Suicídiospixbet logo vectormilitares: o custo silencioso da guerra na Ucrânia:pixbet logo vector

Legenda da foto, O padre Sergey Dmitriev é um capelão militar que defende o direito das pessoas que tiraram suas próprias vidas receberem ritos funerários adequados

Segundo o padre e Andrii Kozinchuk, um psicólogo militar que também estava lá naquele dia, alguns oficiais que andavam pela região se aproximaram do morto e, ao vê-lo, zombaram dele.

"Eles diziam: 'Que idiota, atiroupixbet logo vectorsi mesmo'", recorda o padre.

"Eu disse: 'Temos um psicólogo à disposição, será que os combatentes deveriam conversar mais com ele (o especialista)?'"

"Eles responderam: 'não, por quê?'. Trataram com naturalidade, como se nada tivesse acontecido. O cara era um bêbado, disseram, não tem nada além disso."

O padre Dmitriev viaja com frequência para atuar como capelão militar das tropas atuando a lestepixbet logo vectorKiev. Ele não é necessariamente a pessoa que você imagina quando pensa na Igreja Ortodoxa da Ucrânia: ele tem uma orelha furada, fala muitos palavrões, usa jeans e moletom e tem paixão por carros.

Ele já ouviu falarpixbet logo vectortantos suicídios entre militares até agora que a história do engenheiropixbet logo vectorMaryinka já não se destaca do resto. Mas ele se lembrou do engenheiropixbet logo vectordezembropixbet logo vector2021, quando recebeu uma mensagem dizendo que o oficial que zombou daquele homem que se matou também estava morto.

"Aquele oficial foi o crítico mais pesado do engenheiro", diz o padre Dmitriev. "E ele atiroupixbet logo vectorsi mesmo também."

Enquanto a brutal guerra no leste da Ucrânia entrapixbet logo vectorseu nono ano, a Rússia está reunindo soldados ao longo das fronteiras ucranianas — o que está sendo interpretado por potências ocidentais como os preparativospixbet logo vectoruma invasão.

Sabe-se que suicídiospixbet logo vectormilitares e veteranos associados aos conflitos na Ucrânia ocorreram nos últimos anos, mas os números são incertos. Suicídios são registrados como mortes "fora do combate", o que dificulta o registro.

Em 2018, o então procurador-chefe militar Anatoliy Matios disse que 554 militares da ativa tiraram a própria vida nos primeiros quatro anospixbet logo vectorguerra, mas o número não foi confirmado pelo Ministério da Defesa. Fontes militares disseram à BBC que quaisquer números oficiais apresentados seriam quase certamente subnotificados, porque muitos suicídios simplesmente não foram registrados como tal.

"Enquanto a guerra durar, eles nunca publicarão esses números", disse Volodymyr Voloshin, psicólogo militarpixbet logo vectorKiev. "Eles temem que os russos os usem para prejudicar nossa moral."

Um porta-voz do Ministério da Defesa disse à BBC que os números nunca foram escondidos, mas levaria uma semana para reuni-los.

A vice-ministra para Assuntos dos Veteranos, Inna Darahanchuk, disse que seus registros indicam que cercapixbet logo vector700 veteranos morreram por suicídio desde 2014, mas reconhece que é difícil saber o número real.

As famíliaspixbet logo vectormilitares só têm direito a apoio financeiro e social se puderem provar que o suicídio foi relacionado à guerra, diz Darahanchuk.

Mas "sabendo que é impossível provar que o suicídio está relacionado aos conflitos, os parentes tentam esconder o fatopixbet logo vectorque o veterano cometeu suicídio por causapixbet logo vectorsuas crenças religiosas", ela acrescenta.

É uma constatação trágica: os parentes são deixados entre uma burocracia governamental e uma fé implacável.

País tem uma das piores taxaspixbet logo vectorsuicídio no mundo

O suicídio continua sendo um crime na Ucrânia e a Igreja Ortodoxa, fé predominante no país, geralmente se opõe à presençapixbet logo vectorpadres nos enterros daqueles que tiram a própria vida.

"Um padre não pode conduzir um sepultamentopixbet logo vectoralguém que cometeu suicídio, ele não pode nem comparecer ao funeral", explica o padre Dmitriev. "Especialmente se for uma cidade pequena. A família simplesmente se recusa a enterrá-los."

Dmitiriev não compartilha dessa opinião. Antes da guerra, ele trabalhavapixbet logo vectorum hospital e insistia que ritos funerários deveriam ser realizados para aqueles que tiraram as próprias vidas.

