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Como o conservador Putin tenta se tornar 'herdeiro'betstatsStalin:betstats
"Stalin foi uma figura importante na história soviética e, na opiniãobetstatsPutin, fez do país uma potência relevante no cenário mundial - e é exatamente isso o que o atual presidente deseja fazer com a Rússia atual", diz Mohsin Hashim, professorbetstatspolítica russa da Muhlenberg College, nos Estados Unidos.
A influênciabetstatsStalin vem crescendobetstatstal forma, quebetstats2019 o ditador alcançoubetstatsmelhor avaliação entre a população russa dos últimos 20 anos.
Segundo pesquisa realizada pelo Centro Levada, 51% dos entrevistados veem Stalin positivamente - dentro desse grupo, 41% sentem respeito, 6% simpatia e 4% admiração pelo comandante.
No entanto, na opinião dos estudiosos consultados pela reportagem, Putin entende os custosbetstatspromover uma figura controversa como Josef Stalin.
Durante os anosbetstatsque esteve no controle do Partido Comunista da União Soviética, entre 1941 e 1953, houve numerosos relatosbetstatscrimesbetstatsguerra cometidos pelas forças armadas, alémbetstatsuma dura perseguição política. Estima-se que maisbetstats20 milhõesbetstatspessoas morreram sob seu regime, mas historiadores admitem que a cifra pode ser muito maior.
Por isso mesmo, há poucos registros do presidente russo elogiando o líder soviéticobetstatspúblico. Na maior parte do tempo, Putin se dedica a usar referências do períodobetstatsque Stalin comandava a URSS para falar da grandeza e potencial da Rússia, mas sem citar o comandante.
Em 2005, o líder russo deu uma das mais contundentes declarações nesse sentido, ao afirmar que "o colapso da União Soviética foi o maior desastre geopolítico do século 20" durante seu discurso anual no Parlamento.
O Kremlin ainda deu nova vida a alguns símbolos históricos soviéticos, como o próprio hino nacional.
Assim que assumiu a Presidênciabetstats2000, Putin descartou a música que havia sido implementada por Boris Yeltsin na décadabetstats1990 e aprovou uma nova versão, que usa a melodia do hino oficial da União Soviética, mas com uma nova letra.
Putin ainda ecoa com frequência a retórica usada pelo ex-primeiro-ministrobetstatsseus discursos. Em diversas ocasiões, o presidente se refere ao seu país como "a Grande Rússia" e invoca o patriotismo nacional da população, assim como Stalin fez quando enviou as tropas soviéticas para combater o exército da Alemanha nazistabetstats1941.
"Há um conceito que era muito utilizado no período soviético e que segue sendo usado atualmente que é o 'Derzhava', ou 'grande poder'betstatsrusso'', diz Mohsin Hashim. "Putin usa com frequência a expressão para falar do futuro da Rússia como grande potência mundial, destino que segundo ele só pode ser concretizado com um Estado forte e centralizado".
De acordo com o especialista, foi a partir dessa ideia que o presidente promoveu nos últimos anos uma sériebetstatsreformas para ampliar seu escopobetstatspoder e estender seu período no cargo.
Propaganda política
Apesarbetstatssustentar o legadobetstatsStalin principalmente por meiobetstatsreferências oblíquas,betstatsalguns momentos pontuais Vladimir Putin chegou a falar diretamente do ex-líder soviético.
Em uma entrevista concedidabetstats2017, o presidente russo criticou a "excessiva demonização"betstatsStalin promovida pelo Ocidente, e afirmou que a estratégia era usada "como um meiobetstatsatacar a União Soviética e a Rússia".
Segundo Putin, seus críticos usam o legadobetstatsStalin "para mostrar que a Rússiabetstatshoje carregabetstatssi algum tipobetstatsmarcabetstatsnascença do stalinismo".
Antes disso, o líder defendeu uma avaliação mais equilibrada sobre o governo do comunista pela opinião pública. Durante uma com jornalistas locaisbetstats2009, Putin disse que não era possível classificar Stalin apenas como bom ou mau.
"Se você disser que tem uma visão positiva [sobre o governobetstatsStalin], alguns ficarão descontentes. Se você disser que tem uma visão negativa, outros resmungarão", disse. "É impossível fazer um julgamento geral. É evidente que,betstats1924 a 1953, o país que Stalin governou passoubetstatsuma sociedade agrária para uma sociedade industrial."
