filha Loraine,pix bet 26512 anos, que é venezuelana.

Crédito, Analía Llorente

Legenda da foto, Lorena chegou a Nova York com a filha Loraine após atravessar a selva e a América Central

Ela conta que a filha mais nova ficou na Venezuela com a avó, porque não tinha dinheiro para levar toda a família. E reza para que possa trazê-la logo.

"Vamos ver como fazemos com os papéis. Temos um agendamento [com a migração] para 2024", diz ela.

Crédito, Analía Llorente

Legenda da foto, Karen e a filha Eliexy chegaram a Nova York vindas da Venezuela há três meses

Karen Barrolleta,pix bet 26541 anos, conta que chegou com a família da Venezuela há cercapix bet 265três meses — e mora com o marido e a filha, Eliexy Ramos,pix bet 26514 anos,pix bet 265um dos hotéis destinados a migrantes perto da Times Square,pix bet 265Manhattan.

"Muita gente chega aquipix bet 265busca do sonho americano, mas o sonho americano não existe. Não vão te receber com uma casa ou um carro. Se você não trabalhar, ninguém vai te darpix bet 265mão beijada. Tudo na vida que vale a pena custa e se conquista trabalhando", enfatiza.

Resistir na cidade mais cara dos EUA

Nova York é a cidade mais cara dos Estados Unidos — 8,5 milhõespix bet 265pessoas vivem aqui; sópix bet 265Manhattan são cercapix bet 2651,7 milhão.

O índicepix bet 265custopix bet 265vida é 237,8% mais alto do que a média nacional,pix bet 265acordo com o Council for Community and Economic Research.

Crédito, Getty Images

Tudo é caro na cidade, desde comida até transporte público e moradia. A renda média per capita épix bet 265quase US$ 77 mil.

A taxapix bet 265desemprego da cidade com ajuste sazonal foipix bet 2655,9%pix bet 265outubropix bet 2652022, uma altapix bet 2650,3%pix bet 265relação a setembro e uma quedapix bet 2652%pix bet 265relação a outubro do ano passado. A taxapix bet 265desemprego nacional está próximapix bet 2653,7%.

Crédito, Analía Llorente

Legenda da foto, O Hotel Wolcottpix bet 265Midtown, Manhattan, abriga vários dos migrantes que chegaram a Nova York nos últimos meses

Conseguir emprego não é uma tarefa fácil para os migrantes. E é muito mais complicado sem documentação ou treinamento.

Por exemplo, no setorpix bet 265construçãopix bet 265Nova York, os trabalhadores precisampix bet 265dois cursos que custam entre US$ 100 e US$ 400.

"Oferecemos cursos gratuitos. Não é uma autorizaçãopix bet 265trabalho, mas é uma preparação para que possam entrar nessa redepix bet 265construção", explica Yesenia Mata, diretora executiva da La Colmena, organização que ajuda e representa a comunidade e os trabalhadores migrantespix bet 265Staten Island,pix bet 265Nova York.

Crédito, Analía Llorente

Legenda da foto, Yesenia Mata dirige a La Colmena, uma organização que capacita migrantes para que tenham mais oportunidadespix bet 265conseguir um empregopix bet 265Nova York

"A missão é garantir que os trabalhadores e as trabalhadoras migrantes possam, por meio da educação, se defender sozinhos no trabalho", explica.

Desde abril passado, Mata conta que o fluxopix bet 265migrantes aumentou significativamente. E que o sotaque venezuelano predomina nas consultas que são feitas todas as manhãs na sede da organização.

"Temos uma listapix bet 265esperapix bet 265300 pessoas para os cursos", acrescenta.

"A necessidade do trabalhador migrante que está aqui há algum tempo é muito diferente da necessidadepix bet 265quem acabapix bet 265chegar", pontua Mata, contando que a organização introduziu cursos para os migrantes que chegaram nos últimos meses, para ajudá-los a se inserir na sociedadepix bet 265Nova York.

"Muitos dizem que o migrante não é forte. Mas uma pessoa que passou por tanto para chegar aqui é muito forte, resiliente. Os migrantes precisampix bet 265uma oportunidade para se superar", afirma.

Crédito, Analía Llorente

Crédito, Analía Llorente

Enquanto isso, na sala do MET, Beruska não perde o sorriso caloroso, apesarpix bet 265tudo o que passou para chegar a Nova York.

"Valeu a pena", repetepix bet 265voz alta.

"Saí do Equador porque tinha muita criminalidade, e da Venezuela, por causa da crise que já se conhece. Esperopix bet 265Nova York começar uma nova vida com meu marido e minha princesa, que vai nascerpix bet 265breve", diz ela.

"Estou pensandopix bet 265chamar minha filhapix bet 265Victoria. Chegar aqui é uma vitória."

*Vários entrevistados preferiram não revelar o sobrenome por medopix bet 265represálias.

- Este texto foi publicadopix bet 265http://vesser.net/internacional-63832514