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Como estratégia sul-coreana que impulsionou k-pop e cinema pode inspirar o Brasil:bet365 clássico
Há poucos dias, Round 6 se tornou a primeira série faladabet365 clássicoum idioma diferente do inglês a vencer dentro das categorias mais importantes do Emmy, principal troféu da TV norte-americana. Em 2019, Parasita provocou um impactobet365 clássicomagnitude ainda maior ao ganhar o Oscarbet365 clássicomelhor filme, a principal estatueta da noite.
Também recentemente o k-pop virou um fundobet365 clássicoinvestimentos negociadobet365 clássicobolsabet365 clássicovalores junto a um índice que acompanhará o desempenhobet365 clássico30 empresasbet365 clássicoentretenimento do país asiático. É um sinalbet365 clássicoque muitos apostambet365 clássicoespaço para expandir a popularidade do gênero.
Soft power
A Coreia do Sul é citada recorrentemente como um exemplobet365 clássicosucesso na indústria criativa, com resultados consideráveis para a economia local.
Levantamento da Kofice (Fundação Coreana para o Intercâmbio Cultural Internacional) aponta que exportações ligadas a conteúdos produzidos pelo país atingiram US$ 11,69 bilhões no ano passado, incluindo o setorbet365 clássicogames, que possui um peso substancial nessa conta.
Mais do que os números, há um efeito cascata do fenômeno mundial: com o interesse pelo paísbet365 clássicoalta, o turismo teve um salto.
Há mais demanda internacional pela gastronomia e por produtos alimentícios locais — vide pessoas indo a mercadinhos do bairro paulistano do Bom Retiro, que concentra a comunidade coreana, à procura do biscoito dalgonábet365 clássicoRound 6.
Até a indústria da maquiagem sul-coreana vem prosperando — afinal os rostos do k-pop e das sériesbet365 clássicoTV estão provocando mudanças no padrãobet365 clássicobeleza internacional, antes fixadobet365 clássicotraços ocidentais.
Tudo isso resulta no chamado soft power: sem uso da força, a Coreia do Sul está ascendendo no cenário internacional e com uma imagem simpática e atraente dentrobet365 clássicodiferentes países, do Vietnã ao Brasil, passando por EUA e Alemanha.
Essa trajetória é ainda mais surpreendente porque, até a décadabet365 clássico1960, Coreia do Sul era uma nação pobre e subdesenvolvida.
Sua produção cultural era tímida, à sombra do vizinho e antigo invasor Japão, até que nos anos 1990 o setor local ganhou papelbet365 clássicodestaque entre os objetivos do governo. A ideia era dinamizarbet365 clássicoeconomia. Investimentos cresceram e ações estatais facilitaram o trabalhobet365 clássicoquem atuava na área.
O Brasil, que já experimentou no passado êxito mundial tanto na música (a bossa nova na décadabet365 clássico1960) como nas novelas (Escrava Isaura foi hit na Rússia e na China entre os anos 1980 e ajudou a sedimentar a fama brasileira no ramo), poderia alavancar os potenciais adormecidosbet365 clássicosua indústria criativa ao adotar conceitos da política sul-coreana?
Pesquisadores sul-coreanos que analisaram a hallyu — "onda coreana" — dizem que políticas culturais bem planejadas e bem aplicadas sempre ajudam.
No entanto, alguns enfatizam que o fenômeno só alcançou essa dimensão por causabet365 clássicouma conjunção mais complexabet365 clássicofatores.
Confira abaixo como foi essa trajetória sul-coreana e também o que brasileiros que lidam com políticas culturais opinam sobre possíveis lições para o país.
Como foi construído o caminho
O século 20 foi especialmente difícil para a península coreana. Foram 35 anosbet365 clássicouma cruel ocupação japonesa seguidabet365 clássicoum conflito armado entre as partes norte e sul do território. Era o panobet365 clássicofundo da nascente Guerra Fria entre as potências Estados Unidos e União Soviética. Só entre civis, 2,5 milhõesbet365 clássicopessoas morreram na Guerra da Coreia.