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil ressaltam, porém, que apesarbetstatsusar o legadobetstatsStalin como propaganda política, Putin não deseja repetir as ações do ditador ou reviver o formatobetstatsgoverno da URSS.
Segundo Mohsin Hashim, o atual presidente se beneficia muito do modelobetstatseconomia aberta e diversificada, e apesarbetstatscomandar algumas políticasbetstatsrepressão, foge da imagembetstatsditador.
"Putin não é propriamente um stalinista, porque isso significaria recriar um Estado totalitário", diz o especialista. " O Kremlin mantém políticas autoritárias, mas não totalitárias".
Para Valerie Sperling, especialistabetstatspolítica russa da Universidade Clark, apesar das inúmeras denúncias sobre violação dos direitosbetstatsliberdadebetstatsexpressão e da democracia, as ações do governo Putin não podem ser comparadas com as barbaridades cometidas durante a URSS.
"O atual Estado russo é autoritário e persegue cada vez mais qualquer tipobetstatsoposição política, mas ainda está muito longebetstatscometer os crimes da era Stalin, quando milhõesbetstatspessoas foram presasbetstatscamposbetstatstrabalho forçado e fuziladas por crimes totalmente imaginários", afirma.
Limpeza do passado
Segundo Yevgenia Albats, cientista política russa e editora do jornal The New TimesbetstatsMoscou, para enaltecer o papel do Estado nas conquistas obtidas pela URSS e legitimar algumasbetstatssuas práticas autoritárias, Putin também comanda um esforço ativobetstatscontrole da narrativa histórica no país.
Ao longobetstatsseus maisbetstats20 anos no poder, o presidente por diversas vezes tentou reconstruir alguns dos eventos do passadobetstatsforma a adequá-los ao discurso do Kremlin,betstatsacordo com a jornalista.
"O governo russo promove uma limpeza do passado para apagar grande parte dos crimes e perseguições que ocorreram durante a União Soviética e mostrar apenas a parte glamourosa", disse Albats à BBC News Brasil. "Até porque muitos dos políticos que comandam o país atualmente são herdeiros da KGB ou se beneficiarambetstatsalguma formabetstatsdecisões tomadas por seus antecessores".
Em 2021, uma das maiores instituições dedicadas à pesquisa e memória dos crimesbetstatsguerra cometidos durante o período soviético foi alvo do governo por suas ações.
A ONG Memorial foi fechada depois que a Suprema Corte acatou a visão da Procuradoriabetstatsque a entidade estava distorcendo a história russa para criar "a falsa imagembetstatsque a URSS foi um estado terrorista". Membros e apoiadores da organização classificaram a decisão como um atobetstatscensura.
Antes disso, opositores e ativistas pela democracia já denunciavam uma campanha do governo para apagar das salasbetstatsaula e livros didáticos alguns dos maiores crimes cometidos pelo regimebetstatsStalin.
Um manual para professores aprovado para uso nas escolas do paísbetstats2008 descreve Stalin como um "líder eficiente".
Já o livro didático "A História da Rússia, 1900-1945", publicado por uma editora financiada pelo Kremlin e cujo autor é ligado ao partido Rússia Unida, tenta justificar o enviobetstatsmilharesbetstatspessoas para os gulags, camposbetstatstrabalho forçado dedicados a abrigar criminosos políticos e "inimigos" do Estado.
Para os especialistas, o revisionismo está presente também nos próprios discursosbetstatsPutin, que por vezes contradiz posições adotadas pelo Estado no passadobetstatsrelação à Segunda Guerra e com frequência comparece a homenagens aos 'heróis' do conflito.
Segundo Peter Rutland, especialistabetstatspolítica russa e professor da Universidade Wesleyan, ao tentar amenizar a imagembetstatsStalin e reconstruir a confiança da população no Estado, o presidente tem como umbetstatsseus principais objetivos a reconstrução do orgulho russo.
Após a dissolução da URSSbetstats1991, o país passou por períodos difíceis, com grande instabilidade política e uma profunda crise econômica. Tudo isso colaborou para a perda da confiança popular no governo e nas instituições.
