Por que os finlandeses supostamente 'falam sempre a verdade':h2n poker

Legenda do áudio, Por que os finlandeses supostamente 'falam sempre a verdade'

Durante minha visita, aos poucos descobriria que a honestidade é muito valorizada na sociedade daqui e é a baseh2n pokerqualquer interação: as pessoas partem do princípio, o tempo todo,h2n pokerque todos são honestos, e a confiança está implícita até que se prove o contrário.

"Ser honesto é uma característica da cultura finlandesa — pelo menos se compararmos com outras culturas", diz Johannes Kananen, professor da Escola Suecah2n pokerCiência da Universidadeh2n pokerHelsinki.

"Em inglês, existe um ditado que diz que a verdade é tão valiosa que deve ser usada com moderação. Mas, na Finlândia, as pessoas falam a verdade o tempo todo."

Meu episódio com o chapéu não foi,h2n pokermaneira alguma, raro, já que na Finlândia objetos perdidos parecem sempre voltar às mãosh2n pokerseu dono.

"É um hábito muito peculiar aqui, deixar luvas perdidas sobre as árvores", diz Natalie Gaudet, que trabalha na Universidadeh2n pokerAalto, explicando que isso faz com que seja fácilh2n pokervê-las à distância.

"As crianças estão sempre perdendo luvas, e as pessoas tendem a pendurá-las numa árvore próxima, para que quem as tenha perdido possa encontrá-las na volta." Em uma sociedadeh2n pokerque a honestidade está implícita, todo mundo entende que apenas o dono do objeto perdido irá pegá-lo.

Anos atrás, a revista Reader's Digest fez um "Teste da Carteira Perdida",h2n pokerque seus repórteres "perderam" 192 carteirash2n pokercidades ao redor do mundo. Cada carteira continha US$ 50, com informaçõesh2n pokercontato, fotosh2n pokerfamília e cartõesh2n pokervisita. Onzeh2n pokercada 12 carteiras deixadas na capital da Finlândia foram devolvidas a seus donos, fazendoh2n pokerHelsinki a cidade mais "honesta" entre todas testadas.

O segredo da Finlândia

Mas o que faz da Finlândia um país tão honesto?

O Estado finlandês não é uma criação muito antiga. Durante séculos, o que é hoje a Finlândia esteve sob o domínio do Império Sueco. Enquanto o sueco era a língua da elite, o finlandês acabou sendo associado às classes populares, o campesinato e o clero. Foi apenash2n poker1809 que a Finlândia obteve statush2n pokerautonomiah2n pokerAlexandre 1º da Rússia, na Guerra Finlandesa, e tornou-se o Grão-Ducado da Finlândia, antecessor moderno do que hoje é a Finlândia. Foi aí que uma forte identidade finlandesa começou a ser construída, e o finlandês começou a prosperar.

Urpu Strellman, agente literárioh2n pokerHelsinki, diz: "Foi criada uma imagem, um estereótipo dos finlandeses como austeros, modestos, que trabalham duro, pessoas tementes a Deus que superam tempos difíceis, abraçando qualquer coisa que o destino lance sobre elas. Esses são aspectos que se relacionamh2n pokerforma muito próxima com a honestidade."

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Cultura luterana, representada pela catedralh2n pokerHelsinki, serveh2n pokerreferência moral ao país

A vasta paisagem rural, combinada com os invernos escuros do Ártico, exigia a adoção dessas atitudes se a Finlândia quisesse se erguer. O termo finlandês "sisu" descreve o conceitoh2n pokercoragem, resiliência e robustez que foi construído dentro da identidade e características culturais nacionais.

Além disso, uma vez que a Finlândia separou-se do reino sueco, o país foi capazh2n pokerestabelecer uma Igreja Luterana Evangélica e uma ética protestante.

No livro On the Legacy of Lutheranism in Finland (Sobre o Legado do Luteranismo na Finlândia, na tradução livre para o português), Klaus Helkama e Anneli Portman examinam as raízes protestantes do valor finlandês da honestidade, que eles dizem ter nascidoh2n pokeratividades missionárias protestantes centradas na educaçãoh2n pokermassa e na maciça impressão e distribuiçãoh2n pokertextos — o que, porh2n pokervez, trouxe autorreflexão e propagou uma valorização da honestidade. A igreja luterana na Finlândia é uma das maiores do mundo.

Essas qualidades estão agora profundamente enraizadas na cultura finlandesa, diz Kananen. "Veracidade e honestidade são altamente valorizadas e respeitadas."

Vergonha após escândalo

Kananen cita o exemplo do escândalo que envolveu esquiadores finlandeses quando o país sediou o Mundialh2n pokerEsqui Nórdico,h2n poker2001. Seis atletas finlandesesh2n pokerelite foram pegos no exame antidoping e desclassificados. O escândalo foi coberto pela imprensa nacional como uma questãoh2n pokervergonha pública, pois havia um sentimentoh2n pokerconstrangimento coletivo no país.

"Para os finlandeses, a pior coisa do escândaloh2n pokerdoping não foi, entretanto, o escândaloh2n pokersi", diz um artigo publicado pelo The International Journal of the History of Sport. "A pior coisa foi que, juntamente com a imagemh2n pokerhonestidade no esporteh2n pokergeral, o mito do finlandês honesto e trabalhador despencou."

"Foi uma questãoh2n pokerorgulho nacional", disse Kananen. "Em comparação, na Noruega, quando umah2n pokersuas esquiadoras foi pega no antidoping, o país inteiro a defendeu e queria queh2n pokerpunição fosse a mais leve possível."

