Aborto: as mulheres condenadas à prisão por término espontâneo da gravidez:sportingbet série a
Acusadasportingbet série ahomicídio qualificado, Karen foi condenada a 30 anossportingbet série aprisão. Ela se tornou uma dentre "As 17", um gruposportingbet série amulheres presas após perderem seus bebêssportingbet série aemergências obstétricas como aborto espontâneo e parto prematuro.
Karen passou seis anos atrás das grades, até ser libertada com outras três mulheressportingbet série adezembrosportingbet série a2021,sportingbet série ameio a uma campanha que atraiu o apoiosportingbet série acelebridades estrangeiras, como as atrizes Milla Jovovich e America Ferrera.
Ao ser presa, Karen já era mãesportingbet série aum garotosportingbet série adois anos. Ela só voltaria a vê-lo quando ele já tinha nove anos.
"Quando me disseram que eu passaria 30 anos na prisão, senti meu mundo desmoronar. Eu pensavasportingbet série ameu filho e me perguntava se sobreviveria a tudo isso."
O Centrosportingbet série aIgualdade das Mulheres, gruposportingbet série aadvogados baseado nos Estados Unidos que apoia campanhas pela descriminalização do aborto na América Latina, afirma que pelo menos 180 mulheres foram denunciadas ou presas nas últimas duas décadassportingbet série acircunstâncias parecidas com asportingbet série aKaren.
'Eu quis segurar meu filho morto nos braços'
Uma delas era Cinthya, presasportingbet série a2009 sob acusaçãosportingbet série ahomicídio depois que seu filho morreusportingbet série acasa após um parto prematuro inesperado. Ela seria soltasportingbet série a2019.
Em entrevista à BBC, ela conta que não foi uma equipesportingbet série asaúdesportingbet série auma ambulância, mas uma viatura da polícia que respondeu ao chamadosportingbet série aemergência.
Ela desmaiou e, quando acordou no hospital, se viu algemada como Karen.
Cinthya foi levada diretamente do hospital para uma celasportingbet série auma delegacia antessportingbet série air a julgamento, sem poder falar com familiares ou ver o filho morto.
"Eu queria segurar meu filhosportingbet série ameus braços, mas não me deixaram. Eles também não deram permissão para que eu fosse ao funeral."
Ela conta ainda que foi perseguida e atacada na prisão por outras presidiárias por causa da "natureza do crime".
Karen relata ter enfrentado experiências semelhantes no tribunal, mas teve mais sorte na prisão, pois se viu na companhiasportingbet série aoutras mulheres que também foram encarceradas sob acusaçõessportingbet série aaborto.
"Éramos maissportingbet série a10, e algumas das mulheres sofreram abusossportingbet série aoutras prisioneiras. (...) Por isso, formamos um grupo unido para apoiarmos umas às outras."
Impacto desproporcional
Não é possível verificar que todos os casossportingbet série amulheres presas sob essa acusação foramsportingbet série afato interrupção involuntária da gravidez, mas ativistas dizem que a rígida lei atual acaba resultando na acusaçãosportingbet série amulheres que não realizaram o aborto.
Organizaçõessportingbet série adireitos das mulheressportingbet série aEl Salvador acrescentam que o problema afeta desproporcionalmente mulheres que não têm recursos econômicos para a saúde privada.
Mulheres como Karen e Cinthya.
"As mulheres pobressportingbet série aEl Salvador são as que mais sofrem com a legislação que as estigmatiza e também leva muitas a abortos clandestinos", explica Morena Herrera, famosa ativista salvadorenha que defende a descriminalização do aborto. "Precisamos libertar essas mulheres presas, mas também precisamos acabar comsportingbet série aperseguição."
Também falta apoio jurídico para as mulheres mais pobres, segundo ativistas e as próprias mulheres afetadas.
Cinthya afirma que no momentosportingbet série aseu julgamento ela não tinha permissão para falar no tribunal. Diz ainda que nenhum advogado indicado pelo Estado a visitou ou a informou sobre seu caso enquanto esperava na prisão pelo julgamento no tribunal. Ela nem sabia quais eram exatamente as acusações.
"Foi só no tribunal que descobri que estava sendo acusadasportingbet série ahomicídio qualificado", lembrou ela.
A BBC pediu às autoridades salvadorenhas que comentassem essas alegações, mas não obteve resposta.
De acordo com um bancosportingbet série adados compilado pela ONG Centro pelos Direitos Reprodutivos, com sede nos EUA, El Salvador é um dos sete países latino-americanos que proíbem totalmente o aborto.
Os outros são: Honduras, Jamaica, Nicarágua, Haiti, República Dominicana e Suriname. Ao redor do mundo, há ao todo 24 países com esse tiposportingbet série aproibição.