"O governo quer que a população tenha orgulhobetstatsser russa, mas o colapso da URSS cruiou um vaziobetstatsparte da sociedade, especialmente nas gerações mais velhas", diz Rutland. "Ao relembrar com frequências as conquistas soviéticas durante a Segunda Guerra, Putin busca justamente preencher esse vazio com um sentimento nacionalista e patriótico".
Para além das fronteiras russas
Alguns analistas consultados pela BBC News Brasil ainda vêem nas escolhas políticasbetstatsPutin traços da ambição e buscar por expandir a influência da URSS por novos territórios.
Em 2014, a Rússia sob o comando do presidente anexou a Crimeia ao seu território e provocou reações negativas da comunidade internacional.
Neste ano, a região voltou a ser frutobetstatspreocupação depoisbetstatsdenúncias dos Estados Unidos sobre o enviobetstatsmaisbetstats100 mil soldados russos à fronteira com a Ucrânia.
Putin nega qualquer planobetstatsinvadir o país vizinho, mas adota uma retórica agressiva ao criticar as negociações para a entrada da ex-república soviética na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). A tensão é tamanha que maisbetstatsuma dúziabetstatspaíses pediram a seus cidadãos que deixem a Ucrânia, e alguns retiraram funcionários diplomáticos da capital, incluindo os EUA.
Para Peter Rutland, Putin usa o passado soviético e a tomada da Crimeiabetstats1941 pela Alemanha nazista para justificar a anexação da península pela Rússia. "Além disso, ele frequentemente retrata alguns atores políticos na Ucrânia como fascistas, descendentesbetstatscolaboradores dos nazistas na Segunda Guerra Mundial", diz o especialista.
"Putin gostariabetstatsreproduzir não somente a grandeza da URSS, como também o que ele chamabetstats'Rússia histórica', que nada mais é que a Rússia czarista", afirma Yevgenia Albats. "Ele gostaria que o território russo incluísse também a Bielorússia, a Ucrânia e talvez até parte do Cazaquistão, como no já incluiu no passado".
"Gostobetstatsdizer que ele é um nacionalista, mas com aspirações imperialistas".
Porém, para Christopher Read, historiador e professor da UniversidadebetstatsWarwick, no Reino Unido, o termo expansionismo não se aplica ao contexto atual da Rússia, e tampouco deve ser usado para se referir ao governobetstatsStalin durante a União Soviética.
"Nem Stalin nem Putin são expansionistas embetstatspolítica externa. A Rússia perdeu cercabetstatsum terçobetstatsseu território desde 1914, o que não seria um bom resultado para uma potência classificada como 'expansionista'", diz.
Mais pragmático, menos conservador
Porbetstatscapacidadebetstatspromover o passado soviético russo, ao mesmo tempobetstatsque defende valores religiosos e tradicionais, os especialistas encontram dificuldadesbetstatsclassificar Vladimir Putinbetstatsum único espectro ideológico.
Em seu governo, o presidente ampliou o escopo da Igreja Ortodoxa e passou a defender a ideiabetstatsque o cristianismo "é a raiz da identidade russa".
Putin ainda demonstra apoio aos "valores familiares tradicionais", condena o casamento homossexual e alimenta a intolerância e homofobia no país. "O casamento é uma união entre um homem e uma mulher", dissebetstats2020.
O próprio presidente, porém, já foi acusadobetstatsmanter amantes durante o períodobetstatsque foi casado com a ex-mulher Ludmila Putina, ebetstatstentar esconder os filhos que foram frutos desses relacionamentos extraconjugais.
Para Peter Rutland, há uma contradição nas atitudes do presidente, que apesarbetstatsser filiado ao partido nacionalista e conservador Rússia Unida, dedica-se a exaltar o passado soviético - e comunista - da Rússia.
"Há uma grande contradição nas açõesbetstatsPutin, mas a verdade é que o Stalin que Putin descreve não corresponde ao Stalin real - então Putin pode se safar retratando um revolucionário radical como um conservador", diz o professor da Universidade Wesleyan.
Segundo Mohsin Hashim, da Muhlenberg College, Putin não tem uma ideologia própriabetstatsgoverno. "Ele é acimabetstatstudo pragmático", resume.
"Putin não é conservador nem progressista, ele é oportunista", diz a russa Yevgenia Albats. "Ele não está preocupado com ideologia, mas sim com entrar para a história como um herói russo - e fará o que for necessário para isso".
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