'É como se a Venezuela não existisse mais': a odisseia das crianças que deixam sem volta o país:papa 365 bet

Crédito, Juan David/World Vision

Legenda da foto, Juan David se mudou da Venezuela para a Colômbia

Crédito, Juan David/World Vision

Juan David, 11 anos, Cúcuta (Colômbia)

Eu morava na Venezuela, no estado da Portuguesa. Era muito incrível, porque eu tinha muitos amigos e era muito feliz com a minha mãe. Viemos para Cúcuta há dois anos, por causa da situação do nosso país e quando tiraram a minha irmã, Bárbara, da gente. Os rapazes eram muito malvados e nos ameaçaram, tiraram a nossa casa e viemos para a Colômbia.

[A mãe dele explica, sem querer detalhar muito na frente do garoto, que foi sequestrada e umapapa 365 betsuas filhas foi tirada dela. Ela se mudou para Cúcuta primeiro com as outras filhas e depois foi procurar Juan David e os outros dois filhos]

Quando a minha mãe foi embora, fiquei muito triste porque é a minha mãe e eu não iria vê-la.

Gostava da Venezuela. Jogava beisebol e futebol com meus amigos e também gostava porque vivíamospapa 365 betuma área rural, onde comíamos muita fruta.

Costumávamos subir e descer com a minha mãe colhendo frutas, procurando lenha para cozinhar e eu adorava isso porque era comopapa 365 betuma novela.

[Juan David epapa 365 betfamília estãopapa 365 betuma casa muito pobre, parecida com a que moravam na Venezuela. Eles não pagam aluguel, porque não é um local adequado para morar e não há gás. Eles cozinhampapa 365 betum fogão a lenha, então Juan David, como na Venezuela, precisa buscar lenha]

A viagem a Cúcuta durou uma noitepapa 365 betônibus. Dormíamos no banco e fazia muito frio. Eu queria que amanhecesse logo para acompanhar a nossa chegada à Colômbia, mas não pude ver porque o sono me venceu.

Crédito, Juan David/World Vision

Legenda da foto, Juan David junto com apapa 365 betmãe na casapapa 365 betque morampapa 365 betCúcuta, na Colômbia

Cúcuta é quase igual à Venezuela, porque estamos na fronteira, então é muito parecido. Porém, aqui é mais fácil conseguir comida, mas os nomes dos doces daqui são diferentes da Venezuela.

O que mais gostopapa 365 betCúcuta é que assisto ao futebol e o esporte é muito similar (à Venezuela). O que me faz rir é que aqui a "bodega" se chama "tienda" (diz,papa 365 betrelação aos nomes diferentes que os dois países dão a mercadinhos).

Pouco a pouco fui aprendendo a forma como falam por aqui.

Tenho muitas saudades dos meus amigos e dos meus familiares que deixei na Venezuela.

Graças à minha mãe, estamos indo muito bem (na nova fase da vida) e não demorei muito para me adaptar.

[A mãe dele coleta garrafaspapa 365 betplástico e tampas, que vende para um reciclador. Com o que ganha, diz a mulher, tem dinheiro para o café da manhã e para o almoço, algo que seria impossível na Venezuela]

Eu sempre quis ser o homem da casa. Na Venezuela, queria ajudar minha mãe, trabalhar, comprar comida e ajudá-la como se ela fosse uma criançapapa 365 bet18 ou 19 anos, já adulta.

Estou indo muito bem na escola, graças a Deus. Eu adoro matemática e digo ao professor para me passar exercícios. Como o trabalho na Venezuela era mais importante do que os estudos, não sabia muita coisa e disse ao professor daqui para me ensinar a ler.

Crédito, Juan David/World Vision

Quando eu crescer, gostariapapa 365 betser advogado e, ao mesmo tempo, psicólogo para ajudar as crianças que precisampapa 365 betajuda e para que morempapa 365 betuma casa estável, na qual consigam apoio e não precisem trabalhar tanto.

[A mãe dele é voluntáriapapa 365 betvárias organizações que orientam imigrantes venezuelanos]

Ser advogado tem sido o sonho da minha vida: ajudar que as pessoas tenham os seus direitos assegurados. A minha mãe me diz que tenho que estudar e ler muitíssimo. Para ser advogado, preciso ler muitos artigos. Minha mãe me ajuda a aprender porque com a minha avó na Venezuela era trabalhar, trabalhar e trabalhar.