Os finlandeses têm muito orgulho do alto nívelh2n pokerconfiança social presente emh2n pokersociedade, o que é um indicativo da percepçãoh2n pokerque as pessoas acreditam que os outros estejam agindo honestamente.

"Na Finlândia, o Estado é um amigo, não um inimigo", afirma Kananen. "O Estado é visto como algo que age para o bem coletivo — então, autoridades públicas agemh2n pokerdefesa do interesseh2n pokertodos. Há um alto nívelh2n pokerconfiança — nos outros cidadãos e nas autoridades, incluindo a polícia. Os finlandeses também são contribuintes satisfeitos. Eles sabem que o dinheiro dos impostos é usado para o bem comum e que ninguém vai trapacear na cobrançah2n pokerimpostos."

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Pequena população finlandesa é concentrada no sul, e Lapônia, no norte, é pouco habitada

Ser pego mentindo pode ser um grande problema,h2n pokerespecial levandoh2n pokerconta a dimensão da população. Gokul Srinivasan, engenheiroh2n pokerrobótica e empreendedor que viveh2n pokerHelsinki, explicou queh2n pokeruma comunidade pequena, se alguém é pego mentindo uma vez, a pessoa não será mais consideradah2n pokerconfiança.

Embora a Finlândia seja três vezes maior que a Inglaterra, o país tem apenas um décimo da população — com a maioriah2n pokerseus 5,5 milhõesh2n pokerhabitantes concentradosh2n pokercentros urbanos no sul do país. Como resultado, há uma boa chanceh2n pokerque pessoash2n pokeruma área específica já se conheçam.

"Se um finlandês considera que você não inspira confiança, você deveria considerar que essa ponte não existe mais, e isso leva a que outras pontes também deixemh2n pokerexistir", diz Srinivasan. "Eles não costumam falar malh2n pokervocê, mas se alguém pedir uma referência, isso será um problema."

Fiquei pensando que essas parecem ser ideias bastante pesadas para um país que foi recentemente eleito o "mais feliz do mundo" pelo terceiro ano seguido.

Quando cheguei à Finlândia, estava ansiosa para ver como esse nívelh2n poker"felicidade" se manifestaria. A felicidade, afinal, está conectada à honestidade:h2n pokerum relatório publicado pela Associação Americanah2n pokerPsicologia, um estudo estabeleceu ligações entre melhorash2n pokersaúde mental e física e a práticah2n pokerdizer a verdade.

h2n poker Prestativos h2n poker e diretos

Deixando a honestidadeh2n pokerlado, a suposta felicidade da Finlândia certamente não era óbvia. Para mim, os finlandeses foram prestativos, mas sem interferir, calorosos, mas estoicos (pouco ligados a paixões ou desejos), mas não bastante expressivos. O que era aparente, no entanto, foi seu estilo diretoh2n pokercomunicação, algo que Urpu Strellman, a agente literária, atribui a seus valores básicosh2n pokerhonestidade e franqueza.

"Nós somos ruinsh2n pokerbate-papos — é sempre melhor ficar quieto do que conversar sobre algo sem sentido", disse ela. "Há uma forte ideiah2n pokerque você precisa falar as coisas como elas são, não fazer promessas vazias e não tentar maquiar as coisas. Os finlandeses apreciam a franqueza mais que a eloquência."

Crédito, Sasha_Suzi/Getty Images

Legenda da foto, Nas relações pessoais eh2n pokernegócios, confiança mútua é essencial e sempre presente

Os finlandeses levam suas palavras a sério, então cada palavra realmente quer dizer aquilo que ela significa. Em um estudo do etnógrafo Donal Carbaugh, ele explica como declarações superlativas soam presunçosas para os finlandeses. A regra número 1 da comunicação finlandesa, escreve ele, é estar comprometido com o que você diz.

Johannes Kananen, da Escola Suecah2n pokerCiência da Universidadeh2n pokerHelsinki, concorda: "Os finlandeses tendem a levar expressões bastante ao pé da letra. Então, se você diz que você comeu o melhor hambúrguer dah2n pokervida, isso pode levar a uma conversah2n pokerque você fala sobre todos os hambúrgueres que você já comeu e os exatos critérios para julgar qual deles era o melhor. A não ser que você possa provar que era objetivamente o melhor hambúrguer, você é visto com uma certa suspeita e, sim, certamente presunçoso."

Claro, também existe o lado chato disso. "Essa cultura tem uma tendência a permitir que apenas uma 'verdade' exista por vez, sobre muitas coisas, como a economia, saúde, tecnologia", diz ele.

"É a verdade que podemos ler nos jornais e o que os especialistas nos dizem. Não somos muito bonsh2n pokertolerar diversidadeh2n pokeropinião, já que existe uma crença bem enraizadah2n pokerque existe apenas uma verdade."

Na maior parte dos casos, porém, a honestidade realmente acaba sendo a melhor política, como os finlandeses devem lhe dizer — embora leve um certo tempo para se acostumar.

Naquela mesma semana, eu e um amigo finlandês fomos a Turku, uma cidade no sul do país, onde passeamos pelo centroh2n pokerbuscah2n pokerboas cervejas. Fomos a diferentes bares, deixando nossos casacos nos ganchos colocados na entrada. Enquanto bebíamos e conversávamos, não conseguia pararh2n pokerdar umas olhadas para o meu casaco. Ninguém estava cuidando deles.

"Não se preocupe", meu amigo me lembrou, no que pode ter sido a centésima vez. "Ninguém vai roubar seu casaco."

Finalmente, comecei a acreditar.

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