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Aceito na Antiguidade, aborto é debatido desde a Grécia Antiga:time chip poker
Tanto na Grécia como na Roma da Antiguidade, o aborto era visto como algo comum. A oposição à prática, quando havia, não se davatime chip pokerdefesa do embrião ou do feto, mas nos casostime chip pokerque o pai argumentava que não queria ser privado do direitotime chip pokerum filho que julgava já ser seu. Vale ressaltar que eram sociedadestime chip pokerque a mulher era considerada propriedadetime chip pokerseu marido.
A possibilidade do aborto foi considerada inclusive por teóricos da época. O grego Aristóteles (384 a.C - 322 a.C) escreveu que "quando os casais têm filhostime chip pokerexcesso, faça-se o aborto antes que o sentido e a vida comecem". No seu entendimento, esse marco inicial da vida ocorreriatime chip pokerforma distinta no casotime chip pokermeninos — a partir do quadragésimo dia da concepção — etime chip pokermeninas — a partir do octogésimo dia.
Religião
Na Bíblia, também há indicaçõestime chip pokerque o aborto era praticado nas sociedades antigas do Oriente Médio. Há uma menção no Livro do Êxodo e, principalmente, uma passagem no Livro dos Números. Nesta, está a instrução do que fazer "quando a mulhertime chip pokeralguém se desviar, e transgredir contra ele".
"De maneira que algum homem se tenha deitado com ela, e for oculto aos olhostime chip pokerseu marido, e ela o tiver ocultado, havendo-se ela contaminado, e contra ela não houver testemunha, e no feito não for apanhada", enfatiza a passagem.
O texto orienta a apresentar essa mulher a um sacerdote e detalha um ritual com "água santa". Muitos interpretam essa passagem como o entendimentotime chip pokeruma prática abortiva.
Curioso é que, no princípio do cristianismo, a nova religião se apresentava como um porto seguro para mulheres que não queriam abortar, mesmo que estivessem gerando filhostime chip pokerrelacionamentos considerados ilícitos —time chip pokeruma Roma onde a prática era disseminada.
"A questão religiosa foi sendo construída ao longo do tempo. O mundo antigo era um mundo onde o aborto e o infanticídio eram práticas muito comuns. Isso aparece nos filósofos gregos e no mundo romano", pontua o historiador, filósofo e teólogo Gerson Leitetime chip pokerMoraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie. "O cristianismo se apresenta como uma tentativatime chip pokeracolher mulheres que não queriam abortar."
"Na medidatime chip pokerque o cristianismo se aproxima e, depois, se apropria do Estado, a gente percebe que a visão cristã que antes era marginal passa a fazer prevalecer a visão contrária ao aborto", conclui Moraes.
A camada teórica dessa discussão sempre foi a ideiatime chip pokerinício da vida — ou,time chip pokerforma religiosa,time chip pokerque momento a alma seria colocada no novo ser. Para o mundo ocidental, na maior parte do tempo o consenso foi que isso ocorriatime chip pokeralgum momento entre a semana 18 e a semana 20 da gravidez, justamente quando passa a ser possível perceber movimentações do feto no ventre materno.
"Sobre a questão histórica,time chip pokerque sociedade o aborto era aceito ou não, e como mudou, na verdade a história implica não só a culturatime chip pokersociedades tradicionais e antigas mas também o conhecimento, o que se sabiatime chip pokerépocas antigas a respeito do que seria uma gravidez", pontua a socióloga Rosado.
Ela ressalta, por exemplo, que entre os indígenas pré-colombianos "não havia nenhuma restrição ao abortamento", e que a prática era "uma questão resolvida entre mulheres e, mais tarde, por parteiras que cuidavam, realizavam os abortos, muitos por meiotime chip pokerervas, naturalmente, a partirtime chip pokerconhecimentos ancestrais".
"O que aconteceu no Ocidente foi que a influência judaico-cristã se tornou muito forte, ao mesmo tempotime chip pokerque se desenvolveu o domínio dos homens na sociedade, o patriarcado. Para nós, mulheres, a possibilidadetime chip pokercontrolar aquilo que queremos ou não fazer com nossos corpos é fundamental", acrescenta a socióloga.
Novo Mundo
Na América colonial, por exemplo, práticastime chip pokerabortamento foram incorporadas mesmo por famíliastime chip pokercolonizadores. Em geral, contudo, era um tabu, mantidotime chip pokersegredo — seja por razões religiosas, seja pela moralidade, pois o procedimento costumava ser utilizado para interromper gravidezes oriundastime chip pokeradultérios.