A seguir, os sul-coreanos ficaram sob regimes militares por quatro décadas, períodobet365 clássicoque a censura controlava atividades culturais. A voltabet365 clássicogovernos eleitos democraticamente no final da décadabet365 clássico1980 também significou a liberação da produção artística, algo importante para a onda coreana tomar forma depois.
Mas a principal razão para o governo voltar os seus olhos para a cultura naquela época foi a economia, especialmente após a crise financeira asiáticabet365 clássico1997. O país tentou diversificar seus negócios, concentrados na manufatura, e apostou na indústria criativa.
Alessandra Meleiro, presidente do Instituto das Indústrias Criativas e professora da Universidade Federalbet365 clássicoSão Carlos (UFSCar), cita o "caso Jurassic Park" para ilustrar o que chamou atenção dos políticos locais.
O primeiro filme da série blockbuster, dirigido por Steven Spielbergbet365 clássico1993, foi citadobet365 clássicoum relatório governamental por terbet365 clássicobilheteria equivalente à vendabet365 clássico1,5 milhãobet365 clássicocarros da Hyundai.
Além do potencial como indústria criativa, havia a questãobet365 clássicocomo a produção cinematográfica nacional tinha pouco espaço.
"Esse filme ocupou todas as salasbet365 clássicocinema da Coreia do Sul por três meses. A coisa foi tão gritante que esse fenômenobet365 clássicoocupação das salas ligou o sinalbet365 clássicoalertabet365 clássicoque alguma política protecionista tinha que ser criada. Então foram adotadas cotasbet365 clássicotela [estabelecimentobet365 clássicoum percentual mínimobet365 clássicoprodução audiovisual nacional]", diz ela.
Meleiro — que cita como referência os trabalhos acadêmicos da ex-Ancine Luana Rufino sobre o sucesso da experiência sul-coreana — conta que a mesma política teve efeitos distintosbet365 clássicoum primeiro momento.
"No cinema foi um tiro no pé porque eram feitos filmesbet365 clássicobaixa qualidade, só para cumprir o requisitobet365 clássicoinvestirbet365 clássicoprodução nacional. Mas para a TV aberta e TV paga, essa política ampliou o lequebet365 clássicojanelas e, portanto,bet365 clássicopossibilidadesbet365 clássicoprodução independente. Isso aconteceu no Brasil, com uma lei semelhante,bet365 clássico2011."
O cinema, como já mencionado, viria a dar frutos mais para frente. Desde o cult Oldboy (2003), do diretor Park Chan-wook, até Bong Joon-ho fazer história com Parasita.
O k-pop foi tratado como produtobet365 clássicoexportação. O Ministério da Cultura foi reestruturado para trabalhar a divulgaçãobet365 clássicoseus artistas. Adotou ações como distribuir milharesbet365 clássicoCDsbet365 clássicok-pop a potenciais clientesbet365 clássicomercados internacionais e estimular a participaçãobet365 clássicoempresasbet365 clássicoentretenimentobet365 clássicofeiras no exterior.
O governo organizou e promoveu no anobet365 clássico2000 um show da boy band H. O. T. (Highfive of Teenagers) na China. O poderoso vizinho acabou se tornando um dos lugares onde os idols do k-pop criaram seus primeiros fandoms. Por sinal, o termo mais usado para o fenômeno, hallyu, é uma palavrabet365 clássicoorigem chinesa e não coreana.
E com a cultura no alto da agenda do governo, obstáculos eram desemperrados na burocracia quando necessário.
O foco se intensificou nos governos seguintes. O presidente sul-coreano da virada do século, Kim Dae-jung, se autoproclamou o "presidente da cultura" e introduziu mais medidas para promoverbet365 clássicoforma agressiva o setor.
Em 2012, a indústria pop do país tomavabet365 clássicoassalto o mundo. O vídeobet365 clássicoGangnam Style, do cantor Psy, subia no YouTube para quebrar recordes e se tornar o mais vistobet365 clássicotodos os tempos por anos — hoje tem 4,5 bilhõesbet365 clássicoviews e é o 10° da lista.
No topo agora está Babyshark, da empresa Pinkfong, que é... sul-coreana.