"Eu nunca me recusei, nem uma única vez, a enterrá-los", conta, explicando que usa algumas brechas nas regras para isso.

Por estar conectado às histórias do engenheiro que atiroupixbet logo vectorsi mesmo e do oficial que acabou fazendo o mesmo depoispixbet logo vectorzombá-lo, Dmitiriev garantiu que eles tivessem enterros adequados, com a presençapixbet logo vectorpessoas queridas e orações.

Legenda da foto, O psicólogo militar Andrii Kozinchuk mostra tatuagem que diz: 'Estou aqui te apoiando'

A Ucrânia tem uma das piores taxaspixbet logo vectorsuicídio relativo à população e, ao mesmo tempo, um profundo estigma associado ao ato.

Nenhum dos muitos parentespixbet logo vectormilitares que morreram por suicídio abordados pela reportagem concordoupixbet logo vectordar entrevista,pixbet logo vectorqualquer circunstância.

A cineasta Oksana Ivantsiv está dirigindo um documentário sobre o assunto.

"Na Ucrânia, o filho ou a filha que comete suicídio nunca é mencionado da mesma forma que aquele que morreupixbet logo vectorcombate. Suas famílias ficam muito isoladas", diz a diretora.

O estigma é partepixbet logo vectoruma lacuna muito mais ampla no cuidado com a saúde mental no país — que tem raízes na era soviética, quando a psicologia era citada apenas no processopixbet logo vectordetenção e puniçãopixbet logo vectordissidentes.

"A psicologia ou a psiquiatria eram puramente punitivas", aponta Ulana Suprun, ex-ministra interina da Saúde da Ucrânia. "Dissidentes eram colocadospixbet logo vectorhospitais psiquiátricos. Se uma pessoa tivesse sido internadapixbet logo vectorum hospital psiquiátrico, nunca poderia assumir um emprego no governo, nem mesmo trabalhar como caixapixbet logo vectorum banco."

De acordo com Suprun, os cuidados com a saúde mental praticamente "não existiam" na Ucrânia até 2014 — quando os manifestantes derrubaram o então presidente, Viktor Yanukovytch, e psicólogos voluntários montaram uma tenda na praça Maidan,pixbet logo vectorKiev, para incentivá-los a falar sobre os traumas vividos durante a revolta.

Os psicólogos perceberam que as pessoas não ficavam à vontade para ir até a tendapixbet logo vectorpúblico, então se mudaram para um prédio sindical próximo. Quando o prédio foi incendiado, o McDonald's local ofereceu um abrigo temporário para o serviço.

Suprun também ajudou a criar a primeira linha telefônicapixbet logo vectorprevenção ao suicídiopixbet logo vector2018, a Lifeline Ukraine — cinco a seis décadas depois que iniciativas do tipo surgiram nos Estados Unidos e no Reino Unido.

A Lifeline Ukraine trabalhapixbet logo vectorum pequeno escritóriopixbet logo vectoruma área industrialpixbet logo vectorKiev, acimapixbet logo vectoruma concessionáriapixbet logo vectorcarros que cede o espaço gratuitamente. A organização emprega uma equipepixbet logo vector26 pessoas para atender chamadas nas 24 horas do dia, pagando seus salários com doações do Reino Unido, EUA, Austrália, entre outros, epixbet logo vectoralgumas empresas privadas. Já o financiamento por parte do governo ucraniano é zero, embora uma cartapixbet logo vectorcongratulações do ministro da Defesa esteja pendurada na parede do escritório.

Alguns dos atendentes são veteranos que, porpixbet logo vectorvez, atendem muitas ligaçõespixbet logo vectorcolegas veteranos, principalmente nas madrugadas do fimpixbet logo vectorsemana, quando as pessoaspixbet logo vectorrisco bebem mais. A equipe muitas vezes pede que estas pessoas se lembrempixbet logo vectormomentos anteriores a 2014pixbet logo vectorque eram felizes, ou que peguem objetos que lembrem aqueles tempos. É uma tentativapixbet logo vectorreconectar com um passado menos estressante, projetando-o como um recomeço.

Legenda da foto, Svetlana atende a ligaçõespixbet logo vectorlinhapixbet logo vectorprevenção ao suicídio: 'O que ajudou um combatente a lidar com as coisas antes da guerra irá ajudá-lo a lidar com o futuro'

Svetlana, uma veterana que mais tarde se formoupixbet logo vectorpsicologia e que estavapixbet logo vectorplantão no escritório no início desta semana, disse que deu ao marido um lenço bordado quando ele foi para o frontpixbet logo vector2014.