No século 19, contudo, começaram a surgir leis específicas contra o aborto nos Estados Unidos. Em 1900, ali só era aceita a práticatime chip pokercasostime chip pokernotório riscotime chip pokervida para a mãe.
Essas legislações ecoavam as discussões que vinham da Inglaterra, onde desde 1803 o aborto podia ser punido até mesmo com a penatime chip pokermorte. Lá, o abortotime chip pokercasotime chip pokerriscotime chip pokervida para a gestante só foi autorizado por lei a partir dos anos 1920.
E se na Antiguidade mulheres procuraram refúgio no cristianismo para condenarem o aborto, na América do século 19, o incipiente feminismo foi a salvaguarda argumentativa para quem se posicionava contra a prática.
A precursora da luta feminista Susan Brownell Anthony (1820-1906) considerava o aborto como "assassinatotime chip pokercrianças". A também ativista Alice Stokes Paul (1885-1977) classificou o aborto como "a exploração final das mulheres".
O panotime chip pokerfundo para essas visões é o mesmo que hoje condena o aborto, afinal: o prisma machismo da sociedade. Afinal, se o aborto era utilizado como uma tentativatime chip pokeracobertar um adultério, como se a tal honra fosse maior do que o direito da mulhertime chip pokerter aquele filho, as feministas precisavam lutar contra essa imposição. Hoje, se a criminalização do aborto impede que as mulheres exerçam o controle sobre seus corpos e tenham direito à escolha, as feministas entendem a necessidadetime chip pokerlutar pela liberação.
"Em vários casos, não só no cristianismo, a principal causa para se criminalizar a prática não é a vidatime chip pokerquestão, mas, na verdade, o poder dos homens", analisa a socióloga Rosado. "Porque aquilo que se desenvolvia no corpo feminino era consideradotime chip pokeralguma maneira propriedade dos homens. E, portanto, a mulher não poderia dispor desse ser que se desenvolvia sem o que o homem permitisse."
Onda conservadora
"O controle do corpo da mulher está sempre colocadotime chip pokerpauta, está sempre pressuposto. E o [direito ao] aborto é fundamental porque temostime chip pokerter o direitotime chip pokerdecidir sobre nosso corpo", afirma a historiadora Rosin. "Uma mulher não é um hospedeiro, não é uma chocadeira."
"Em última instância, [praticar ou não o aborto] essa é uma decisão da mulher, não deveria, um tema tão espinhoso e tão delicado, um tema como este não deveria ser politizado nesse nível", diz Moraes.
O historiador demonstra preocupação porque "a onda conservadora que vemos nos Estados Unidos" tem "reflexos aqui, porque o Brasil é uma cópia malfeita do que acontece lá, uma espécietime chip pokerpuxadinho".
"É um tema que inicialmente quem assumia uma posição muito clara era a Igreja Católica, mas que os evangélicos acabaram copiando esse modelo também. Determinados grupos encontraram no assunto um tema catalisador, que aglutina, faz com que vire uma bandeira. São grupos mais conservadores, mais radicais, fundamentalistas", explica Moraes.
"É um aspectotime chip pokermanifestaçãotime chip pokeruma onda conservadora muita forte e os grupos conservadores no Brasil copiam esses exemplos norte-americanos tentando cooptar pessoas para essa causa, demonizando quem é contrário", complementa ele. "E essas mesmas pessoas que assumem uma posição 'a favor da vida', são pessoas que defendem a penatime chip pokermorte. Há contradições nesse sentido."
Rosado acrescenta que "essa discussão sobre uma vida" a partir da concepção "é moderna, muito recente". "Ela se desenvolveu naquele setor mais conservador da sociedade, que passou a penalizar as mulheres, criminal e religiosamente, considerando o aborto um delito sujeito a pena ou um pecado sujeito a uma pena simbólica", diz a socióloga.
Para a antropóloga Debora Diniz, professora na Universidadetime chip pokerBrasília (UnB), "nunca foi uma questão sobre um processo evolutivo da sociedade", mas sim um indicativotime chip poker"maior ou menor fragilização democrática desde que começamos a tratartime chip pokerdireitos das mulheres e direitos humanos".
"Desde o momentotime chip pokerque temos Estado com suas próprias leis, [permitir ou não o aborto] é um sinaltime chip pokerestabilidade democrática etime chip pokerproteção aos direitos fundamentais", defende a pesquisadora. "O que está ocorrendo nos Estados Unidos parece um contraprocesso históricotime chip pokerdireitos fundamentais, porque houve uma fragilização democrática no período do governo [Donald] Trump."
'Este texto foi originalmente publicadotime chip pokerhttp://vesser.net/internacional-61950222'
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