Jungsoo Kim, professorbet365 clássicoadministração pública na Universidade Hanyang,bet365 clássicoSeul, faz um contraponto. Ele defendebet365 clássicoum estudo que houve quatro fatores para o fenômeno sul-coreano com tanto peso quanto a ação governamental:
- a competitividade da cultura coreana;
- mudanças políticas e econômicasbet365 clássicovizinhos da Ásia na décadabet365 clássico1990;
- um mercado bem formadobet365 clássicoempresasbet365 clássicoentretenimento na Coreia do Sul na época;
- a expansão da tecnologia e da internet que levou a uma era dominada pelo consumobet365 clássicovídeos ebet365 clássicoimagens
"O mundo da cultura e da arte é muito complexo para ser entendido com um único e simples modelo causal. A real causa do sucesso atual dos K-conteúdos no mercado global é ainda incerto", diz Kim à BBC News Brasil.
Ele escrevebet365 clássicoseu trabalho: "Construir políticas culturais é como jogar sementes na terra: não se sabe com antecedência qual delas vai frutificar".
O primeiro item da listabet365 clássicoKim é um dos pontosbet365 clássicoque a indústria musical local sofre críticas. O k-pop se desenvolveubet365 clássicotorno da cultura do idol, com competiçõesbet365 clássicoque jurados e olheiros escolhiam os melhores candidatos à estrela.
Além do questionamento "é produto ou cultura?" que alguns críticos fazem, esse cenáriobet365 clássicocompetição asfixiante,bet365 clássicoque quase tudo é calculado para entregar o melhor artigo pop, cria uma atmosferabet365 clássicopressão para chegar e se manter no topo — é conhecida a questão sobre a saúde mental entre grande nomes do gênero.
"Esse tipobet365 clássicopreocupação já foi levantada frequentemente na nossa sociedade. Mas não durou muito e não foi forte o suficiente para o governo fazer algo a respeito. Talvez o públicobet365 clássicogeral tenda a gostar do produto e esquecerbet365 clássicotodo o processo", afirma Kim.
Como gestores brasileiros veem essas políticas
O modelobet365 clássicosucesso da Coreia do Sul chegou a ser citado pelo candidato presidencial Ciro Gomes (PDT). Em outubrobet365 clássico2021, ele publicou um post com elogios aos investimentos públicos do país asiático na área, citava BTS, Round 6 e Parasita e criticava a decisão do governo Jair Bolsonarobet365 clássicoextinguir o Ministério da Cultura, reduzido a uma secretaria ligada à pasta do Turismo.
A BBC News Brasil entroubet365 clássicocontato com a Secretariabet365 clássicoCultura do governo federal e o Planalto para saber se as políticas sul-coreanas poderiam servirbet365 clássicoinspiração ao país e se a extinção do MinC prejudicou o setor cultural, mas não obteve resposta.
Segundo o site Tela Viva, que acompanha o mercadobet365 clássicomídia, o atual presidente da Ancine (Agência Nacionalbet365 clássicoCinema do governo federal), Alex Braga Muniz, manifestou no evento Pay-TV Forum 2022bet365 clássicoagosto que tem simpatia pela adoção do modelo sul-coreano.
À reportagem da BBC Brasil, Muniz afirma que "a política sul-coreana é baseadabet365 clássicotrês eixos: inovação, incentivos e regulação, e é justamente nesses eixos que pretendemos desenvolver a política audiovisual brasileira".
"Audiovisual é entretenimento, e entretenimento é indústriabet365 clássicoinovação. No campo da atuação, pretendemos uma política industrial, voltada para a ocupaçãobet365 clássicomercado e para a internacionalização do conteúdo."
Ele diz que a Ancine lançoubet365 clássico5bet365 clássicomaio último "uma linhabet365 clássicocréditobet365 clássicoR$ 215 milhões para estimular a aceleração do crescimento do setor audiovisual com focobet365 clássiconovas tecnologias, inovação e acessibilidade e capitalbet365 clássicogiro".