Não gostariapapa 365 betvoltar para a Venezuela, porque a situação está muito difícil por lá. Não pensopapa 365 betretornar porque se isso acontecer, vamos voltar à mesma situaçãopapa 365 betantes.

Muitas pessoas foram embora. É como se estivessem saindo da Venezuela, como se a Venezuela não existisse mais.

Valeria, 12 anos. Manta (Equador)

Crédito, Valeria/World Vision

Legenda da foto, Valeria se mudou com os pais e o irmão para o Equador

Sou do estadopapa 365 betCojedes, na Venezuela, e agora estou no Equador,papa 365 betManta, na provínciapapa 365 betManabi.

A viagem para chegar aqui durou cinco dias e foi a primeira vezpapa 365 betque eu saí do país.

Foipapa 365 betagostopapa 365 bet2019, só me lembro da data porque acho que nunca vou me esquecer, porque foi aí que começou a minha aventura, a viagem.

Fiquei me sentindo triste e emocionada, porque me doeu muito deixar a minha avó na Venezuela. Foi doloroso porque havia deixado minha família para trás, mas também havia alegria por ver o meu pai. Dois anos antespapa 365 beteu chegar com a minha mãe e o meu irmão, o meu pai veio pra cá.

Quando o meu pai saiupapa 365 betcasa, foi um pouco doloroso porque foi o primeiro a deixar o núcleo familiar e aquele dia foi triste. Lembro que a minha avó me disse: "Você precisa ser forte para que ele seja forte". Não podíamos chorar.

Saímos da Venezuela por causa da situação do país. Já não era como antes: acabou a luz, acabou a água... Depois que ficamos sem luz durante cinco dias, o gás acabava e voltava.

Meu pai e a minha mãe faziam tudo para que não faltasse comida. Quando o meu pai mandava dinheiro, íamospapa 365 betdiferentes mercadinhos para conseguir as coisas mais baratas.

Crédito, Valeria/World Vision

Legenda da foto, No Equador, a gata é uma das grandes companhiaspapa 365 betValeria

É assim que muita gente faz na Venezuela: um sai do país e manda dinheiro para os outros que ficam.

Eu sou apaixonada por Toddy, um achocolatado como eles chamam aqui. Havia muitas unidades dela no supermercado (na Venezuela). Quando as coisas ficaram críticas, deixamospapa 365 betcomprar essas coisas, não havia mais tantos doces.

Eu sabia das mudanças quando íamos às compras. Procurávamos as coisas mais baratas nos mercadinhos, assim como todo mundo: procurando o mais necessário e barato.

O que mais gostei no Equador foi a praia, porque estamos na zona costeira.

O que mais me chamou a atenção foi a formapapa 365 betfalar. Por exemplo, na Venezuela chamamospapa 365 bet"cambur" e aqui é "guineo" (bananas). As coisas mudam muito. Se elas são a mesma coisa, deveriam ter o mesmo nome! É como conhecer um novo idioma.

Fomos recebidos bem aqui, não houve uma pessoa que nos discriminasse por sermos venezuelanos.

O Equador já se tornou uma segunda casa. Quando eu crescer vou voltar, mas para visitar.

Claro que gostariapapa 365 betvoltar à Venezuela para ver meus amigos e a minha família. O que mais sinto falta são dos meus amigos e familiares.

Crédito, Valeria/World Vision

Legenda da foto, Valeria com o seu irmão brincam com a sombra da gata da família

É difícil saber quando vamos voltar, pode ser que sejapapa 365 betum ano,papa 365 betcinco ou quem sabe quando. Minha melhor amiga me disse: "Quando você vem?" Eu falei: "Como saber?"

É muito triste que a gente tenha que sair da Venezuela e que a família tenha que se separar. Tive que deixar minha avó e meus parentes para trás. Essa parte é triste e seria muito bom voltarmos, porque vejo muitas tradiçõespapa 365 betlá que embora tenhamos imitado aqui, não são a mesma coisa. Por exemplo, as hallacas (prato típicopapa 365 betNatal na Venezuela, uma massa feitapapa 365 betmilho que lembra vagamente a pamonha).

Em dezembro, a família toda se reunia no quintalpapa 365 betum tio. E agora, como cada um estápapa 365 betuma parte do mundo, não podemos nos reunir. Essas tradições meio que se desfizeram e é triste, mas tento ser positiva.

Nos primeiros dias isso me atingiu bastante, mas se você olhar para o lado triste, a situação fica pior. Então, tento ver o lado mais feliz.

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