"O que ajudou um combatente a lidar com as coisas antes da guerra irá ajudá-lo a lidar com o futuro", explica.

Mas muitos veteranos não estão conseguindo lidar com suas situações. Eles ligam com estresse pós-traumático avançado, conta Svetlana, "muitas vezes tentando silenciar a dor com álcool".

Um país sob estresse

Crédito, EPA

Legenda da foto, Militar ucraniano perto da cidadepixbet logo vectorDonetsk,pixbet logo vectorfoto do mês passado

O númeropixbet logo vectorchamadas para a Lifeline Ukraine não aumentou com a escalada da ameaça da Rússia, mas o livropixbet logo vectorregistro mostra que os temas das conversas estão abordando muito mais esta situação iminente.

"Eles estão ansiosos com essa incerteza, é algo que está se arrastando", afirma Svetlana.

A situação também está levando a divergências entre as pessoas que antes eram próximas.

"Ninguém sabe mais quem é inimigo e quem é amigo."

Ulana Suprun diz que esta é a situação que "Putin (presidente da Rússia) quer": "Uma Ucrânia constantemente sob estresse, incapazpixbet logo vectorfazer planospixbet logo vectorlongo prazo, incapazpixbet logo vectorinvestir no futuro."

A guerra afetou a capacidade da Ucrâniapixbet logo vectorprogredir nos cuidadospixbet logo vectorsaúde mental, mas os tabus culturais do país antecedem o conflito, aponta Andrii Kolunchik, psicólogo militar que trabalha com o padre Dmitriev.

"Tem sido assim há séculos", disse ele. "Em nossa cultura, os homens preferem morrer a pedir ajuda. Dizemos que quando um soldado está cantando, seu coração está sangrando. Então, se ele diz 'estou bem', ele não está bem."

Legenda da foto, Olexa Sokil costumava dizer que estava bem mas tentou se matar algumas vezes, segundo ele mesmo conta

Olexa Sokil, um veterano reservado e taciturno que viveu alguns dos piores momentos que a guerra teve a oferecerpixbet logo vector2014, costumava dizer "estou bem" e quase se matou várias vezes, segundo ele mesmo conta.

Foi só quando viajou para a Lituânia para ter atendimento com um psicólogo militar que sentiu que realmente podia falar.

"Eu me abri com ele", lembra Sokil. "E ele me salvou."

Mas na Ucrânia, diz o militar, todos os veteranos estão sofrendo.

"Não se trata apenas do estigmapixbet logo vectorrelação ao suicídio, trata-sepixbet logo vectorum estigmapixbet logo vectorrelação aos veteranos", denuncia. "A Ucrânia está matando seus veteranos. Temos os ministérios gastando milhões para se exibirpixbet logo vectorcompetições esportivas, enquantopixbet logo vectorpequenos vilarejos e cidades os veteranos estão morrendo porque nem sequer têm um assistente social para ir até eles e perguntar como estão."

Sokil acaboupixbet logo vectorter um filho, e ele epixbet logo vectoresposa tiveram atendimentos com um psicólogo durante toda a gravidez.

"Aquele psicólogo nos colocou inteirospixbet logo vectorvolta", lembra ele. "Superamos nosso medo da perda."

Inna Darahanchuk, vice-ministra para Assuntos dos Veteranos, disse à BBC que a melhoria no apoio à saúde mental é a prioridade do órgão para o próximo ano.

Padre usa brecha para dar assistência às famílias

Legenda da foto, O padre Dmitriev quer que militares que se suicidaram tenham suas fotos como homenagempixbet logo vectormural também

No centropixbet logo vectorKiev, ao longopixbet logo vectorum muro perto da igreja do padre Dmitriev, há retratos da maioria dos mortospixbet logo vectorcombate ucranianos — que somam cercapixbet logo vector14 mil, segundo dados do governo. Faltam ali os homens e mulheres, militares ativos ou veteranos, que se mataram. O padre Dmitriev gostaria que seus retratos estivessem lá também.

Alguns anos antes da guerra, Dmitriev descobriu que havia uma espéciepixbet logo vectorbrecha nas regras da igreja sobre suicídio que permitia a um padre comparecer a um funeral para dar apoio à família da pessoa morta, desde que não conduzisse o funeral.

É assim que ele contorna o sistema. E, quando pode, encoraja outros padres ortodoxos a fazerem a mesma coisa.

"Digo: vá lá e ore, diga algumas palavras boas. Leia o Pai Nosso. A família não saberá se é o rito completo ou não."

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