Segundo Muniz, a agência vem retomando políticasbet365 clássicoleisbet365 clássicoincentivo — mecanismo normalmente criticado pela base bolsonarista, como foi o caso da Lei Rouanet.
"O fomento indireto ébet365 clássicofundamental importância para o desenvolvimento da atividade audiovisual, característica evidente da política sul-coreana, a partir dos mecanismosbet365 clássicoincentivo", diz.
"A eficiência dos mecanismosbet365 clássicoincentivo brasileiros é historicamente comprovadabet365 clássicobilheteria e audiência. É a partir dos mecanismosbet365 clássicoincentivo que as programadoras começam a planejar lançamentos simultâneosbet365 clássicofilmes e séries também nas suas plataformasbet365 clássicostreaming."
Meleiro, da UFSCar, analisa que "a nossa a nossa leibet365 clássicoincentivo está completamente voltada para o fomento à produção. Lá na Coreia do Sul foi para resolver uma questão estrutural, para a melhoriabet365 clássicoinfraestrutura da indústria: salas, parque tecnológico, câmeras, estúdios, equipamentos. Ou seja, eles qualificaram o parque produtor".
Os gestores anteciparam os desafios que o produto sul-coreano encontraria no mercado internacional: "Eles questionaram 'como melhorar entrega das cópias que vão circular externamente? Como melhorar os efeitosbet365 clássicosom e música aqui gravados separadamente do diálogobet365 clássicoforma a pensar na exigência desse mercado internacional [para a dublagem]'".
Houve também, diz ela, uma visão transversal do governo sul-coreano que estabeleceu pontes entre o Ministério da Cultura e as pastas da Educação e das Finanças para alcançar esses resultados.
O diretor da Ancine, porbet365 clássicovez, afirma que a agência "abriu consulta pública para regulamentar o financiamento a projetosbet365 clássicocapacitação. O objetivo é estimular a infraestrutura técnica voltada para formação e capacitaçãobet365 clássicomãobet365 clássicoobra para a cadeia produtiva do audiovisual".
Juca Ferreira, ex-ministro da Cultura nos governos Lula e Dilma, afirma que "a economia da cultura é uma das mais promissoras do mundo: mais dinâmica, mais rápida, com menos tendência a decrescer. Pelo contrário, ela vem num crescimento vertiginoso, mesmo nos momentosbet365 clássicocrisebet365 clássicooutros aspectos da economia mundial".
No entanto, embet365 clássicovisão é necessário um equilíbrio entre o comercial e o cultural.
"A economia da cultura precisa garantir uma harmonia e um equilíbrio entre o valorbet365 clássicouso e o valorbet365 clássicotroca das mercadorias e dos produtos culturais", diz.
"O capitalismo tende a mercantilizar tudo, mas esse processobet365 clássicomercantilização dos conteúdos culturais precisa ter o contraponto das políticas que garantam a complexidade e a profundidade do ato criativo como a dimensão necessária da dinâmica social e individual dos cidadãos e cidadãs. Isso é uma política complexa que precisa ser desenvolvida. Senão vira banalização."
Ferreira diz que não falabet365 clássico"repressão à dimensão econômica", mas defende que o Estado precisa evitar o "extrativismo exploratório".
"Trabalhar profundamente a questão da memória e do patrimônio cultural e estimular a produção cultural das manifestações tradicionais garantem a base do processobet365 clássicoprodução cultural do país. Tudo isso é o que garante que a pujançabet365 clássicouma economia venha acompanhadabet365 clássicocrescimento e desenvolvimento da cultura."
No caso da professora Rose Costa, a indústria pop sul-coreana serviubet365 clássicoportabet365 clássicoentrada para o elemento mais básico da cultura do país: o idioma, que ela começou a estudar.
"É nível básico ainda, mas a gente vai começando a identificar algumas expressões bem características. A questão dos honoríficos, dos títulos, os grausbet365 clássicoformalidade ebet365 clássicoinformalidade. É muito bonito isso na cultura deles, o quanto que valorizam e respeitam a idade e a experiência daquela pessoa."
- Esse texto foi publicado originalmentebet365 clássicohttp://vesser.net/internacional-62975564
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