No Brasil, o aborto é permitidosportingbet série acasossportingbet série aestupro, quando a vida da mãe estásportingbet série arisco ou quando o feto apresenta anencefalia (condição rara que impede o desenvolvimentosportingbet série aparte do cérebro e do crânio).
Uma 'onda verde' mais fraca
Nos últimos anos, diversas nações latino-americanas (incluindo México, Argentina e Colômbia) adotaram legislação mais liberal sobre o aborto, após intensa pressãosportingbet série auma sériesportingbet série amovimentos ativistas apelidadossportingbet série aOnda Verde.
"Houve uma maior mobilização nos últimos anos, mas a Onda Verde não chegou a El Salvador com a mesma força quesportingbet série aoutros países latino-americanos", observa Herrera.
El Salvador cogitou legalizar abortos considerados necessários por questõessportingbet série asaúde, como partesportingbet série aum pacotesportingbet série areforma constitucional, mas os planos foram arruinadossportingbet série asetembro passado por uma decisão tomada pelo presidente Nayib Bukele.
O líder do país havia defendido essas mudanças na lei do aborto durantesportingbet série acampanha presidencialsportingbet série a2018, mesmo dizendo que era completamente contra a criminalizaçãosportingbet série amulheres que sofreram abortos espontâneos.
E embora pesquisassportingbet série aopinião indiquem que a maioria dos salvadorenhos apoiaria a legalização do abortosportingbet série acasossportingbet série agravidez inviável ou quando há risco para a saúde da mãe, há forte resistência liderada por políticos conservadores e líderes religiosos.
O Brasil, porsportingbet série avez, figura como o quinto menos favorável à legalização total do abortosportingbet série aum conjuntosportingbet série a27 países analisados pela ediçãosportingbet série a2021 do estudo Global Views on Abortion, da Ipsos.
Apenas 31% dos brasileiros responderam que sim à pergunta: o aborto deve ser permitido sempre que uma mulher assim o desejar?
Na pesquisa, havia outras três opçõessportingbet série aresposta: "o aborto deve ser permitidosportingbet série adeterminadas circunstâncias, por exemplo, no casosportingbet série auma mulher ter sido estuprada"; "o aborto não deve ser permitidosportingbet série ahipótese alguma, exceto quando a vida da mãe estiversportingbet série arisco"; e "o aborto nunca deve ser permitido, não importando sob quais circunstâncias". No Brasil, o apoio a estas foisportingbet série arespectivamente 33%, 16% e 8%, alémsportingbet série a13% que não souberam ou não quiseram opinar.
Apesarsportingbet série ano quadro global o país aparecer entre os menos favoráveis à legalização total do aborto,sportingbet série a2021 o Brasil chegou ao percentual mais altosportingbet série apessoas opinando que o procedimento deveria ser permitidosportingbet série aalguns ou todos os casos. Naquele ano, esse percentual chegou a 64%, enquantosportingbet série a2014, o valor foisportingbet série a53%.
Para especialistas, a movimentação recentesportingbet série apaíses vizinhos pode ter levado à maior aceitação da descriminalização do aborto no país.
'É um ciclo que parece nunca ter fim'
Como resultado da decisão do presidente Bukele, as mulheres que sofrem abortos ainda podem ser presassportingbet série aEl Salvador. No mês passado, uma mulher que sofreu um aborto espontâneo, identificada apenas como "Esme", foi condenada a 30 anossportingbet série aprisão.
"Mulheres como eu continuam sendo presas. É um ciclo que parece nunca ter fim", diz Cinthya. Após ser libertada, ela teve muita dificuldade para encontrar um emprego por causasportingbet série aseus antecedentes criminais. Mas com a ajudasportingbet série auma bolsasportingbet série auma ONG ela consegue ganhar a vida vendendo roupas.
Em 2020, ela deu à luz uma menina. "Entreisportingbet série apânico quando engravidei, com medosportingbet série apassar por tudo isso novamente se houvesse complicações. (...) Mas ela nasceu saudável e sem problemas. Ela é minha felicidade."
Karen diz que ainda se sente julgada pela sociedade, mas está concentrando seus esforçossportingbet série aterminar os estudos do ensino médio que começou na prisão e se reconectar com o filho.
Ela temia que o garoto a rejeitasse depoissportingbet série auma separação tão longa, mas encontrou um menino amoroso esperando por ela quando finalmente pode voltar para casa.
No entanto, seus pensamentos ainda passam pelas mulheres que continuam na prisão ou outras que podem se encontrar presas por passarem por experiências semelhantes.
Para Karen, contarsportingbet série ahistória é uma formasportingbet série aajudar essas mulheres. "Tem coisas que ainda me machucam e que nunca vou esquecer. Mas falar sobre elas pode ajudar a evitar que outros casos aconteçam e também ajudar minhas companheiras que ainda estão atrás das grades."
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